Roteirizado por Toni Figueira
do original de Janete Clair
CAPÍTULO 102
PARTICIPAM DESTE CAPÍTULO:
JOÃO
BRAZ
ZÉ BAIANO MÁRCIA
MÉDICO
LOURENÇO
BRANCA
CENA 1 - ALDEIA - CHOUPANA DE JOÃO - QUARTO - INT. - NOITE.
Braz alcançou a cabana quase no mesmo instante em que João chegava, esbaforido. Abriram a porta do quarto.
JOÃO - Num tá aqui, mesmo...
BRAZ - É, João... parece que o negócio aconteceu mesmo...
JOÃO - (jogou-se contra o colchão duro) Que é que eu faço, Braz? Pensei que tava livre desse problema!
BRAZ - Tu tem que aceitá, João. É a tua cruz, home. (abraçou o companheiro, comovido) Agora é que tu tem que mostrá tua força, tua bondade. Num abandona ela, João.
JOÃO - Eu num tenho força pra vê ela daquele jeito de novo. Eu disse que no dia que Diana voltasse, eu acabava tudo.
BRAZ - Acabá com tudo, num é ato de home como tu. Home que já guentou coisa pior da vida.
JOÃO - Pior do que isso... só a morte, Braz! (disse, torturado pela vergonha) Vou vê se acho ela.
CORTA PARA:
CENA 2 - ALDEIA - CHOUPANA DE JOÃO - QUARTO - INT. - DIA.
Dois dias depois, João voltara ao acampamento e, com a barba amarelada pelo pó da longa caminhada, dormia sob a vigília dos companheiros de empreitada. Acordou sob a emoção da notícia que lhe traziam Braz Canoeiro e Zé Baiano, um novo e leal membro da comunidade dos foragidos. Braz esperou que o amigo despertasse, de todo.
BRAZ - Já é dia, home! Desperta, logo!
JOÃO - Que foi, gente?
BRAZ - Nós tem notícia boa! Acharo tua mulhé, gorica mesmo!
JOÃO - (sentou-se na borda da cama) Quem achou?
BRAZ - Os home, quando ia pro garimpo. Ela tá lá, João... junto do rio... com o carro!
JOÃO - O que foi que houve? Desastre?
BRAZ - É melhor que tu veja. Ninguém qué mexê nela, até tu chegá...
A notícia, da forma como Braz a estava dando, sugeria coisa pior. João Coragem empalideceu a ponto de preocupar os dois amigos.
JOÃO - Num... qué... mexê nela... mas, então... ela tá ferida? Ou... tá... morta?
CORTA PARA:
CENA 3 - MARGEM DO RIO - EXT. - DIA.
De longe a cena descompassou o coração do rapaz. Os rudes garimpeiros, uns de cócoras, outros de pé, rodeavam o corpo da mulher. João atirou-se da sela ao chão, como um trapezista. Abriu caminho entre o grupo de amigos e suspendeu o corpo inanimado.
BRAZ - (gritou, vendo o busto subir e descer, num arfar doloroso) Tá viva!
JOÃO - Tá! Vai vê se acha o doutô!
ZÉ BAIANO - Pelo jeito que atirô o carro pensei que num escapasse!
Em três tempos, João tinha o corpo de Márcia nos braços e, logo após, fez o cavalo trotar em direção à aldeia.
CORTA PARA:
CENA 4 - ALDEIA - CHOUPANA DE JOÃO - QUARTO - INT. - DIA.
A moça gemia deitada na cama de lençóis claros. Recobrava os sentidos, pouco a pouco.
MÁRCIA - Meu remédio...
Olhou em tôrno do quarto, à procura do vidrinho de comprimidos. Era como se tudo tivesse sido interrompido no momento em que Nita lhe oferecera o chá com terra. Desde então o tempo parara para a mulher do garimpeiro.
JOÃO - O quê?
MÁRCIA - Eu ia tomar um comprimido...
JOÃO - ( segurando com carinho as mãos que ela lhe oferecia) O que foi que aconteceu, Márcia?
