quinta-feira, 10 de maio de 2012

ASSIM NA TERRA COMO NO CÉU - Capítulo 44

Novela de Toni Figueira
Inspirada na Obra de Dias Gomes


CAPÍTULO 44

Personagens deste capítulo:

D. CONSUELO
SAMUCA
RENATÃO
RICARDINHO
SUSI
OLIVEIRA RAMOS
LEOPOLDO
HELÔ
VÍTOR
ARAKEN
MANOLO

CENA 1  -  CASTELINHO  -  INT.  -  DIA.

CONTINUAÇÃO IMEDIATA DA ÚLTIMA CENA DO CAPÍTULO ANTERIOR.


VÍTOR  -  (encarou Araken com irritação)  Você me chamou aqui pra isso?

ARAKEN  -  Desculpe, Vítor. Reafirmo meu desejo de, tão-somente, colaborar com você.

VÍTOR  -  (para Manolo) Tem certeza do que acabou de dizer?

MANOLO  -  Acho que era ela...

VÍTOR  -  (insistiu, incisivo) Você acha, ou tem certeza?!

ARAKEN  -  Você não tem certeza, Manolo?

MANOLO  -  Tenho, sim. Era ela mesma.

CORTA PARA:

CENA 2  -  CASTELINHO  -  EXT.  -  NOITE.

VÍTOR E ARAKEN SAÍRAM DO BAR.

VÍTOR  -  E agora, você pretende publicar essa história?

ARAKEN  -  Não. Ainda é cedo para isso. O meu desejo como repórter e, sobretudo como profissional honesto, é obter uma boa reportagem. Apenas isso. Se me ajudar, talvez você possa fazer o mesmo por mim, na minha busca da verdade.

VÍTOR  -  Ajudar como?

ARAKEN  -  Eu queria conversar com sua mulher.

VÍTOR  -  Sobre isso? Nunca! Não vou permitir! Isso está fora de cogitação!

NESSE MOMENTO DOBRAVAM UMA ESQUINA, QUANDO HELÔ SURGIU À SUA FRENTE.

HELÔ  -  (olhou para Vítor com raiva) Liguei pro seu Emiliano e você não apareceu lá!

VÍTOR  -  (ficou meio sem jeito)  Estava indo para lá, mas encontrei um amigo. Conhece? (apresentou) Araken Teixeira.

HELÔ  -  (respondeu seca e sem nenhum interesse) Já nos conhecemos bastante.

HELÔ VOLTOU-SE, BRUSCAMENTE E AFASTOU-SE EM OUTRA DIREÇÃO. HAVIA NOTADO QUE O MARIDO LHE MENTIRA.

          VÍTOR  -  (estendeu o braço, embaraçado) Helô, espere! Aonde você vai... (bufou, impotente) Droga!

HELÔ SEGUIU SEU CAMINHO, SEM OLHAR PARA TRÁS.

CORTA PARA:

CENA 3  -  PRÉDIO DO APARTAMENTO DE HELÔ  -  EXT.  -  NOITE.

HELÔ VOLTOU PARA CASA, MUITO NERVOSA. NA PORTARIA, VIU SEU CARRO ESTACIONADO À FRENTE DO PRÉDIO. NUM IMPULSO, ENTROU NO VEÍCULO E DEU PARTIDA, SOB O OLHAR CURIOSO DO PORTEIRO DO PRÉDIO.

CORTA PARA:

CENA 4  -  RUA DE IPANEMA  -  EXT.  -  NOITE.

NA AV. VISCONDE DE PIRAJÁ, HELÔ ACELEROU, IMPACIENTE, ULTRAPASSANDO ALGUNS CARROS À SUA FRENTE.

CENA 5  -  AV. VISCONDE DE PIRAJÁ  -  EXT.  -  NOITE.

LEOPOLDO REIS COMEÇOU A ATRAVESSAR A AVENIDA, QUANDO O CARRO SURGIU, EM ALTA VELOCIDADE. HELÔ ARREGALOU OS OLHOS, VIROU O VOLANTE, PISOU NO FREIO, PERDEU O CONTRÔLE DA DIREÇÃO.

UM BAQUE SURDO ACERTOU LEOPOLDO EM CHEIO, ATIRANDO-O, DESACORDADO, AO MEIO-FIO.

HELÔ SAIU DO CARRO, OLHOU PARA A PEQUENA MULTIDÃO QUE COMEÇAVA A SE FORMAR, COMEÇOU A TREMER DESCONTROLADAMENTE E DESMAIOU. UM HOMEM DE MEIA-IDADE QUE SE APROXIMAVA DO LOCAL AMPAROU-A E GRITOU, AFLITO:

HOMEM  -  alguém chame uma ambulância, pelo amor de Deus!

