sábado, 31 de dezembro de 2011

IRMÃOS CORAGEM - Capítulo 112


Roteirizado por Toni Figueira
do original de Janete Clair 

CAPÍTULO 112
PARTICIPAM DESTE CAPÍTULO:
INDAIÁ
DELEGADO FALCÃO
RODRIGO
PROMOTOR
BRANCA
JERÔNIMO
LÍDIA
EMPREGADA
ALBERTO
JOÃO
DELEGADO CASTRO
MULHER

CENA 1  -  COROADO  -  CASA DE RODRIGO  -  QUARTO DE POTIRA  -  INT.  -  DIA.

Potira não insistia, mas esperava que Indaiá lhe contasse o segredo. Pelo menos fôra para isso que a mulher a chamara. E agora, face a face, com os grandes olhos negros mais profundos do que nunca, a mestiça ouvia as revelações inacreditáveis.


INDAIÁ  -  Tu era criancinha de colo, quando deixei teu pai por Sebastião. Deixei tu, também. Teu pai foi atrás de mim, disposto a tudo. Numa briga, Bastião deu fim nele e fugiu. Eu fiquei e tomei toda a culpa. Fui presa e condenada. Achei que eu merecia o castigo e aceitei a pena que eu mesma me impus. Achei que merecia o castigo e com isso me limpei. (as duas mulheres não podiam esconder a emoção)  Sebastião, então, te pegou e levou pra longe. E guardou o segredo até o fim da vida.

CORTA PARA:

CENA 2  -  COROADO  -  DELEGACIA  -  INT.  -  DIA.

Falcão não acreditava no que Rodrigo dizia.


DELEGADO FALCÃO  -  O que tá me dizendo? Estêve com João e Alberto?

RODRIGO  -  Sim... e ouvi coisas muito interessantes...  (voltou-se para a mulher que se escondera por trás de seu corpo forte)  Por favor, Dona Branca! (Falcão olhou, abismado, para a mulher)  Ela tem revelações a lhe fazer, delegado.

Falcão sentou-se, preparando-se para ouvir. Havia como que um silencio macabro no interior da delegacia.

CENA  3  -  COROADO  -  DELEGACIA  -  INT.  -  DIA.


DELEGADO FALCÃO  -  Confesso que tou besta com tudo isso que acabo de ouvir! Parece mentira!

RODRIGO  -  Eu também... embora... já tivesse havido suspeita de que Lourenço estava vivo. Depois da exumação do corpo dele, qualquer dúvida existente foi afastada. Dona Branca acabou de confessar e creio que todos entenderam muito bem.  Houve dois crimes e em nenhum deles João Coragem teve a menor participação. (andava de um lado para outro dentro da pequena sala, esfregando as mãos, nervosamente)  A confissão dela e do Sr. Laport é o suficiente para que ele me tome como advogado e eu encete as providencias que o caso requer. Não, senhor promotor?

O novo promotor fez que sim com a cabeça. Também ele estava presente á confissão da mulher de Lourenço.

DELEGADO FALCÃO  -  (buscou uma derradeira saída)  Agora... é preciso apelar para uma instância superior, né, seu doutor promotor?

PROMOTOR  -  Evidente. Mas o Doutor Rodrigo sabe o que fazer.

RODRIGO  -  Claro.  Como advogado de João vou pedir a revisão criminal imediatamente. (virou-se para o delegado)  Eu sou responsável por Alberto. Quando voltar, o trarei para que seja julgado...

As mãos da mulher buscaram a face, enquanto um soluço rouco lhe saía de dentro do peito.


BRANCA  -  Me prendam no lugar dele! Ele não é responsável pelo que fêz! Eu e o pai dele é que fomos os verdadeiros culpados! É um menino bom! Eu mereço a punição... ele, não!

CORTA PARA:

CENA 4  -  COROADO  -  CASA DE JERÔNIMO  -  SALA  -  INT.  -  NOITE.

Os constantes e diários atritos infernizavam a vida de Jerônimo e Lídia. O fantasma de Potira tornara-se forma viva e não deixava o pensamento do rapaz. A mulher percebia-lhe o sofrimento. E as brigas se tornavam diárias.

Naquela noite a mulher tomara uma decisão. Aguardara a chegada do marido para romper de uma vez com os vínculos e com.. a vida. Esperara horas o retorno do marido ao lar. E agora, apontava o revólver, friamente, em sua direção. Jerônimo rodeava-a à procura de uma oportunidade para lhe tirar a arma.


JERÔNIMO  -  Olha aqui, Lídia... (movia as mãos em sinal de calma)  Num vim aqui pra te matar... não que você num mereça. Mas eu num tou pra me desgraçar por tua causa.

LÍDIA  -  Mas eu vou me desgraçar e não tenho medo de nada.

Jerônimo falou-lhe do pai e de sua vida na cidade.


JERÔNIMO  -  Escuta... vou te dar até amanhã pra deixar esta cidade.

LÍDIA  -   ...e eu te dou um minuto pra você se despedir da vida.

JERÔNIMO  -  (engrossou)  Deixa de ser bêsta! Larga mão de tragédia. Se eu quissesse dar fim a você, já tinha dado... e não seria esse teu revólver que me assustaria...

Lídia não se movia. Ereta. Tranquila. Apontando a arma como se torturasse um condenado à morte.


LÍDIA  -  Te digo uma coisa... cheguei a um ponto que não suporto mais. Prefiro te ver morto, do que saber que você tá junto daquela sujeitinha...

Veio a confirmação brutal.


JERÔNIMO  -  Será que você não entende... que eu não gosto de você?

LÍDIA  -  Por causa dela?

JERÔNIMO  -  Por causa de ninguém, Lídia! Mulher nenhuma pode obrigar um homem a ter amor por ela! E a mulher que gosta de verdade, não faz o que você costuma fazer...

LÍDIA  -  Eu queria lutar pra te conquistar! Mas agora eu quero que você morra!

O  dedo ia premir o gatilho. Num golpe rápido, Jerônimo agarrou-lhe a mão, voltando inadvertidamente o cano na direção da esposa. O tiro ecoou forte em meio à luta do casal. Lídia abriu os olhos, arregalando-os de forma inumana Incontinenti pôs a mão sobre o estômago. Lídia aos poucos foi caindo ao chão.


EMPREGADA  -  Dona Lídia! Dona Lídia!

A voz trêmula da empregada despertou Jerônimo da inércia momentânea. Atirou o revólver para longe.


JERÔNIMO  -  Eu... não queria! Juro... foi... sem querer.

A empregada não suportou a cena e gritou descontrolada, enquanto Jerônimo fugia.


EMPREGADA  -  Socorro! Socorro! Socorro!

CORTA PARA:

CENA  5  -  COROADO  -  DELEGACIA  -  INT.  -  DIA.

Falcão retirou as algemas do prisioneiro diante dos olhares vigilantes dos soldados.


DELEGADO FALCÃO  -  Caiu como um patinho!

ALBERTO  -  Eu tinha prometido ao doutor promotor que ia me entregar... não precisava nada disso. Queria só era agarrar o sujeito que está com o diamante do João, é o mesmo que matou meu pai.

DELEGADO FALCÃO  -  Pois é... seu pai. Tão bonzinho! Coitadinho dele! Não fez nada para merecer o destino que teve!

O  gesto do delegado despertava instintos incontroláveis no adolescente. Os dentes rangiam-lhe. As mãos, agrilhoadas pelas algemas, moviam-se como que à procura da garganta do inimigo. Alberto chorava de raiva.


ALBERTO  -  Ele pode ter feito o que fez, mas era meu pai. E não tem direito de fazer piada de um negócio tão grave.

DELEGADO FALCÃO  -  Minha raiva é que o João não voltou com você!

ALBERTO  -  E nem vai voltar!  Pode perder as esperanças... porque pra esta cadeia ele não volta nunca mais!

DELEGADO FALCÃO  -  Veremos!  Ele pode tá aguardando a decisão da justiça... mas enquanto não dão a última palavra... ele tem que ficar aqui com você! Os dois na cadeia, mofando! Com ou sem culpa no cartório!

CORTA PARA:

CENA  6  -  BELO HORIZONTE  -  BOUTIQUE  -  INT.  -  NOITE.

A esta altura, João Coragem se encontrava longe. Viajara para a capital, seguindo a trilha que o levava aos responsáveis pela trama e pelo roubo do diamante. A boutique com suas vitrinas de letras douradas e decoração de bom gosto, ali estava. Era aquela. Não havia ninguém, devido o adiantado da hora. João entrou. E interrogava sem pena a mulher que estava à sua frente.


MULHER  -  Basta! Estou cansada disso tudo. Eu vou dizer o que sei...

JOÃO  -  A gente tá ouvino. Diga.

MULHER  -  É verdade, sim. Eu fui procurar a moça, enfermeira, à procura da pedra. Como é verdade que estive em São Paulo, com Lourenço. Foi ele quem me garantiu que o diamante estava com ela. E tudo o que tenho feito é procurar esta pedra... e se você fosse mais esperto, João, teria a certeza de que Iolanda é uma farsante. Ela engana você, seu bobo. Engana todo mundo. Leva ela à polícia e a obriga a dizer onde escondeu o diamante!

João olhou espantado para a mulher.

CORTA PARA:

CENA  7  -  COROADO  -  DELEGACIA  -  INT.  -  DIA.

A grande notícia correu Coroado de ponta a ponta. Diogo Falcão fôra destituído das funções de delegado. Já não mandava. Já não impunha a sua lei tendenciosa na pequena mas atormentada cidade do sertão mineiro.


O novo delegado, Castro, viera de outra região. Tipo caladão, porte médio, cabelos lisos. Ele ergueu os olhos para atender o ex-promotor, que acabara de chegar, esbaforido.


RODRIGO  -  Senhor delegado... tenho uma queixa muito grave a lhe fazer!

DELEGADO CASTRO  -  (franziu a testa)  De que se trata? Sente-se.

RODRIGO  -  Já sabe que Jerônimo Coragem tentou matar a mulher dele e que escapou de ser preso em flagrante...

