quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

O HOMEM QUE DEVE MORRER - Capítulo 120


Novela de Janete Clair

Adaptação de Toni Figueira

CAPÍTULO 120

último capítulo!

Participam deste capítulo

Cyro  -  Tarcísio Meira
Ester  -  Gloria Menezes
Orjana  -  Neusa Amaral
Ricardo  -  Edney Giovenazzi
Mestre Jonas  -  Gilberto Martinho
Vanda Vidal  -  Dina Sfat
Cesário  -  Carlos Eduardo Dolabella
Júlia  -  Ida Gomes
Prof. Zacarias
Bárbara  -  Zilka Salaberry
Miamoto


CENA 1  -  PORTO AZUL  -  CASA DE D. BÁRBARA  -  SALA  -  INTERIOR  -  NOITE

CESÁRIO TINHA ESCAPADO MAIS UMA VEZ. ORJANA, RICARDO E BÁRBARA VIVIAM HORAS DE FELICIDADE COM A PRESENÇA DE CYRO.

BÁRBARA  -  (abraçando-o em lágrimas) É maravilhoso ver você vivo e em liberdade...

CYRO  -  Eu tenho sentido muito a falta de vocês...

ORJANA BEIJOU-O, AMOROSAMENTE.

CORTA PARA:

CENA 2  -  PORTO AZUL  -  CASA DE ESTER  -  COZINHA  -  INTERIOR  -  NOITE

JÚLIA ADMIROU-SE COM A PRESENÇA DE CESÁRIO QUE FORÇARA A PORTA DOS FUNDOS, ANTES DE PENETRAR NA RESIDENCIA. APONTAVA UMA ARMA PARA A ESPOSA.

JÚLIA  -  Está fugindo de alguma coisa?

CESÁRIO  -  Tou, tou sim! A polícia vem aí pra me agarrar e eu vim buscar o dinheiro que minha mãe te entregou pra guardá!

JÚLIA  -  Ah, a policia está aí pra te agarrar?

CESÁRIO  - (encostando o cano do revólver na cabeça de Júlia) Me dá meu dinheiro ou eu te arrebento os miolos!

JÚLIA  -  (afastando o cano com a palma da mão) Calma... Eu vou dar o seu dinheiro...

ATRAVESSOU O QUARTO E RETIROU UMA MALETA DO ALTO DO GUARDA-ROUPA.

JÚLIA  -  Está tudo aí...

CESÁRIO ABRIU A MALA E CONSTATOU QUE ESTAVA ENTUPIDA DE NOTAS.

CESÁRIO  -  Tudinho?

OUVIU A SIRENE DO CARRO DA POLICIA.

CESÁRIO  -  São eles! Depressa!

A SIRENE APROXIMAVA-SE CADA VEZ MAIS.

CESÁRIO AGARROU A MALETA E PULOU A JANELA.

JÚLIA  -  Corra, delegado! (gritou, avisando o policial que acabava de bater à porta) O senhor o encontra, correndo, com o dinheiro, pela estrada!

O CARRO DA POLÍCIA DISPAROU NA DIREÇÃO REVELADA, LATERAL À RESIDENCIA DE ESTER. NUMA MANOBRA HÁBIL O MOTORISTA DOBROU A ESQUINA QUASE EM ÂNGULO RETO E PARTIU VELOZMENTE À CATA DO FUGITIVO.

CESÁRIO CORRIA DESESPERADO. E MAL TEVE TEMPO DE PRESSENTIR O PERIGO. VIU APENAS DUAS LUZES FORTES SURGINDO DENTRE A NÉVOA DA MADRUGADA E O  BANDIDO SE ENQUADROU NA ZONA DE OFUSCAÇÃO, INTEIRAMENTE NEUTRO PARA A VISÃO DOS MOTORISTAS.

O PESADO AUTOMÓVEL ALCANÇOU-O EM CHEIO, ATIRANDO-O CONTRA O ASFALTO ÚMIDO. UM MINUTO MAIS E CESÁRIO TERIA ENCONTRADO A PROTEÇÃO DE UM TERRENO BALDIO. AGORA ERA UM CORPO QUEBRADO, BANHADO DE SANGUE, CONFUNDINDO-SE COM MILHARES DE NOTAS QUE O VENTO LEVAVA PARA LONGE, SUJAS PELO SANGUE QUE ESCORRIA DE SEUS FERIMENTOS.

A VIATURA POLICIAL ESTACOU E O DELEGADO, ACOMPANHADO DE VÁRIOS SOLDADOS, APROXIMOU-SE DO PISTOLEIRO. MESMO SERIAMENTE FERIDO, CESÁRIO BERRAVA NO SILENCIO DA MADRUGADA QUE MORRIA.

