Novela de Toni Figueira
Inspirada na Obra de Dias Gomes
Fonte: http://youtu.be/zIuryHGvAVc
CAPÍTULO 46
Personagens
deste capítulo:
OLIVEIRA RAMOS
HELÔ
VÍTOR
MARCOS
DELEGADO FONTOURA
VERINHA
VESPERTINA
RENATÃO
CONSUELO
SAMUCA
D. MARIETA
ARAKEN
ADELAIDE
SUSI
GOUVEIA NETO
CENA 1
- APART-HOTEL
IPANEMA PLAZA - APARTAMENTO DE CONSUELO -
SALA - INT.
- NOITE.
CONTINUAÇÃO IMEDIATA DA ÚLTIMA CENA DO CAPÍTULO ANTERIOR.
CONSUELO FEZ UM
MOVIMENTO INVOLUNTÁRIO DURANTE O SONO. ASSUSTADO, SAMUCA RECUOU, DANDO UM PASSO
PARA TRÁS.
CONSUELO -
(como que pressentindo a presença a seu lado, abriu os olhos, sonolenta)
Samuquito... es tú, mi amor... o que estás haciendo... me miravas?...
SAMUCA -
(sorriu, tentando disfarçar o nervosismo) Oi, Consuelo... eu... eu ia
por o travesseiro na sua cabeça... ou vai ter um torcicolo.
EM SEGUIDA, DEPOSITOU
O TRAVESSEIRO SOB A CABEÇA DA MULHER. CONSUELO SORRIU, AGRADECIDA.
CONSUELO -
Samuquito... es lo mejor marido del mundo... te quiero mucho, mi esposo
querido...
CONSUELO ANINHOU-SE
NA CAMA E VOLTOU A DORMIR. EXUASTO, LIMPANDO COM O DORSO DAS MÃOS O SUOR QUE
ESCORRIA-LHE NA TESTA, SAMUCA DEIXOU-SE CAIR NUMA POLTRONA.
CORTA PARA:
CENA 2
- APARTAMENTO DE EMILIANO -
SALA - INT.
- DIA.
ARAKEN TEIXEIRA
ESTAVA NA CASA DE D. MARIETA, QUE RECEBEU-O, UM TANTO DESCONFIADA.
ARAKEN -
Obrigado por me receber, D. Marieta. O que me trás aqui é minha busca
pela verdade no caso de sua filha, Nívea. Isso pra mim é prioridade, por isso
não tenciono parar.
D. MARIETA - Em
que posso ajudá-lo?
ARAKEN - D.
Marieta, para mim, Nívea é uma santa. A verdade? Toda a verdade? Não se sabe
ainda. Apenas uma coisa eu tenho plena certeza: Jurema de Alencar é inocente!
D. MARIETA - Mas
então... o senhor desconfia de alguém?
ARAKEN -
Tenho algumas suspeitas... (fez uma pausa) Estou convencido também de
que há uma pessoa que deve saber de tudo. Essa pessoa nem ao menos apareceu no
inquérito, não foi interrogada.
D. MARIETA -
(perguntou, ansiosa) Quem?
ARAKEN -
Heloísa de Oliveira Ramos (e acrescentou, notando a indagação que
pairava no rosto da mãe de Nívea) Acho que ela sabe, porque esteve com sua
filha naquela noite. Foi, talvez, a última pessoa a conversar com ela, num bar
daqui de Ipanema.
D. MARIETA - Por
que ela nunca disse isso a ninguém?
O REPÓRTER FEZ UM
MUXÔXO.
ARAKEN - Essa
pergunta só tem uma resposta: porque isso a comprometeria ou comprometeria
alguém que ela quer esconder.
CORTA PARA:
CENA 3
- APART-HOTEL IPANEMA PLAZA - APARTAMENTO DE CONSUELO -
SALA - INT.
- DIA.
D. CONSUELO FOLHEAVA
UM JORNAL, SENTADA NA CONFORTÁVEL POLTRONA BRANCA, QUANDO SAMUCA CHEGOU.
D. CONSUELO -
(fitou-o por trás das lentes grossas dos óculos de grau) Samuquito, que
bom que usted chegou. Venha, sente-se a mi lado!
SAMUCA APROXIMOU-SE,
LENTAMENTE.
SAMUCA - Oi,
Consuelo... vejo que está muito bem disposta... Tá animada, lendo jornal...
D. CONSUELO - Mi
amor, nuestro matrimonio está haciendo milagros! Io queria fazer una surpresa
para usted, mas creo que es mejor contar com su ayuda!
SAMUCA -
(sentou-se ao seu lado) Ajuda para quê?
D. CONSUELO - Io estoy
cansada de morar neste apart-hotel. Estava buscando una casa nos classificados
deste jornal... Pero quiero saber tua opinião, mi amor. Io penso en una casa
confortável, espaçosa, com una bela piscina... o que usted acha, Samuquito?