MÁRCIA - Não terminamos o jantar? Vim para o quarto e ia tomar o meu remédio... Nita me trouxe o chá. Mas colocou terra dentro dele. Não me zanguei com isso. Ela é uma selvagem. Eu compreendo essa pobre moça. Ela gosta muito de você, João...
JOÃO - (levantou-se, nervoso, com a testa franzida e os músculos rígidos) A causa de tudo foi ela, então?
MÁRCIA - Causa de quê? Será que eu dormi e não me lembro? Que horas são?
JOÃO - Já se passô duas noite, bem!
MÁRCIA - Como? Duas noites? Não entendo!
JOÃO - Pra ocê o tempo num passô?
MÁRCIA - Não. Será que eu dormi esse tempo todo?
JOÃO - Não tá se lembrando de nada, tá?
MÁRCIA - Não. Por quê? Aconteceu alguma coisa?
João voltou a sentar-se na cama e acariciou a testa da esposa. Compreensivo. Lembrando-se das recomendações de Braz Canoeiro.
JOÃO - Fica deitada. Já mandei chamá o doutô pra vê se tudo tá bem com o nosso filho. Vou vê se tá chegano...
Enquanto o rapaz se ausentava do quarto, Márcia pensava lá consigo, sem compreender o que se passava.
MÁRCIA - Por que... nosso filho? Que foi que houve comigo?
CORTA PARA:
CENA 5 - ALDEIA - CHOUPANA DE JOÃO - SALA - INT. - DIA.
MÉDICO - Que coisa lamentável! Como é que ela está?
O médico viera sem demora, trazido por Braz, depois de uma caminhada cansativa.
JOÃO - Acordou agora. Parece que acordou de um sono. Não se lembra de nada que aconteceu.
MÉDICO - É esquisito. O rapaz aqui (bateu nas costas de Zé Baiano) me contou que ela jogou o carro, de propósito...
JOÃO - Não foi de propósito. Deixa de tá dizeno besteira, Zé Baiano...
ZÉ BAIANO - Mas João... quando eu chamei ela... ela riu e jogô o carro, parece de gôsto, no barranco!
O garimpeiro desviou o rumo da conversa, propositalmente. Certas coisas não interessavam ser reveladas.
CORTA PARA:
CENA 6 - ALDEIA - CHOUPANA DE JOÃO - QUARTO - INT. - DIA.
João convidou o médico a entrar no quarto, fracamente ventilado e com insuficiente iluminação.
MÁRCIA - Estou envergonhada de me apresentar ao senhor tão mal arrumada...
MÉDICO - Por favor... não se preocupe com isso. O importante é que desta vez a senhora escapou ilesa. E foi o seu anjo da guarda quem a protegeu.
MÁRCIA - (apreensiva) Escapei... de quê?
MÉDICO - Ah, é verdade. A senhora não se recorda... eu não entendo bem isso, mas...
MÁRCIA - Diga a verdade, doutor. Estou preparada.
MÉDICO - Dona Márcia, diga-me uma coisa. A senhora deseja muito ter esse filho?
MÁRCIA - Ardentemente, doutor, por quê?
MÉDICO - Não se recorda do que aconteceu?
MÁRCIA - Não.
MÉDICO - Isto... de não saber o que faz... aconteceu, sempre?
MÁRCIA - Comigo... foi a primeira vez.
MÉDICO - Como... consigo?
MÁRCIA - (fechou os olhos) Doutor, é uma longa história. E estou tão curiosa para saber o que ocorreu, que não tenho tempo de lhe explicar.
MÉDICO - Pelo que ouvi... do rapaz que a encontrou... tive a impressão de que a senhora não queria que seu filho nascesse.
MÁRCIA - (magoada) É uma acusação que me ofende profundamente.
MÉDICO - Não... não estou acusando. Mas o seu procedimento... atirando o carro daquele jeito no barranco... não me fez pensar em outra coisa.
MÁRCIA - (gritou, exasperada, perdendo o contrôle) Eu não atirei carro nenhum!