DELEGADO CASTRO  -  Sei. O antigo delegado deixou que ele fugisse.

RODRIGO  -  Mas se o senhor quiser, agarra ele... ele ainda está por aqui!

DELEGADO CASTRO  -  (levantou, agitado, incrédulo, segurando a arma que lhe pesava no cinto)  Sabe então onde ele está escondido?

RODRIGO  -  Não... mas com um pouco de inteligencia, o senhor encontra fácil. Ele estava esperando um encontro com outra pessoa, para escapar pra longe daqui... E essa pessoa foi ao encontro dele... na noite passada.

DELEGADO CASTRO  -  E daí? Quem é essa pessoa?

RODRIGO  -  Minha mulher. A índia Potira!

DELEGADO CASTRO  -  E o senhor sabe onde está sua mulher?

RODRIGO  -  Não, mas sei de quem sabe. O Dr. Maciel, o médico. Ele está por dentro. Sabe de tudo!


FIM DO CAPÍTULO  112
  e no próximo capítulo...

*** Pedro Barros, quase falido, decide vender sua fazenda e tem uma terrível surpresa quando o novo proprietário se apresenta para tomar posse das terras!!!

***   No próximo capítulo, importantes revelações sobre o roubo do diamante de João!

NÃO PERCA O CAPÍTULO 113 DE
ÚLTIMOS CAPÍTULOS! EMOÇÕES FINAIS!  


E VEM AÍ...
BASEADA NA NOVELA DE DIAS GOMES, GRANDE SUCESSO 
NOS ANOS 70!

ASSIM NA TERRA COMO NO CÉU - chamada

             VEM AÍ...

                       
BASEADA NO GRANDE SUCESSO DE DIAS GOMES NOS ANOS 70,  LIVREMENTE ADAPTADA PARA OS DIAS ATUAIS POR TONY FIGUEIRA.


                         ESTRÉIA DIA  01 DE FEVEREIRO!

IRMÃOS CORAGEM - Capítulo 110


Roteirizado por Toni Figueira
do original de Janete Clair 

CAPÍTULO 110
PARTICIPAM DESTE CAPÍTULO:
RODRIGO
JUIZ
PEDRO BARROS
ESTELA
PROMOTOR
SINHANA
DR. MACIEL
MÁRCIA

CENA 1  -  COROADO  -  TRIBUNAL DO JURI  -  INT.  -  DIA.

Rodrigo dirigiu-se ao juiz mais uma vez solicitando a palavra, depois do depoimento de Cema e Braz Canoeiro.


RODRIGO  -  Meritíssimo, senhores jurados, peço a vossa atenção para a testemunha que agora irá depor. Seu depoimento vai jogar por terra toda a brilhante argumentação do meu ilustre colega, do Ministério Público. Dentro de alguns minutos estareis inteiramente convencidos de que não foi João Coragem quem matou Lourenço D’Ávila. Se alguém devia estar sentado no banco dos réus, não devia ser ele. (depois de uma pequena pausa e de manusear um bloco de anotações, Rodrigo voltou a falar)  Meritíssimo, peço que seja chamada a testemunha... Estela Barros!

A citação do nome da ex-mulher do coronel provocou intenso rebuliço no recinto do tribunal.

JUIZ  -  Dona Estela Barros, queira se apresentar para depor.

Elegantemente trajada e com os cabelos bem penteados, Estela sentou-se no banco das testemunhas.


Pedro Barros bufava, com os braços cruzados e o charuto empesteando o ambiente.


PEDRO BARROS  -  Essa sujeita! Teve coragem de vir depor!

Depois da identificação da testemunha, o juiz entregou-a ao advogado de defesa.


JUIZ  -  A defesa pode interrogar a testemunha.

RODRIGO  -  (dirigiu-se à mulher)  Dona Estela... quais eram suas relações com a vítima?

ESTELA  -  Bem... ele era empregado de meu marido. Isto é, de meu ex-marido...

RODRIGO  -  Só empregado? Ele não costumava acompanhá-la a alguns lugares?

ESTELA  -  Sim. Ele ás vezes me fazia companhia quando eu ia ao clube, jogar, por exemplo. Era muito amável e...

RODRIGO  -  (cortou o complemento da frase)  Essa amabilidade não era fruto de um sentimento mais íntimo?

ESTELA  -  O senhor está querendo insinuar que ele era apaixonado por mim. Sim... isto é verdade!

Pedro Barros inchou de raiva.

RODRIGO  -  Essa paixão era do conhecimento de seu ex-marido? O Coronel Pedro Barros sabia dos sentimentos do empregado para com a senhora?

ESTELA  -  No princípio, não. No fim ele acabou descobrindo. Depois do roubo do diamante.

PROMOTOR  -  (ergueu-se, possesso)  Protesto, meritíssimo. A defesa está tentando enlamear a honra de um homem que nada tem a ver com o crime que estamos julgando.

RODRIGO  -  Ao contrário.  O que a defesa quer provar é justamente que esse homem tem muito a ver com esse crime.

JUIZ  -  Protesto recusado!

RODRIGO  -  Dona Estela,  sendo tão íntima da vítima, ela não lhe confidenciou coisa alguma a respeito do roubo do diamante?

ESTELA  -  Claro! Ele me contou tudo, antes mesmo do roubo ser efetuado.

O depoimento alcançara o grau de gravidade que interessava à defesa. Dali era seguir pela trilha da verdade e encontrar a estrada da liberdade para o réu.


RODRIGO  -  Contou o quê?

ESTELA  -  Que meu ex-marido, Coronel Pedro Barros, havia mandado roubar o diamante!

O silencio que antecedera à revelação contrastava com a balbúrdia provocada pela confissão de Estela Barros.


PEDRO BARROS  -  (berrou do fundo do auditório, desesperado)  Isto é mentira! Esta mulher é uma mentirosa!

JUIZ  -  (repicava a sinêta desesperadamente)  Lembro mais uma vez ao auditório que não pode se manifestar!

RODRIGO  -  Mas... se Lourenço D’Ávila roubou o diamante a mando do coronel, por que não entregou a ele a pedra?

ESTELA  -  Lourenço traiu. Fugiu com o diamante deixando Pedro louco de raiva.

RODRIGO  -  E o coronel, que medidas tomou?

ESTELA  -  Chamou o delegado, furioso, e exigiu que Lourenço fosse preso.

RODRIGO  -  Não mandou, também, seus capangas em perseguição do fugitivo?

ESTELA  -  Não sei.  Mas é bem possível. Ele é homem pra isso.

Houve um protesto imediato do promotor, acatado pelo juiz. A defesa prosseguiu, logo após.


RODRIGO  -  A testemunha disse que, depois do roubo e da fuga de Lourenço, o Coronel Pedro Barros descobriu as relações amorosas que ela, testemunha, mantinha com a vítima.

ESTELA  -  Eu não disse que nós mantínhamos relações. Disse, apenas, que ele era apaixonado por mim. Eu não tinha culpa disso. E nunca lhe dei esperanças.

RODRIGO  -  Mas... o coronel acreditou nisso?

ESTELA  -  Não. Ele não acreditou. Expulsou-me de casa. E por isso nós nos desquitamos.

RODRIGO  -  Obrigado. É só, meritíssimo.

JUIZ  -  A testemunha está dispensada.

RODRIGO  -  Vejam, senhores jurados!  Após este depoimento o caso muda de figura. Está claro agora que Lourenço D’Ávila roubou o diamante de João Coragem a mando de seu patrão, o Coronel Pedro Barros. O próprio filho do coronel, Juca Cipó, participou do assalto que teve requintes de bestialidade, conforme o depoimento da testemunha Cema. Após o roubo, entretanto, Lourenço traiu Pedro Barros, seu patrão, fugindo com o diamante. Daí para frente, Pedro Barros teria tantas razões quanto João Coragem para eliminar o antigo capanga. E como se isso não bastasse, veio ele a descobrir que sua própria esposa o traía com Lourenço. Para um homem como Pedro Barros, ser duplamente traído é inadmissível. Desde aquele momento, Lourenço D’Ávila estava marcado para morrer. Peço aos senhores jurados que meditem sobre isso. Antes de cometer uma injustiça condenando um homem absolutamente inocente!

Ao retirar-se do recinto, Rodrigo fitou o rosto pálido do coronel. Uma máscara de ódio.


JUIZ  -  (voltou a falar, dirigindo-se aos presentes)  Peço às pessoas que aqui estão, com excessão dos senhores jurados, e dos senhores advogados de acusação e defesa, que se retirem da sala. Os senhores jurados vão permanecer para deliberar sobre a culpabilidade do réu. Está suspensa a sessão até a leitura da sentença.

CORTA PARA:

CENA 2  -  COROADO  -  TRIBUNAL DO JURI  -  INT.  -  DIA.

Durante hora e meia os jurados deliberaram sobre a inocência ou não de João Coragem. Agora o Tribunal novamente recolhia o público das primeiras horas. Eletrizado, João se mantinha ereto, absolutamente impassível, entre os dois soldados do destacamento policial.


O juiz levantou-se, no alto de seu estrado, e começou a ler a decisão da equipe de jurados.


JUIZ  -   ...assim, de acôrdo com as respostas dos senhores jurados, aos quesitos formulados, declaro o réu... culpado (mal se pôde ouvir o restante da sentença, ante a confusão que se estabeleceu) ... e condeno-o à pena de 20 anos de prisão celular.

SINHANA  -  Meu filho! (gritou, desolada)  Meu filho é inocente! Meu Deus do Céu! Mas isso é uma maldade muito grande!

Grossas lágrimas desciam incontroláveis dos olhos da velha. Jerônimo procurava acalmá-la.

CORTA PARA:

CENA 3  -  COROADO  -  HOSPITAL  -  INT.  -  DIA.

Do outro lado da cidade, Maciel erguia nos braços a criança que acabara de nascer.


DR. MACIEL  -  Mas é uma beleza de menino!

MÁRCIA  -  Um menino? (perguntou, feliz. Com o pensamento ligado ao marido distante).

DR. MACIEL  -  Por Deus que agora preciso de um trago. Duplo: para matar a sêde e saudar uma nova vida que surge!