A POUCOS METROS DE DISTÂNCIA, ALGUNS CURIOSOS ACERCARAM-SE DO CORPO INERTE DE LEOPOLDO.

CORTA PARA:

CENA 6  -  APARTAMENTO DE OLIVEIRA RAMOS  -  QUARTO DE OLIVEIRA  -  INT.  -  NOITE.

ERA QUASE 1 DA MADRUGADA, QUANDO O TELEFONE TOCOU INSISTENTEMENTE. OLIVEIRA RAMOS ACORDOU. SONOLENTO, LEVANTOU-SE DA CAMA, DE PIJAMA, E ATENDEU RESMUNGANDO.

OLIVEIRA RAMOS  - Isso é hora de ligar pra casa dos outros!... Alô! De onde? Hospital? (empalideceu, atônito) Sim, sim! Eu sou o pai dela! Meu Deus! Onde foi isso? Estou indo praí! Obrigado!

SUSI  -  (acordou, esfregando os olhos) O que aconteceu?

OLIVEIRA RAMOS  -  Helô... atropelou um homem! Está no hospital. Teve outra crise nervosa!

SUSI  -  Nossa! Outro dia ela bateu o carro. Agora, atropelou um pobre coitado!... Gente, alguém tem de caçar a habilitação da sua filha. Tá se tornando um perigo pra sociedade!

OLIVEIRA RAMOS  -  (encarou-a, irritado) Susi, poupe-me de sua ironia! Se não pode ajudar, por favor, não atrapalhe!

E COMEÇOU A VESTIR-SE, MUITO NERVOSO.

CORTA PARA:

CENA  7  -  APARTAMENTO DE HELÔ  -  SALA  -  INT.  -  NOITE.

QUANDO VÍTOR ENTROU EM CASA, O TELEFONE TOCAVA INSISTENTEMENTE. CORREU A ATENDER.

VÍTOR  - Alô! Sim, sou eu. Oi, doutor Oliveira. O quê? Helô? Deus do Céu! Onde ela está? Estou indo praí! Até já! (desligou o telefone e correu para a porta) Deus, faça com que ela esteja bem!

CORTA PARA:

CENA 8  -  HOSPITAL  -  QUARTO  -  INT.  -  NOITE.

EM COMPANHIA DO MÉDICO DE PLANTÃO, OLIVEIRA RAMOS ENTROU NO QUARTO, APREENSIVO.

OLIVEIRA RAMOS  -  Ela está consciente, doutor?

MÉDICO  - (assentiu com a cabeça) Sim. Teve uma crise nervosa. Chegou aqui tremendo muito, com os olhos vidrados. Dei-lhe um calmante. Agora está mais calma.

OLIVEIRA  APROXIMOU-SE DO LEITO ONDE HELÔ DESCANSAVA.

OLIVEIRA RAMOS  -  Filha! O que aconteceu com você, meu amor?

HELÔ  -  (fitou o pai nos olhos, com tranqulidade) Não sei. Não lembro. Por que estou aqui?

OLIVEIRA RAMOS  -  (procurou os olhos do médico, preocupado)  Não... não lembra? Não lembra de nada?

HELÔ  -  Não. O que aconteceu? Falem, por favor!

A PORTA DO QUARTO ABRIU-SE E VÍTOR ENTROU, AFLITO.

VÍTOR  -  Onde ela está? Ela está bem?

OLIVEIRA RAMOS  -  Vítor! Sim, ela está bem... quer dizer... a não ser...

VÍTOR  -  (desconfiado) A não ser...?

MÉDICO  -  Ela sofreu um choque muito grande e teve uma espécie de amnésia. Não se recorda do que aconteceu.

VÍTOR APROXIMOU-SE DA CAMA E BEIJOU A ESPOSA NO ROSTO.

 VÍTOR  -  Meu amor, que susto  você me deu!

HELÔ  -  Vítor, eu quero saber... o que aconteceu comigo?

VÍTOR  -  Você sofreu um acidente de carro... mas agora está tudo bem.... não é mesmo, doutor?

MÉDICO  -  Tão bem que, em uma hora, pode voltar para casa.

HELÔ  -  Ainda bem (bocejou) Quero dormir na minha cama...

CORTA PARA:

CENA  9  -  HOSPITAL  -  CORREDOR  -  INT.  -  NOITE.