CESÁRIO  -  Me soltem! Ladrões! Vocês querem me roubar o meu dinheiro! Meu dinheiro! Meu dinheiro! Ladrões! Ladrões!

JÚLIA APROXIMOU-SE, SORRINDO, ENQUANTO OS POLICIAIS JOGAVAM O HOMEM NO INTERIOR DO CARRO E PARTIAM RUMO AO HOSPITAL. HAVIA UM AR DE TRIUNFO NO ROSTO FELIZ DE JÚLIA.

UM AR DE MULHER VINGADA.

CORTA PARA:

CENA 3 -  PORTO AZUL  -  CASA DE D. BÁRBARA  -  SALA  -  INTERIOR  -  DIA

DEZENAS DE AMIGOS PROCURARAM LOGO CEDO A RESIDENCIA DE CYRO VALDEZ PARA FELICITÁ-LO. MESTRE JONAS SUGERIU UM BRINDE À PAZ QUE VOLTARA.

MIAMOTO ENTROU, ESBAFORIDO.

MIAMOTO  -  Dr. Cyro! Dr. Cyro! Vem depressa!

CYRO  -  O que foi, Miamoto?

O JAPONÊS NÃO SABIA SE FALAVA EM SUA LINGUA OU EM PORTUGUÊS. ESTAVA VISIVELMENTE AGITADO.

MIAMOTO  -  Dona Ester... ela ir embora! Ir fugir! Non quer ver senhor!

CYRO  -  Para onde, Miamoto?

MIAMOTO  -  Para Son Paulo, no? Paraná, no? Muito lugar!

CYRO VESTIU APRESSADAMENTE O PALETÓ E PULOU NO CARRO.

VANDA  -  Isso não podia acontecer!

BABY  -  (levantou uma taça de champanha, feliz, ao ver o amigo partir) Um brinde a um final feliz!

VANDA  -  (vociferou, desconsolada) Amigo-da-onça!

RICARDO  -  (aproximou-se) Quero te dar uma palavrinha, Vanda...

VANDA  -  (fez um muxoxo) Já sei! Já sei de tudo! Olhe... eu vou dar no pé e não é por sua causa, não. Nem por medo de suas ameaças. Vou sumir porque acho que não há outra solução... pra mim. Não pense que estou ligando! Nem um pouco! (a voz começava a embargar-se e as lágrimas a embaçarem-lhe os olhos. Mas Vanda continuou firme) Comigo é assim: comeu não leu, pau comeu! Chuto pro alto! Que me importa? Ele não gosta de mim! Preferiu a Esterzinha! Pomba! Que vá pro inferno, ou pro céu, com ela! Já me enchi... não tenho queda pra Amélia! Bem. Tchau, gente! Tchau, Mestre Jonas! O senhor foi o cara mais legal que eu já conheci em toda a minha vida... ele também, viu? Mas... não tem culpa... se não gosta... de mim. Isso é assim mesmo. Tchau!

CORTA PARA:

CENA  4  -  PORTO AZUL  -  PRAIA  -  EXTERIOR  -  DIA

CYRO TINHA CHEGADO A TEMPO. ESTER SE DIRIGIA PARA A PRAIA. UM ÚLTIMO ADEUS AO MAR, ÀS AREIAS, A UM PESADELO... OU A UM SONHO QUE FINDAVA PARA SEMPRE. A MULHER MAL TEVE TEMPO DE VIRAR-SE PARA VER QUEM A AGARRAVA COM TAMANHA FORÇA. SENTIU OS LÁBIOS QUENTES E ANSIOSOS QUE BUSCAVAM OS SEUS. AS DUAS MALETAS CAÍRAM NA AREIA BRANCA, DIANTE DO MAR.

ESTER  -  (afastando-se do marido) Você não merece!

CYRO  -  Por que está zangada?

ESTER  -  Onde está Vanda? Não acompanhou você?

CYRO  -  Como você é ciumenta! Ester, compreenda. Eu não posso chutar Vanda como um traste... um utensílio que não se usa mais e só atrapalha! Ela merece o respeito humano! Respeito por tudo o que ela é e representou na minha vida!

ESTER  -  Então... confessa! Ela representou alguma coisa!

CYRO  -  Muita coisa, Ester! Você sabe disso! Mas eu não pude amá-la. Se a amasse, não estaria aqui, pedindo a você para voltar pra mim... porque é a você que eu amo... é você a única mulher da minha vida! (beijou-lhe o rosto, as mãos, o pescoço) Ester, Ester... é a você que eu amo! Só a você!

CORTA PARA:
ELENCO

CENA  5  -  FLORIANÓPOLIS  -  CENTRO DE ESTUDOS ESPACIAIS  -  INTERIOR  -  DIA

O PROFESSOR ZACARIAS TINHA REUNIDO OS ESPECIALISTAS NO CENTRO DE ESTUDOS.

