Novela de Toni Figueira
Inspirada na Obra de Dias Gomes
CAPÍTULO 44
Personagens deste capítulo:
D. CONSUELO
SAMUCA
RENATÃO
RICARDINHO
SUSI
OLIVEIRA
RAMOS
LEOPOLDO
HELÔ
VÍTOR
ARAKEN
MANOLO
CENA 1 -
CASTELINHO - INT. - DIA.
CONTINUAÇÃO IMEDIATA DA ÚLTIMA CENA DO CAPÍTULO
ANTERIOR.
VÍTOR
- (encarou Araken com
irritação) Você me chamou aqui pra isso?
ARAKEN -
Desculpe, Vítor. Reafirmo meu desejo de, tão-somente, colaborar com
você.
VÍTOR
- (para Manolo) Tem certeza do
que acabou de dizer?
MANOLO - Acho
que era ela...
VÍTOR
- (insistiu, incisivo) Você acha,
ou tem certeza?!
ARAKEN - Você
não tem certeza, Manolo?
MANOLO -
Tenho, sim. Era ela mesma.
CORTA PARA:
CENA 2 -
CASTELINHO - EXT. - NOITE.
VÍTOR E
ARAKEN SAÍRAM DO BAR.
VÍTOR
- E agora, você pretende publicar
essa história?
ARAKEN - Não.
Ainda é cedo para isso. O meu desejo como repórter e, sobretudo como
profissional honesto, é obter uma boa reportagem. Apenas isso. Se me ajudar,
talvez você possa fazer o mesmo por mim, na minha busca da verdade.
VÍTOR
- Ajudar como?
ARAKEN
- Eu queria conversar com sua
mulher.
VÍTOR
- Sobre isso? Nunca! Não vou
permitir! Isso está fora de cogitação!
NESSE
MOMENTO DOBRAVAM UMA ESQUINA, QUANDO HELÔ SURGIU À SUA FRENTE.
HELÔ
- (olhou para Vítor com raiva)
Liguei pro seu Emiliano e você não apareceu lá!
VÍTOR
- (ficou meio sem jeito) Estava indo para lá, mas encontrei um amigo.
Conhece? (apresentou) Araken Teixeira.
HELÔ
- (respondeu seca e sem nenhum
interesse) Já nos conhecemos bastante.
HELÔ
VOLTOU-SE, BRUSCAMENTE E AFASTOU-SE EM OUTRA DIREÇÃO. HAVIA NOTADO QUE O MARIDO
LHE MENTIRA.
VÍTOR
- (estendeu o braço, embaraçado) Helô,
espere! Aonde você vai... (bufou, impotente) Droga!
HELÔ SEGUIU
SEU CAMINHO, SEM OLHAR PARA TRÁS.
CORTA PARA:
CENA 3 -
PRÉDIO DO APARTAMENTO DE HELÔ
- EXT. -
NOITE.
HELÔ VOLTOU
PARA CASA, MUITO NERVOSA. NA PORTARIA, VIU SEU CARRO ESTACIONADO À FRENTE DO
PRÉDIO. NUM IMPULSO, ENTROU NO VEÍCULO E DEU PARTIDA, SOB O OLHAR CURIOSO DO
PORTEIRO DO PRÉDIO.
CORTA PARA:
CENA 4 - RUA
DE IPANEMA - EXT. - NOITE.
NA AV.
VISCONDE DE PIRAJÁ, HELÔ ACELEROU, IMPACIENTE, ULTRAPASSANDO ALGUNS CARROS À
SUA FRENTE.
CENA 5 - AV.
VISCONDE DE PIRAJÁ - EXT.
- NOITE.
LEOPOLDO
REIS COMEÇOU A ATRAVESSAR A AVENIDA, QUANDO O CARRO SURGIU, EM ALTA VELOCIDADE.
HELÔ ARREGALOU OS OLHOS, VIROU O VOLANTE, PISOU NO FREIO, PERDEU O CONTRÔLE DA
DIREÇÃO.
UM BAQUE
SURDO ACERTOU LEOPOLDO EM CHEIO, ATIRANDO-O, DESACORDADO, AO MEIO-FIO.
HELÔ SAIU DO
CARRO, OLHOU PARA A PEQUENA MULTIDÃO QUE COMEÇAVA A SE FORMAR, COMEÇOU A TREMER
DESCONTROLADAMENTE E DESMAIOU. UM HOMEM DE MEIA-IDADE QUE SE APROXIMAVA DO
LOCAL AMPAROU-A E GRITOU, AFLITO:
HOMEM -
alguém chame uma ambulância, pelo amor de Deus!