FIM DO CAPÍTULO 110
Lídia (Sonia Braga), Rodrigo (José A. Branco), Alberto (Michel Robin) e Cema (Suzana Faini)
 e no próximo capítulo...

*** Falcão explode de contentamento ao comunicar na delegacia que João foi condenado!

***   Dalva vai á delegacia comunicar a João que seu filho nasceu.

***  Alberto se revolta com a mãe, Branca, e exige que conte a verdade, inocentando João. Como ela se recusa, o rapaz resolve contar tudo o que sabe a Rodrigo.

*** Jer|ônimo é afastado do cargo de prefeito de Coroado! 

NÃO PERCA O CAPÍTULO 111 DE
 ÚLTIMOS CAPÍTULOS! EMOÇÕES FINAIS!

quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

IRMÃOS CORAGEM - Capítulo 109


Roteirizado por Toni Figueira
do original de Janete Clair 

CAPÍTULO 109
PARTICIPAM DESTE CAPÍTULO:
DELEGADO FALCÃO
JOÃO
ALBERTO
JUIZ
PROMOTOR
BRANCA
PEDRO BARROS
SINHANA
POTIRA
MANUEL ANDRADE
RODRIGO

CENA 1  -  COROADO  -  DELEGACIA  -  CELA DE JOÃO  -  INT.  -  DIA.

A hora tinha chegado. Dia claro, com algumas nuvens pintando de branco o azul do infinito. Com um charuto no canto da boca, Falcão chegou até a porta da cela, escancarando-a.


DELEGADO FALCÃO  -  Vamos indo, João. Chegou a tua hora.

O garimpeiro apertou as mãos do companheiro de prisão, visìvelmente intranquilo.

JOÃO  -  Reza por mim, Alberto.

ALBERTO  -  Vai com Deus. E pode estar certo de uma coisa: Teu julgamento é também o meu. A minha sentença.

CORTA PARA:

CENA 2  -  COROADO  -  TRIBUNAL DO JURI  -  INT.  -  DIA.

Dois soldados ladearam o prisioneiro até o Tribunal do Júri. Tribunal pobre, de paredes caiadas. No alto da parede, por trás do juiz, um crucifixo de madeira, com um Cristo em marfim. Sala repleta. O juiz segurou o martelo e pediu silencio.

Sob os olhares de piedade, raiva, curiosidade e amor, João Coragem surgiu pela porta traseira e sentou-se diante dos 7 jurados, de frente para o magistrado.

O juiz iniciou o interrogatório.


JUIZ  -  Seu nome?

JOÃO  -  João Coragem.

JUIZ  -  Idade?

JOÃO  -  32 anos.

JUIZ  -  Nome dos pais?

JOÃO  -  Sebastião Coragem e Ana Ribeiro Coragem.

JUIZ  -  Residência?

JOÃO  -  Uai... aqui mesmo, em Coroado. O senhor sabe.

JUIZ  -  Profissão?

JOÃO  -  Garimpeiro. Qué dizê... quando me deixavam. Agora, eu sou... vingadô, curandeiro, justiceiro... santo milagreiro... uma porção de coisas.

O auditório riu ante as palavras simples do réu. O juiz pediu silencio, badalando a sinêta.

JUIZ  -  O réu deve limitar-se a responder às perguntas.

JOÃO  -  Tou respondendo, uai.

JUIZ  -  O réu conhecia a vítima, Lourenço D’Ávila?

JOÃO  -  Conheci, sim senhô.

JUIZ  -  De acordo com os autos, o réu estêve em casa da esposa da vítima, em Morrinhos, no dia em que foi cometido o crime. Confirma?

JOÃO  -  Eu num sei, seu doutô, que dia foi cometido o crime. Só sei que estive lá, uma vez, uma semana depois do sem-vergonha do Lourenço ter roubado minha pedra.

JUIZ  -  Advirto o réu que deve referir-se à vítima com mais respeito.

JOÃO  -  Seu doutô juiz, me desculpe. Mas... que era um sem-vergonha, era, que Deus me perdoe.

O auditório tornou a rir e o magistrado, mais uma vez, badalou a sinêta, exigindo silencio. O juiz começava a impacientar-se com as tiradas do prisioneiro.

JUIZ  -  Quando roubaram sua pedra?

JOÃO  -  Durante a festa do Divino, do ano passado. Lourenço D’Ávila e mais três ou quatro capangas do Coronel Barros, invadiram minha casa, espancaro meu pai, judiaro de Cema e levaro o maior diamante encontrado por estas banda. Todo mundo sabe disso.

JUIZ  -  Por causa desse roubo o réu saiu em perseguição a Lourenço D’Ávila?

JOÃO  -  Logo, logo, não! Foi uma semana depois. Quando vi que os macaco aí da delegacia num ia fazê nada. Aí, eu decidi ir atrás do patife...

JUIZ  -  Quando tomou essa decisão, o réu tinha o propósito de matá-lo?

JOÃO  -  Tinha, sim, senhô. Mas não matei. Não matei porque não encontrei. Só por isso.

Um zumbido, como se um enxame de abelhas cruzasse o ar, tomou conta do auditório.


O promotor pediu a palavra e dirigiu-se aos jurados.

PROMOTOR  -  Senhores jurados, (com gestos teatrais)  está mais do que claro. O próprio réu confessou que partiu desta cidade em perseguição à vítima, com o propósito deliberado de matá-la. Chegando à casa de sua esposa, Dona Branca D’Ávila, declarou francamente suas intenções homicidas. O réu não nega isto. E, segundo o laudo médico, naquele mesmo dia, talvez minutos depois, Lourenço D’Ávila foi liquidado com requintes de maldade. Seu rosto foi completamente desfigurado e seu corpo atirado ao rio, só sendo encontrado uma semana depois. O réu nega o crime. Tratava-se de um homem violento, que foi capaz de organizar um bando de facínoras pra desafiar a lei e as autoridades. Quem conhece este homem, não pode duvidar de que ele conseguiu seu propósito. (apontou dramàticamente para João Coragem, humildemente vestido e com a barba crescida, de muitos meses)  Ele matou Lourenço D’àvila!

JOÃO  -  (interveio, colérico)  Nada disso é verdade! Tudo isso aí é um amontoado de mentira e de besteirada!

O promotor empalideceu. Ligeiro tumulto tomou conta da sala.


JUIZ  -  Silencio, senhores!

JOÃO  -  Por causa disso é que eu num me entregava! Porque sabia que isso aqui ia sê uma palhaçada! Tá aí! Dito e feito!

JUIZ  -  (batendo o martelo na mesa)  Advirto novamente o réu de que não pode se manifestar!

JOÃO  -  Eu num posso me manifestá? Ele diz um monte de baboseira e eu tenho de ficá calado?

JUIZ  -  Tem! Do contrário mandarei retirá-lo da sala e o julgamento prosseguirá sem a sua presença.

JOÃO  -  Tá bem...  cês tão com a força. Tá bem!

JUIZ  -  O senhor promotor tenha a bondade de prosseguir!

PROMOTOR  -  Peço ao meritíssimo que chame a testemunha, Dona Branca D’Ávila.

O juiz convidou a mulher a depor.

CORTA PARA:

CENA 3  -  COROADO  -  TRIBUNAL DO JURI  -  INT.  -  DIA.


BRANCA  -  Quando se despediu de mim, ele disse que ia acabar com a vida de meu marido.

Durante meia hora a mulher respondeu às perguntas da promotoria, construindo uma rêde de acusações contra o garimpeiro.

Pedro Barros assumiu o posto, logo após a saída de Branca D’Ávila. No melhor dos seus ternos, cordão de ouro saindo-lhe do bolso do colête, o coronel ergueu o busto como um soldado perfilado.


JUIZ  -  Seu nome?

PEDRO BARROS  -  Pedro Barros.

JUIZ  -  (perguntou, solene)  O senhor promete, sob palavra de honra, dizer a verdade, sobre tudo o que lhe for perguntado?

PEDRO BARROS  -  Prometo.

JUIZ  -  A testemunha está à disposição do Ministério Público, que pode inquiri-la diretamente.

O Promotor Luís preparou a cena, encaminhando-se lentamente para a testemunha de acusação.


PROMOTOR  -  Quais eram as relações da testemunha com a vítima?

PEDRO BARROS  -  Lourenço era meu empregado.

PROMOTOR  -  A testemunha admite que ele tenha roubado o diamante encontrado pelo réu?

PEDRO BARROS  -  Eu não sei de nada... é o que dizem. Eu não tenho nada com essa história.

JOÃO  -   (levantou-se protestando em altos brados)  Como é que não tem nada? Se foi ele quem mandou roubar?

JUIZ  -  Advirto o réu, pela última vez, que não tem o direito de se manifestar.

JOÃO  -  Mas é muito difícil, seu juiz, ouvi um camarada desse, dizê quie não tem nada com a história! Bancá o santo! Ele que não só mandô roubá  meu diamante, como também tem roubado todo mundo aqui, há anos e anos!

A  sinêta vibrou demoradamente e o juiz dirigiu-se ao réu com energia, meio descontrolado.

JUIZ  -  Ordeno que se cale!

JOÃO  -  (não deu ouvidos à determinação)  Este é o maior ladrão e assassino que já houve por estas bandas!

CORTA PARA:

CENA 4  -  TRIBUNAL DO JURI  -  INT.  -  DIA.


PROMOTOR  -  Peço ao meritíssimo que seja chamada a testemunha Manuel Andrade.

Por um momento o tribunal pareceu transformar-se numa feira livre. Ninguém jamais ouvira falar no nome da testemunha invocada pela acusação.

SINHANA  -  (voltando-se para Potira)  Quem é esse cara?

POTIRA  -  Sei não.  Nunca vi falar nesse nome.

O homem, magro e com amplas entradas na cabeça, tinha o aspecto doentio de um tuberculoso. Ombros estreitos, cuvados em circunflexo e um terno preto, esverdeado pelo uso. Figura repugnante.


MANUEL ANDRADE  -   ...prometo, sim, senhor.