PROF. ZACARIAS  -  Esperávamos apenas a sua presença, Dr. Cyro, para iniciar a sessão. Tenha a bondade, por favor. Sente-se aqui. Temos em mãos o resultado da análise do meteorito achado no mar, nas proximidades de Porto Azul. Aqui está.

UM ESTRANHO HOMEM, COM VESTES ESPACIAIS ACOMODOU-SE NO FUNDO DA SALA. RICARDO VIU-O E SE PERTURBOU.

PROF. ZACARIAS  -  (prosseguiu) A composição do meteorito coincide com a da pedra oferecida ao falecido André pelo homem do espaço. Ambas vieram do mesmo mundo. Houve realmente manifestação extraterrestre nos raios que atingiram Dona Orjana quando estava grávida do Dr. Cyro Valdez. Sobre isso ele tem alguma coisa a dizer.

FEZ-SE SILENCIO, ANTES DE CYRO VALDEZ FALAR.

CYRO  -  Não creio que haja mais nada a dizer. Tudo já foi dito pelos meus atos e minha conduta. O homem não vale pelo poder que tem nas mãos, e sim pelo bem que é capaz de fazer. É possível que existam outros mundos habitados por seres superiores que devem ter eliminado os preconceitos e as guerras, os ódios e a exploração de seus semelhantes. Os homens valem pelo amor que conseguem dar...

OS OLHOS DE CYRO ILUMINARAM-SE E CRUZARAM COM OS DO SER QUE PERMANECIA DE PÉ, NO EXTREMO DA SALA.

CORTA PARA:

CENA 6  -  PORTO AZUL  -  PRAIA  -  ESTERIOR  -  DIA

O MAR BEIJAVA A AREIA, A BRANCA E PURA AREIA DE PORTO AZUL. MAIS AO LONGE, NO HORIZONTE, A LUA EMERGIA DO OCEANO, VERMELHA. CYRO E ESTER PARARAM DE CORRER.

ESTER  -  O homem desapareceu...

CYRO  -  Não faz mal.

DEITOU-A NA PRAIA DESERTA E BEIJOU-A SOFREGAMENTE.

CYRO  -  Vamos ficar aqui, assim...

A MANHÃ SE INSINUAVA POR ENTRE AS NUVENS ARROXEADAS, QUANDO A ESTRANHA VISÃO PERTURBOU A MULHER. DORMIA? SONHAVA? VIU NITIDAMENTE QUANDO CYRO VALDEZ SE ENCAMINHOU PARA O SER ESPACIAL. AMBOS SE APROXIMARAM EM PASSADAS LENTAS. ESTER ESTENDEU OS BRAÇOS PARA O MARIDO QUE SE AFASTAVA COM O HOMEM DO DESCONHECIDO. CYRO OUVIU OS GRITOS DA MULHER E SE VOLTOU. CYRO E O HOMEM SE DESPEDIRAM, NUM ABRAÇO DERRADEIRO. ESTER ABRIU OS OLHOS E DEPAROU COM O MARIDO AO SEU LADO. ERA DIA.

CYRO  -  Já amanheceu, vamos embora?

ESTER  -  Tive um sonho... ou não foi um sonho? Aquele homem apareceu... e você o seguiu. Ele ia levando você embora... e você ia me deixar...

CYRO  -  Realmente eu fui falar com ele. Um estrangeiro que queria que eu fosse para outro lugar... para fazer o mesmo que fiz aqui... quero dizer: curas... e mensagens de fé.

ESTER  -  No meu sonho ele impôs uma condição para você ficar...

CYRO  -  Qual?

ESTER  -  Você permaneceria na Terra, mas perderia seus poderes. Seria um homem comum.

CYRO SORRIU E A CARREGOU NO COLO.

ESTER  -  Isso é verdade?

CYRO  -  Você tem o direito de imaginar o que quiser...

ESTER  -  Então me diga: nosso filho será homem ou mulher?

CYRO  -  Não tenho mais poderes. Não posso adivinhar. Agora sou um homem comum. Apenas um médico. Preferi ficar na Terra, assim... tudo por amor à minha mulher. Sabe? Eu vou aceitar o cargo de Diretor do Hospital de Porto Azul. Acho que ainda serei um bom médico.... um bom marido... um bom pai!

MUITO AO LONGE, O ESTRANHO, BANHADO PELA LUZ DO SOL, APRECIAVA A CENA. DE REPENTE VOLTOU-SE PARA O CÉU, ABRIU OS BRAÇOS E DESAPARECEU. CYRO ERGUEU OS OLHOS PARA O INFINITO E PERMANECEU ESTÁTICO, POR ALGUNS SEGUNDOS. REALIDADE OU SONHO? OS CAMINHOS POR ONDE PASSAVA CONTINUARIAM FECHADOS AOS HOMENS COMUNS.