A POUCOS
METROS DE DISTÂNCIA, ALGUNS CURIOSOS ACERCARAM-SE DO CORPO INERTE DE LEOPOLDO.
CORTA PARA:
CENA 6 -
APARTAMENTO DE OLIVEIRA RAMOS
- QUARTO DE OLIVEIRA -
INT. - NOITE.
ERA QUASE 1
DA MADRUGADA, QUANDO O TELEFONE TOCOU INSISTENTEMENTE. OLIVEIRA RAMOS ACORDOU.
SONOLENTO, LEVANTOU-SE DA CAMA, DE PIJAMA, E ATENDEU RESMUNGANDO.
OLIVEIRA RAMOS - Isso é hora de ligar pra casa dos
outros!... Alô! De onde? Hospital? (empalideceu, atônito) Sim, sim! Eu sou o
pai dela! Meu Deus! Onde foi isso? Estou indo praí! Obrigado!
SUSI
- (acordou, esfregando os olhos) O
que aconteceu?
OLIVEIRA
RAMOS -
Helô... atropelou um homem! Está no hospital. Teve outra crise nervosa!
SUSI
- Nossa! Outro dia ela bateu o
carro. Agora, atropelou um pobre coitado!... Gente, alguém tem de caçar a
habilitação da sua filha. Tá se tornando um perigo pra sociedade!
OLIVEIRA RAMOS -
(encarou-a, irritado) Susi, poupe-me de sua ironia! Se não pode ajudar,
por favor, não atrapalhe!
E COMEÇOU A
VESTIR-SE, MUITO NERVOSO.
CORTA PARA:
CENA
7 - APARTAMENTO DE HELÔ -
SALA - INT.
- NOITE.
QUANDO VÍTOR
ENTROU EM CASA, O TELEFONE TOCAVA INSISTENTEMENTE. CORREU A ATENDER.
VÍTOR
- Alô! Sim, sou eu. Oi, doutor Oliveira. O quê? Helô? Deus do Céu! Onde
ela está? Estou indo praí! Até já! (desligou o telefone e correu para a porta)
Deus, faça com que ela esteja bem!
CORTA PARA:
CENA 8 -
HOSPITAL - QUARTO
- INT. -
NOITE.
EM COMPANHIA
DO MÉDICO DE PLANTÃO, OLIVEIRA RAMOS ENTROU NO QUARTO, APREENSIVO.
OLIVEIRA RAMOS - Ela
está consciente, doutor?
MÉDICO - (assentiu com a cabeça) Sim. Teve uma crise
nervosa. Chegou aqui tremendo muito, com os olhos vidrados. Dei-lhe um
calmante. Agora está mais calma.
OLIVEIRA APROXIMOU-SE DO LEITO ONDE HELÔ DESCANSAVA.
OLIVEIRA RAMOS -
Filha! O que aconteceu com você, meu amor?
HELÔ
- (fitou o pai nos olhos, com
tranqulidade) Não sei. Não lembro. Por que estou aqui?
OLIVEIRA RAMOS -
(procurou os olhos do médico, preocupado) Não... não lembra? Não lembra de nada?
HELÔ
- Não. O que aconteceu? Falem,
por favor!
A PORTA DO
QUARTO ABRIU-SE E VÍTOR ENTROU, AFLITO.
VÍTOR
- Onde ela está? Ela está bem?
OLIVEIRA RAMOS - Vítor!
Sim, ela está bem... quer dizer... a não ser...
VÍTOR
- (desconfiado) A não ser...?
MÉDICO - Ela
sofreu um choque muito grande e teve uma espécie de amnésia. Não se recorda do
que aconteceu.
VÍTOR
APROXIMOU-SE DA CAMA E BEIJOU A ESPOSA NO ROSTO.
VÍTOR
- Meu amor, que susto você me deu!
HELÔ
- Vítor, eu quero saber... o que
aconteceu comigo?
VÍTOR
- Você sofreu um acidente de
carro... mas agora está tudo bem.... não é mesmo, doutor?
MÉDICO - Tão
bem que, em uma hora, pode voltar para casa.
HELÔ
- Ainda bem (bocejou) Quero
dormir na minha cama...
CORTA PARA:
CENA
9 - HOSPITAL
- CORREDOR -
INT. - NOITE.
OLIVEIRA
RAMOS FEZ A PERGUNTA QUE MARTELAVA EM SUA CABEÇA:
OLIVEIRA RAMOS -
Doutor... como está o homem que ela atropelou? Ele... está vivo?
