quinta-feira, 31 de maio de 2012

ASSIM NA TERRA COMO NO CÉU - Capítulo 53

Novela de Toni Figueira
Inspirada na Obra de Dias Gomes


CAPÍTULO 53

Personagens deste capítulo:

VÍTOR
HELÔ
RENATÃO
SAMUCA
RICARDINHO
D. CONSUELO
DOM JOSÉ
JOANINHA
D. CONSUELO
RODOLFO AUGUSTO
JUREMA
JUIZ
PROMOTOR

CENA 01  -  TRIBUNAL  -  SALA DAS TESTEMUNHAS DE DEFESA  -  INT.  -  DIA.

RICARDINHO ANDAVA, NERVOSO, FUMANDO, DE UM LADO PARA O OUTRO.

RICARDINHO  -  Se dentro de quinze minutos não vierem me chamar, eu saio por essa porta e caio fora!

RENATÃO  -  (advertiu) Vão lhe buscar, preso.

RICARDINHO  -  Pôxa, parece que estão fazendo de propósito, pra encher a gente!

OFICIAL DE JUSTIÇA  -  (entrando na sala) Sr. Renato Itararé de Souza, queira ter a bondade de me acompanhar.

CORTA PARA:

CENA 02  -  TRIBUNAL  -  SALA DO JÚRI  -  INT.  -  DIA.
RENATÃO JÁ SE ACHAVA SENTADO E SOB JURAMENTO, QUANDO O ADVOGADO DE DEFESA FEZ A PRIMEIRA PERGUNTA.

ADVOGADO DE DEFESA  -  A testemunha conheceu a vítima?

RENATÃO  -  Sim. Conhecia Nívea da praia, do Castelinho, do “Garota de Ipanema”, de uma porção de lugares. Ela andava com uma turma muito minha amiga. Levava a vida de toda garota de Ipanema. Quer dizer, Ipanema tem garotas de todo tipo. Recatadas, tipo família, avançadinhas e... aquelas que o Meritíssimo sabe.

ADVOGADO DE DEFESA  -  Entre estes três tipos, em qual classificaria a vítima, Nívea Louzada?

RENATÃO  -  Bem, ela estava querendo entrar para a turma das avançadinhas. Isto é, garotas de boas família que procuram se libertar da educação tradicional. Liberdade de ser e de fazer o que bem entender. Quase sempre elas não estão preparadas para essa liberdade e... se estrepam.

ADVOGADO DE DEFESA  -  O senhor acha que Nívea se estrepou?

RENATÃO  -  Acho. Se bem que, mesmo que ela fizesse tudo isso, era assim como um peixe fora d’água. O senhor entende, ela era do Rio Comprido... e o Rio Comprido é outro país... não dava pé!

ADVOGADO DE DEFESA  -  Então, Nívea não era também esse anjo de pureza que se diz por aí...

RENATÃO  -  (sorriu) Isso é invenção da imprensa, pra vender jornal.

ENTRE OS ASSISTENTES, EMILIANO BALANÇOU A CABEÇA, CHOCADO.

EMILIANO  -  Canalha! Esse sujeito quer enlamear a memória da minha filha!...

AO SEU LADO, ARAKEN FEZ UM SINAL, PEDINDO CALMA.

ADVOGADO DE DEFESA  -  Nívea tinha muitos namorados?

RENATÃO  -  Eu só conheci Ricardinho e depois o padre, com quem ela ia casar. Mas Ricardinho é da turma da pesada e ela andou fazendo umas experiências meio arriscadas com essa turma. O senhor me entende...

PROMOTOR  -  (reagiu, levantando-se) Protesto! A defesa está pretendendo enlamear a memória de uma santa!

VOZERIO NA ASSISTENCIA, EMILIANO ESTAVA INDIGNADO.

EMILIANO  -  Cafajeste! Esse sujeito não vale nada!

O JUIZ TOCOU A CAMPAINHA EM MEIO AO BURBURINHO.

JUIZ  -  Silêncio! Silêncio no auditório!

ADVOGADO DE DEFESA  -  (continuou o interrogatório) Senhor Renato Itararé de Souza, fale sobre as fotos que o senhor teria negociado com uma cadeia de revistas!

RENATÃO  -  (balançou a cabeça) É verdade. Ela recebeu 25 mil reais por essas fotos.

O ADVOGADO APANHOU UMA REVISTA JÁ DOBRADA NA PÁGINA QUE INTERESSAVA E MOSTROU AO PLAYBOY.

ADVOGADO DE DEFESA  -  Confirma terem sido estas as fotos negociadas pelo senhor com a vítima?

RENATÃO  -  Confirmo.

CORTA PARA:

CENA  3  -  TRIBUNAL  -  SALA DAS TESTEMUNHAS DE DEFESA.  -  INT.  -  DIA.

RICARDINHO, SÒZINHO NA SALA, ESTAVA UMA PILHA DE NERVOS, QUANDO O OFICIAL DE JUSTIÇA ENTROU.

OFICIAL DE JUSTIÇA  -  Senhor Ricardo Miranda, acompanhe-me, por favor.

RICARDINHO  -  (aliviado) Finalmente! Não tou aguentando mais isso aqui!

CORTA PARA:

CENA  4  -  TRIBUNAL  -   SALA DO JÚRI  -  INT.  -  DIA.


ADVOGADO DE DEFESA  -  Senhor Ricardo Miranda, quais são suas relações com a acusada, Jurema de Alencar?     

RICARDINHO  -  (lembrou-se da recomendação do advogado) Somos namorados.

ADVOGADO DE DEFESA  -  Há quanto tempo?

RICARDINHO  -  Uma pá de tempo... uns quatro ou cinco anos.

ADVOGADO DE DEFESA  -  O senhor pretende casar-se  com ela?

RICARDINHO  -  Casar com ela? Não, nunca pensei nisso. Nós nos curtimos, só isso...

ADVOGADO DE DEFESA  -  Durante esses quatro ou cinco anos, o senhor sempre foi fiel a ela?

RICARDINHO  -  Não. Tive uns galhos. Quem é que não tem?

ADVOGADO DE DEFESA  -  E D. Jurema sabia desses “galhos”?

RICARDINHO  -  Às vezes Jurema descobria, brigava, mas acabava entendendo que a gente não podia ficar amarrado a vida toda. Tinha que variar, ir em frente. Ela sabia que comigo tem que ser assim. A vida é parada...

OUVIRAM-SE MURMÚRIOS NO AUDITÓRIO. “INCRÍVEL!”” “QUE SUJEITO!”

JUIZ  -  (tocou a campainha)  Peço à testemunha para evitar termos de gíria.

RICARDINHO  -  Eu falei “parada”. É nome feio?

FOI A VEZ DO PROMOTOR INTERROGAR RICARDINHO.

PROMOTOR  -  A acusada declarou, diante deste tribunal, que   na   noite   do  crime,  telefonou  para  a  vítima,  pretendendo  encontrar-se com ela para uma explicação definitiva. Isto prova que a testemunha mentiu, quando afirmou que ela sabia do rompimento!

O ÍMPETO ACUSADOR DO PROMOTOR BALANÇOU RICARDINHO.

RICARDINHO  -  Ela disse isso, é? Ela é muito burra, como sempre.

PROMOTOR  -  Portanto, senhores, Jurema não sabia que a testemunha havia rompido com Nívea, nem que esta ia casar-se com o padre Vítor. E por isso, matou-a.

VOZERIO NO AUDITÓRIO. O JUIZ BATEU O MARTELO.

JUIZ  -  Silêncio!

PROMOTOR  -  A testemunha acabou de afirmar, quando inquirida pelo meu colega de defesa, que a acusada encara com naturalidade o fato dele namorar outras garotas. No entanto, o porteiro do prédio recebeu várias reclamações de vizinhos da acusada, que se queixavam de brigas, agressões físicas. (fez uma pausa) Pelo menos uma dessas brigas, segundo o testemunho do porteiro, teve como motivo Nívea Louzada. O senhor confirma isso?

RICARDINHO  -  (hesitou um momento) Sim... confirmo. Discuti com ela uma vez e perdi a paciência, chegando a dar-lhe uns trancos...

PROMOTOR  -  Porque ela não se conformava com a sua aventura? Ou porque o senhor ameaçou abandoná-la?

RICARDINHO  -  (tornou a hesitar) Isso é coisa que a gente diz na hora da discussão, o senhor sabe...

PROMOTOR  -  (apontou para ele, agressivamente) Sei, sim; você ameaçou abandoná-la, confessou que estava apaixonado por Nívea, e ela então decidiu matá-la. Foi ou não foi?
 
RICARDINHO  -  (suava em bicas)  Eu... não, eu não disse... não disse nada disso... corta essa... qual é...

PROMOTOR  -  A Promotoria não tem mais perguntas a fazer.

JUIZ  -  A testemunha está dispensada.

RICARDINHO TROCOU UM OLHAR COM JUREMA E SAIU.

NO AUDITÓRIO, ARAKEN BALANÇOU A CABEÇA, DESOLADO. A SEU LADO, AGORA ESTAVA LEOPOLDO.

ARAKEN  -  Ele se saiu muito mal... muito mal.

LEOPOLDO  -  De fato. O Promotor conseguiu fazer ele ficar nervoso.

CORTA PARA:

CENA 5  -  TRIBUNAL  -  SALA DO JÚRI  -  INT.  -  DIA.         

ADVOGADO DE DEFESA  -  O senhor foi padre?

VÍTOR  -  Ainda sou. Não perdi minha condição de padre, embora tenha revertido ao estado de leigo.

ADVOGADO DE DEFESA  -  Padre Vítor, depois que a acusada foi presa, o senhor foi duas vezes visitá-la na prisão. Por quê?

VÍTOR  -  A primeira vez porque ela me pediu. A segunda, porque senti necessidade de vê-la novamente... porque acredito na sua inocência.

VOZERIO NA ASSISTENCIA. TODOS OS ASSISTENTES COMENTAVAM ENTRE SI.

ADVOGADO DE DEFESA  -  Por favor, Padre, conte-nos tudo o que sabe...

VÍTOR CONTOU-LHES TUDO O QUE SABIA – OU PENSAVA SABER.

CORTA PARA:

CENA 6  -  TRIBUNAL  -  SALA DO JÚRI  -  INT.  -  NOITE.


JÁ ERA NOITE QUANDO O PROMOTOR TERMINOU A RÉPLICA, O DEDO APONTADO PARA JUREMA.

PROMOTOR  -  ... e diante das evidências, peço para Jurema de Alencar a pena máxima!

A DEFESA TREPLICOU.

ADVOGADO DE DEFESA  -  ... nenhuma prova concludente, somente suposições, raciocínios subjetivos, foi o que apontou o Ministério Público contra a acusada, durante essas onze horas. E quanto mais se esforçou para incriminá-la, mais deixou clara, cristalina, a sua inocência. Senhores jurados, espero que julgueis estritamente dentro dos autos e das provas. Tenho dito.