FIM

O HOMEM QUE DEVE MORRER - Capítulo 119


Novela de Janete Clair

Adaptação de Toni Figueira

CAPÍTULO 119

penúltimo capítulo!

Participam deste capítulo

Cyro  -  Tarcísio Meira
Ester  -  Gloria Menezes
Vanda  -  Dina Sfat
Lia  -  Arlete Salles
Catarina  -  Lidia Mattos
Paulus  -  Emiliano Queiroz
Válter  -  Dary Reis
Delegado  -  Vinicius Salvatori
Inspetor
Baby  -  Claudio Cavalcanti



CENA 1  -  PORTO AZUL  -  DELEGACIA  -  INTERIOR  -  NOITE

CYRO  - Boa noite, Dr. Miguez!

INSPETOR  -  (inteiriçou-se ao ver o rapaz) Dr. Cyro! Julgávamos que estivesse morto.

VÁLTER  -  E que eu o tivesse matado...

INSPETOR  -  Exato. Que você o tivesse matado.

CYRO  - (abraçou o ex-inimigo, com gesto carinhoso) Válter veio comigo... e eu faço questão de dizer que ele me salvou a vida. Aceitou a ordem para me eliminar... e sua intenção foi apenas impedir que outros o fizessem.

VÁLTER  -  Eu não fiz mais do que minha obrigação.

CYRO  -  Bem, Dr. Miguez... Dr. Moreira... eu estou às ordens de ambos. Voltei porque tenho muita coisa a esclarecer... mas voltei, também, para deslindar meu caso com a justiça.

INSPETOR  -  O senhor nada deve à justiça.

CYRO  -  (atônito) Como assim?

DELEGADO  -  Os culpados já confessaram os seus crimes.

VANDA  -  (abraçou-o, alegre) Puxa! Que bacana! Então... ele está livre?

INSPETOR  -  Será levado a julgamento, apesar de tudo, mas as novas provas irão absolvê-lo.

CYRO  -  Obrigado... isso me alegra... era aí que eu queria chegar... embora falte ainda alguma coisa... talvez o mais importante para ser esclarecido. Eu me refiro à morte de Ivanzinho, o filho de Ester.

DELEGADO  -  (aproximou-se do médico, fisionomia grave) O senhor sabe quem matou o menino?

CYRO  -  (fez uma pausa de alguns segundos, antes de responder) Sim... eu sei. E sei também quem deu a ordem para matá-lo.

DELEGADO  -  Para matar o menino?!

CYRO  -   Exatamente. Aquele tiro não era para mim. Era para a criança.

A VOZ NERVOSA DA MULHER DO PREFEITO ECOOU NA SALA E LIA APARECEU CAMBALEANTE. MAL RESPIRAVA.

LIA  -  Cyro!

CYRO  -  Lia!

OS DOIS ABRAÇARAM-SE.

LIA  -  Venha comigo! Precisamos de você! Telefonaram do hospital e disseram que Otto acabou de morrer! Eu não acredito! Você chegou e pode salvar a vida dele!

VANDA  -  (intercedeu, mostrando as costas do médico) Cyro também está muito ferido. Olhem... vejam as costas dele. Estão em carne viva! Seu Otto mandou matar Cyro e querem que Cyro vá até lá pra salvar sua vida! Essa não!

CYRO  -  (falou, tranquilo) Espere, Vanda! Os outros médicos tem capacidade de salvá-lo. É só seguirem o que o Dr. Max vinha fazendo...

LIA  -  (insistiu) Não podemos perder tempo!

VANDA  -  (berrou) Cyro! Você ainda vai salvar a vida desse assassino?

CORTA PARA:

CENA 2  -  HOSPITAL  -  QUARTO DE OTTO  -  INTERIOR  -  NOITE

DONA CATARINA CONTINUAVA ABRAÇADA SOBRE O CORPO DO FILHO. A PORTA SE ABRIU E CYRO ENTROU, EM COMPANHIA DA ESPOSA DO PREFEITO. ESTER FICOU PARALISADA.

ESTER  -  Cyro!

O JOVEM ABRAÇOU-A APERTADAMENTE, ENQUANTO IDENTIFICAVA, UM A UM, TODOS OS PRESENTES: PADRE MIGUEL E SEU LIVRO DE ORAÇÕES; CATARINA, TULA, DONA CONCEIÇÃO, A NEGRA; OS MÉDICOS E RICARDO.

LIA  -  (balançou, excitada, o corpo da mãe em desespero) Dona Catarina... Cyro chegou. Cyro vai salvar Otto!

CATARINA  -  (levantou-se molemente, liberando o corpo) Veja... se é possível... ainda... se fazer alguma coisa.