PROMOTOR  -  Profissão?

MANUEL  ANDRADE  -  Boiadeiro, sim, senhor.

PROMOTOR  -  Residencia?

MANOEL  -  Cumo é?

PROMOTOR  -  Onde mora, onde trabalha?

MANOEL  -  Ah... lá pras riba de Morrinhos. Trabalhei muito tempo na Faznda do Coronel Tertuliano.

PROMOTOR  -  Que é que o senhor andava fazendo por aqui, em janeiro do ano passado?

MANOEL  -  Tava de passage...

PROMOTOR  -  Quando o senhor passou pela margem do rio Coroado, nas proximidades do garimpo dos Coragem... viu algo de anormal?

MANOEL  -  Me lembro que vi um home a cavalo, carregando outro home, que parecia desmaiado ou morto. Esse home chegô na beira do rio e jogô o outro dentro d’água. Dispois sumiu a galope. Era de manhãzinha. O dia tava nascendo.  Mas ainda era meio escuro.

PROMOTOR  -  E a testemunha, o que fez?

MANOEL  -  Eu? (perguntou, apontando para o próprio peito)  Eu cheguei perto do lugá onde ele tinha jogado o corpo... mas num vi mais nada. O corpo tinha sumido dentro d’água.

PROMOTOR  -  E o homem a cavalo? A testemunha seria capaz de reconhecê-lo?

MANOEL  -  Como já disse... inda tava meio escuro... mas, eu acho que... que se visse ele de novo...

Esticando um dedo curto e gordo, de unhas brilhantes, o promotor apontou para João Coragem.


PROMOTOR  -  Foi aquele homem que está ali sentado no banco dos réus?

O boiadeiro hesitou um pouco, fitando demoradamente o rsoto do acusado. João esperava. Finalmente, o magricela decidiu responder.


MANOEL  -  Acho que foi, sim senhor.

PROMOTOR  -  (insistiu)  Acha... ou tem certeza?

MANOEL  -  Tenho certeza!  Foi ele. Por essa luz que me alumia. Foi ele!

Vozerio e agitação transtornaram os trabalhos, paralisando-os por alguns segundos. A sinêta do juiz vibrou nervosamente.


PROMOTOR  -  Obrigado, meritíssimo!

JUIZ  -  A defesa quer interrogar a testemunha?

RODRIGO  -  Sim, meritíssimo.

Deu alguns passos no interior da sala, olhando fixamente os jurados.


RODRIGO  -  A testemunha disse que ainda era noite, quando se deu o fato que acabou de relatar.

PROMOTOR  -  (interveio)  Perdão, a testemunha não disse que era noite. Disse que o dia estava amanhecendo.

RODRIGO  -  Ou isso.   O fato é que não era ainda dia claro. Não é isso?

MANOEL  -  É, sim senhor.  Inda tava assim meio luscofusco.

RODRIGO  -  A que distancia se encontrava do tal homem?

MANOEL  -  (meio hesitante)  Assim, uma coisa como daqui, lá na igreja...

RODRIGO  -  Daqui lá na igreja deve ter pelo menos uns cem metros!

PROMOTOR  -  Protesto, meritíssimo!  O meu colega de defesa está querendo confundir a testemunha.

RODRIGO  -  Não estou querendo confundir nada. Ao contrário. Estou querendo precisar as coisas. Ainda que não haja cem metros daqui até a igreja, o fato é que a testemunha estava a uma distancia bastante grande para poder, naquela hora da manhã, distinguir as feições da pessoa que atirava o cadáver dentro d’água. (retornando ao banco de defesa, Rodrigo agradeceu ao juiz)  Obrigado, meritíssimo. Era só o que eu queria esclarecer.

JUIZ  -  A testemunha está dispensada.

O promotor retornou ao centro da sala.


PROMOTOR  -  Senhores jurados: as provas e os testemunhos apresentados são suficientes para chegarmos a uma conclusão: João Coragem matou Lourenço D’Ávila e o fez premeditadamente, com requintes de selvageria. Não há atenuante para esse crime, que seria apenas o primeiro elo de uma cadeia de muitos outros, que durante um ano revoltariam e tumultuariam toda esta região pacífica, cobrindo de vergonha  a nossa cidade e o nosso Estado. Por isso eu peço para o réu a pena máxima.E que os senhores jurados tenham consciência do seguinte: condenar João Coragem não é apenas punir um assassino. É agir em nome de Deus, da Família e da Sociedade!

FIM DO CAPÍTULO 109

 e no próximo capítulo...

*** A entrada de Estela no Tribunal, para depor como testemunha de defesa João Coragem causa enorme burburinho, e deixa Pedro Barros possesso, mais ainda, quando acusa o coronel de ter mandado roubar o diamanete de João!

***  Nasce o filho de João e Lara!

NÃO PERCA O CAPÍTULO 110 DE 
ÚLTIMOS CAPÍTULOS 
EMOÇÕES FINAIS!

    

domingo, 25 de dezembro de 2011

IRMÃOS CORAGEM - Capítulo 108


Roteirizado por Toni Figueira
do original de Janete Clair 

CAPÍTULO 108
PARTICIPAM DESTE CAPÍTULO:
RITINHA
DUDA
DEOLINDA
PADRE BENTO
PEDRO BARROS
MARGARIDA
JUCA CIPÓ
SINHANA
JOÃO
DELEGADO FALCÃO

CENA 1  -  CASA DO RANCHO CORAGEM - SALA  -  INT.  -  DIA.

Na cesta algumas frutas maduras, exalando um aroma apetitoso. Nas mãos flores colhidas no percurso. Ritinha chegou à casa dos Coragem, depois de uma longa caminhada pela estrada barrenta que ligava o rancho á cidade de Coroado.


RITINHA  -  Sinhana! Sinhana! Tou aqui. Mandou me chamar?

Silencio.

Uma porta rangeu, de repente, assustando a moça e a voz de alguém muito conhecido despertou-lhe a atenção.


DUDA  -  Fui eu que mandei te chamar.

A cesta foi ao chão, por causa do nervosismo da jovem.

RITINHA  -  Eduardo! O que você tá fazendo aqui?

DUDA  -  O quê? (perguntou, dando largos passos na direção da mulher)  O quê? Vim te buscar, sua trouxa!

Ritinha atirou-se nos braços do marido, com os olhos cheios de lágrimas. Não havia palavras. Só a linguagem dos beijos, dos carinhos, poderia expressar o que ia na alma dos dois. Separaram-se depois de longos minutos.


RITINHA  -  Por quê? Por quê tá me xingando, benzinho? Tá zangado comigo?

DUDA  -  Você não merece... não merece todo o meu sacrifício. Claro que tou zangado! Isso é coisa que se faça?

RITINHA  -  Mas... o quê? (aflita)  Que foi que eu fiz?

DUDA  -  Pensa que eu não sei? Quatro! Quatro admiradores!

RITINHA  -  Nossa Mãe! Quem te contou uma coisa dessas?

DUDA  -  Uma carta de amigos, avisando das coisas todas que tão acontecendo aqui com você!

Um leve sorriso abriu por segundos os lábios da mulher.


RITINHA  -  Virgem mãe! Eduardo, é mentira!

DUDA  -  (segurou-a firme, pelo pulso. Quase a machucando)  Vamos lá... uma carta de amor do tal de Alberto D’Ávila. Você pode negar?

RITINHA  -  (baixando a cabeça, encabulada)  Bem... essa eu não nego.

DUDA  -  Convite pra passear dum tal vereador Jacinto! Nega?

RITINHA  -  Também não...

DUDA  -  Uma paquerada de um tal de promotor novo. Um Doutor Luís! Você confirma?

Ela fez que sim com a cabeça e um muxôxo de confirmação.

RITINHA  -  Aham!

DUDA  -  E por último... o sem-vergonha do Hernani! Que montou um cinema aqui em Coroado, só pra ficar perto de você. Você pode negar isso?

RITINHA  -  Hum, hum...

DUDA  -  Pois então! (fuzilava de ciúme)  O que foi que você virou? Conquistadora?

Ritinha resolveu retrucar à altura, apesar de estar levando na brincadeira a reação amoroso do marido.


RITINHA  -  Meu querido, eu não tenho culpa. Tou separada de você, abandonada! Afinal de contas, não sou nenhuma bruxa... todo mundo diz que sou uma gracinha... que culpa eu tenho?

DUDA  -  Uma gracinha... uma gracinha! (com raiva) Mas não é pro bico de qualquer sujeito, não!

RITINHA  -  Claro, meu amorzinho. Eu não dei confiança pra ninguém. Como é que podia dar, se meu pensamento tava com você? O tempo todo.

DUDA  -  Sei não... essa gente toda dando em cima de você... não é só pelo seu palminho de cara, não!

RITINHA  -  Tá bom! Muito bom, mesmo! Você veio aqui, em vez de sê pra me proteger, veio pra brigar comigo! Pois não devia ter vindo, ora! Eu não te chamei, chamei?

DUDA  -  Não chamou, mas vou te levar!  Nem que seja amarrada. O médico não queria me deixar sair do hospital. Tive que ameaçar fugir de novo. Aí ele me deu um dia de licença.

RITINHA  -  Como tá tua perna?

DUDA  -  Vai indo... tou em tratamento rigoroso... já me sinto melhor. Tava era abandonado... (puxou a esposa para seu colo, abraçando-a apaixonadamente).

Ritinha encostou a cabeça no ombro do marido, alisando-lhe o rosto barbado.

RITINHA  -  Agora eu cuido de você, amorzinho. Nenhum de nós vai mais ficar abandonado.

DUDA  -  Vamos já... tenho uma coisa a te dizer... em particular.

CORTA PARA:

CENA 2  -  COROADO  -  CASA DE DEOLINDA  -  SALA    -  INT.  -  DIA.


DEOLINDA  -  (parecia uma fera, diante da realidade)  Ele não vem, padre!

PADRE BENTO  -  Vem, vem! Falcão foi buscá-lo à força!

DEOLINDA  -  (tremia de impaciencia e raiva)  Era só o que faltava! Justamente minha filha... ter que casar na polícia!