O JUIZ LEVANTOU-SE. OS JURADOS TAMBÉM. OS SOLDADOS CONDUZIRAM JUREMA PARA FORA DO RECINTO. AO PASSAR, ELA TROCOU UM OLHAR COM LEOPOLDO, QUE FEZ UM GESTO, ANIMANDO-A.

ARAKEN  -  Agora, tudo depende dos jurados.

LEOPOLDO  -  São sete pessoas de bem, honestas, imparciais, não são?

ARAKEN  -  Esperamos que sim.

LEOPOLDO  -  (consultou o relógio de pulso) Infelizmente, não posso aguardar o resultado. Tenho que correr pro teatro, tenho peça ás nove da noite. Vou ter que saber o resultado pelo rádio.

LEOPOLDO LEVANTOU-SE E SAIU.

CENA  7  -  TRIBUNAL  -  SALA DO JÚRI  -  INT.  -  NOITE.

OS JURADOS RETORNARAM À SALA DO TRIBUNAL DO JÚRI APÓS LONGOS DEBATES ENTRE SI. IA SER LIDA A SENTENÇA. OS ASSISTENTES REOCUPARAM TAMBÉM OS SEUS  LUGARES.  DOIS  SOLDADOS ENTRARAM NO RECINTO CONDUZINDO A RÉ. O JUIZ LEVANTOU-SE, LEU O VEREDICTO PARA SI; DEPOIS, PROCEDEU COM A FORMALIDADE NORMAL.

JUIZ  -  Assim, de acordo com as respostas dos senhores jurados aos quesitos formulados, declaro a ré culpada!

JUREMA ESTREMECEU.

BURBURINHO NO AUDITÓRIO.

JUIZ  -  E de acordo com o artigo 121 do Código Penal, condeno-a a 14 anos de reclusão.

CORTA PARA:

CENA  8  -  APARTAMENTO DE HELÔ  -  QUARTO  -  INT.  -  NOITE.


VÍTOR ACABOU DE VER, PELA TV, A CONDENAÇÃO. HELÔ ESTAVA PARADA NA PORTA DO QUARTO.

HELÔ  -  Ela foi condenada?

VÍTOR  -  Foi (murmurou, ainda chocado) 14 anos de prisão.

HELÔ  -  (também chocada) Eles não foram muito rigorosos?

VÍTOR BALANÇOU A CABEÇA, REVOLTADO.

VÍTOR  -  Isso não importa! O que importa é que ela está inocente!

HELÔ  -  (balbuciou) 14 anos...

CORTA PARA:

CENA 9  -  TEATRO VILA-LOBOS  -  CAMARIM DE LEOPOLDO REIS  -  INT.  -  NOITE.


LEOPOLDO, SENTADO DIANTE DO ESPELHO, JÁ MAQUIADO PARA ENTRAR EM CENA, ACABOU TAMBÉM DE OUVIR PELO RADINHO DE PILHA.

LEOPOLDO  -  14 anos...

A VOZ DO EMPRESÁRIO FÊZ-SE OUVIR POR TRÁS DELE, QUE ESTAVA DEBRUÇADO SOBRE A MESA.

EMPRESÁRIO  -  Leopoldo! O contra-regra está esperando por você pra subir o pano.

LEOPOLDO  ERGUEU O ROSTO, ARRASADO.

EMPRESÁRIO  -  Que houve?

LEOPOLDO  -  Ela foi condenada!

LEOPOLDO DESLIGOU O RÁDIO. O EMPRESÁRIO BALANÇOU A CABEÇA E POUSOU A MÃO NO OMBRO DO HOMEM DIANTE DO ESPELHO.

EMPRESÁRIO  -  Pobre Jurema, nunca teve sorte, sempre deu azar. É muito chato, principalmente por ela ser uma atriz. Vai repercutir mal na classe...

LEOPOLDO ESBOÇOU UM SORRISO SARCÁSTICO E AMARGO, PROCURANDO SOBREPOR-SE AOS SEUS SENTIMENTOS.

EMPRESÁRIO  -  Muito chato, mas você tem que entrar em cena. Aconteça o que acontecer, o show não pode parar.

LEOPOLDO LEVANTOU-SE VAGAROSAMENTE, APRUMOU-SE E SAIU DO CAMAROTE.     

LEOPOLDO  -  É fato... mesmo com o coração em pedaços, o show não pode parar... 

FIM DO CAPÍTULO 53

...E NO PRÓXIMO CAPÍTULO...

*** a repercussão da condenação de Jurema de Alencar na "República de Ipanema".

*** Leopoldo e Ricardinho brigam seriamente por causa de Jurema.

***D. Consuelo vai vai Banco Oliveira Ramos fazer empréstimo de vultosa soma, para comprar uma mansão e carros.

NÃO PERCA O CAPÍTULO 54 DE



segunda-feira, 28 de maio de 2012

ASSIM NA TERRA COMO NO CÉU - Capítulo 52

Novela de Toni Figueira
Inspirada na Obra de Dias Gomes

Fonte: http://youtu.be/zIuryHGvAVc

CAPÍTULO 52

Personagens deste capítulo:
 

VÍTOR
HELÔ
RENATÃO
SAMUCA
RICARDINHO
D. CONSUELO
DOM JOSÉ
JOANINHA
D. CONSUELO
RODOLFO AUGUSTO
JUREMA
JUIZ
PROMOTOR
ADVOGADO DE DEFESA



CENA  1  -  TRIBUNAL DO JÚRI  -  SALA DAS TESTEMUNHAS DE DEFESA  -  INT.  -  DIA.

RENATÃO BEBIA UM COPO DE ÁGUA MINERAL. RICARDINHO, SENTADO A UM CANTO, PARECIA NERVOSO.

RENATÃO  -  Sabe a impressão que eu tenho? Que prenderam a gente nesta sala porquê se Jurema for absolvida eles pegam um de nós.

VÍTOR  -  (encarou-o, significativamente) Este raciocínio revela um sentimento de culpa.


RENATÃO  -  (deu uma risada) Sentimento de culpa? Não tenho nenhum.

VÍTOR  -  Não tem mesmo? Pois eu tenho. Se eu não tivesse ido a  São Paulo naquela noite, talvez isso não tivesse acontecido.

RICARDINHO  -  (não se conteve)  Pois é, ele foi a São Paulo naquela noite. É, o bicão de sacristia tem um bom álibi.

CORTA PARA:

CENA 2  -  TRIBUNAL   -  SALA DO JÚRI  -  INT.  -  DIA.

NA SALA DO JÚRI, O JUIZ EXIBIA UM REVÓLVER.

JUIZ  -  (a Jurema) A senhora reconhece esta arma?

JUREMA  -  Eu acho... acho que é minha.

JUIZ  -  Quando saiu de casa naquela noite, a senhora levava este revólver dentro da bolsa?

JUREMA  -  (respondeu prontamente)  Não, eu não levava arma nenhuma.

JUIZ  -  Senhor Promotor, a palavra é sua.

O PROMOTOR LEVANTOU-SE E DIRIGIU-SE AOS JURADOS.

PROMOTOR  -  Senhores do Conselho de Sentença, em meus longos anos de promotoria, muitos e muitos crimes horrendos passaram pelas minhas mãos. Muitos e muitos criminosos sanguinários tive que acusar. Eu devia, senhores, ser um homem calejado. E sou. No entanto, neste momento, ao olhar para aquela mulher  que  ali  está sentada tranquilamente no banco dos réus, eu  sinto um arrepio de horror. Como é possível uma criatura humana, com todo o aspecto de um ser normal, praticar um crime tão horripilante? Que se estará passando com a humanidade, meu Deus, para produzir seres dessa espécie?!

AS PALAVRAS DO ACUSADOR FERIAM PROFUNDAMENTE LEOPOLDO, NO MEIO DOS ASSISTENTES. ARAKEN BALANÇAVA A CABEÇA NUM GESTO DE DESAPROVAÇÃO.

PROMOTOR  -  ... a opinião pública se comoveu e se revoltou com o martírio imposto a essa moça de vinte anos, plena de vida, que muitos acreditam ter sido uma santa...

JUREMA BAIXOU A CABEÇA. A VOZ DO PROMOTOR ERA NÍTIDA E FIRME.

PROMOTOR  -  ... Nívea Louzada, moça de boa formação, criada num ambiente sadio... deixou-se um dia namorar por um rapaz chamado Ricardo Miranda... moço mimado, rico, de hábitos pouco recomendáveis, que mantinha uma relação com a acusada...

CORTA PARA:

CENA 3  -  APARTAMENTO DE HELÔ  -  QUARTO  - INT.  -  DIA.


HELÔ, DEITADA EM SUA CAMA, OUVIA PELO RÁDIO.

PROMOTOR  -  (off)  “... mas um dia, Nívea conheceu o padre Vítor e descobriu nele o homem que deveria amar por toda a vida, se não tivesse sido cruelmente assassinada...”

CORTA PARA:

CENA 4  -  TRIBUNAL  -  SALA DO JÚRI  -  INT.  -  DIA.

PROMOTOR  -  ... sim, senhores jurados, Jurema de Alencar, a acusada, se diz inocente... e isso é apenas uma prova de que nem ao menos sente remorso pelo crime que praticou...

CORTA PARA:
       
CENA 5  -  APARTAMENTO DE HELÔ  -  QUARTO  -  INT.  -  DIA. 

HELÔ  ABRIU O CLOSET, ESCOLHEU UM VESTIDO AZUL CLARO BEM DISCRETO, COLOCOU-O SOBRE A CAMA E, DIANTE DO ESPELHO, CAPRICHOU NA MAQUILAGEM.

CORTA PARA:

CENA  6  -  TRIBUNAL  -  SALA DO JÚRI  -  INT.  -  DIA.  


PROMOTOR  -  Eu gostaria de chamar a primeira testemunha, D. Marieta Louzada.

MARIETA CAMINHOU ATÉ O BANCO DAS TESTEMUNHAS E ACOMODOU-SE.

PROMOTOR  -  ... D. Marieta, a senhora conhecia a acusada. Jurema de Alencar?

MARIETA  -  Não, eu não a conhecia. Meu único contato com ela foi quando atendi seu telefonema para minha filha, Nívea, na noite do crime.

CORTA PARA:

CENA 7  -  TRIBUNAL  -  SALA DAS TESTEMUNHAS  -  INT.  -  DIA.      

LÁ DENTRO, RICARDINHO ROÍA AS UNHAS, MUITO NERVOSO. RENATÃO, NO MESMO ESTADO, CAMINHAVA DE UM LADO PARA O OUTRO.

CORTA PARA:

CENA  8  -  TRIBUNAL  -  SALA DO JÚRI  -  INT.  -  DIA.   


MARIETA ESTAVA SENDO INTERROGADA AGORA PELO ADVOGADO  DE DEFESA.