CYRO APROXIMOU-SE DO LEITO E EXAMINOU, COM MÃOS HÁBEIS, OS OLHOS DO MORTO. BAIXOU A CABEÇA, PENALIZADO.

CYRO  -  Não há mais nada a fazer! Eu faria alguma coisa se tivesse chegado a tempo.

ESTER  -  Mesmo sabendo que ele mandou dar cabo de sua vida?

CYRO  -  Ele não era responsável por tudo. Não que eu queira inocentá-lo. Não... era um temperamental... doentio e perigoso. Por isso mesmo, fácil de ser manejado. As pessoas que o cercavam o orientavam mal.

ESTER  -  Mas deve existir um responsável!

CYRO  -  E existe! Ester... eu quero que venha comigo até a cadeia. Você vai saber tudo a respeito da morte de Ivanzinho.

A MULHER ESTREMECEU. SAÍRAM JUNTOS.

QUATRO VELAS JÁ ILUMINAVAM O CORPO DO PREFEITO DE PORTO AZUL.

CORTA PARA:


CENA 3  -  PORTO AZUL  -  DELEGACIA  -  INTERIOR  -  NOITE

DELEGADO  -  Espere aí!

PAULUS, ABORRECIDO, ESFREGAVA OS OLHOS, SONOLENTO. PASSAVA DAS DUAS HORAS DA MADRUGADA.

PAULUS  -  Para que me trouxeram para cá? O que querem de mim a esta hora?

CYRO  -  Achei que Ester devia estar presente, inspetor.

PAULUS ESTREMECEU AO OUVIR A VOZ DO HOMEM QUE ACREDITAVA MORTO E ENTERRADO.

CYRO  -  venha, Ester... eu quero que você olhe bem para esse homem (apontou o advogado) Você não está diante de gente... Está diante de um monstro. Ele mandou atirar na praça, naquele domingo, depois da missa. (Paulus esbugalhou os olhos) O tiro não era para mim. Era para seu filho, porque ele sabia que, se o menino morresse, você se voltaria contra mim... e o menino representava um empecilho aos desejos dele. Sabia que poderia convencê-la de que eu era indiretamente culpado. Sabia que você se tornaria um joguete em suas mãos. Ele premeditou tudo.

ESTER ESTAVA HORRORIZADA E SUAS FEIÇÕES LEMBRAVAM UMA MÁSCARA MORTUÁRIA DE UM TORTURADO.

ESTER  -  A ordem... então... era para matar Ivan?

CYRO  -  Era.

ESTER  -  Você não se defende, Paulus?

O ADVOGADO MANTINHA A CABEÇA ABAIXADA CONTRA O PEITO. ARRASADO.

CYRO  -  Ele não tem defesa!

ESTER  -  (descontrolou-se e investiu contra o bandido) Monstro! Assassino! Assassino!

CYRO AGARROU-A COM FORÇA E ABRAÇOU-A. ESTER SOLUÇAVA AGARRADA A ELE.

PAULUS  -  (insensível diante do quadro) Deixem-me ir embora. Não há mais nada a dizer, não é?

INSPETOR  -  Ainda há, sim. Existem dois crimes, também hediondos, que precisam ser esclarecidos.

CYRO  -  Baby está aí?

DELEGADO -  Está.

CYRO  -  Pois faça-o entrar, por favor.

O RAPAZ DEU ENTRADA NO RECINTO E ABRAÇOU O AMIGO.

BABY  -  Que bom ver você de volta são e salvo, Cyro!

INSPETOR  -  O Dr. Cyro fez questão de sua presença.

CYRO  -  É a nossa hora da verdade, Baby, e eu quero que você saiba quem mandou acender o estopim da dinamite que ocasionou a morte dos mineiros.

BABY  -  (olhou para Paulus com ódio) Eu tenho uma desconfiança de que foi ele.

CYRO  -  Você não se enganou!

PAULUS  -  Eu só cumpria ordens de Otto e Von Muller. Foram eles que me forçaram a mandar a mina pelos ares!

BABY  -  Para jogarem a culpa sobre mim?

PAULUS  -  Eu não tinha nada contra você, Baby!

BABY  -  Miserável!

O DELEGADO MAL TEVE TEMPO DE CONTER O JOVEM. O SEU PUNHO JÁ HAVIA ATINGIDO VIOLENTAMENTE A CARA DO ADVOGADO. PAULUS CAIU AO CHÃO COM A BOCA CHEIA DE SANGUE.

DELEGADO  -  (gritou) Espere! Não pode ser assim!

INSPETOR  -  (manuseando as anotações) Existe ainda a morte de Pedrão. Resta esta explicação. Também tem resposta para isto, Dr. Cyro?

CYRO  -  Foi a mesma pessoa que o matou... o executor das ordens de Paulus. Aquela bala era para mim, mas acertou no meu amigo.