OLIVEIRA RAMOS FEZ A PERGUNTA QUE MARTELAVA EM SUA CABEÇA:

OLIVEIRA RAMOS  -  Doutor... como está o homem que ela atropelou? Ele... está vivo?

MÉDICO  -  Quebrou um braço, duas costelas e teve algumas escoriações pelo corpo. Está fora de perigo. Teve muita sorte...

OLIVEIRA RAMOS  -  (levantou as mãos para o alto) Graças a Deus! (e para o médico) Doutor... faça o que for necessário por ele. Tudo por minha conta.

CORTA PARA:

CENA  10  -  APARTAMENTO DE RENATÃO  -  SALA  -  INT.  -  DIA.

RENATÃO GARGALHAVA, DIVERTINDO-SE COM OS DRAMAS DO RECÉM-CASADO SAMUCA.

RENATÃO  -  Quer dizer que até hoje você ainda não compareceu? Tá deixando a coitada da D. Consuelo subindo nas paredes?

SAMUCA  -  (sem graça) Não brinca, não, cara! A situação é desesperadora! Já esgotei todo o meu estoque de desculpas... um dia é enxaqueca, outro, dor de dente, diarréia, unha encravada...

RENATÃO  -  Meu velho, tem que ter jogo de cintura... Lembre-se da fortuna que você vai herdar quando a velha bater as botas!

SAMUCA  -  Isso é que tá me preocupando! A velha está mais viva do que nunca! Parece que a cada dia fica mais forte!

RENATÃO  -  E Joaninha?

SAMUCA  -   Tá uma fera! Nem tá falando direito comigo... E agora, meu velho, o que eu faço? Como sair dessa roubada?

RENATÃO  -  (pensou um pouco e falou) O jeito... é você abreviar a morte da véia!

SAMUCA  - Ficou louco, Renatão? Não brinca assim, não, pô!

RENATÃO  -  Não tou brincando, velho. Imagina se a velha sofresse um acidente fatal... Você herdaria a grana dela muito mais cedo e resolveria logo essa situação!...

SAMUCA  -  (coçou a cabeça e fitou Renatão, atordoado) Velho, você tá falando sério? Ainda não tou acreditando...

RENATÃO  -  Pensa bem, Samuca: a velha não tá com os dias contados? Então? Você estaria cometendo um ato cristão... Ia apenas abreviar o sofrimento dela... Seria uma espécie... de eutanásia, sacou?

SAMUCA  -  Euta o que?...

RENATÃO  -  ... násia. Eutanásia. Significa abreviar a morte de uma pessoa enferma incurável, pra acabar com o sofrimento... É lógico que ninguém pode saber, além de você!

SAMUCA  -  Mas... mas como eu faria isso?

RENATÃO  -  Simples, meu caro: uma queda de uma escada, por exemplo...

SAMUCA  -  (arregalou os olhos, excitado) Caramba! Sabe que tou começando a processar essa idéia?

A CAMPAINHA TOCOU. KONSTANTÓPULUS ABRIU A PORTA E ENTROU NA SALA SEGUIDO DE D. CONSUELO. RENATÃO E SAMUCA FITARAM-NA, SURPRESOS, COMO SE ESTIVESSEM DIANTE DE UM FANTASMA.

SAMUCA  -  Consuelo! Você aqui?!

D. CONSUELO  -  Que cara é essa, hombre? Parece que ustedes miran un fantasma! Samuquito, estoy procurando usted o dia todo!

SAMUCA  -  (sorriu amarelo, tentando parecer natural)  Oi, Consuelo... estava aqui com meu amigo Renatão tratando de negócios...

D. CONSUELO  -  Io imaginei que encontraria usted aqui... Mas... que tipo de negócios?

RENATÃO  -  (adiantou-se) Como está, D. Consuelo? Sente-se. Aceita um licorzinho? (e para o mordomo) Konstan, sirva um licor pra D. Consuelo.

D. CONSUELO SENTOU-SE AO LADO DE SAMUCA.

SAMUCA  -  Negócios... negócios, ora...

RENATÃO  -  (cortou) Chamei Samuca aqui para discutirmos os planos de uma grande produção cinematográfica. Não sei se a senhora sabe que sou produtor...

D. CONSUELO  -  Non... io non sabia... Samuca non me dije nada... Que producion están  tratando? Um filme?

RENATÃO  -  Um grande filme! Vai ser um sucesso! Devemos começar a rodar logo depois do carnaval.

D. CONSUELO  -  Entonces já tienem todo!

RENATÃO  -  Quase tudo. Falta só o argumento e o dinheiro.