ADVOGADO DE DEFESA  -  ... e a senhora disse que Nívea saiu de casa por volta das onze e meia, naquela noite... e que teve a impressão de que ela ia ao encontro de alguém. Logo depois houve o telefonema da acusada... A senhora tem algum elemento para supor que era a acusada a pessoa com quem Nívea ia encontrar-se?

MARIETA  -  (procurando encobrir a ansiedade da sua voz) Não. Não tenho nenhum elemento para supor isso. Ao contrário, acho que não foi com ela que Nívea foi encontrar-se.

ADVOGADO DE DEFESA  -  Com quem a senhora acha que ela foi encontrar-se?

PROMOTOR  -  (gritou) Protesto! A defesa está procurando  levar a testemunha a fazer suposições.

JUIZ  -  Protesto recusado. A testemunha deve responder.

MARIETA HESITOU. OS ASSISTENTES PERMANECIAM RÍGIDOS EM SEUS LUGARES. ELA TROCOU UM OLHAR COM EMILIANO.

MARIETA  -  Eu não tenho certeza.

MARIETA FOI DISPENSADA PELO PROMOTOR. RODOLFO AUGUSTO FOI O SEGUINTE. TRAJANDO TERNO AZUL E UMA ECHARPE, DIRIGIU-SE, CHEIO DE TREJEITOS AO BANCO DAS TESTEMUNHAS.

PROMOTOR  -  Senhor Rodolfo Augusto, conte-nos o que o senhor viu ou ouviu na noite do crime.

RODOLFO AUGUSTO  -  Bem, eu apenas vi um vulto, só um vulto, pois a noite estava muito escura. Parecia mulher. Claro, devia haver mais de um, pois se a moça estava sendo perseguida, devia haver um perseguidor. A menos que eu estivesse vendo fantasmas.

RISOS NO AUDITÓRIO.

RODOLFO AUGUSTO  -  (disse calmamente) Eu tenho a impressão de que havia também uma outra pessoa.

PROMOTOR  -  Homem ou mulher?

RODOLFO AUGUSTO  -  O senhor sabe, hoje em dia é muito dificil a gente diferençar um homem de uma mulher... pela roupa ou pelo cabelo. Eu tenho a impressão de que era mulher também.

O PROMOTOR VOLTOU AO SEU LUGAR. NESSE MOMENTO, HELÔ ENTROU NA SALA E FOI SENTAR-SE AO LADO DE ALGUÉM, QUE RECONHECEU SER ARAKEN. PENSOU EM MUDAR DE LUGAR.

ARAKEN  -  Parabéns!

HELÔ  -  Parabéns por quê?

ARAKEN   -  Pela sua coragem de vir aqui.

HELÔ  -  (encarou-o com firmeza) Não tenho nada a temer! E por favor, deixe-me em paz!

A VOZ DO PROMOTOR FEZ-SE OUVIR NO SALÃO.

PROMOTOR  -  Solicito a presença da testemunha Jesuíno Romão.

O HOMEM DE MEIA-IDADE ENTROU EM SEGUIDA E FOI SENTAR-SE NO BANCO A ELE DESTINADO.

HELÔ  -  Quem é esse homem?

ARAKEN  -  Não faço a menor idéia.

HELÔ  -  Que estranho...

CORTA PARA:

CENA   9  -  APART-HOTEL  -  APARTAMENTO DE D. CONSUELO  -  SALA  -  INT.  -  DIA.

SAMUCA OUVIA O JULGAMENTO ATRAVÉS DO RÁDIO, QUANDO A CAMPAINHA TOCOU. ERA JOANINHA, QUE ENTROU, OLHANDO EM VOLTA, ADMIRADA.

JOANINHA  -  Nossa, quanto luxo! O aluguel desse apart deve ser uma fortuna!

SAMUCA  -  Que bom que você atendeu meu pedido! (e abraçou-a. Joaninha permaneceu estática).

JOANINHA  -  Ainda não entendi por que insistiu tanto pra eu vir aqui. Cadê ela?

SAMUCA  -  Saiu com o advogado, Dom José, pra resolver um problema. Eles tão me escondendo algo, mas ainda não sei o que é.

JOANINHA  -  E se eles chegarem, de repente? Como vai explicar pra sua mulher minha presença aqui?

SAMUCA  -  Não me importo. Chamei você aqui, Joana, pra que não duvide mais do meu amor por você. Só casei com essa velha porque ela me convenceu, dizendo que tava à beira da morte! E agora, tá mais viva que nós dois e a gente nessa situação, sem saber o que fazer...

JOANINHA  -  Então, porque não separa dela?

SAMUCA  -  Aí é que tá o xis da questão... e se ela bater as botas, de repente?...

A PORTA ABRIU-SE E D. CONSUELO ENTROU, EM COMPANHIA DE DOM JOSÉ.

D. CONSUELO  -  Samuquito! ¿Quién es esta mujer? ¿Qué haces aquí solo?

JOANINHA DEU UM PASSO À FRENTE E ENCAROU D. CONSUELO, DESAFIADORA.

JOANINHA  -  Quer saber? Vamos botar essa história agora em pratos limpos! O negócio é o seguinte (dirigiu-se a Dom José) Essa dona aí tava de vela na mão. Quis casar com meu noivo pra deixar uma fortuna pra ele. Eu, tonta, fui na conversa e concordei. Daí, ela não cumpriu a palavra, não morreu. E tá embrulhando a gente até hoje com essa história de morre não morre!

D. CONSUELO LEVOU A MÃO AO PEITO, APOIANDO-SE NUMA CADEIRA.

D. CONSUELO  -  Ai... mi corazón... ai....

SAMUCA E DOM JOSÉ CORRERAM A AMPARÁ-LA.

D. CONSUELO  -  Mis remédios... depressa, por favor...

SAMUCA CORREU PARA O QUARTO EM BUSCA DOS REMÉDIOS.

DOM JOSÉ  -  Senhorita, este não é o momento para terem esta conversa. É melhor ir embora, agora.

JOANINHA  -  Eu vou, mas saibam que eu não vou desistir do Samuca! Nós nos amamos e ninguém vai nos separar! Ninguém!

JOANINHA SAIU, PISANDO FIRME. SAMUCA RETORNOU COM UM COPO D’ÁGUA E OS REMÉDIOS.

SAMUCA  -  Aqui estão... (procurou Joaninha) Cadê a Joana?

DOM JOSÉ  -  Foi embora. Depois vocês conversam.  Vamos cuidar de D. Consuelo. Ela precisa muito de você, Samuca.

CONSUELO PISCOU UM OLHO E FINGIU DESFALECER.

SAMUCA  -  (correu para a porta) Joaninha! Joana!

CORTA PARA:

CENA  10  -  APART-HOTEL  -  CORREDOR  -  INT.  -  DIA.

SAMUCA ALCANÇOU JOANINHA NA PORTA DO ELEVADOR.

SAMUCA  -  Joana, espere! Ia embora sem falar comigo!...

JOANINHA  -  (encarou-o, indignada) Quer saber, Samuca? Eu disse à velha que ia lutar por você, mas, pensando bem, você não me merece! Não vou mais perder meu tempo com você! Desisto! Não me procure nunca mais! Adeus!

DITO ISTO, A JOVEM ENTROU NO ELEVADOR E FECHOU A PORTA NA CARA DE SAMUCA, QUE FICOU PARADO ALGUNS INSTANTES E VOLTOU PARA O APARTAMENTO, CABISBAIXO.

CORTA PARA:

CENA 10  -  TRIBUNAL -  SALA DO JÚRI  -  INT.  -  DIA.


O PORTEIRO ESTAVA SENTADO NO BANCO DAS TESTEMUNHAS.

PROMOTOR  -  Seu Jesuíno, o senhor conhece a acusada aqui presente?

JESUÍNO  -  (olhou de relance para Jurema e voltou a cabeça para o Promotor) Conheço, sim senhor, conheço muito. Ela mora no prédio onde eu trabalho.

PROMOTOR  -  Pois muito bem, seu Jesuíno. Conte-nos o que viu na noite de 3 para 4 de maio.

JESUÍNO  -  ... ela chegou em casa eram duas horas... estou certo disso porque ela me perguntou... subiu, mas me pediu para ir com ela, pois a fechadura tava meio enguiçada... Eu fui e abri a porta.

PROMOTOR  -  Onde a acusada guardava a chave?
       
JESUÍNO  -  Na bolsa; e dentro da bolsa tinha um revólver.

O PROMOTOR APANHOU O REVÓLVER DE RICARDINHO.

PROMOTOR  -  Seria este, por acaso?

JESUÍNO  -  Parece que é... não posso garantir.

ENTRE OS ASSISTENTES, ARAKEN OLHOU PARA JUREMA, PREOCUPADO, E EM SEGUIDA, PARA NELSON MOTA, SENTADO A SEU LADO.

ARAKEN  -  A coisa ficou feia pro lado dela, agora...

JESUÍNO  -  ... D. Jurema e seu Ricardinho brigavam constantemente... e da última vez que eu fui falar com ela, atendendo à reclamação dos moradores, soube que ele estava amarrado em outra... que por isso, um dia inda acabava fazendo uma desgraça.

CORTA PARA:

CENA  11  -  TRIBUNAL DO JÚRI  -  HALL – INT.  -  DIA / REDAÇÃO DA “FOLHA DO RIO”  -  INT.  -  DIA.


NELSON MOTA, AO CELULAR, FALAVA COM A REDAÇÃO DO SEU JORNAL.

NELSON MOTA  -  Olha, Gouveia, eu acho que a coisa tá mal parada pra Jurema. Pode ser que a defesa consiga virar o jogo, mas vai ser difícil. O Promotor mandou uma lenha que vou te contar!...

GOUVEIA NETO  -  (do outro lado da linha) Você acha que é certa, então, a condenação?

NELSON MOTA  -  Bem, certa não é. Mas o testemunho do porteiro do edifício foi arrasador. Em todo caso, tem muita água pra rolar.

GOUVEIA  NETO  -  Valeu, Nelson, muito obrigado por me manter informado. (virou-se para o chefe da oficina, parado à sua frente, e deu a ordem) Olha, Euclides, vamos preparar duas manchetes. Uma – “Condenada a Fera de Ipanema”; outra – “Absolvida Jurema de Alencar”. Conforme seja o resultado, tacamos uma ou outra.

CORTA PARA:

CENA  12  -  TRIBUNAL  -  SALA DO JÚRI  -  INT.  -  DIA.

O PROMOTOR TERMINAVA O SEU LIBELO.

PROMOTOR  -  ... acho que não preciso acrescentar muita coisa para vos esclarecer a respeito desse crime... Tantas foram as contradições em que caiu a acusada, que seu álibi ruiu como um castelo de cartas... Estamos, senhores do Conselho de Sentença, diante de um crime friamente premeditado... Esse ar de espanto, essas lágrimas... denunciam a atriz profissional que ela é... embora,
no palco, sempre seja uma canastrona, aqui, neste tribunal, não terá certamente o seu dia de glória!