DURANTE ALGUNS SEGUNDOS UM SILENCIO DESAGRADÁVEL CAIU SOBRE A SALA. TODOS ESPERAVAM A SOLUÇÃO DO MISTÉRIO. A PALAVRA FINAL. O NOME DO EXECUTOR.

BABY  -  (transtornado) Quem é esse miserável pistoleiro, Cyro?

CYRO APONTOU PARA O DR. PAULUS, QUE LIMPAVA O SANGUE QUE LHE ESCORRIA DO FERIMENTO. UM DENTE ESTAVA PARTIDO.

O DR. MOREIRA DEU TRÊS PASSOS E SEGUROU FIRME O BRAÇO DO DR. PAULUS. TODOS OS OLHARES FIXAVAM-SE NO ADVOGADO. PAULUS DEMOROU A ATENDER A ORDEM QUE O DELEGADO ACABARA DE LHE DAR.

DELEGADO  -  Vamos, diga quem era o carrasco que executava suas ordens,Dr. Paulus!

PAULUS  -  Era... Cesário!

O INSPETOR PROCUROU DE IMEDIATO O OLHAR DO COMPANHEIRO DE TRABALHO. FEZ UM SINAL IMPERCEPTÍVEL.

ESTER  -  Cesário!

PAULUS  -  Sempre foi pago para isso... Regiamente pago.

INSPETOR  -  Prenda esse sujeito, imediatamente!

CYRO  -  Sabem onde ele está?

DELEGADO  -  Sim, nós sabemos! Está na casa de Dona Bárbara, dormindo no quarto dos fundos.

CYRO  -  (adiantou-se e pediu aos policiais) Eu quero falar com ele. Você pode me esperar, Ester?

A MULHER ESTAVA PÁLIDA E QUASE DESFALECENDO.

INSPETOR  -  (preocupado) Está sentindo alguma coisa, Dona Ester?

ESTER  -  Não, Dr. Miguez. Apenas nojo... na presença desse homem sinto ânsias de vomitar de horror.

BABY OFERECEU-SE PARA LEVÁ-LA EM CASA.

FIM DO CAPÍTULO 119

E NESTA SEXTA, NÃO PERCA O ÚLTIMO CAPÍTULO!




segunda-feira, 2 de fevereiro de 2015

O HOMEM QUE DEVE MORRER - Capítulo 118


Novela de Janete Clair

Adaptação de Toni Figueira

CAPÍTULO 118

última semana!

Participam deste capítulo

Otto  -  Jardel Filho
Cyro  -  Tarcísio Meira
Catarina  -  Lídia Mattos
Lia  -  Arlete Salles
Vanda  -  Dina Sfat
Ricardo  -  Edney Giovenazzi
Ester  -  Gloria Menezes
Tula  -  Lúcia Alves
Válter  / Coice de Mula  -  Dary Reis
Inspetor
Dr. Toledo
Santiago
Iracema

CENA 1  -  PORTO AZUL  -  HOSPITAL  -  QUARTO DE OTTO  -  INTERIOR  -  DIA

OTTO  -  (chamou, com voz de menino) Mamãe!

CATARINA  -  Estou aqui, filhinho...

OTTO  -  Onde está o Dr. Cyro Valdez?

CATARINA DECIDIU MENTIR. SEUS ESFORÇOS TINHAM SIDO VÃOS E PAULUS SE RECUSARA A FORNECER UM POSSÍVEL LUGAR ONDE ENCONTRAR O MÉDICO.

CATARINA  -  Já foi avisado... ele... ele virá logo para cuidar de você...

OTTO  -  Eu não quero morrer, mamãe!

CATARINA  -  Você não vai morrer, meu filho...

OTTO  -  Mamãe! Eu estou muito feio na cama?

CATARINA  -  Que nada, meu anjo! Está lindo! Não está, Tula? (a moça confirmou e Catarina sorriu, baixando a cabeça até sussurrar aos ouvidos do filho) Olhe... vou lhe contar um segredo. Não diga a ninguém que eu contei...

OTTO  -  Fale, mamãe...

CATARINA  -  Todas as enfermeiras... estão apaixonadas por você!

OTTO DEU UM RISINHO HISTÉRICO, MOVIMENTANDO AGILMENTE OS OLHINHOS AZUIS.

CORTA PARA:

CENA 2  -  PORTO AZUL  -  DELEGACIA  -  INTERIOR  -  NOITE

ERA NOITE QUANDO ESTER ENTROU COM RICARDO NA DELEGACIA DE PORTO AZUL. ERA INTENSA A MOVIMENTAÇÃO NAS IMEDIAÇÕES. OS SOLDADOS GUARNECIAM AS RUAS, PARA IMPEDIR POSSÍVEIS MANIFESTAÇÕES DA POPULAÇÃO.