SAMUCA -
(surpreendeu-se, e os olhos brilharam) Uma casa confortável, com
piscina... de frente para o mar?
D. CONSUELO - Se
esto te faz feliz, me faz feliz tambien, amor.
SAMUCA -
(sorriu, sonhador) Uma casa no Joá, com piscina... taí, gostei!
D. CONSUELO -
(animada) Entonces me ayuda a buscar! Vem!
CORTA PARA:
CENA 4
- APARTAMENTO DE HELÔ -
SALA - INT.
- DIA.
A CAMPAINHA SOOU.
HELÔ ABRIU A PORTA. ERA ARAKEN TEIXEIRA.
HELÔ
- O que você quer? Meu marido não
está em casa...
ARAKEN - Eu
sei. Era com você mesmo que eu queria falar. Não me convida a entrar?
INDECISA, A JOVEM FEZ
UM SINAL PARA O JORNALISTA ENTRAR.
HELÔ
- O que quer comigo?
ARAKEN - Vim
oferecer minha ajuda, Helô... quero dar-lhe a oportunidade de explicar seu
encontro com Nívea no Castelinho, momentos antes do crime.
HELÔ
- (irritando-se) Isso não é
verdade. Não estive com Nívea aquela noite! Quer saber mais? Não quero saber de
coisa alguma, e muito menos, preciso da ajuda que o senhor está me oferecendo!
Por favor, saia da minha casa!
ARAKEN -
(falou pausadamente, estudando a reação da jovem) Pense bem. Se Manolo for
depor como testemunha no julgamento de Jurema, e contar o que me disse, seria
muito desagradável para você, não acha?
HELÔ
- Que é isso? Uma ameaça?
Chantagem?
ARAKEN - Não.
Eu só estou tentando fazer você compreender que não tem nada a ganhar negando o
que, para mim, está evidente. Você esteve com Nívea no Castelinho naquela
noite. Vocês discutiram. Sobre quê? Isto é o que eu quero saber! Diga e eu
vou-me embora!
A PORTA ABRIU-SE DE
SÚBITO E VÍTOR ENTROU. DEU COM ARAKEN E HELÔ EM ATITUDE DEFENSIVA, ACUADA. ELA
O VIU COMO UMA SALVAÇÃO.
HELÔ
- Vítor! (correu e atirou-se nos
braços do marido).
VÍTOR
- (mostrou a porta ao jornalista)
Por favor, retire-se! Saia daqui!
ARAKEN SAIU.
CORTA PARA:
CENA 5 -
APARTAMENTO DE OLIVEIRA RAMOS
- SALA -
INT. - DIA.
OLIVEIRA RAMOS CHEGOU
DO BANCO E ENCONTROU SUSI MAIS ANIMADA DO QUE NUNCA, DANÇANDO AO SOM DE UMA
MÚSICA DO COLDPLAY.
OLIVEIRA RAMOS -
Nossa, que animação! Posso saber o motivo de tanta alegria?
SUSI BAIXOU O
SOM, CORREU ATÉ O MARIDO E BEIJOU-O NO
ROSTO.
SUSI
- Oi, amor! Ah, estou feliz
mesmo! Passei o dia organizando os preparativos para a festa de amanhã!
OLIVEIRA RAMOS -
Então está tudo sob controle?
SUSI
- Claro! Vai sair tudo perfeito!
Contratei buffet, DJ, e estou
cuidando da decoração.
OLIVEIRA RAMOS - E a
lista de convidados?
SUSI
- Também já fiz. Acho bom você
dar uma olhada... (mostrou uma folha de papel ao banqueiro).
OLIVEIRA RAMOS -
Samuca e D. Consuelo? Então você convidou o tonto do Samuca? Soube que
ele casou....
SUSI
- Não podia deixar de convidar. Samuca
casou com uma milionária mexicana.
Soube que ela
prentende fazer investimentos no
Brasil, comprar imóveis. Vai ser ótimo pra você se ela usar o Banco Oliveira
Ramos, não acha?
OLIVEIRA RAMOS -
(beijou a mulher, satisfeito) Muito bem pensado! Hum, estou gostando de
ver! Minha mulher preocupada com meus negócios!
HELÔ E VÍTOR CHEGARAM
NAQUELE MOMENTO.
VÍTOR
- Boa noite!
OLIVEIRA E SUSI
VOLTARAM-SE, SURPRESOS.
OLIVEIRA RAMOS -
Filha! Vítor! Que surpresa boa! Vão jantar conosco?
HELÔ CORREU ATÉ O PAI
E ABRAÇOU-O, SÉRIA. O BANQUEIRO OLHOU PARA VÍTOR, PRESSENTINDO ALGO ERRADO.
VÍTOR
- Ela quis ver o senhor, doutor
Oliveira.
OLIVEIRA RAMOS - (levantou o queixo da filha) O que aconteceu,
filha?