NO BANCO DOS RÉUS, LÁGRIMAS DE TRISTEZA E HUMILHAÇÃO ROLAVAM, TEIMOSAS, DOS OLHOS DE JUREMA DE ALENCAR.

FIM DO CAPÍTULO 52

e no próximo capítulo...

*** Renatão,Vítor e Ricardinho são interrogados no tribunal.

***   A repercussão do resultado do julgamento.


NÃO PERCA O CAPÍTULO 53 DE



sábado, 26 de maio de 2012

ASSIM NA TERRA COMO NO CÉU - Capítulo 51

Novela de Toni Figueira
Inspirada na Obra de Dias Gomes


CAPÍTULO 51

Personagens deste capítulo:

VÍTOR
HELÔ
RENATÃO
SAMUCA
KONSTANTÓPULUS
D. CONSUELO
D. JOSÉ
DOM JOSÉ
BABI
D. CONSUELO
RODOLFO AUGUSTO
JUREMA
JUIZ

CENA 1  -  APART-HOTEL  -  APARTAMENTO DE CONSUELO  -  QUARTO  -  INT.  -  DIA.

Continuação imediata da última cena do capítulo anterior.

CONSUELO ABRIU UM ÔLHO, ASSUSTADA. DOM JOSÉ E SAMUCA ENCAMINHARAM-SE PARA A SALA.

CENA 2  -  APART-HOTEL  -  APARTAMENTO DE CONSUELO  -  SALA  -  INT.  -  DIA.
DOM JOSÉ  -  Ela lo dirá. Yo no estoy autorizado a hacerlo.

SAMUCA  -  (estava intrigado) Mas escute aqui, o senhor precisa me dizer alguma coisa. Afinal de contas, eu sou o marido dela. Que papel eu tou fazendo aqui? De palhaço?

DOM JOSÉ  -  Pero señor Samuca, no me cabe la culpa...

DOM JOSÉ SAIU. SAMUCA PARTIU PARA O QUARTO DE CONSUELO.

CENA 2  -  APART-HOTEL  -  APARTAMENTO DE CONSUELO  -  QUARTO  -  INT.  -  DIA.

SAMUCA  -  Consuelo, tenho o direito de saber o que está acontecendo. Por favor, não me esconda nada!

CONSUELO  -  Non tengo nada a decir, Samuquito...

SAMUCA  -  Poxa, tou decepcionado com você. Esperava um pouco mais de consideração da minha esposa!

CONSUELO  -  No tengo nada a hablar, mi amore....  (e decidiu-se) Está bien.... Las aciones de nuestra compañia han caído en la Bolsa. Um poco, pero no hay motivo para preocupaciones. En compensación, las minas de cobre que exploramos en Chile van muy bien. E nuestra frota de petroleros sigue aumentando. Mi corazón é que no está nada bién, Samuquito.

CONSUELO LEVOU A MÃO AO PEITO. PORÉM SAMUCA AINDA NÃO ESTAVA CONVENCIDO.

D. CONSUELO  -  Solamente mi amor a usted me prende a la vida...

SAMUCA  -  Que é isso? Deixa de bobagem. Não se prenda a nada, não!

CORTA PARA:

CENA  3  -  APARTAMENTO DE RENATÃO  -  SALA  -  INT.  -  NOITE.

RENATÃO ESTAVA BASTANTE FURIOSO COM A BURRICE DE KONSTANTÓPULUS.

RENATÃO  -  Com essa sua burrice, você me envolveu de novo nessa história! Eu já tinha me livrado disso! E agora vai voltar tudo!... (depois, mudando de assunto) A propósito, ela me procurou?

KONSTANTÓPULUS APONTOU PARA A VARANDA.

KONSTANTÓPULUS  -  Está lá, à sua espera.

RENATÃO RECUPEROU O BOM HUMOR. FOI ATÉ O ESPELHO. ARRUMOU-SE. O MORDOMO APANHOU OS PERFUMES, PÔS UM CD NO MICRO SYSTEM E SAIU.

RENATÃO  -  Olá, você estava aí?

BABI  -  Já há um tempinho... mas tudo bem!

RENATÃO TENTOU BEIJÁ-LA, MAS A JOVEM ESQUIVOU-SE.

BABI  -  Eu não devia ter vindo aqui. Só vim porque você prometeu telefonar pro Guel Arraes me apresentando.
      
RENATÃO  -  Ora, telefono imediatamente, e dou ordem pra incluir você no elenco. Sabe que vou produzir uma fita com dinheiro da velha Consuelo, mulher do Samuca?  Você os conhece?

BABI  -  Sim, claro. Fui no casamento deles.

RENATÃO PEGOU O TELEFONE E DISCOU.

RENATÃO  -  Alô? Guel? Como vai o bom pernambucano? Olha, eu encontrei a estrela para o nosso filme! Junto dela, Cameron Diaz é um bagulho!

CORTA PARA:

CENA  4  -  APART-HOTEL  -  APARTAMENTO DE CONSUELO  -  SALA  -  INT  -  DIA.

APROVEITANDO A AUSÊNCIA DE SAMUCA, CONSUELO CHAMOU DOM JOSÉ AO SEU APARTAMENTO. SÒZINHOS, ENTRETANTO, A CONVERSA ERA OUTRA.

DOM JOSÉ  -  Dime, por favor, doña Consuelo. El no sabe de nada?

D. CONSUELO  -  No, no sabe.. Y tu no vas decir!

DOM JOSÉ  -  Pero senõra... És una situación muy peligrosa. Hoy, mañana, el tendrá que saber... Y entonces? Y este casamiento, que loucura!! Mejor seria, señora, que volvesse a México en seguida, antes que haga una tragedia.

D. CONSUELO  -  No, no puedo, Dom José. Voy confesarte: estoy enamorada!

DOM JOSÉ  -  Es una tonteria, todo esto puede acabar muy mal!...

CONSUELO APANHOU UM RETRATO DE SAMUCA QUE ESTAVA SOBRE UM MÓVEL E BEIJOU-O SÔFREGAMENTE.

D. CONSUELO  -  Creo hasta que el amor me ha curado para siempre. El milagro del amor!

CORTA PARA:

CENA  5  -  APARTAMENTO DE HELÔ  -  SALA  -  INT.  -  NOITE.

VÍTOR CHEGOU DA ESCOLA EM COPACABANA ONDE DAVA AULAS DE GEOGRAFIA, E ENCONTROU HELÔ DEITADA NA CAMA, VENDO TV E COMENDO BISCOITOS.

VÍTOR  -  Oi, amor!

HELÔ  -  (fitou-o, com frieza e voltou a atenção para a TV) Oi.

VÍTOR SENTOU-SE NA CAMA, O CENHO FRANZIDO.

VÍTOR  -  Nossa, quanta indiferença! Minha mulher dá mais importancia a um programa de TV do que a mim!

HELÔ  -  Como posso considerar meu marido um homem que não confia em mim, e me julga uma assassina?

VÍTOR  -  Helô, entenda... este caso é muito complicado. Várias pessoas têm motivos pra ter empurrado Nívea daquele paredão. Eu sei que você não a matou, eu sinto isso... mas preciso saber a verdade!

HELÔ  -  (ofendida) E enquanto não descobre, me atormenta com suas acusações, desconfianças... Pra mim, chega. Não quero mais falar nesse assunto.

VÍTOR  -  (segurou a esposa pelo queixo, obrigando-a a fitá-lo) Helô, olhe pra mim: me perdoe. Não tive a intenção de ofender, de machucar você. Sofro só de pensar... que você poderia ter feito isso... mas, ao mesmo tempo, meu coração me diz que não é verdade, que você não seria capaz...

HELÔ  -  Então, acredite em mim. É só o que eu te peço.

VÍTOR  -  Me dá um abraço? Por favor...

HELÔ ABRAÇOU-O, COM OS OLHOS MAREJADOS.

CORTA PARA:

CENA 6  -  APARTAMENTO DE RENATÃO  -  SALA  -  INT.  -  NOITE.

KONSTANTÓPULUS ABRIU A PORTA E RODOLFO AUGUSTO ENTROU, ESBAFORIDO.

RODOLFO AUGUSTO  -  Renatão está em casa? Preciso muito falar com ele!

RENATÃO ENTROU NA SALA, VINDO DO ATELIÊ.

RENATÃO  -  Rodolfo Augusto! Não vá me dizer que sua irmã, Madame X, aprontou mais uma!

RODOLFO AUGUSTO  -  (aflito) Não. Marisa fez as pazes com o marido e já estão de viagem marcada pra Áustria.

RENATÃO  -  (levantou as mãos para o alto, dramàticamente) Obrigado, senhor! Obrigado por ter ouvido minhas preces!

RODOLFO AUGUSTO  -  Vim aqui por dois motivos (exibiu dois envelopes) Um deles... é um convite para o desfile de fantasias do Teatro Municipal, na segunda-feira de carnaval. Vou sair com a fantasia “Príncipe Egípcio”. Está deslumbrante, luxuosérrima! E é lógico, vou precisar dos meus amigos, da minha torcida fiel, para gritarem, desmaiarem, se descabelarem, quando eu surgir na passarela!

RENATÃO  -  Ei! Devagar com a louça! Sinto muito, meu caro, mas você trouxe o convite pra pessoa errada. Não sou chegado e esses arroubos, chiliques... e, se quer mesmo saber, nem curto esse negócio de desfile de fantasias...

RODOLFO  AUGUSTO  -  Ai, que pena... trouxe dois convites, achando que você levaria uma acompanhante... Afinal, vai estar presente a nata da alta sociedade carioca!

RENATÃO  -  (segurou o queixo, pensativo) Pensando bem... eu tenho sim, uma ótima companhia pra esse evento! Fechado! Vou ao desfile, torcer por você. Só não conte com chiliques, desmaios e outras frescuras mais, OK!

RODOLFO AUGUSTO  -  (resignado) Já é alguma coisa... fazer o que, né!

RENATÃO  -  (apontou para os envelopes) E o outro envelope... o que é?

RODOLFO AUGUSTO  -  (mudou a expressão, apreensivo)  É uma intimação! Fui intimado a depor no julgamento de Jurema de Alencar, daqui a três dias!

RENATÃO  -  (sem demonstrar surpresa) Se servir de consolo, meu caro, eu também recebi a mesma intimação e serei obrigado a comparecer!

RODOLFO AUGUSTO  -  Que babado! Gente, preciso correr, pra escolher um modelito de parar o trãnsito, quando o juiz me chamar pro banco das testemunhas!

CORTA PARA:

CENA 7  -  TEATRO MUNICIPAL  -  INT.  -  NOITE.