MÉDICO - Bem... seu marido lhe dará explicações. Recomendo repouso absoluto durante 24 horas. Se quer proteger seu filho, é lógico. Vou lhe receitar alguns remédios...
Com expressão de poucos amigos o clínico levantou-se para deixar o quarto. Márcia segurou-o pela mão.
MÁRCIA - O senhor... não está acreditando em mim?
MÉDICO - Não... é que... bem, eu acho que uma senhora no seu estado não deve abusar de bebidas alcoólicas.
CORTA PARA:
CENA 7 - ALDEIA - CHOUPANA DE JOÃO - SALA - INT. - DIA.
Os três amigos aguardavam sem falar a saída do médico, ansiosos por conhecerem o resultado da consulta. João correu ao pressentir a retirada.
JOÃO - Doutor...
O médico colocou a mão ossuda no ombro forte do garimpeiro.
MÉDICO - Fique tranquilo. Ela e a criança estão muito bem. É preciso não deixar que ela se levante, nem hoje, nem amanhã.
JOÃO - O senhor falou... do acidente?
MÉDICO - Falei. Ela ignora... pelo menos diz ignorar. (o bloco foi retirado da bolsa de couro negro. E sentando-se, o médico começou a escrever) Mande ver estes remédios em Morrinhos. É para a segurança da criança.
CORTA PARA:
CENA 8 - ALDEIA - CHOUPANA DE JOÃO - QUARTO - INT. - DIA.
Estavam sós, os dois. Naquele instante Márcia e João, apenas. O rapaz lutava por controlar o estado de ânimo da mulher.
JOÃO - Olhe para mim...
MÁRCIA - Estou morrendo de medo.
JOÃO - Acho que tou começando a entender (abraçando-a fortemente) Espero que não seja tarde.
MÁRCIA - Ela voltou! Ela voltou e quer matar o meu filho. Foi ela quem tomou conta de mim... você entende, agora, João? (exclamou frenética) Era dela que eu queria fugir! Era ela quem queria me dominar! Mas ela voltou, João! Ela voltou!
CORTA PARA:
CENA 9 - BELO HORIZONTE - CASA EM BAIRRO AFASTADO - INT. - DIA.
BRANCA - Já cheguei, Lourenço!
A voz da mulher ecoou como a queda de um sino no interior de uma igreja.
LOURENÇO - (imóvel na cama, gritou) Idiota...
Branca entrou, trazendo um grande embrulho, com as compras do dia.
LOURENÇO - Precisa gritar... pelo meu nome?
BRANCA - Nesse fim de mundo quem é que vai saber quem é você?
De fato o casal procurara um lugar isolado do mundo, para fugir às possibilidades de um encontro com gente conhecida. Um bairro afastado do centro da capital.
LOURENÇO - Fim do mundo, uma droga! Estamos em Belo Horizonte!
BRANCA - Num bairro onde Judas perdeu as botas...
Ajeitou com carinho as cobertas do marido, afagando-lhe a testa suada.
LOURENÇO - Tou sentindo uma dor forte como o diabo, na espinha...
BRANCA - Você devia era estar num sanatório, Lourenço, não aqui, sem tratamento...
LOURENÇO - Num sanatório todo mundo vai me procurar. Aquele cretino do jogador deu o serviço pra todo mundo...
BRANCA - Ninguém acreditou nele, amor!
LOURENÇO - Acho que vou ficar entrevado pro resto da minha vida. Mas, uma vingança eu tenho. Se eu morro, ninguém vai saber onde está o diamante. Nem Gastão, nem você, nem o idiota do João Coragem... Muito menos ele!
BRANCA - Eu não estou interessada no diamante. Aquele teu amigo sujo é que está. E se ele não dá cabo de você, é de medo de não descobrir nunca mais onde você guardou a pedra.
LOURENÇO - Nem que me mate, eu não digo. Só digo no dia em que puder me levantar daqui. Pra poder vender ela... e usufruir os bem que ela pode me dá.
Braz alcançou a cabana quase no mesmo instante em que João chegava, esbaforido. Abriram a porta do quarto.