PADRE BENTO  -  Não será assim, Dona Deolinda.  Para não dar essa impressão sugiro que vamos todos para a igreja, onde será realizado o casamento...

DEOLINDA  -  Mesmo assim, é um casamento obrigado... e a culpada é ela!

Deolinda levantou, bruscamente, o rosto de Margarida, até àquele instante, cabisbaixa e inerte.

DEOLINDA  -  (recriminativa)  Não se envergonha de nos obrigar a passar por esta situação?

Padre Bento interveio, enérgico, como bom pastor de almas. Via na atitude da mãe um começo de infelicidade para a vida que se descortinava para a filha.

PADRE BENTO  -  Deixe a moça, Dona Deolinda! Não complique mais a situação!

DEOLINDA  -  Ver ninho de coruja... é no que dá! Essas moças de hoje! Ainda bem que meu Jorginho não está aqui. Ele morreria de novo, de vergonha!

CORTA PARA:

CENA 3  -  COROADO  -  IGREJA  -  INT.  -  DIA.


PEDRO BARROS  -  Juca!

A voz firme e grossa de Pedro Barros varreu a igrejinha de Coroado, como o dobre do sino. O moleque levantou-se, assustado, tentando escapulir pela porta aberta. O coronel agarrou-o pelo fundo das calças.


JUCA CIPÓ  -  (tentou correr)  Ai!

PEDRO BARROS  -  Vamos simbora, larga de manha, safado!

JUCA CIPÓ  -  Num vou! Num vou! Me larga!

PEDRO BARROS  -  Eu quero que case, ora! E vai casá...

JUCA CIPÓ  -  Num quero casá!  (esbravejava,  lunático)  Com Margarida, num quero! Num fui eu! Num fui eu! Tou jurando, num fui eu!

Pedro Barros fechou as mãos e aplicou alguns cascudos, com força, na cabeça do filho. Juca berrava como um garoto.

Margarida esperava-o, com um véu claro a cobrir-lhe o rosto meigo. O juiz conferiu a documentação, enquanto o sacerdote preparava tudo para o ato sagrado. Pedro Barros, sempre com o filho preso pelos fundilhos das calças, aproximou-se do altar.


PEDRO BARROS  -  Tá ele aqui, Padre! Filho meu não faz papel sujo com moça!

DEOLINDA  -  (pôs as mãos nos quadris, em atitude insolente)  Que papel, hem, Juca? Que papelão!

JUCA CIPÓ  -  Papel é o dela, não o meu!

PADRE BENTO  -  Psiu! Silencio! Respeitem a casa de Deus! (advertiu, já com as vestes sacramentais)  Meus filhos, é preciso viver em paz. Com tranquilidade, com Deus e com nossas próprias consciências.

Pedro Barros cortou a palavra do sacerdote, sem a mínima atenção.

PEDRO BARROS  Nada de sermão, padre! Casa logo, antes que o noivo fuja de novo!

O juiz pôs a mão sobre a boca, evitando rir das advertencias do coronel e da cara emburrada do jagunço.

PADRE BENTO  -  É preciso que os noivos se dêem as mãos, que se reconciliem. Deus quer assim!

O coronel deu um tapa com força no ombro do filho.

PEDRO BARROS  -  Dá a mão pra tua noiva, Juca!

JUCA CIPÓ  -  (batendo com o pé no chão, respondeu)  Num dou!

O coronel insistiu, já com outra atitude, os olhos pareciam jatos de fogo.

PEDRO BARROS  -  Dá, Juca. Acaba logo com isso! Tenho coisa mais importante a fazer. Pelo amor de Deus! (tornou a aplicar cascudos violentos na cabeça do filho)  Dá, desgraçado!

Juca estendeu a mão para Margarida, de olhos baixos e vermelha como crista de galo.

PEDRO BARROS  -  (ordenou, cofiando a barba grisalha)  Começa logo essa geringonça!

Padre Bento virou-se para a imagem no altar, abriu os braços e iniciou o casamento religioso.


PADRE BENTO  -  Senhor, meu Deus...

Ao fundo, observando com olhar irônico a solenidade, Hernani isolava-se de todos. Havia um quê de mistério no leve sorriso que lhe entreabria os lábios.

PADRE BENTO  -  (prosseguia)  Juca de Almeida Barros... é de sua livre e espontânea vontade que deseja se casar com Margarida Vieira?

Não houve resposta. Um arrepio percorreu a assistência. Barros cutucou com o cotovelo as costelas do jagunço.

JUCA CIPÓ  -  Que remédio, né?

PADRE BENTO  -  Margarida Vieira, é de sua livre e espontânea vontade que deseja se casar com Juca de Almeida Barros?

MARGARIDA  -  É, sim, senhor!

Benzendo as alianças, Padre Bento ajudou os recém-casados a colocá-las nos dedos.

JUCA CIPÓ  -  (disse baixinho, ao ouvido da mulher)  Tu me paga!

Estava findo o casamento.

CORTA PARA:

CENA 4  -  COROADO  -  DELEGACIA  -  SALA DE VISITAS  -  INT.  -  DIA.

Sinhana correra à delegacia para dar as novidades ao filho.


SINHANA  -  Não passa de hoje. Vim só te avisá!

Um riso de felicidade alegrou a face do garimpeiro.

JOÃO  -  Puxa vida! Meu filho tá pra nascê. Logo hoje... quando vai sê decidido meu destino!

SINHANA  -  Deus faz as coisa certa, meu filho!

JOÃO  -  Moleque levado! Tá é aflito pra sabê o destino do pai! E ela, como tá?

SINHANA  -  Sentida de num tá presente, hoje...

JOÃO  -  Bobage... (repentinamente entristecido. A lembraça da esposa, distante, afastada, necessitada de sua presença, deixava-o irritado)  Primeiro nosso filho, uai!

SINHANA  -  E tu... tá animado?

JOÃO  -  Sei lá, mãe. Tou é louco pra me ver livre daqui. Reza, mãe. Pede pra Deus, pras coisa terminá bem.

CORTA PARA:

CENA 5  -  COROADO  -  DELEGACIA  -  EXT.  -  DIA.

Falcão dava ordens rigorosas aos soldados que se agrupavam na porta da delegacia.


DELEGADO FALCÃO  -  Todo mundo de ôlho. Vigilância redobrada. O negócio hoje vai esquentar com o julgamento de João Coragem. Vocês me apertem o cêrco. Todo mundo conhece os homens dele. Não deixem nenhum daqueles cabras entrá. Eles estão doidos e são capazes de tudo...


FIM DO CAPÍTULO 108
Mingas (Ana Ariel), Pedro Barros (Gilberto Martinho), Falcão (Dollabela), Juca (Emiliano Queiroz) e Margarida (Leda Lucia), no divertido casamento de Juca Cipó
e no próximo capítulo... 

***  Tem início o julgamento de João Coragem, com todas as autoridades presentes ao Tribunal do Juri. Na tribuna, a população de Coroado aguarda, ansiosa, a sentença do juiz!

NÃO PERCA O CAPÍTULO 109 DE 
 

sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

IRMÃOS CORAGEM - Capítulo 107


Roteirizado por Toni Figueira
do original de Janete Clair 

CAPÍTULO 107
PARTICIPAM DESTE CAPÍTULO:

BRANCA
LAPORT
ALBERTO
JOÃO
LÁZARO


CENA 1  -  COROADO  -  HOTEL DO GENTIL PALHARES  -  QUARTO DE BRANCA  -  INT.  -  DIA.

Passadas as primeiras horas de surpresa, Branca retomara a tranquilidade emocional. A morte do marido era uma dessas coisas inexplicáveis e o aparecimento do corpo no túmulo onde fôra enterrado o desconhecido, parecia-lhe sobrenatural. Ela, agora, jantava sozinha no seu quarto de hotel. A presença de Laport, o homem com quem ela se casara, longe de perturbá-la, veio dar-lhe um pouco mais de força.


BRANCA  -  Você sumiu o dia inteiro!

LAPORT  -  Estou chegando agora... dei um pulo a Belo Horizonte. Fui tratar de negócios. E aqui, como foram as coisas?

BRANCA  -  Até agora... estou confusa. Eu não sei o que aconteceu!

LAPORT  -  Como?

BANCA  -  Era Lourenço! Ele mesmo! Morto e enterrado, sem a menor sombra de dúvida! Ele mesmo! Você entende?

LAPORT  -  (com sua pronúncia de estrangeiro, balançou a cabeça)  Non... sinceramente. Com certeza... houve engano.

BRANCA  -  Que engano, nada! Todo mundo viu logo! Era ele!

LAPORT  -  Estranho...

BRANCA  -  O rosto deformado... como da primeira vez. Mas muito fácil de ser identificado. E se restasse alguma dúvida, bastaria ver o laudo do dentista. A arcada dentária era dele!

LAPORT  -  Você me disse que há 3 meses atras esteve com Lourenço! Depois ele sumiu.

BRANCA  -  Exato. Há 3 meses. Foi a última vez que o vi. Depois desapareceu. Com certeza... o mataram... e o colocaram no lugar do outro!

LAPORT  -  Sim, mas quem... quem teria feito isso com tanta precisão de detalhes?

BRANCA  -  Gastão!

LAPORT  -  Gaston... non... non explica nada. Gaston viajou pro estrangeiro, fugido da polícia. Há mais de um mês.

BRANCA  -  Ele podia ter assassinado Lourenço, não podia?

LAPORT  -  E como... viria até aqui... para trocar o corpo? (concluiu, confiante)  Non, Gaston non deu fim a Lourenço. Esteve com ele, sim, e o ameaçou... para que ele revelasse onde estava o diamante. Mas Lourenço fugiu sozinho, ninguém o levou.

BRANCA  -  (rememorou os acontecimentos do dia fatídico)  Quando cheguei em casa naquele dia... eu não o encontrei... a enfermeira tinha estado lá.

LAPORT  -  (segurou com força as mãos da mulher)  Chegou o momento de lhe contar o que sei sobre o paradeiro de Lourenço!