ALGUNS DIAS SE PASSARAM . ERA SEGUNDA-FEIRA DE CARNAVAL. NO TEATRO MUNICIPAL, SOB A APRESENTAÇÃO DE MIÉLE E ROGÉRIA, OS CANDIDATOS DESFILAVAM, ORGULHOSOS, FANTASIAS CHEIAS DE LUXO E GLAMOUR. QUANDO RODOLFO AUGUSTO SURGIU COMO “PRÍNCIPE EGÍPCIO”, RENATÃO, BABI, SAMUCA E D. CONSUELO, SENTADOS A UMA MESA PRÓXIMA À PASSARELA, APLAUDIRAM, ENTUSIASMADOS.

CONSUELO  -  Muy hermosa esta fantasia! Mira, Samuquito!

SAMUCA  -  A fantasia do Rodolfo Augusto é a mais bonita, disparado! Essa ele ganha na moleza, você não acha, Renatão?

RENATÃO  -  (sem tirar os olhos de Babi) Acho... acho... É muito bonita, mesmo... belíssima!

BABI  -  (encantada) Nossa, Renatão, quanto luxo! Adorei o convite pra vir aqui. Via sempre pela TV, e nunca imaginei que fosse tudo tão maravilhoso!

RENATÃO  -  (acariciando-lhe a mão) Isso é só o começo, Babi. Tem muita coisa que ainda quero te mostrar... se você deixar, é claro.

A VOZ DO APRESENTADOR ATRAIU A ATENÇÃO DAS CENTENAS DE PESSOAS PRESENTES AO EVENTO. UM POUCO MAIS ATRÁS, PERFILADOS LADO A LADO, OS CANDIDATOS TRAJANDO SUAS RESPECTIVAS FANTASIAS, AGUARDAVAM ANSIOSAMENTE O RESULTADO DO CONCURSO.

MIÉLE  -  E agora, senhoras e senhores, o momento mais esperado da noite!

ROGÉRIA  -  Vamos informar o resultado do concurso de fantasias do Teatro Municipal do Rio de Janeiro, ano de 2012!

MIÉLE  -  Começaremos então, pelo terceiro colocado!

ROGÉRIA  -  Em terceiro lugar, Guilherme Guimarães com a fantasia “Saudades do Rio”!

A MULTIDÃO APLAUDIU, ENTUSIASMADA.

MIÉLE  -  Em segundo lugar... Rodolfo Augusto com a fantasia “Príncipe  Egípcio”!

RODOLFO AUGUSTO DEU UM PASSO À FRENTE, SEM ACREDITAR NO QUE OUVIA.

RODOLFO AUGUSTO  -  Se... segundo lugar?! (e desmaiou em seguida).

FORMOU-SE UM PEQUENO TUMULTO EM VOLTA DE RODOLFO AUGUSTO. RENATÃO E SAMUCA CORRERAM PARA AJUDAR. SENTARAM-NO NUMA CADEIRA, ABANANDO-O COM UM LEQUE DE PENAS, ACESSÓRIO DE UMA FANTASIA.

RODOLFO AUGUSTO  -  (balbuciou, abrindo um ôlho) Não aceito esse resultado! Minha fantasia é a melhor de todas, disparado! Não aceito! Quero morrer! Vou me matar! Quero morrer!... Quero uma faca! Vou cortar os pulsos!

CORTA PARA:

CENA 8  -  TRIBUNAL DO JÚRI  -  INT.  -  DIA.

DOIS DIAS DEPOIS...

A SALA DO TRIBUNAL DO JÚRI ESTAVA REPLETA. OS ADVOGADOS NOS SEUS LUGARES, OS ESCRIVÃES TAMBÉM. NO AUDITÓRIO, ENTRE OS ASSISTENTES, VIAM-SE EMILIANO, LEOPOLDO E NELSON MOTA. NO BANCO DOS RÉUS, JUREMA, ENTRE DOIS SOLDADOS. EM SALAS SEPARADAS, AS TESTEMUNHAS DE DEFESA, VÍTOR, RENATÃO, RICARDINHO E MARIO MALUCO, E AS TESTEMUNHAS DE ACUSAÇÃO, D. MARIETA, RODOLFO AUGUSTO E O PORTEIRO DO EDIFÍCIO ONDE MORAVA JUREMA.

ARAKEN TEIXEIRA FOI INCUMBIDO DE FAZER A COBERTURA PARA A “FOLHA DO RIO”. COBERTURA IMPARCIAL, OBJETIVA, SEM DIVAGAÇÕES, CONFORME RECOMENDAÇÕES DO DIRETOR, GOUVEIA NETO.

JUIZ  -  D. Jurema de Alencar, a senhora lembra de tudo o que aconteceu na noite de 3 para 4 de maio? Se positivo, por favor, faça um relatório minucioso.

JUREMA  -  Sim, meritíssimo, eu lembro. Estive no meu apartamento até por volta da meia-noite, talvez um pouco menos, quando telefonei para a casa de Nívea.

JUIZ  -  Por que a senhora fez isso?

JUREMA  -  Eu queria falar com ela. Mas foi a mãe dela que atendeu. Então eu saí de casa e fui até à Fiorentina. Cheguei lá por volta da meia-noite. O senhor sabe que a Fiorentina é frequentada por gente de Teatro. Mas ainda era cedo, tinha pouca gente conhecida. Que eu me lembre, Marco Nanini, Marieta Severo e Natália do Vale estavam lá. Mas eu não falei com nenhum deles, estava chateada e fiquei sòzinha na mesa. Acho que devia ser, mais ou menos, meia hora depois da meia-noite, quando eu saí de lá e fui para casa, onde cheguei por volta de uma hora.

JUIZ  -  Uma hora. A senhora está certa disso, Dona Leontina?

JUREMA HESITOU UM POUCO. O ADVOGADO DE DEFESA ESBOÇOU UM GESTO DE PREOCUPAÇÃO.

JUREMA  -  Estou. Não era mais do que isso.

CORTA PARA:

CENA 9  -  TRIBUNAL DO JÚRI  -  SALA DAS TESTEMUNHAS DE DEFESA -  INT.  -  DIA.


RENATÃO BEBIA UM COPO DE ÁGUA MINERAL. RICARDINHO, SENTADO A UM CANTO, PARECIA NERVOSO.

RENATÃO  -  Sabe a impressão que eu tenho? Que prenderam a gente nesta sala porquê se Jurema for absolvida eles pegam um de nós,

VÍTOR  -  (encarou-o, significativamente) Este raciocínio revela um sentimento de culpa.

FIM DO CAPÍTULO 51

E NO PRÓXIMO CAPÍTULO...

*** Prossegue o julgamento de Jurema de Alencar. São ouvidos no banco das testemunhas . Marieta, Rodolfo Augusto e outros.

*** É lavrada a sentança! 

NÃO PERCA O CAPÍTULO 52 DE




quinta-feira, 24 de maio de 2012

ASSIM NA TERRA COMO NO CÉU - Capítulo 50

Novela de Toni figueira
Inspirada na obra de Dias Gomes


CAPÍTULO 50

Personagens deste capítulo:

VÍTOR
DETETIVE JONAS
JOANINHA
DELEGADO FONTOURA
HELÔ
RENATÃO
SAMUCA
KONSTANTÓPULUS
D. CONSUELO
D. JOSÉ
ARAKEN
ADELAIDE
BABI
AMIGOS DA PRAIA
CENA 1  -  AV. VIEIRA SOUTO  -  CALÇADÃO  -  EXT.  -  NOITE

A AVENIDA VIEIRA SOUTO ESTAVA COMPLETAMENTE ILUMINADA ÀQUELA HORA DA NOITE. NO PONTO EM QUE NÍVEA CAIU DO PAREDÃO, UMA MULHER ACENDIA UMA VELA JUNTANDO-SE ÀS MUITAS QUE SE VIAM ESPALHADAS PELO LOCAL.

VÍTOR  -  Foi aqui. Você se lembra de ter estado com ela neste local?

HELÔ  -  (fez um esforço para lembrar-se) Não, não lembro de nada.

VÍTOR  -  (procurou ajudá-la) Vocês estavam ali, no bar. Depois, que fizeram? Não saíram juntas? Não vieram até aqui?

HELÔ  -  Não. Se viemos, eu não me lembro. (se desesperou) Não adianta, eu não me lembro!

VÍTOR TIROU O MEDALHÃO DO BÔLSO E MOSTROU-O A HELÔ.

VÍTOR  -  É seu?

HELÔ  -  Sim, é meu. Há muito tempo que tinha dado por falta dele.

VÍTOR  -  Pois foi encontrado junto ao corpo de Nívea.

A REAÇÃO DE HELÔ FOI VISÍVEL. DE ATORDOAMENTO.

HELÔ  -  Pode ser que ela tivesse me pedido emprestado. Ás vezes eu emprestava coisas a ela, até vestidos. Você sabe, ela não tinha, era pobre!

VÍTOR  -  Você tem certeza que emprestou este medalhão?

HELÔ  -  Não, não tenho certeza de nada. Mas podia ter emprestado.

VÍTOR  -  Mas podia também ter deixado cair... ou ela podia ter arrancado do seu pescoço na hora em que você a empurrou!

HELÔ  -  (olhou-o, espantada) Você acha, então... que eu a matei... Que eu sou uma assassina!

VÍTOR  -  Eu não quero acreditar nisso... mas temos de apelar pra tudo, pra descobrir a verdade!

HELÔ  -   (perturbada)  Por favor... me leva pra casa!

CORTA PARA:

CENA  2  -  APARTAMENTO DO DELEGADO FONTOURA  -  SALA  -  INT.  -  DIA.

A CAMPAINHA TOCOU E ADELAIDE ABRIU A PORTA. ERA O DETETIVE JONAS.

DETETIVE JONAS  -  Bom dia, D. Adelaide. Eu estava aqui perto e vim saber do estado de saúde da Verinha...

ADELAIDE  -  Bom dia, seu Jonas. Ela está no quarto, se recuperando devagar, mas está bem, obrigada.

FONTOURA SURGIU NA SALA VESTINDO O TERNO.

DELEGADO FONTOURA  -  Olá, Jonas! Estou de saída para o Distrito! Alguma novidade?

DETETIVE JONAS  -  Nada de novo. Sòmente aquele caso do Araken Teixeira. Sabe como é essa gente da imprensa; se não se toma logo providência, eles caem no nosso pêlo...

DELEGADO FONTOURA  -  Mas você não o levou pra ver o carro?

DETETIVE JONAS  -  Acontece que não era aquele. Ele anotou  errado  a  chapa do carro. Mas  já  conseguiu  identificar  o veículo. É um Peugeot, que também foi roubado naquela tarde. A queixa tá lá no distrito.

DELEGADO FONTOURA  -  Quem é o dono do carro?

DETETIVE JONAS  -  Aí é que o senhor vai levar um susto. É o senhor Renato Itararé de Souza.

DELEGADO FONTOURA  -  Renatão!