MÉDICO -
Quebrou um braço, duas costelas e teve algumas escoriações pelo corpo.
Está fora de perigo. Teve muita sorte...
OLIVEIRA RAMOS -
(levantou as mãos para o alto) Graças a Deus! (e para o médico)
Doutor... faça o que for necessário por ele. Tudo por minha conta.
CORTA PARA:
CENA
10 - APARTAMENTO DE RENATÃO -
SALA - INT.
- DIA.
RENATÃO
GARGALHAVA, DIVERTINDO-SE COM OS DRAMAS DO RECÉM-CASADO SAMUCA.
RENATÃO - Quer
dizer que até hoje você ainda não compareceu? Tá deixando a coitada da D. Consuelo
subindo nas paredes?
SAMUCA - (sem
graça) Não brinca, não, cara! A situação é desesperadora! Já esgotei todo o meu
estoque de desculpas... um dia é enxaqueca, outro, dor de dente, diarréia, unha
encravada...
RENATÃO - Meu
velho, tem que ter jogo de cintura... Lembre-se da fortuna que você vai herdar
quando a velha bater as botas!
SAMUCA - Isso
é que tá me preocupando! A velha está mais viva do que nunca! Parece que a cada
dia fica mais forte!
RENATÃO - E Joaninha?
SAMUCA - Tá uma fera! Nem tá falando direito comigo...
E agora, meu velho, o que eu faço? Como sair dessa roubada?
RENATÃO -
(pensou um pouco e falou) O jeito... é você abreviar a morte da véia!
SAMUCA - Ficou louco, Renatão? Não brinca assim,
não, pô!
RENATÃO - Não
tou brincando, velho. Imagina se a velha sofresse um acidente fatal... Você
herdaria a grana dela muito mais cedo e resolveria logo essa situação!...
SAMUCA -
(coçou a cabeça e fitou Renatão, atordoado) Velho, você tá falando
sério? Ainda não tou acreditando...
RENATÃO -
Pensa bem, Samuca: a velha não tá com os dias contados? Então? Você
estaria cometendo um ato cristão... Ia apenas abreviar o sofrimento dela...
Seria uma espécie... de eutanásia, sacou?
SAMUCA - Euta
o que?...
RENATÃO - ...
násia. Eutanásia. Significa abreviar a morte de uma pessoa enferma incurável,
pra acabar com o sofrimento... É lógico que ninguém pode saber, além de você!
SAMUCA -
Mas... mas como eu faria isso?
RENATÃO -
Simples, meu caro: uma queda de uma escada, por exemplo...
SAMUCA -
(arregalou os olhos, excitado) Caramba! Sabe que tou começando a
processar essa idéia?
A CAMPAINHA
TOCOU. KONSTANTÓPULUS ABRIU A PORTA E ENTROU NA SALA SEGUIDO DE D. CONSUELO. RENATÃO
E SAMUCA FITARAM-NA, SURPRESOS, COMO SE ESTIVESSEM DIANTE DE UM FANTASMA.
SAMUCA - Consuelo!
Você aqui?!
D. CONSUELO - Que
cara é essa, hombre? Parece que ustedes miran un fantasma! Samuquito, estoy
procurando usted o dia todo!
SAMUCA - (sorriu
amarelo, tentando parecer natural) Oi, Consuelo...
estava aqui com meu amigo Renatão tratando de negócios...
D. CONSUELO - Io
imaginei que encontraria usted aqui... Mas... que tipo de negócios?
RENATÃO - (adiantou-se)
Como está, D. Consuelo? Sente-se. Aceita um licorzinho? (e para o mordomo) Konstan,
sirva um licor pra D. Consuelo.
D. CONSUELO
SENTOU-SE AO LADO DE SAMUCA.
SAMUCA -
Negócios... negócios, ora...
RENATÃO
- (cortou) Chamei Samuca aqui
para discutirmos os planos de uma grande produção cinematográfica. Não sei se a
senhora sabe que sou produtor...
D. CONSUELO - Non... io non sabia... Samuca non
me dije nada... Que producion están tratando?
Um filme?
RENATÃO - Um
grande filme! Vai ser um sucesso! Devemos começar a rodar logo depois do
carnaval.
D. CONSUELO -
Entonces já tienem todo!
RENATÃO -
Quase tudo. Falta só o argumento e o dinheiro.
D. CONSUELO
- Entonces non tienem nada!