RICARDO  -  Mandaram me chamar?

INSPETOR  -  Sente-se, por favor!

RICARDO  -  Pois não.

INSPETOR  -  Obtivemos a confissão de um dos homens. Tavares. Finalmente ele revelou tudo o que fizeram com o Dr. Cyro por ordem de Otto Muller e do Dr. Paulus.

RICARDO  -  E então?

INSPETOR  -   Eles... o torturaram até a morte!

ESTER  -  (estava sombria, com os olhos arregalados) Eles o viram morto?

INSPETOR  -  Foi desferido um tiro de misericórdia pelo tal Válter Carpinelli. O mesmo que ficou incumbido de dar fim ao corpo.

RICARDO  -  (com a voz lhe faltando) E por que Válter... não voltou até agora?

INSPETOR  -  Deve ter encontrado dificuldades.

ESTER  -  Alguma coisa não está bem contada. No íntimo, sinceramente... não creio que Cyro esteja morto!

INSPETOR  -  Por quê?

ESTER  -  Se ele estivesse... seria diferente. Eu sei que seria diferente. Ele está vivo... e seu pensamento está em mim!

CORTA PARA:

CENA 3  -  CASEBRE NAS MONTANHAS  -  SALA  -  INTERIOR  -  DIA

NO LUGAREJO ENTRE MONTANHAS, VANDA TERMINARA DE ESCANHOAR O ROSTO DE CYRO. A NAVALHA AFIADA CONSERVAVA ALGUNS FIAPOS DA BARBA NEGRA DO MÉDICO. IRACEMA FERVIA O CAFÉ.

VANDA  -  (admirando a cara do rapaz) Quando eu não tiver mais o que fazer, vou ser barbeira. Até que ficou bacana! (entregou o espelho a Cyro) Dá uma olhada!

CYRO  -  (passou a mão na face) É... Até que não está mal!

VÁLTER CARPINELLI SURGIU NA SALA, ACOMPANHADO PELO DONO DA CHOUPANA. SANTIAGO TINHA UM OLHAR FELIZ.

VÁLTER  -  Dr. Cyro, vamos descer até a estrada. Consegui um carro para levar a gente de volta.

VANDA CORREU A AJUDÁ-LO A VESTIR UMA CAMISA DE SANTIAGO.

CYRO  -  Ai! Cuidado!

VANDA  -  Puxa! Isto ainda está em ferida... você podia esperar mais um pouco.
  
CYRO  -  Não. Tenho de ir hoje mesmo. Eu sinto que preciso acalmar a família. Minha mãe. Meu pai. Obrigado por tudo, gente! (abraçou e beijou Iracema) Adeus, Santiago.

SANTIAGO  -  Conta sempre com a gente, doutô!

VANDA  -  (ergueu os olhos, súplice) Olha... reza! Reza pra ele ficar comigo!

CORTA PARA:


CENA  4  -  PORTO AZUL  -  HOSPITAL  -  SALA DOS MÉDICOS  -  INTERIOR  -  DIA

TULA ARRANCOU A TIRA DE PAPEL DA MÁQUINA E LEVOU O COMPLICADO EXAME PARA ANÁLISE DOS MÉDICOS. A FISIONOMIA DA EQUIPE QUE ACOMPANHAVA A CRISE DE OTTO MULLER ERA GRAVE. UM DOS ESPECIALISTAS CHAMOU A ENFERMEIRA.

DR. TOLEDO -  Tula! Mande buscar a mãe dele. É o fim.

CORTA PARA:

CENA 5  -  PORTO AZUL  -  HOSPITAL  -  CORREDOR  -  INTERIOR  -  DIA

DONA CATARINA ESPANTOU-SE COM O CHAMAMENTO DA MOÇA.

CATARINA  -  Que foi?

TULA  -  Fique com seu filho!

CATARINA  -  Por quê?

TULA  -  Porque é melhor!

ESTER ENCORAJOU-A, PEGANDO-LHE NAS MÃOS.

ESTER  -  Vamos.

RICARDO  -  (perguntou à filha) Ele está morrendo?

TULA  -  Está, papai. Nas últimas.

CENA 5  -  PORTO AZUL  -  HOSPITAL  -  QUARTO DE OTTO  -  INTERIOR  -  DIA

CATARINA APROXIMOU-SE DO LEITO DE MORTE DE OTTO MULLER. NÃO HAVIA ESPERANÇA DE SOBREVIVÊNCIA PARA O PREFEITO DE PORTO AZUL. OS MÉDICOS AFASTARAM-SE, CABISBAIXOS, ENQUANTO A VELHA MILIONÁRIA SE COLOCAVA DIANTE DA CAMA DO FILHO, AMPARADA POR ESTER E TULA. VIU OS OLHOS CERRADOS DO DOENTE. O PEITO ARFANTE, NUM MOVIMENTO ANORMAL, DESRITMADO. SEGUROU-LHE AS MÃOS GÉLIDAS. PÁLIDAS.