DETETIVE JONAS  -  Ele mesmo!

DELEGADO FONTOURA  -  Isso vai nos obrigar a reabrir o inquérito de Nívea Louzada!

DETETIVE JONAS  - É o que eu acho.

CORTA PARA:

CENA  3  -  PRAIA DE IPANEMA  -  EXT.  -  DIA.
O BELO DIA DE SOL E O MAR AZUL ERAM UM ATRATIVO IRRESISTÍVEL PARA RENATÃO, QUE, TRAJANDO APENAS SUNGA AZUL E ÓCULOS DE SOL, CONVERSAVA ANIMADAMENTE COM DOIS AMIGOS. O PLAYBOY OLHOU DISTRAÍDAMENTE PARA A ARREBENTAÇÃO E PAROU, COMO QUE HIPNOTIZADO. A LOIRA ESCULTURAL, COM UM MINÚSCULO BIQUÍNI VALORIZANDO SUAS CURVAS PERFEITAS, GANHOU O MAR E MERGULHOU, GRACIOSAMENTE.

RENATÃO  - Caramba! Que avião!

AMIGO  1  - É a Babi, você não conhece? Mário Maluco e ela já “ficaram” algumas vezes...

RENATÃO  -  (sem desgrudar os olhos da água)  Eles tão juntos? Digo, é sério?
      
AMIGO 1  -  Sério? (e debochado) E Mario Maluco leva alguma coisa a sério? Acho que só o Ricardinho!...

TODOS RIRAM. RENATÃO AFASTOU-SE EM DIREÇÃO Á JOVEM, QUE ACABAVA DE SAIR DO MAR.

RENATÃO  -  Oi!

BABI  -  (com as mãos nos cabelos, retirando o excesso de água salgada) Oi!

RENATÃO  -  (olhando-a fixamente) Espere... eu te conheço! Você não estava na festa de casamento da Helô, no apê do Oliveira Ramos?

BABI  -  Tava, tava... Você é o Renatão, não é? A gente caiu junto na piscina.

RENATÃO  -  É mesmo! Foi a maior zorra! Todo mundo doidão, de pileque! Acho que por isso não reparei direito em você (fitou-a dos pés à cabeça) Aposto que você é modelo. Acertei?

BABI  -  (sorriu, simpática)  Não. Faço curso de teatro. 

RENATÃO  - (animou-se) É mesmo? Nossa, que coincidência!

BABI  -  Por quê? Você é ator?

RENATÃO  -  Não. Sou uma espécie de caçador de talentos, “olheiro”, entende?

BABI  -  Que interessante...

RENATÃO  -  Pois é. Várias atrizes, hoje famosas, foram encaminhadas por mim. Natália Dill, Bianca Bin, Vanessa Giácomo, por exemplo.

OS OLHOS DA JOVEM SE ILUMINARAM.

BABI  -  Jura? Que incrível!

RENATÃO  -  (olhando-a fixamente) Você tem o tipo físico que estou procurando, sabia? Sou muito amigo do Guel Arraes e estou ajudando a montar o elenco do novo filme dele. Se você quiser, podemos fazer um teste...

BABI  -  Nossa, eu adoraria! Você tá falando sério?

RENATÃO   -  Menina, você acha que eu ia brincar com isso? Você tá me vendo aqui na praia, de sunga, relaxadão, mas estou a trabalho. (apontou para o prédio quase em frente) Tá vendo aquele prédio? Eu moro ali. Terceiro Andar. Me procure amanhã, sem falta. Quem sabe não está a um passo de se tornar uma grande estrela?

BABI  -  (emocionada)  Ai, fiquei até nervosa.... Olha, seu Renatão, meu nome é Babi. Prometo que você não vai se arrepender. Vou agarrar essa oportunidade com unhas e dentes!

RENATÃO  -  Tá bom, mas por favor, esquece esse “seu”. Pode me chamar de Renatão. É como todo mundo me conhece aqui na área!

BABI  -  Tudo bem, Renatão. Amanhã estarei na sua casa, com certeza!

A JOVEM AFASTOU-SE, CORRENDO, DEIXANDO O BOQUIABERTO RENATÃO BABANDO.

RENATÃO  -  Maravilhosa!... Que mulher!...

CORTA PARA:

CENA  4  -  APARTAMENTO DE RENATÃO  -  SALA  -  INT.  -  DIA.


“ALELUIA” ALELUIA!” A CAMPAINHA TOCOU NO APARTAMENTO DE RENATÃO. KONSTANTÓPULUS FOI ABRIR E DEU DE CARA COM O DETETIVE JONAS E ARAKEN TEIXEIRA.
     
DETETIVE JONAS  -  Boa tarde. Queremos falar com o senhor Renato Itararé de Souza.

KONSTANTÓPULUS  -  O patrão não está, senhor. Foi à praia.

DETETIVE JONAS  -  (fez cara de espanto)  Praia? São tres e meia da tarde.

KONSTANTÓPULUS  -  Pois é. Tenho ordens para chamá-lo às quatro.

ARAKEN  -  Que boa vida, hem? Escute aqui, ele não faz nada?

KONSTANTÓPULUS  -  Sim. Meu patrão é produtor cinematográfico.

ARAKEN  -  Então, diz aí um filme dele.

KONSTANTÓPULUS  -  Eu não sei, senhor. Nunca vou ao cinema.

DETETIVE JONAS  -  Ele deve ter uma grana firme. Pra manter essa vida! Mas de onde vem essa grana, é um mistério que eu nunca consegui decifrar.

KONSTANTÓPULUS  -  (pigarreou) Bem, os senhores podem voltar mais tarde, eu digo ao patrão.

DETETIVE JONAS  -  Nada disso. Nós viemos aqui falar com você mesmo.

KONSTANTÓPULUS  -  (se assustou)  Comigo? Mas eu não sei de nada.

DETETIVE JONAS  -  Como você diz que não sabe de nada, se eu não disse do que se trata?

ARAKEN  -  Ele deve ter ouvido a conversa entre os dois, isto é, Nívea Louzada e Renatão, na noite do crime. Ela esteve aqui e você ouviu o que eles conversaram.

DETETIVE JONAS  -  Se você disser o que ouviu, nada vai lhe acontecer. Senão, vai ter que vir comigo ao Distrito.

KONSTANTÓPULUS  -  (recuou, ainda mais amedrontado) Mas eu não ouvi nada. Seria uma falta de educação.

DETETIVE JONAS  -  (repetiu a pergunta, pausadamente) Você não ouviu mesmo? Nem uma palavra?

KONSTANTÓPULUS  -  Nem uma palavra! Juro!

JONAS E ARAKEN TROCARAM UM OLHAR.

ARAKEN  -  Eu não lhe disse? Ela esteve aqui naquela noite. (e dirigindo-se ao assustado mordomo) Você apenas confirmou que Nívea Louzada esteve aqui na noite do crime.

CORTA PARA:

CENA  5  -  DELEGACIA  -  SALA DO DELEGADO FONTOURA  -  INT.  -  DIA.
   
RENATÃO ESTAVA SENTADO AO LADO DA MESA DO DELEGADO, SENDO INTERROGADO.

RENATÃO  -  (protestava)  Francamente, Delegado, acho um absurdo que um cidadão tenha o seu carro roubado e seja obrigado a vir ao Distrito dar explicações!

DELEGADO FONTOURA  -  Está lavrado o protesto. Vamos agora às explicações. Em primeiro lugar, desculpe por não têrmos ainda localizado o seu carro.

RENATÃO  -  Mas o carro já apareceu.
        
DELEGADO FONTOURA  -  (fingiu de nada saber) Ah, já apareceu?! E o senhor não nos comunicou nada! Nós podíamos estar ainda procurando, perdendo tempo. Toda a máquina policial à sua disposição, trabalhando para o senhor. (sua voz aumentava à medida que sua fingida indignação crescia) É um procedimento estranho. Principalmente porque, como o senhor sabe, alguém utilizou seu carro para tentar atropelar um jornalista. E por coincidência, um jornalista que estava fazendo investigações por conta própria no caso Nívea Louzada. E o senhor, seu Renato, está envolvido nesse caso. Como se explica que em seu depoimento, tomado  por  mim há tempos, o senhor tenha omitido um detalhe tão importante: que Nívea Louzada estêve em seu apartamento na noite do crime?

RENATÃO  -  Ei, espera aí! De onde o senhor tirou essa história? Isso não é verdade! Ela não...

DELEGADO FONTOURA  -  (cortou, enérgico) O seu mordomo disse que ela estêve!

RENATÃO  -  (maneirou)  Bem, tá bem. Vamos lá, que é que o senhor deseja saber?

DELEGADO FONTOURA  -  O que ela foi fazer naquela noite em seu apartamento.

RENATÃO  -  Ela me procurou para tentar recuperar as fotos. Ela queria as fotos de volta. Ia casar com o padre, não queria que ele soubesse que havia tirado fotos... sensuais.

DELEGADO FONTOURA  -  Nua, o senhor quer dizer, não é?

RENATÃO  -  (hesitante) Isso...

DELEGADO FONTOURA  -  E quando o senhor lhe disse que não podia conseguir a devolução das fotos, qual foi a atitude dela?

RENATÃO  -  Ficou chateada, é claro, mas compreendeu que eu não tinha culpa. Até me agradeceu o que tinha feito por ela. E foi-se embora.
      
CORTA PARA:

CENA 6  -  MIRANTE DO LEBLON  -  EXT.  -  DIA.

MARCOS E VERINHA SALTARAM DA MOTO E, RETIRANDO OS CAPACETES, SENTARAM NUM BANCO DA PRAÇA, ADMIRANDO A BELA VISTA DAS PRAIAS DO LEBLON E IPANEMA.

MARCOS  -  Você tá legal, mesmo, gata?

VERINHA  -  Agora tou (fez uma pausa, olhando o mar, expressão de tristeza) Fiquei muito triste... você sabe... por ter perdido nosso filho.

MARCOS  -  Verinha, na boa... eu não tava preparado pra ser pai. Nem emprego fixo eu tenho... meu velho é que me banca, você sabe...

VERINHA  -  Eu sei disso. Mas, se a criança nascesse, a gente ia ter que se virar, não ia?

MARCOS  -  Ia. Nem sei como ia ser... mas, fazer o que, né... (e aliviado) Só que, agora, a situação é outra. Voltou tudo a ser como era antes.

VERINHA  -  É. Voltou...

MARCOS  -  E a gente pode namorar muito, sem se preocupar com nada... a não ser com a gente (abraçou-a) Vem cá... me dá um beijo, vai.

CORTA PARA:

CENA 7  -  APART-HOTEL  -  APARTAMENTO DE D. CONSUELO  -  SALA  -  INT.  -  DIA.


HÁ TRÊS DIAS, SAMUCA ESTRANHAVA O COMPORTAMENTO DE CONSUELO, PENSATIVA E DISTANTE. MAIS UMA VEZ TENTAVA DESCOBRIR O QUE ESTAVA ACONTECENDO.
 