(bebia o licor praparado por Konstantópulus) Adoro cinema! Mas o que me gusta
mesmo son as telenovelas! E confesso que io tengo um sonho de ser atriz de
telenovelas! “Triunfo del Amor”,
“Acorrentada”, “El Privilégio de
Amar”, son novela inesquecíveis! Me gusta mucho!
RENATÃO - Taí!
Nós podemos realizar seu sonho! Uma telenovela! Tenho um argumento maravilhoso
que podemos transformar numa novela de muito sucesso, e depois vender para uma
grande emissora!
D. CONSUELO -
Conte-me todo! Do que se trata? Es una história de amor? Adoro romances!
DIANTE DO
CONFUSO E AINDA ATORDOADO SAMUCA, RENATÃO TRANSMITIU PARA D. CONSUELO SUA
HISTÓRIA COM RIQUEZA DE DETALHES.
CORTA PARTA:
CENA 11 -
HOSPITAL - QUARTO DE LEOPOLDO - INT.
- DIA.
RICARDINHO
GIROU A MAÇANETA, LENTAMENTE, E APROXIMOU-SE DO LEITO DO PAI. O FOCO DE LUZ
ILUMINAVA O ROSTO ABATIDO DE LEOPOLDO. UM DOS BRAÇOS ESTAVA ENGESSADO,
ESTENDIDO E AMPARADO POR UM TRAVESSEIRO PEQUENO. NO OUTRO BRAÇO, À ALTURA DO
COTOVELO, DUAS TIRAS DE ESPARADRAPO PRENDIAM A AGULHA. PINGO A PINGO O SÔRO
DESCIA. RICARDINHO FIXOU O
QUADRO. DEU UM
PASSO NO INTERIOR DO QUARTO E
CERROU A PORTA ÀS SUAS COSTAS. LEOPOLDO ERGUEU OS OLHOS AO PERCEBER O LEVE MOVIMENTO DE PÉS. NÃO ERA A
ENFERMEIRA. NA SEMI-OBSCURIDADE DO AMBIENTE CUSTOU-LHE A RECONHECER O
VISITANTE.
LEOPOLDO - Ricardinho!
RICARDINHO - (aproximou-se) Oi, velho! Caramba, o
que aconteceu com você? Um rolo compressor passou por cima?
LEOPOLDO -
(esboçou um sorriso) Quase isso... Que surpresa você aqui... meu filho
lembrou que seu velho pai existe...
RICARDINHO - A
enfermeira me ligou. Falou que você pediu.
LEOPOLDO - Pois
é. Tava me sentindo muito só, abandonado nessa cama de hospital. Aí pensei: vou
pedir pra alguém avisar meu filho. Quem sabe não vem me visitar? Não acreditei
que você viria...
RICARDINHO - E
aqui estou eu.
LEOPOLDO -
(emocionado) Estou muito feliz...
muito feliz, meu filho.
RICARDINHO -
Eh... vamos parar com esse melodrama, tá? Não curto isso, velho. Me
conta... como aconteceu isso?
LEOPOLDO
- Fui atropelado pela filha do Oliveira
Ramos, o banqueiro.
RICARDINHO -
(admirado) Helô?!
LEOPOLDO - Ela
mesmo. Eu tava atravessando a rua, quando ela me atingiu em cheio.
RICARDINHO - Helô...
caramba...
LEOPOLDO - Você a conhece?
RICARDINHO - E
muito! É da minha turma! Quer dizer...era, antes de casar com aquele padreco
idiota!
LEOPOLDO - O
doutor Oliveira está me dando toda a assistencia. Assumiu todas as despesas do
hospital e do tratamento.
RICARDINHO - É
pouco! Podemos arrancar muito mais grana dessa gente! São podres de ricos! Vai
por mim, velho: podemos lucrar muito em cima desse acidente! Se ele se negar a
pagar, ameaçamos levar essa história pros jornais! Vamos exigir, deixe ver... quinhentos
mil! Quinhentos mil reais! Oliveira Ramos não vai querer o nome envolvido num escândalo! Velho, você
foi atropelado por uma mina de ouro! (cerrou o punho e deu um soco no ar, quase
com raiva) Yes!
FIM DO CAPÍTULO 44
e no próximo capítulo...
*** Marisa arma uma cilada para Renatão: finge ter tentado o suicídio e manda o irmão chamá-lo às pressas!
*** Oliveira Ramos fica preocupado ao perceber que Vítor desconfia do envolvimento de Helô no assassinato de Nívea!
NÃO PERCA O CAPÍTULO 45 DE
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