OTTO  -  (gemeu) Mamãe!

CATARINA  -  Estou aqui, meu amor.

OTTO  -  Tenho medo...

CATARINA  -  Não tenha, não. Você é um homem valente.

OS OLHOS DE OTTO MULLER ESTUFARAM-SE COMO OS DE UM PEIXE.

OTTO  -  (gritou) Mamãe!

O GRITO ABALOU O QUARTO, ENQUANTO O DOENTE SE AGITAVA, TENTANDO LEVANTAR-SE. O DR. TOLEDO CORREU A ACUDI-LO. TORNOU A AJEITÁ-LO NA CAMA DE FERRO.

CATARINA  -  Otto... está me ouvindo? Eu estou aqui, meu amor!

OS OLHOS DO HOMEM AINDA REFLETIAM VIDA. VONTADE DE NÃO MORRER. UMA LUZ QUE SE ESVAÍA.

CATARINA DECIDIU ENCORAJAR O FILHO PARA A ETAPA DERRADEIRA. PRESSENTIA O FIM.

CATARINA  -  Não tenha medo de coisa alguma. Você é corajoso. Nunca teve medo de nada. O mundo seria maravilhoso se todos os homens fossem valentes e fortes como você!

OTTO MULLER AINDA OUVIA E UM LEVE MOVER AOS LÁBIOS, UM SORRISO, TALVEZ, AFLOROU-LHE À BOCA.

CATARINA  -  Você está tão bonito... não está, Ester? É incrível como alguém, no leito, pode se conservar tão belo assim! Lindo mesmo, Otto! Seus olhos... são de um azul nunca visto. Parece o azul do mar, num dia calmo. Quando você nasceu... a primeira coisa que chamou a atenção de todos foram os seus olhos. Todos diziam: “Parecem duas contas azuis!” E depois olhavam a cor de sua pele... e depois seus bracinhos... tudo, tudo. Você sempre foi tão perfeito, meu filho! Pois aquele brilho, no seu olhar... você tem, agora. Sabe o que me fez lembrar? Sabe, Otto? O leão da floresta de olhos azuis. Todos tem medo do leão. Não que ele seja mau... mas é valente! Ele domina só com o olhar. Quando ele chega... domina todos. Todos tremem. Meu filho é o leão! Meu filho... é... o leão! Meu filho é o mais belo leão de todas as florestas do mundo! Meu filho é o mais valente de todos os leões! Meu filho é o rei! Meu filho é o rei!

OTTO MULLER TINHA CERRADO OS OLHOS DE VEZ, ENQUANTO CATARINA IMITAVA O RUGIR DO REI DAS FLORESTAS. ERA UMA CENA PATÉTICA. ESTER NÃO CONTINHA AS LÁGRIMAS E OS MÉDICOS BAIXAVAM OS OLHOS, COMOVIDOS. TULA TREMIA, AGARRADA À GRADE DA CAMA. A VELHA AINDA LUTAVA CONTRA A REALIDADE. OTTO MULLER JÁ TINHA PARTIDO PARA O ALÉM. FISIONOMIA TRANQUILA DE QUEM SE REALIZARA NA VIDA. E PARTIRA CHEIO DE CORAGEM.

CATARINA ATIROU-SE SOBRE O CADÁVER DO FILHO.

CATARINA  -  Não existe ninguém mais belo do que o meu filho! Não existe ninguém mais forte! Meu filho é valente! Meu filho é homem! Lindo! Meu filho! Meu filho...

CORTA PARA:

CENA  6  -  PORTO AZUL  -  MANSÃO DE OTTO MULLER  -  SALA  -  INTERIOR  -  DIA

LIA CORREU AO TELEFONE. ERA TULA.

LIA  -  Como disse? Otto? Otto?

O TELEFONE ESCORREGOU-LHE DAS MÃOS E CAIU NO TAPETE DA GRANDE SALA DO PALACETE. AO MESMO TEMPO A EMPREGADA CHEGAVA, NERVOSA.

EMPREGADA  -  Dona Lia... Seu Válter, Dona Vanda Vidal e o Dr. Cyro Valdez acabam de chegar! Foram direto para a delegacia...

LIA  -  (suspendeu o fone do chão e gritou) Tula! Tula! Dr. Cyro acaba de chegar a Porto Azul. Você acha que adianta alguma coisa? Devemos tentar?


FIM DO CAPÍTULO 118

NÃO PERCA, NA PRÓXIMA QUINTA, O PENÚLTIMO CAPÍTULO!