SAMUCA  -  Eu sei que alguma coisa aconteceu pra você ficar assim... Por que não me conta?

CONSUELO  -  Non es nada, Samuquito. Solamente una enxaqueca...

SAMUCA  -  Não é verdade. E esse tal de Dom José, que veio do México falar com você e está vindo para cá? Veio fazer o quê?

CONSUELO  -  Ah, sí. Dom José, além de mi procurador en mi negócios, es un gran amigo en México.

A CAMPAINHA TOCOU. SAMUCA FITOU A MULHER, SIGNIFICATIVAMENTE, E DIRIGIU-SE PARA A PORTA. DOM JOSÉ, UM HOMEM GORDO, DE SOBRANCELHAS GROSSAS E TERNO BEM CORTADO, ENTROU NA SALA.

CONSUELO  -  Dom José, entonces usted veio mismo!

DOM JOSÉ  -  Buenos dias, Dona Consuelo! Io necessitava vir para hablar pessoalmente con usted!

CONSUELO  -  (fez as apresentações) Dom José, esto es Samuca.... quiero decir, Samuel, mi esposo.

SAMUCA E DOM JOSÉ APERTARAM-SE AS MÃOS.

DOM JOSÉ  -  Dona Consuelo, o que me traz ao Brasil es...

CONSUELO  -  (cortou) Io creo que devemos hablar en particular... (e para o marido) Usted non se importa, non es, Samuquito?

SAMUCA  -  Non, non... fiquem à vontade.

CONSUELO E DOM JOSÉ DIRIGIRAM-SE PARA O QUARTO. SAMUCA FOI ATÉ O TELEFONE E DISCOU.

SAMUCA  -  (em voz baixa) Joaninha! Sou eu, Samuca!

DO OUTRO LADO DA LINHA, JOANINHA ATENDEU, DE MÁ VONTADE.

JOANINHA  -  O que você quer, Samuca? Eu falei que é pra você não me ligar, não me procurar mais, até resolver essa situação!

SAMUCA  -  Calma, Joaninha! Poxa, eu estava com saudades! Tenho pensado muito em você...

JOANINHA  -  (admitiu)  Não vou negar que eu também penso muito em você... Mas não podemos...

SAMUCA  -  (cortou) Estão acontecendo umas coisas estranhas aqui!...

JOANINHA  -  O quê?

SAMUCA  -  Chegou do México o procurador de Consuelo, Dom José Quintana, e parece que trouxe más notícias. Isto é, talvez alguém que tenha morrido...

A VOZ DE CONSUELO SOOU BASTANTE ALTA, VINDA DO QUARTO EM QUE SE ENCONTRAVA COM DOM JOSÉ.

D. CONSUELO  -  (off) No! No es posible! Dios mio!

SAMUCA  -  Deve ser uma notícia terrível! Joaninha, vou ver o que tá acontecendo e depois falo com você! Te amo! Beijo!

SAMUCA DESLIGOU E CORREU PARA O QUARTO E FOI ENCONTRAR A MULHER COM A MÃO SOBRE O PEITO, À BEIRA DE UM COLAPSO. AJOELHOU-SE AO SEU LADO.

D. CONSUELO  -  Yo no creo... No puedo crer...

SAMUCA ERGUEU OS OLHOS PARA O ALTO, FITANDO O ADVOGADO.

SAMUCA  -  Qual foi a má notícia que o senhor trouxe?

FIM DO CAPÍTULO 50
Babi (Sandra Bréa) 
e no próximo capítulo...
*** É carnaval. Tem início o desfile de fantasias do Municipal. Rodolfo Augusto aguarda, ansioso, a escolha da melhor fantasia pelos jurados!
*** Tem início o julgamento de Jurema de Alencar.
NÃO PERCA O CAPÍTULO 51 DE 

segunda-feira, 21 de maio de 2012

ASSIM NA TERRA COMO NO CÉU - Capítulo 49

Novela de Toni Figueira
Inspirada na Obra de Dias Gomes


CAPÍTULO 49

Personagens deste capítulo:

VÍTOR
LEOPOLDO
DETETIVE JONAS
JUREMA
JOANINHA
DELEGADO FONTOURA
MÁRIO MALUCO
VERINHA
HELÔ
RENATÃO
SAMUCA
ADELAIDE
D. MARIETA
MÉDICO
KONSTANTÓPULUS

CENA 1  -  APARTAMENTO DE RENATÃO  -  ATELIÊ  -  INT.  -  DIA.
Continuação imediata da última cena do capítulo anterior.

RENATÃO  -  Espere aí! Eu tenho um álibi! Na hora do quase atropelamento, eu estava curtindo uma garota aqui mesmo, em casa.

DETETIVE JONAS  -  O senhor pode provar isso?

RENATÃO  -  É claro! Podem comprovar isso a garota e o meu mordomo, Konstantópulus! (e dirigiu-se ao mordomo, que assistia a tudo, em silêncio)  Não é mesmo, Konstan?

KONSTANTÓPULUS  -  Perfeitamente. Uma mulher maravilhosa, por sinal. Dona Gisela. Já esteve aqui outras vezes. Pràticamente, passaram a noite juntos.

CORTA PARA:

CENA 2  -  SAQUAREMA  -  CASA DE PRAIA -  EXT.  -  DIA.

O CARRO DO DELEGADO FONTOURA PAROU Á FRENTE DA BELA CASA DE PRAIA. MARIO MALUCO E VERINHA SALTARAM, ANIMADOS. FONTOURA FEZ UM RÁPIDO ALONGAMENTO APÓS A LONGA VIAGEM E CAMINHOU EM VOLTA DA RESIDÊNCIA COM A MULHER, ADELAIDE.

VERINHA  -  Que casa linda! Adorei, pai!

MARIO MALUCO  -  (resmungou)  Sei não... acho que esse fim de semana vai ser um porre! Haja saco! Enfim... tudo pra agradar o velho!

CORTA PARA:

CENA 3  -  ARPOADOR  -  CALÇADÃO  -  EXT.  -  DIA.
   
SAMUCA E JOANINHA CAMINHAVAM NO CALÇADÃO. O RAPAZ TENTAVA ANIMÁ-LA, MAS A MOÇA ESTAVA SÉRIA, INTROSPECTIVA.

SAMUCA  -  Quer uma água, um refri? Vou pegar...

JOANINHA   -  (cortou) Não quero nada. Só quero saber o que você quer de mim, por que me chamou aqui...

SAMUCA  -  Que é isso, Joana... tá tão séria, tão fria... Te chamei porque tava com saudades... Você sabe que eu te amo.

JOANINHA  -  Não me envolvo com homens casados! E nem acho certo você falar que me ama, casado com outra.

SAMUCA  -  Joaninha, tem um pouco de paciência, meu amor. Mais cedo ou mais tarde, a velha morre e a gente vai herdar uma bolada!

JOANINHA  -  (fitou-o, horrorizada) Você devia se envergonhar de falar assim! Torcer pra pobre velhinha morrer só pra ficar com a fortuna dela... Que falta de sensibilidade, Samuca! Sabe, às vezes tenho a sensação de que não te conheço!

SAMUCA  -  Peraí, Joaninha, eu não tou enganando ninguém. D. Consuelo sabe que não casei por amor. Foi ela quem me propôs casamento, dizendo que queria fazer de mim seu único herdeiro!

JOANINHA  -  Só que ela não morreu! Quer saber? Não acho certo a gente se ver enquanto você estiver casado com ela. Por favor, não me procure mais! Não quero mais te ver, Samuca! E vê se para de me procurar, pra repetir sempre a mesma coisa!

SAMUCA  -  (surpreso)  Que isso, Joana... você não pode tá falando sério... fiz tudo isso pela gente!

JOANINHA  -  Fez tudo errado, como sempre! Eu cansei, Samuca! Vou embora! Tchau!

JOANINHA DEU-LHE AS COSTAS E ATRAVESSOU A RUA, APRESSADAMENTE. SAMUCA SUSPIROU, DESANIMADO.

CORTA PARA:      

CENA 4  -  SAQUAREMA  -  CASA DE PRAIA  -  INT. E EXT. - DIA

FONTOURA PASSOU UM FIM DE SEMANA DE VERDADEIRA AGITAÇÃO COM A FAMÍLIA, EM SAQUAREMA. PESCOU COM MARIOZINHO, TOMOU BANHOS DE SOL, FEZ GINÁSTICA SUECA E ATÉ ANDOU À CAVALO GALOPANDO COMO QUALQUER GAROTO DE QUINZE ANOS. ERA UM ESFORÇO MUITO GRANDE QUE ELE FAZIA, NA TENTATIVA DE SE APROXIMAR DOS FILHOS, DE COMPREENDÊ-LOS E DIALOGAR COM ELES. ENFIM, PENSAVA CORRIGIR UMA FALHA QUE FÔRA NUNCA TER PARTICIPADO DAS COISAS QUE MARIO E VERINHA FAZIAM.

MARIO MALUCO  -  (apontando o cavalo em que o pai estava montado) Como conseguiu esse bicho, seu delega?

FONTOURA  -  É emprestado de um amigo, o José Eugênio. Aliás, você deveria conhecer a família dele: a esposa, Maria do Sul e as filhas, Silvania e Talita. Eu ficaria bem mais tranquilo, meu filho, se você e sua irmã se cercassem de pessoas de bem. 

MARIO MALUCO  -  Qual é, velho! Quer escolher minhas amizades, agora?
FONTOURA  -  Não, mas acho que vocês iriam gostar de conhecer Silvania e Talita...  são duas belas moças... Uma faz faculdade de direito e a outra é analista de sistemas... são pessoas de grande futuro...

MARIO MALUCO  -  (irônico) Corta essa, velho... Não entra nessa, não. Deixa que eu mesmo escolho meus amigos, valeu? (segurou as rédeas do cavalo) Posso montar?

FONTOURA  -  (resignado) Ok, Ok, não tá mais aqui quem falou. Vá em frente!

VERINHA  -  (aproximando-se) Depois sou eu!

FONTOURA  -  Você, eu acho que não deve...

VERINHA  -  Por quê, pai?

FONTOURA  -  (fez alusão à gravidez) Você acha que pode?

VERINHA  -  Por que não?

MARIOZINHO MONTOU E CAVALGOU POR TODA A EXTENSÃO DA PRAIA, SOB O OLHAR DIVERTIDO DE VERINHA E FONTOURA.

VERINHA  -  Agora é minha vez! (gritou, quando o irmão retornou).

O ANIMAL ESTAVA INDÓCIL QUANDO VERA MONTOU EM SEU  LOMBO, AJUDADA PELO PAI E O IRMÃO. A GAROTA NEM SEQUER CONSEGUIU DOMINÁ-LO NOS PRIMEIROS INSTANTES, TALVEZ POR FALTA DE PRÁTICA, OU NERVOSISMO. O ANIMAL RABEOU UMA, DUAS, TRÊS VEZES E ACABOU SAINDO EM DISPARADA PRAIA AFORA.