D. CONSUELO  -  Entonces non tienem nada! (bebia o licor praparado por Konstantópulus) Adoro cinema! Mas o que me gusta mesmo son as telenovelas! E confesso que io tengo um sonho de ser atriz de telenovelas! “Triunfo del Amor”,  “Acorrentada”,  “El Privilégio de Amar”, son novela inesquecíveis! Me gusta mucho! 

RENATÃO  -  Taí! Nós podemos realizar seu sonho! Uma telenovela! Tenho um argumento maravilhoso que podemos transformar numa novela de muito sucesso, e depois vender para uma grande emissora!

D. CONSUELO  -  Conte-me todo! Do que se trata? Es una história de amor? Adoro romances!

DIANTE DO CONFUSO E AINDA ATORDOADO SAMUCA, RENATÃO TRANSMITIU PARA D. CONSUELO SUA HISTÓRIA COM RIQUEZA DE DETALHES.

CORTA PARTA:

CENA 11  -  HOSPITAL  -  QUARTO DE LEOPOLDO -  INT.  -  DIA.

RICARDINHO GIROU A MAÇANETA, LENTAMENTE, E APROXIMOU-SE DO LEITO DO PAI. O FOCO DE LUZ ILUMINAVA O ROSTO ABATIDO DE LEOPOLDO. UM DOS BRAÇOS ESTAVA ENGESSADO, ESTENDIDO E AMPARADO POR UM TRAVESSEIRO PEQUENO. NO OUTRO BRAÇO, À ALTURA DO COTOVELO, DUAS TIRAS DE ESPARADRAPO PRENDIAM A AGULHA. PINGO A PINGO O SÔRO DESCIA. RICARDINHO   FIXOU    O   QUADRO.   DEU   UM   PASSO    NO INTERIOR DO QUARTO E CERROU A PORTA ÀS SUAS COSTAS. LEOPOLDO ERGUEU OS OLHOS AO PERCEBER O LEVE MOVIMENTO DE PÉS. NÃO ERA A ENFERMEIRA. NA SEMI-OBSCURIDADE DO AMBIENTE CUSTOU-LHE A RECONHECER O VISITANTE.

LEOPOLDO  -  Ricardinho!

RICARDINHO  -  (aproximou-se) Oi, velho! Caramba, o que aconteceu com você? Um rolo compressor passou por cima?

LEOPOLDO  -  (esboçou um sorriso) Quase isso... Que surpresa você aqui... meu filho lembrou que seu velho pai existe...

RICARDINHO  -  A enfermeira me ligou. Falou que você pediu.

LEOPOLDO  -  Pois é. Tava me sentindo muito só, abandonado nessa cama de hospital. Aí pensei: vou pedir pra alguém avisar meu filho. Quem sabe não vem me visitar? Não acreditei que você viria...

RICARDINHO  -  E aqui estou eu.

LEOPOLDO  -  (emocionado)  Estou muito feliz... muito feliz, meu filho.

RICARDINHO  -  Eh... vamos parar com esse melodrama, tá? Não curto isso, velho. Me conta... como aconteceu isso?

LEOPOLDO  -  Fui atropelado pela filha do Oliveira Ramos, o banqueiro.

RICARDINHO  -  (admirado)  Helô?!

LEOPOLDO  -  Ela mesmo. Eu tava atravessando a rua, quando ela me atingiu em cheio.

 RICARDINHO   -  Helô... caramba...

LEOPOLDO  -  Você a conhece?

RICARDINHO  -  E muito! É da minha turma! Quer dizer...era, antes de casar com aquele padreco idiota!

LEOPOLDO  -  O doutor Oliveira está me dando toda a assistencia. Assumiu todas as despesas do hospital e do tratamento.

RICARDINHO  -  É pouco! Podemos arrancar muito mais grana dessa gente! São podres de ricos! Vai por mim, velho: podemos lucrar muito em cima desse acidente! Se ele se negar a pagar, ameaçamos levar essa história pros jornais! Vamos exigir, deixe ver... quinhentos mil! Quinhentos mil reais! Oliveira Ramos não vai querer o nome envolvido num escândalo! Velho, você foi atropelado por uma mina de ouro! (cerrou o punho e deu um soco no ar, quase com raiva) Yes!



FIM DO CAPÍTULO 44


e no próximo capítulo...


*** Marisa arma uma cilada para Renatão: finge ter tentado o suicídio e manda o irmão chamá-lo às pressas!


*** Oliveira Ramos fica preocupado ao perceber que Vítor desconfia do envolvimento de Helô no assassinato de Nívea!


NÃO PERCA O CAPÍTULO 45 DE


Nenhum comentário:

Postar um comentário