CORTA PARA:

CENA 2  -  COROADO  -  DELEGACIA  -  SALA DE VISITAS  -  INT.  -  DIA.

Não havia ninguém na sala de visitas da delegacia quando Branca D’Ávila tornou a procurar o fillho. Pela expressão fechada, podia-se perceber que algo de muito grave a perturbava.


ALBERTO  -  (com azedume) Vai viajar, amanhã, com... seu marido?

BRANCA  -  Vamos até Belo Horizonte.  Voltamos logo. Tenho de estar aqui... pro julgamento daquele bandido. Vou fazer questão de ouvir a sentença dele!

As palavras cruéis da própria mãe, dirigidas contra um homem que nada tinha com as tramas que o envolveram e roubaram sua liberdade, irritavam o jovem Alberto. A cada instante ele verificava a natureza pérfida e má da mulher, retratada nas atitudes desonestas e no ódio que dedicava a João Coragem.

ALBERTO  -  (incisivo)  Por que tanto ódio, mãe?

BRANCA  -  Você sabe. Não vamos repetir sempre a mesma coisa!

ALBERTO  -  Mãe... tudo o que está acontecendo não é justo. Nem essa acusação estúpida pra cima do João.

BRANCA  -  (tensa)  Ele matou teu pai!

ALBERTO  -  A gente tá sabendo que tudo isso é uma farsa!

BRANCA  -  Farsa? Mas você não viu? É seu pai mesmo quem está enterrado... E como é que você tem coragem de dizer que seu amigo não o matou?

O rapaz já não suportava as atitudes da mãe. Sentia o sangue sugir-lhe ao cérebro.


ALBERTO  -  Que trama do diabo está acontecendo? Quem trouxe o corpo do meu pai pra cá? Que foi que houve com ele? Quem fez essa maldade? Foi a senhora? Pra poder se casar com esse gringo miserável?

BRANCA  -  (reagiu ameaçadoramente)  Pare de dizer asneiras! Não sei o que está acontecendo. Fiquei perplexa... tanto ou mais que você.

Falavam em voz baixa, para evitar que o delegado ouvisse as palavras. Falcão fumava na sala contígua, lendo uma revista.


ALBERTO  -  Não acredito.

BRANCA  -  Se não acredita, não posso fazer nada. O fato é que eu estava procurando seu pai há muito tempo. Três meses.(diante da expressão de espanto do filho, falou)  Ele estava doente, na cama, ainda em consequencia do desastre. Um dia cheguei e ele havia desaparecido. Soube agora que ele foi pra São Paulo... onde procurou uma mulher... sua antiga...

ALBERTO  -  (cortou, indignado)  Como pode saber disso tudo?

BRANCA  -  Meu atual marido me contou.

ALBERTO  -  Mãe, vem cá. Conta essa história direito. A senhora me diz que estava procurando meu pai... mas veio pra cá casada com outro!

BRANCA  -  Claro! Ou você acha que eu tinha de me sacrificar por ele a vida toda?

ALBERTO  -  (concluiu, com lógica)  Se a senhora se casou... é porque sabia que ele já estava morto! Enterrado... aqui, no lugar do outro!

BRANCA  -  Eu não sabia! Me casei... porque Laport é um bom homem. E me quer bem. Me respeita. E para a sociedade, para todo mundo, eu já estava viúva!

ALBERTO  -  (levantou-se, sombrio, desolado)  Vai ver que foi esse homem... que matou meu pai! E no dia em que eu não aguentar mais tanta falsidade, eu... conto tudo pra Justiça!

Mais uma vez Branca buscou auxílio no apelo ao amor filial, ao sentimentalismo do filho.

BRANCA  -  Pois bem. No dia em que você disser alguma coisa... pra salvar seu grande amigo... o bandido que o transformou num assassino... você estará entregando sua própria mãe. (deixou escorrer uma lágrima forçada, limpando-a com o dorso da mão) Aí, então, tudo vai se voltar contra mim.

ALBERTO  -  Quem podia ter tirado a vida dele?

BRANCA  -  Ele estava envolvido com gente da pior espécie, Ou então... foi a própria mulher que ele procurou em São Paulo.

ALBERTO  -  Quem é?

BRANCA  -  Só pode ser uma pessoa. A sujeita por quem ele tinha verdadeira loucura. Estela Barros. A mulher de Pedro Barros!

Alberto arregalou os olhos de espanto.

CORTA PARA:

CENA 3  -  COROADO  -  DELEGACIA  -  SALA DE VISITAS  -  INT.  -  DIA.

Quando Branca se retirou, segundos depois Lázaro cruzava a porta de entrada da delegacia. Procurou Falcão e explicou-lhe a razão da visita. Queria falar com João Coragem. Novamente a porta da cela se descerrou e os dois homens encararam-se, frente a frente, na pequena sala de visitas.


JOÃO  -  Que é que tu qué falá comigo?

LÁZARO  -  Muita coisa... e nada ao mesmo tempo.  No fundo, foi vontade de batê um papo, como nos velho tempo.

JOÃO  -  Quem sabe tu tá esperando agradecimento por tê me poupado a minha vida?

LÁZARO  -  Tu também teve chance de me matá e não matô. Então, eu também te devo agradecimento.

JOÃO  -  Tu ainda continua trabalhando pro coronel?

LÁZARO  -  Forçado, mas continuo. Ele não me perdoa por eu tê te deixado vivê. A orde era pra matá.

JOÃO  -  Então... a orde era dele!

LÁZARO  -  Pensei que tu soubesse. Agora, somo assim como dois inimigo. Ele não me tolera. Já me despediu não sei quanta vez e eu continuo, de teimoso. Sabe... tenho que tê pra onde ir. Foi então que eu pensei que tu tivesse precisando de mim.

JOÃO  -  Pra quê? Pra me traí pela segunda vez?

LÁZARO  -  Um home tem direito de errá, até achá o seu caminho certo. Foi o que aconteceu comigo. Acho que achei o meu. Que é contigo. A gente custa a acertá, João.

O rapaz fitava desconfiado o homem que um dia chegara a ser seu amigo.


JOÃO  -  Não acha que depois de tudo tu tem que dá uma prova, mas prova verdadeira, desse arrependimento?

LÁZARO  -  Eu dou. Por exemplo, sei que o Castro comprou o garimpo do coronel e não foi pra ele...

JOÃO  -  Sabe?

LÁZARO  -  Sei do propósito dessa compra... e fiquei calado. Deixei realizá o negócio. Até forcei.

JOÃO  -  Isso num é muita coisa...

LÁZARO  -  Posso te dá outra prova. Te prevenindo que falta muito pra derrubá o coronel. Ele tá usando um jogo... deixando todo mundo pensá que tá quase na miséria... fingindo que tá muito preocupado com isso...

JOÃO  -  E não tá?

LÁZARO  -  João, ele tem uma fortuna, só em pedra preciosa... fortuna que tá deixando pra fazê uso numa hora certa. O sem-vergonha é macaco velho. Na hora que quisé, ele troca aquela pedraria toda por dinheiro... e tá rico de novo. Podre de rico, João! Sei até onde ele guarda a sua pedraria... num lugar muito escondido... onde ninguém nem sonha que seja esconderijo de tanta riqueza.

JOÃO  -  (moveu-se, interessado)  Conta...

LÁZARO  -  Um dia eu segui o velho e vi o esconderijo. É num túmulo da família. Se tu qué prova de lealdade... te dou essa. Jogo o velho na miséria.

Erguendo o corpo, João atirou fora o cigarro. Deu alguns passos no interior da pequena sala.


JOÃO  -  Não, eu não tou exigindo essa espécie de prova.

LÁZARO  -  Então... te tiro daqui.

JOÃO  -  A coisa agora é séria, Lázaro. Não é pra um home só.

LÁZARO  -  Me junto aos teus e oriento...

JOÃO  -  Vou dá um voto de confiança pra Justiça. Eu quero. Quanto ao perdão que tu qué de mim, eu num perdôo. Deus pode te perdoá. Eu num sou Deus. Tu maltratô minha mãe e isso eu nunca vou podê esquecê.

FIM DO CAPÍTULO  107
Indaiá (Jurema Penna) Hernani (Paulo Araújo) e João (Tarcísio Meira)
e no próximo capítulo...

*** Cena hilária do casamento de Juca Cipó e Margarida!
*** Curiosidade: em 1970, Claudio Marzo e Regina Duarte foram convocados para fazer o par romãntico da novela "Minha Doce Namorada", devido ao grande sucesso de Duda e Ritinha. Assim, tiveram de encerrar mais cedo sua participação na novela de Janete Clair. Com isso, na nossa versão, a 12 capítulos do final, teremos no próximo episódio a última cena de Duda e Ritinha.
*** Sinhana vai à delegacia avisar João que seu filho está prestes a nascer! 

NÃO PERCA O CAPÍTULO 108 DE

quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

IRMÃOS CORAGEM - Capítulo 106


Roteirizado por Toni Figueira
do original de Janete Clair 

CAPÍTULO 106
PARTICIPAM DESTE CAPÍTULO:
JOÃO
MÁRCIA
DELEGADO FALCÃO
ALBERTO
BRANCA
PEDRO BARROS
PADRE BENTO
DR. MACIEL
JERÔNIMO
RODRIGO

CENA 1  -  COROADO  -  DELEGACIA  -  CELA DE JOÃO  -  INT.  -  DIA.

Depois dos primeiros dias de vigilância cerrada, os homens do delegado já não encaravam João Coragem como um bicho-de-sete-cabeças. Um homem como qualquer outro. Com rompantes naturais e uma firmeza de caráter que, a cada dia, mais atraía a consideração e o bem-querer dos próprios guardas. Longe de Falcão eles procuravam dar um tratamento humano ao garimpeiro. Mas, perto ou longe do delegado, ele, como prisioneiro de excelente comportamento, podia receber visitas fora da cela e desalgemado.

A presença de Márcia enterneceu o corpulento garimpeiro. Márcia beijou-o com ternura e abraçaram-se demoradamente.


JOÃO  -  Cê tá bem, Márcia?

MÁRCIA  -  Estou...