FONTOURA  -  Cuidado! Puxa a rédea! Puxa a rédea!

MAS ERA TARDE DEMAIS. O CAVALO EMPINOU SÙBITAMENTE E VERA FOI ATIRADA AO SOLO, CAINDO DESACORDADA.

ATRAÍDA PELOS GRITOS, ADELAIDE SURGIU Á PORTA DA CASA.

ADELAIDE  -  (gritou, desesperada) Minha filha!!!

CORTA PARA:

CENA 5  -  IPANEMA  -  DELEGACIA  -  INT.  -  DIA.


LEOPOLDO REIS ESTAVA À FRENTE DO DETETIVE JONAS.

LEOPOLDO  -  Eu gostaria de visitar Dona Jurema de Alencar.

DETETIVE JONAS  -  Lembro do senhor. É o pai do Ricardo Miranda, certo?

LEOPOLDO  -  Isso mesmo. Meu nome é Leopoldo Reis.

CENA 6  -  DELEGACIA  -  SALA DE VISITAS  -  INT.  -  DIA.


LEOPOLDO  -  Eu soube que o julgamento foi marcado para dentro de quinze dias, e vim visitar você... pela primeira vez, depois que sofri o acidente.

JUREMA  -  (sorriu, agradecida) Obrigada, meu amigo. Eu soube do acidente.... mas não deveria. Está se recuperando ainda...
     
LEOPOLDO  -  Já estou quase bom, mas ainda sinto algumas dores nos rins e nas pernas. O médico recomendou bastante repouso, mas eu não aguentava mais.

JUREMA  -  (o tom de leve repreensão) Você veio me ver ainda sem poder andar direito...

LEOPOLDO  -  Só pensava em você, dia e noite... (sentiu que se abrira demais, ante o constrangimento dela) E Ricardinho, tem estado aqui?

JUREMA  -  (mentiu)  Sim... tem.

LEOPOLDO  -  Preciso conversar com o advogado. Saber como estão as coisas. Você tem que ser absolvida. Do contrário, eu não sei o que vai ser...

JUREMA  -  (sem perceber o sentido das palavras dele) Como?

LEOPOLDO  -  Você me entende... sabe a que estou me referindo.

OLHARAM-SE NOS OLHOS, ANGUSTIADOS.

JUREMA  -  Eu não sei, não sei do que você está falando.

LEOPOLDO  -  Jurema, eu... eu sou apaixonado por você, é isso!

JUREMA  -  Não pode ser! Isso não tem cabimento.... E se eu for condenada, tudo o que eu quero é que você me esqueça!

LEOPOLDO  -  Jurema, você deve calcular o conflito que trago comigo.

JUREMA  -  Eu lhe peço como um favor (disse, quase chorando) que nunca mais toque nesse assunto!

CORTA PARA:
  
CENA 7  -  HOSPITAL  -  SALA DE ESPERA  -  INT.  -  DIA.


FONTOURA E ADELAIDE AGUARDAVAM, AFLITOS. FONTOURA CAMINHAVA DE UM LADO PARA O OUTRO, SOB O OLHAR ANGUSTIADO DA MULHER.

ADELAIDE  -  Pára um pouco, Fontoura, está me deixando mais nervosa ainda!

FONTOURA  -  E esse médico que não aparece pra dizer como ela está!

O CIRURGIÃO ENTROU NA SALA E DIRIGIU-SE AO CASAL.

MÉDICO  -  Delegado, Dona Adelaide...

FONTOURA  -  Como está minha filha, doutor?

MÉDICO  -  Bem, a queda que sua filha sofreu do cavalo foi muito mais séria do que a princípio se julgava. Ela foi operada e, como consequencia, perdeu a criança.

ADELAIDE  -  Ah, meu Deus!

FONTOURA  -  Doutor, e ela... está fora de perigo?

MÉDICO  -  A moça está bem. Já está no quarto, recuperando-se da anestesia. Com licença.

O MÉDICO AFASTOU-SE. FONTOURA FITOU A MULHER, COM EXPRESSÃO DE ALÍVIO.

FONTOURA  -  Não posso negar que, para mim, esta foi uma solução. Um mal que veio para o bem de nossa filha.

ADELAIDE  -  (indignada) Fontoura! Como pode falar assim?

FONTOURA  -  Eu não queria isso... mas aconteceu, ora! Agora, o jeito é aceitar a vontade de Deus.

CORTA PARA:

CENA  8  -  APARTAMENTO DE EMILIANO  -  SALA  -  INT.  -  DIA.

D. MARIETA ABRIU A PORTA E VÍTOR ENTROU.

VÍTOR  -  Como vai, D. Marieta? Recebi seu recado e vim assim que pude...

D. MARIETA  -  Obrigada por ter vindo, Vítor. (mostrou-lhe o sofá) Sente-se. Chamei você, na ausência de Emiliano, para confessar não estou mais convencida de que tenha sido mesmo Jurema de Alencar quem matou Nívea.

VÍTOR  -  (fitou-a, surprêso) O que fez a senhora chegar a essa concluisão?

D. MARIETA  -  Aquele jornalista, Araken Teixeira, me convenceu de que não podia ter sido ela. Então, comecei a procurar nas coisas de Nívea alguma indicação, alguma pista. (parou de falar um instante, como para observar o efeito de suas palavras) A noite passada, tive um sonho. Nívea me apareceu e disse que eu procurasse nos objetos encontrados na praia, junto ao corpo.

D. MARIETA LEVANTOU-SE E DIRIGIU-SE PARA O QUARTO, DE ONDE VOLTOU COM UM PEQUENO COFRE. ABRIU-O E ESPALHOU OS OBJETOS SOBRE A MESA. HAVIA UM ANEL, UMA CORRENTE COM UM MEDALHÃO, UM ESTÔJO DE BASE, UM LENÇO, UMA CARTEIRINHA DE IDENTIDADE, ALGUMAS MOEDAS E UM LIVRINHO DE TELEFONES.

D. MARIETA  -  Estão todos aqui, desde que a Polícia os devolveu. No momento em que o delegado me pediu para reconhecê-los, eu estava desnorteada, mal olhei. Pareceu-me que tudo era realmente de Nívea. Agora é que fui olhar detidamente: este medalhão não era de minha filha!

VÍTOR  -  (levantou-se, perturbado) Não era?! A senhora tem certeza?
     
D. MARIETA  -  Nívea tinha realmente um parecido. Daí a minha confusão.

D. MARIETA APANHOU OUTRO MEDALHÃO.

D. MARIETA  -  No estado em que estava, não percebi a diferença. Hoje encontrei o outro. Ela não tinha saído com ele naquela noite.

VÍTOR COMPAROU OS DOIS MEDALHÕES.

VÍTOR  -  A senhora acha que o medalhão encontrado com Nívea é de Helô?

D. MARIETA  -  Tenho quase certeza.

VÍTOR  -  A senhora viu Helô com este medalhão?

D. MARIETA  -  Vi. E me chamou a atenção justamente porque era parecido com o de Nívea.

VÍTOR  -  Pense bem, D. Marieta, a senhora está fazendo uma afirmação muito grave. Ela pode mudar o destino de várias pessoas.

D. MARIETA  -  Eu sei disso (respondeu, confiante)  Mas repito: esse medalhão não era de Nívea. E tem mais: o de Nívea tinha sido presente de Helô. Daí, naturalmente, a semelhança.

VÍTOR  -  Eu... posso levar esse medalhão?

D. MARIETA  -  Pode. Aliás, você não tem que pedir permissão: é de sua mulher.

VÍTOR  -  Isso não quer dizer nada. Mesmo que o medalhão seja dela, Nívea podia estar usando. Isso é comum entre amigas.

D. MARIETA  -  Claro, sempre se arranja uma justificativa, quando se quer esconder a verdade.
      
VÍTOR  -  Eu não quero esconder nada, D. Marieta. Só que ainda não estou convencido de que Helô tenha alguma culpa.

D. MARIETA  -  Você não quer se convencer (disse, sublinhando as palavras) agora que está apaixonado por ela, como me revelou. Eu não sei que desculpas você vai dar à sua consciência por isso. Mas eu lhe preveni. Eu fiz todo o possível para evitar que você chegasse à situação em que está agora.

CORTA PARA:

CENA  9  -  APARTAMENTO DE HELÔ  -  SALA  -  INT.  -  NOITE.


VÍTOR REGRESSOU À CASA, À PROCURA DE HELÔ. MAS ELA NÃO ESTAVA. TIROU, ENTÃO. O MEDALHÃO DO BÔLSO E EXAMINOU-O, CUIDADOSAMENTE.

VÍTOR  -  E agora, meu Deus, o que eu faço?

A PORTA SE ABRIU, DANDO PASSAGEM A HELÔ.

HELÔ  -  (tinha os olhos vidrados) Vítor!

VÍTOR  -  Onde você estava?

HELÔ  -  Estive no Castelinho. Vítor, eu consegui me lembrar! É verdade, sim, eu estive com Nívea no bar! Eu fui lá agora e me lembrei perfeitamente!

ELA SE ABRAÇOU COM O MARIDO, EMOCIONADA.

VÍTOR  -  De que você se lembrou?

HELÔ  -  Da conversa que nós tivemos, pelo menos uma parte. Foi naquela mesa e o garçom chegou quando nós estávamos discutindo. Uma bobagem. Ela me chamou de Lucrécia e eu me irritei, disse que estava com ódio dela. Deve ter sido uma tolice qualquer que eu não me lembro. Depois, não sei, só consegui me lembrar até aí. Eu acho que saí com ela, não tenho certeza...

HELÔ OLHOU PARA VÍTOR, ANGUSTIADA.

HELÔ  -  (pediu)  Quero que você faça uma coisa: que vá comigo até lá, agora, até o lugar onde ela caiu!

VÍTOR  -  (espantou-se) Agora?!

HELÔ  -  Sim, já! É possível que eu me lembre de tudo!

O RAPAZ OLHOU PARA ELA FIXAMENTE E HESITOU, TEMENDO A VERDADE. POR FIM SE DECIDIU.

VÍTOR  -  OK, se você quer assim, vamos, então!
FIM DO CAPÍTULO 49 
Vítor e Helô 
e no próximo capítulo...
*** Vítor pressiona Helô, que fica muito perturbada ao perceber que o marido desconfia dela.
*** Renatão vê Babi na praia e fica "babando" diante de sua beleza e convida-a a ir ao seu apartamento, com a promessa de conseguir-lhe um papel em um filme.
*** Consuelo recebe a visita de um amigo mexicano e Samuca fica muito desconfiado ao vê-los cheios de segredos!

NÃO PERCA O CAPÍTULO 50 DE