JOÃO - Num tá aqui, mesmo...
BRAZ - É, João... parece que o negócio aconteceu mesmo...
JOÃO - (jogou-se contra o colchão duro) Que é que eu faço, Braz? Pensei que tava livre desse problema!
BRAZ - Tu tem que aceitá, João. É a tua cruz, home. (abraçou o companheiro, comovido) Agora é que tu tem que mostrá tua força, tua bondade. Num abandona ela, João.
JOÃO - Eu num tenho força pra vê ela daquele jeito de novo. Eu disse que no dia que Diana voltasse, eu acabava tudo.
BRAZ - Acabá com tudo, num é ato de home como tu. Home que já guentou coisa pior da vida.
JOÃO - Pior do que isso... só a morte, Braz! (disse, torturado pela vergonha) Vou vê se acho ela.
CORTA PARA:
CENA 2 - ALDEIA - CHOUPANA DE JOÃO - QUARTO - INT. - DIA.
Dois dias depois, João voltara ao acampamento e, com a barba amarelada pelo pó da longa caminhada, dormia sob a vigília dos companheiros de empreitada. Acordou sob a emoção da notícia que lhe traziam Braz Canoeiro e Zé Baiano, um novo e leal membro da comunidade dos foragidos. Braz esperou que o amigo despertasse, de todo.
BRAZ - Já é dia, home! Desperta, logo!
JOÃO - Que foi, gente?
BRAZ - Nós tem notícia boa! Acharo tua mulhé, gorica mesmo!
JOÃO - (sentou-se na borda da cama) Quem achou?
BRAZ - Os home, quando ia pro garimpo. Ela tá lá, João... junto do rio... com o carro!
JOÃO - O que foi que houve? Desastre?
BRAZ - É melhor que tu veja. Ninguém qué mexê nela, até tu chegá...
A notícia, da forma como Braz a estava dando, sugeria coisa pior. João Coragem empalideceu a ponto de preocupar os dois amigos.
JOÃO - Num... qué... mexê nela... mas, então... ela tá ferida? Ou... tá... morta?
CORTA PARA:
CENA 3 - MARGEM DO RIO - EXT. - DIA.
De longe a cena descompassou o coração do rapaz. Os rudes garimpeiros, uns de cócoras, outros de pé, rodeavam o corpo da mulher. João atirou-se da sela ao chão, como um trapezista. Abriu caminho entre o grupo de amigos e suspendeu o corpo inanimado.
BRAZ - (gritou, vendo o busto subir e descer, num arfar doloroso) Tá viva!
JOÃO - Tá! Vai vê se acha o doutô!
ZÉ BAIANO - Pelo jeito que atirô o carro pensei que num escapasse!
Em três tempos, João tinha o corpo de Márcia nos braços e, logo após, fez o cavalo trotar em direção à aldeia.
CORTA PARA:
CENA 4 - ALDEIA - CHOUPANA DE JOÃO - QUARTO - INT. - DIA.
A moça gemia deitada na cama de lençóis claros. Recobrava os sentidos, pouco a pouco.
MÁRCIA - Meu remédio...
Olhou em tôrno do quarto, à procura do vidrinho de comprimidos. Era como se tudo tivesse sido interrompido no momento em que Nita lhe oferecera o chá com terra. Desde então o tempo parara para a mulher do garimpeiro.
JOÃO - O quê?
MÁRCIA - Eu ia tomar um comprimido...
JOÃO - ( segurando com carinho as mãos que ela lhe oferecia) O que foi que aconteceu, Márcia?
MÁRCIA - Não terminamos o jantar? Vim para o quarto e ia tomar o meu remédio... Nita me trouxe o chá. Mas colocou terra dentro dele. Não me zanguei com isso. Ela é uma selvagem. Eu compreendo essa pobre moça. Ela gosta muito de você, João...
JOÃO - (levantou-se, nervoso, com a testa franzida e os músculos rígidos) A causa de tudo foi ela, então?
MÁRCIA - Causa de quê? Será que eu dormi e não me lembro? Que horas são?