JOÃO  -  O nenê?

MÁRCIA  -  Também.

JOÃO  -  Já tá de barriga?

Ela fez que sim e se levantou para que o marido a visse por inteiro. Num gesto instintivo, João Coragem mediu com a mão o ventre da esposa. Circundou-o com a mão pesada, correndo levemente por toda a sua extensão.

JOÃO  -  (risonho e franco)  Me dá até orgulho!

MÁRCIA  -  É mesmo?

JOÃO  -  É sim! Você num sente um troço aqui dentro? Só de pensá que vai tê um filho meu?

MÁRCIA  -  Sinto... é gozado, não?

JOÃO  -  Sabe que parecemo dois bôbo?

Riram felizes.

MÁRCIA  -  Dois bobos?

JOÃO  -  Uai... a gente é bobo, mesmo. Quem é que tem alguma coisa com isso? Essas noite toda... eu fiquei preocupado... (e ante a expressão de interrogação da esposa, completou) Com o nome dele, ora! Cê num se preocupa?

MÁRCIA  -  As preocupações são tantas, João, que eu confesso... não me lembrei de que o nosso filho precisa ter um nome.

JOÃO  -  Mas tem que pensá, uai! Pois fiz as conta. Ele vai nascê daqui a 4 mês. A gente num tem muito tempo, não!

MÁRCIA  -  (tentou desviar o assunto)  João... escute, não é justo...

JOÃO  -  Escuta  (interferiu, para quem o assunto do filho passara a ser o mais importante da face da terra)  Tá fazeno ropa pra ele?

MÁRCIA  -  Não, ainda não.

JOÃO  -  Coisa da melhor qualidade... já é tempo docê pensá em fazê ropa prêle.

MÁRCIA  -  Tem tempo...

JOÃO  -  Tempo, não senhora. O tempo voa. E no nome dele... a gente precisa pensá logo.

MÁRCIA  -  Se for homem, se chamará João, pronto!

JOÃO  -  Num quero. Já tem o filho do Braz, que é home e João. Fica João demais nessa terra. A gente arranja outro. Que tal Bastião?

A mulher não suportou a comicidade do nome e do modo do marido pronunciá-lo e riu.

MÁRCIA  -  Nossa Mãe!

JOÃO  -  Uai! O nome do meu pai. Sebastião Coragem!

MÁRCIA  -  Ah, Sebastião, sim! Bastião, não! (tornou a rir, afagando a mão e o pulso do marido).

JOÃO  -  Apelida ele logo de Tião!

MÁRCIA  -  Não! Nada de apelido!

JOÃO  -  Se for mulhé, a gente bota o nome da minha mãe ou da tua. Combinado?

MÁRCIA  -  Combinado.

O guarda bateu com a chave na barra de ferro, lembrando ao casal que o tempo de entrevista estava esgotado.

CORTA PARA:

CENA 2  -  COROADO  -  DELEGACIA  -  INT.  -  DIA.

Falava-se em Coroado sobre muita coisa: os amores de Jerônimo e Potira; o casamento do prefeito; a prisão de João Coragem e Alberto D’Ávila; a separação de Pedro Barros e Estela; o roubo do diamante, etc., etc. Um assunto vinha polarizando as atenções da cidade nos últimos dias: a determinação judicial para a exumação do cadáver de Lourenço. A Justiça deseja comprovar a veracidade de certas acusações. Destruir ou confirmar a tese de que o corpo sepultado não era o do homem de confiança do Coronel Pedro Barros. Falcão, a propósito do caso, dava ordens a seu ajudante, na delegacia:


DELEGADO FALCÃO  -  ... dentista, sim. O Dr. Moreira, que tratou dos dentes do Lourenço, antes dele deixar o coronel. Já conversei com o doutor. Você fala com ele pra vir aqui. A palavra do dentista é muito importante. E se apresse. Olhe aí... já estamos quase em cima da hora.

O ajudante saiu correndo.

CENA  3  -  DELEGACIA  -  SALA DE VISITAS  -  INT.  -  DIA.

Na sala de visitas da delegacia, onde os presos normalmente recebiam parentes e amigos, Alberto evitava o olhar da mulher de negro.


ALBERTO  -  Nem olha pra mim, mãe!

BRANCA  -  (de costas, falava com frieza)  Eu disse, sim... que preferia te ver morto, do que atrás das grades de uma prisão.

ALBERTO  -  Tá sendo cruel, mãe!

BRANCA  -  Sofri muito... fiz tudo pra você não chegar a esse ponto. Eu sabia que não ia aguentar.

O rapaz abaixou a voz; havia um brilho estranho nos seus olhos e nervosismo nos seus gestos.


ALBERTO  -  Não é caso disso, agora. Daqui a pouco... vão desenterrar... o homem que tá lá... no lugar do meu pai. E eu dou graças a Deus que as coisas se resolvam. Nem eu, nem a senhora, nenhum de nós, é delator. Os fatos aconteceram, normalmente.

BRANCA  -  Eu não queria que isso acontecesse.  Queria, sim, que João Coragem pagasse até o fim por esse crime...

Estava comprovada, mais uma vez, a falta de dignidade, de caráter, de bom senso, da esposa de Lourenço. Tão assassina quanto o marido, ou talvez pior, porque arrasava a vida e o destino de um homem que nada tinha a ver com seus problemas íntimos. Ela mesma não saberia explicar o porquê de sua raiva contra o garimpeiro.


ALBERTO  -  Agora não adianta a gente querer ou não.  Tudo vai se encaminhar para inocentar João. Porque aquele homem... eles vão ver direito... não é meu pai.

A porta da saleta se abriu e a figura antipática do delegado encheu o espaço vazio.


DELEGADO FALCÃO  -  Vim buscar os dois. O corpo de Lourenço já taí. Pra ser reconhecido. E eu garanto que, desta vez... com o depoimento até do dentista dele, não pode haver engano.

BRANCA  -  Já está aí?

DELEGADO FALCÃO  -  Meu modo de dizer. Aí, que eu me refiro, é fora da terra... lá na sepultura... só esperando a gente. Os homens já vieram avisar.

ALBERTO  -  Eu vou também?

DELEGADO FALCÃO  -  Você e João. Bem escoltados, é claro. Dessa vez eu não quero que haja a menor dúvida.

Fez sinal com a mão e um guarda apareceu, algemando o rapaz. João já os esperava na ante-sala da delegacia.

CORTA PARA:

CENA  4  -  COROADO  -  CEMITÉRIO  -  SEPULTURA DE LOURENÇO  -  EXT.  - DIA.

Corroído pelo tempo, madeira apodrecida, pedaços de pano, em meio a pregos enferrujados, o caixão descansava sobre a terra revolvida, ao lado da sepultura. Um mau cheiro repulsivo penetrava as narinas dos presentes, trazido pelo vento. O pequeno grupo ali estava, pronto para o trabalho macabro de identificação do morto. O Dr. Maciel, o Dr. Rodrigo, o juiz da Comarca, João, Alberto, Branca, Pedro Barros, que acabara de chegar em seu carro, dirigido por Oto e o novo promotor de Coroado. Falcão apresentava-o cerimoniosamente:


DELEGADO FALCÃO  -  Este é o nosso novo promotor, Dr. Luís. (olhou em volta)  Tá todo mundo aqui? Ah, falta o Dr, Moreira, o dentista. (o odontólogo acabava de surgir à entrada do campo santo. De negro, com óculos de aros de tartaruga e lentes grossas. Falcão avistou-o)  O homem tá chegando!  (o grupo rodeou o caixão, alguns levando lenços ao nariz)  Vamos lá, minha gente, quanto antes ficar livre disso, melhor! (ordenou aos coveiros)  Abram aí essa tampa! (um murmúrio percorreu o pequeno grupo. Falcão elevou a voz) Como é? Alguém tem ainda dúvida?

BRANCA  -  (explodiu, com as duas mãos apertando as faces)  Meu Deus! É ele mesmo!

ALBERTO  -  (bradou, surpreso)  Gente! Este é meu pai!

PEDRO BARROS  -  Não tem dúvida! Este é Lourenço!

A voz do Padre Bento, retardatário, destacou-se dentre as demais.

PADRE BENTO  -  Deus Nosso Senhor Jesus Cristo seja louvado!

Com interesse científico, Maciel se aproximou do caixão, esquecendo-se do cheiro repugnante.


DR. MACIEL  -  Impressionante! (todos os olhares voltaram-se para o médico)  Pelo tempo... devia estar em pior estado!

PEDRO BARROS  -  Apesar do rosto... a gente nota que é o Lourenço.

DELEGADO FALCÃO  -  (chamou o dentista)  Vem cá, seu Moreira. Quem vai dar a última palavra é o senhor.

Com a mão enluvada o dentista afastou os lábios do cadáver. Gengivas arroxeadas e em decomposição davam ao quadro um aspecto fantasmagórico. Moreira examinou a arcada dentária, forçou o desencaixe dos maxilares e constatou o trabalho executado. Balançou a cabeça, confirmando. Era Lourenço.

JERÔNIMO  -  (conversava baixinho com o irmão, algemado)  Sinto muito, mano... mas parece que não tem dúvida. Não desanima... A gente te livra disso!

ALBERTO  -  (desesperado ante a realidade daquilo que julgava mentira, indagava da mãe, também pálida e trêmula)  É meu pai mesmo... a senhora viu? É ele! Isso não quer dizer nada?

BRANCA  -  E você tinha alguma dúvida de que não fosse ele?

O razoável estado de conservação do corpo era motivo de especulações entre os homens de maior cultura.


DR. MACIEL  -  Repito que pelo tempo, ele está bem conservado...

RODRIGO  -  (com uma ponta de suspeita)  Isto quer dizer alguma coisa?

DR. MACIEL  -  Não... isto às vezes acontece... dependendo muito do terreno onde foi enterrado. O daqui é propício à conservação. É impressionante! O rosto está como no dia em que foi enterrado. A mesma deformação proposital...

FIM DO CAPÍTULO  106
Sinhana (Zilka Salaberry) e Falcão (Carlos E. Dollabela)

e no próximo capítulo...

*** Branca, transtornada, conta para Laport, seu atual marido, que o cadáver exumado era mesmo de Lourenço. Laport, por sua vez, diz a ela que chegou a hora de contar o que sabe sobre o paradeiro de Lourenço!

***  Lázaro procura João na delegacia para dizer-lhe que está arrependido e quer o seu perdão!

NÃO PERCA O CAPÍTULO 107 DE





sábado, 17 de dezembro de 2011

IRMÃOS CORAGEM - Capítulo 105


Roteirizado por Toni Figueira
do original de Janete Clair 

CAPÍTULO 105
PARTICIPAM DESTE CAPÍTULO:
BEATO VENANCIO
PEDRO BARROS
LÁZARO
FRANCISCO
RITINHA
HERNANI
JERÔNIMO

    
CENA 1  -  COROADO  -  IGREJA  -  INT.  -  DIA.

O homem de camisolão branco, como um Cristo jagunço, adentrou o templo, sob os olhares curiosos das rezadeiras. Alguns homens e mulheres seguiam a estranha procissão do recém-chegado. O beato Venâncio ajoelhou-se diante do altar de Cristo. Contrito. Enlevado.


BEATO VENÂNCIO  -  Vamo rezá e pedi pra Deus Nosso Sinhô Jesus Cristo livrá o nosso João daquela grade!  (falou dirigindo-se aos seus acompanhantes)  Foi a tentação que levô ele até lá. Do Nosso Pai tem que vir a salvação. Deus Nosso Sinhô não vai abandoná João Corage. Nóis salva ele! Com nossa força de ação e de pensamento. Deus Nosso Sinhô Jesus Cristo seja louvado!

O beato beijou ostesivamente o chão da igreja.


SEGUIDORES  -  (num eco, repetiram)  Deus Nosso Sinhô Jesus Cristo seja louvado!

CORTA PARA:

CENA 2  -  FAZENDA DE PEDRO BARROS  -  GALPÃO  -  INT.  -  NOITE.


À luz do lampião, Lázaro dormia, estendido sobre o capim sêco do galpão, na casa-grande. Acordou com o bico da botina nas costelas. Por entre a bruma da embriaguez e da sonolencia, o bandido divisou dois vultos.


LÁZARO  -  Ei! Que foi isso? Vai penteá macaco! Me deixa!

PEDRO BARROS  -  Levanta daí! Você tá diante do teu patrão!

LÁZARO  -  Que patrão?

FRANCISCO  -  (interveio, com firmeza)  Deixa de graça! O Coronel Pedro Barros tá aqui e qué falá contigo.

PEDRO BARROS  -  Vamos, levanta daí, que eu tenho mais o que fazer!

LÁZARO  -  (levantou-se, espreguiçando-se)  Oh... Coronel Pedro Barros! (irônico) O maioral da zona! Meus respeitos!

PEDRO BARROS  -  Eu tenho uma pergunta pra te fazer (anunciou, já irritado)  Uma pergunta que tá me azucrinando os miolos desde que João foi preso.

LÁZARO  -  Fala, coronel, eu tou ouvindo... se bem que já sei o que o senhô qué sabê.

PEDRO BARROS  -  Se já sabe, é porque tem certeza de que fez uma burrada deixando João escapar com vida!

LÁZARO  -  Olha... eu apontei o revólver... apontei, sim... na cara dele... ia estourá os miolo dele.

PEDRO BARROS  -  E... por que não fez?

LÁZARO  -  Porque... porque... porque num quis, pronto! Porque não me deu vontade de matar, naquela hora. Matar, matar, matar! Pensa que resolve tudo? Resolve nada!

PEDRO BARROS  -  (apelou para a irritação)  Com certeza ficou com remorso...

LÁZARO  -  Sei lá se fiquei. Só sei que não quis e tá acabado!

PEDRO BARROS  -  Mas eu tinha te dado uma ordem, não tinha? Tinha até te prometido um prêmio pela cabeça dele. Te dava um dos meus garimpos... você podia ser um homem independente...

LÁZARO  -  Pra vê como é que são as coisa... com tudo isso... eu num obedeci sua ordem, velho. Vai me enganá que vai me castigá por isso? Não vem, não, velho! Não vem, não! Porque eu sou de briga! Te passo uma rasteira, velho... (tentou derrubar o coronel com um golpe de perna. A interferencia de Francisco foi suficiente para lançá-lo ao chão. Lázaro não tinha condições sequer de permanecer de pé).

FRANCISCO  -  Ponho ele no ôlho da rua, meu patrão?

PEDRO BARROS  -  Espera um pouco. Vamos ver como é que vai se portar. Se fizer besteira, a gente faz as conta dele...

LÁZARO  -  (voltou a investir com palavras)  Você tem é medo de eu soltá a língua, velho...

PEDRO BARROS  -  (chegara ao limite de sua paciência)  Já me livrei de coisa muito mais séria na vida. Não vai ser você que vai me meter medo com suas ameaças. De qualquer jeito, toma muito cuidado. Uma palavra em falso e eu te mando pro outro mundo. (virou as costas e se encaminhou para a porta. Advertiu, ainda)  As bobagens que disse, agora, deixo por conta de tua bebedeira.

LÁZARO  -  (ainda gritou com dificuldade)  Acontece... que eu é que não quero mais ficá a teu serviço, velho sujo! Tu tá me ouvindo? Me enchi! Vou dá o fora! Pode arranjá outro capanga! Vou mudá de vida! João é quem tem razão!

CORTA PARA:

CENA  2  -  COROADO  -  PREFEITURA  -  RECEPÇÃO  -  INT.  -  DIA.


Duda tinha retornado a São Paulo. Jogava por lá, mas Hernani estava decidido a permanecer em Coroado. E fizera amizades, relações. Era visto, agora, como uma personalidade do Rio que desejava se estabelecer na cidade pequena. E tinha mais... era um amigo do Duda, o famoso jogador que Coroado dera de presente ao Brasil.


Quando a porta da ante-sala se abriu, Ritinha se assustou ao ver a figura esguia e maquiavélica do empresário do marido. Pensou que Duda talvez o enviasse para algum recado.

RITINHA  -  Ah... o que o senhor quer?

HERNANI  -  Falar com o prefeito, posso?

Dando de ombros, a moça comunicou ao cunhado a presença e as intenções do forasteiro.

CENA 3  -  COROADO  -  PREFEITURA  -  SALA DE JERÔNIMO  -  INT.  -  DIA.

JERÔNIMO  -  Eu recebi o seu recado (disse, estendendo-lhe a mão, com um sorriso de cortesia)  Estou à sua disposição.

HERNANI  -  É o seguinte... (sentou-se na cadeira confortável, de plástico negro)  Eu me apaixonei por esta cidade. Parece que criei raízes aqui. E quero fazer alguma coisa... para ficar aqui... Enterrar meus ossos nessa terra.

JERÔNIMO  -  Muito bem. E o que o senhor acha que pode fazer pra ficar em Coroado?

HERNANI  -  Existe um cinema... que foi cinema. Na praça...

JERÔNIMO  -  (cortou-lhe a idéia)  É. Tá fechado há muito tempo. É da prefeitura.

HERNANI  -  Pois eu quero arrendá-lo. Quero reformá-lo e criar mais uma diversão para o povo desta cidade. Se o senhor me der a concessão para explorá-lo...

Jerônimo passeou pela sala, com as mãos naponeônicamente atrás das costas.

JERÔNIMO  -  Seu pedido é justo e me agrada. Só que não vai ficar barato.

HERNANI  -  Não se preocupe com o preço. Quero seu consentimento para explorá-lo, eis tudo. E, em dois meses, no máximo, o povo de Coroado assistirá aos melhores filmes que passam nas grandes capitais.

JERÔNIMO  -  Taí. Dessa eu gostei.

HERNANI  -  Queria colocar um nome no cinema. Se me permitir... ele se chamará Cine Rita de Cássia... É a santa de minha devoção!

Jerônimo olhou significativamente para a cunhada que se achava parada no umbral da porta, com o lápis a tamborilar nos dentes. Rita estremeceu com a surpresa.


RITINHA  -  Mas é também meu nome (completou, visivelmente aborrecida)  Ponha Santo Hernani, São Lázaro, São Pedro Barros, o que quiser. Menos eu! Vê lá! Só assim é que Eduardo nunca mais vai olhar pra minha cara!

Jerônimo sorriu com a reação da cunhada e, apertando a mão do jovem citadino, confiou-lhe o negócio.


JERÔNIMO  -  Eu lhe dou a concessão. Mas... põe outro nome no cinema.

HERNANI  -  (perguntou-lhe, contrariado)  Pode sugerir um nome, prefeito?

JERÔNIMO  -  (não pensou dois segundos)  Põe... Cine Potira. O nome é lindo!

RITINHA  -  (saltou de nervosismo)  Cê enlouqueceu, Jerônimo?

JERÔNIMO  -  Não. Eu quero lançar o meu desafio pro povo. E quero ver... se alguém vai ter coragem de deixar de ir ao cinema... só porque tem o nome da índia.

RITINHA  -  Você não vai lançar o desafio pro povo. Vai lançar pro marido dela... vai lançar pra todo mundo.

JERÔNIMO  -  Vale a pena. Pode mandar até registrar (disse, dirigindo-se ao rapaz)  Tem que ser Cine Potira. E manda fazer um letreiro bem bonito. Em plástico azul, que é a cor que eu mais adoro. E quero letra luminosa, desse gás que tem aí, como é mesmo o nome, leão...

HERNANI  -  (fazendo força para não rir)  ... néon.

Jerônimo voltou-se e isolou-se do resto do mundo. Gostara da idéia. Colossal. Cine Potira.

FIM DO CAPÍTULO  105


e no próximo capítulo... 
 *** O cadáver de Lourenço D'Ávila é exumado na presença de um dentista, Dr. Maciel, João, Alberto, Branca, Dr Rodrigo  e outros... e uma surpresa os aguarda quando o caixão é aberto!
 
NÃO PERCA O CAPÍTULO 106 DE