JOÃO - Já se passô duas noite, bem!
MÁRCIA - Como? Duas noites? Não entendo!
JOÃO - Pra ocê o tempo num passô?
MÁRCIA - Não. Será que eu dormi esse tempo todo?
JOÃO - Não tá se lembrando de nada, tá?
MÁRCIA - Não. Por quê? Aconteceu alguma coisa?
João voltou a sentar-se na cama e acariciou a testa da esposa. Compreensivo. Lembrando-se das recomendações de Braz Canoeiro.
JOÃO - Fica deitada. Já mandei chamá o doutô pra vê se tudo tá bem com o nosso filho. Vou vê se tá chegano...
Enquanto o rapaz se ausentava do quarto, Márcia pensava lá consigo, sem compreender o que se passava.
MÁRCIA - Por que... nosso filho? Que foi que houve comigo?
CORTA PARA:
CENA 5 - ALDEIA - CHOUPANA DE JOÃO - SALA - INT. - DIA.
MÉDICO - Que coisa lamentável! Como é que ela está?
O médico viera sem demora, trazido por Braz, depois de uma caminhada cansativa.
JOÃO - Acordou agora. Parece que acordou de um sono. Não se lembra de nada que aconteceu.
MÉDICO - É esquisito. O rapaz aqui (bateu nas costas de Zé Baiano) me contou que ela jogou o carro, de propósito...
JOÃO - Não foi de propósito. Deixa de tá dizeno besteira, Zé Baiano...
ZÉ BAIANO - Mas João... quando eu chamei ela... ela riu e jogô o carro, parece de gôsto, no barranco!
O garimpeiro desviou o rumo da conversa, propositalmente. Certas coisas não interessavam ser reveladas.
CORTA PARA:
CENA 6 - ALDEIA - CHOUPANA DE JOÃO - QUARTO - INT. - DIA.
João convidou o médico a entrar no quarto, fracamente ventilado e com insuficiente iluminação.
MÁRCIA - Estou envergonhada de me apresentar ao senhor tão mal arrumada...
MÉDICO - Por favor... não se preocupe com isso. O importante é que desta vez a senhora escapou ilesa. E foi o seu anjo da guarda quem a protegeu.
MÁRCIA - (apreensiva) Escapei... de quê?
MÉDICO - Ah, é verdade. A senhora não se recorda... eu não entendo bem isso, mas...
MÁRCIA - Diga a verdade, doutor. Estou preparada.
MÉDICO - Dona Márcia, diga-me uma coisa. A senhora deseja muito ter esse filho?
MÁRCIA - Ardentemente, doutor, por quê?
MÉDICO - Não se recorda do que aconteceu?
MÁRCIA - Não.
MÉDICO - Isto... de não saber o que faz... aconteceu, sempre?
MÁRCIA - Comigo... foi a primeira vez.
MÉDICO - Como... consigo?
MÁRCIA - (fechou os olhos) Doutor, é uma longa história. E estou tão curiosa para saber o que ocorreu, que não tenho tempo de lhe explicar.
MÉDICO - Pelo que ouvi... do rapaz que a encontrou... tive a impressão de que a senhora não queria que seu filho nascesse.
MÁRCIA - (magoada) É uma acusação que me ofende profundamente.
MÉDICO - Não... não estou acusando. Mas o seu procedimento... atirando o carro daquele jeito no barranco... não me fez pensar em outra coisa.
MÁRCIA - (gritou, exasperada, perdendo o contrôle) Eu não atirei carro nenhum!
MÉDICO - Bem... seu marido lhe dará explicações. Recomendo repouso absoluto durante 24 horas. Se quer proteger seu filho, é lógico. Vou lhe receitar alguns remédios...
Com expressão de poucos amigos o clínico levantou-se para deixar o quarto. Márcia segurou-o pela mão.
MÁRCIA - O senhor... não está acreditando em mim?
MÉDICO - Não... é que... bem, eu acho que uma senhora no seu estado não deve abusar de bebidas alcoólicas.
CORTA PARA:
CENA 7 - ALDEIA - CHOUPANA DE JOÃO - SALA - INT. - DIA.
Os três amigos aguardavam sem falar a saída do médico, ansiosos por conhecerem o resultado da consulta. João correu ao pressentir a retirada.
JOÃO - Doutor...
O médico colocou a mão ossuda no ombro forte do garimpeiro.
MÉDICO - Fique tranquilo. Ela e a criança estão muito bem. É preciso não deixar que ela se levante, nem hoje, nem amanhã.
JOÃO - O senhor falou... do acidente?
MÉDICO - Falei. Ela ignora... pelo menos diz ignorar. (o bloco foi retirado da bolsa de couro negro. E sentando-se, o médico começou a escrever) Mande ver estes remédios em Morrinhos. É para a segurança da criança.
CORTA PARA:
CENA 8 - ALDEIA - CHOUPANA DE JOÃO - QUARTO - INT. - DIA.
Estavam sós, os dois. Naquele instante Márcia e João, apenas. O rapaz lutava por controlar o estado de ânimo da mulher.
JOÃO - Olhe para mim...
MÁRCIA - Estou morrendo de medo.
JOÃO - Acho que tou começando a entender (abraçando-a fortemente) Espero que não seja tarde.
MÁRCIA - Ela voltou! Ela voltou e quer matar o meu filho. Foi ela quem tomou conta de mim... você entende, agora, João? (exclamou frenética) Era dela que eu queria fugir! Era ela quem queria me dominar! Mas ela voltou, João! Ela voltou!
CORTA PARA:
CENA 9 - BELO HORIZONTE - CASA EM BAIRRO AFASTADO - INT. - DIA.
BRANCA - Já cheguei, Lourenço!
A voz da mulher ecoou como a queda de um sino no interior de uma igreja.
LOURENÇO - (imóvel na cama, gritou) Idiota...
Branca entrou, trazendo um grande embrulho, com as compras do dia.
LOURENÇO - Precisa gritar... pelo meu nome?
BRANCA - Nesse fim de mundo quem é que vai saber quem é você?
De fato o casal procurara um lugar isolado do mundo, para fugir às possibilidades de um encontro com gente conhecida. Um bairro afastado do centro da capital.
LOURENÇO - Fim do mundo, uma droga! Estamos em Belo Horizonte!
BRANCA - Num bairro onde Judas perdeu as botas...
Ajeitou com carinho as cobertas do marido, afagando-lhe a testa suada.
LOURENÇO - Tou sentindo uma dor forte como o diabo, na espinha...
BRANCA - Você devia era estar num sanatório, Lourenço, não aqui, sem tratamento...
LOURENÇO - Num sanatório todo mundo vai me procurar. Aquele cretino do jogador deu o serviço pra todo mundo...
BRANCA - Ninguém acreditou nele, amor!
LOURENÇO - Acho que vou ficar entrevado pro resto da minha vida. Mas, uma vingança eu tenho. Se eu morro, ninguém vai saber onde está o diamante. Nem Gastão, nem você, nem o idiota do João Coragem... Muito menos ele!
BRANCA - Eu não estou interessada no diamante. Aquele teu amigo sujo é que está. E se ele não dá cabo de você, é de medo de não descobrir nunca mais onde você guardou a pedra.
LOURENÇO - Nem que me mate, eu não digo. Só digo no dia em que puder me levantar daqui. Pra poder vender ela... e usufruir os bem que ela pode me dá.
FIM DO CAPÍTULO 102
e no próximo capítulo...
NÃO PERCA O CAPÍTULO 103 DE
João (Tarcísio Meira) e Pedro Barros (Gilberto Martinho) |
*** Estela volta à fazenda de Pedro Barros e o chantageia: ou divide com ela metade de seus milhões, ou conta á polícia que o coronel é o responsável pela morte do prefeito Jorginho!
*** Em Belo Horizonte, Lourenço recebe a visita de Gastão, que o tortura, para que confesse onde está o diamante.
NÃO PERCA O CAPÍTULO 103 DE
Nenhum comentário:
Postar um comentário