VÍTOR ANTECIPOU-SE.
VÍTOR
- Ela está um pouco nervosa.
Ainda há pouco, esteve lá em casa aquele jornalista, o Araken Teixeira, e fez
insinuações de que Helô tem algo a ver com a morte de Nívea. Enfim, afirmou que
elas estiveram juntas antes do crime. Forçou um pouco a barra, queria fazer uma
entrevista. Helô ficou muito nervosa e tive de expulsá-lo de casa.
OLIVEIRA RAMOS -
(fechou a cara) Araken Teixeira, da “Folha do Rio”?
HELÔ
- Eu não estive com ela, papai!
Isso não é verdade!
OLIVEIRA RAMOS -
(dirigindo-se para o escritório) Deixa ele comigo. Com licença!
SUSI
- O que vai fazer?
OLIVEIRA RAMOS - Dar
um telefonema. Vou resolver isso agora!
CORTA PARA:
CENA 6
- “FOLHA DO RIO” - SALA
DE GOUVEIA NETO - INT.
- DIA.
DE VOLTA À REDAÇÃO,
ARAKEN FOI CHAMADO Á SALA DO DIRETOR.
ARAKEN - Como
é o negócio? Parar?
GOUVEIA NETO - Sim,
parar (ordenou), pôr uma pedra em cima. Não se fala mais em Nívea Louzada neste
jornal.
ARAKEN -
(perplexo) Não posso acreditar que esteja diante do combativo e destemido
diretor da “Folha do Rio”! (T) Gouveia, você está mesmo certo da cabeça? Agora
que estou na bica de elucidar o crime!
GOUVEIA NETO - Sim,
eu estou. Não quero que elucide crime nenhum! De hoje em diante, só faremos a
cobertura do julgamento. E isso mesmo, a cargo de outro repórter.
ARAKEN -
(franziu o cenho, desconfiado) Espera aí! Estou pressentindo que o
negócio é comigo, que você, Gouveia, assumiu esse compromisso com alguém! Posso
saber com quem?
GOUVEIA NETO - Não
importa. Saiba sòmente que eu tive que fazer isso pra salvar o jornal de uma
situação difícil.
ARAKEN NÃO LHE DEU
OUVIDOS. CONTINUAVA BASTANTE PERPLEXO.
ARAKEN - Tou
entendendo: arrolharam você! Mas tem uma coisa (acentuou, ante a reação de
ofensa do patrão) a mim, ninguém cala. Se não vou escrever mais nada porque o
jornal não vai publicar, posso agir!
SOB O OLHAR PERPLEXO
DE GOUVEIA NETO, ARAKEN RETIROU-SE DA SALA.
CORTA PARA:
CENA 7
- APARTAMENTO DE RENATÃO -
SALA - INT.
- NOITE.
ORGULHOSO, SAMUCA
EXIBIU O CONVITE PARA RENATÃO, QUE RELAXAVA, DEITADO NO DIVÃ.
SAMUCA - Olha
só: “Para Samuel e Consuelo”! Viu só, velho, como agora teu amigo tá
importante?
RENATÃO - Tou
vendo! Você agora pertence á classe emergente! Também, casando com uma
milionária... (mostrou-lhe seu convite) Eu também recebi, olha! Só que o meu...
recebi diretamente das mãos da esposa do dono da festa!
SAMUCA
- (sorriu, malicioso) Susi!
RENATÃO -
(pensantivo) É. Mas eu queria agitar essa festa de alguma maneira... Não
curto essas reuniões caretas... Quero me divertir, entende? Só não sei como...
(ergueu a cabeça) Konstan! Prepara um uísque pra mim e pro Samuca... (não
obteve resposta) Konstan!
SAMUCA -
(brincou) Acho que o mordomo desapareceu!
RENATÃO -
(levantou-se) Onde se meteu esse cara?
VESPERTINA, A
COZINHEIRA, SURGIU NA SALA, TRAJANDO AVENTAL E
UM LENÇO BRANCO NA CABEÇA.
VESPERTINA - Seu
Renatão, o seu Costão foi no supermercado, fazer umas compra! O sinhô qué que
eu faça arguma coisa?
RENATÃO E SAMUCA
OLHARAM-SE E SOLTARAM UMA SONORA GARGALHADA.
RENATÃO - Não
é Costão, Vespertina! É Konstan, Konstantópulus! É um nome grego!
VESPERTINA -
Constão, Costão!... Vixe Maria! Coitado do home, tê que carregá a vida
toda um nome tão feio, tão difícir de falá! Ô, dó!
RENATÃO ACERCOU-SE DA
MULHER E OBSERVOU-A, ATENTAMENTE.
RENATÃO -
Espere aí! Tive uma idéia sensacional! Vespertina, vestida com um sari
indiano e um luxuoso turbante... vai se transformar numa verdadeira princesa
africana!
SAMUCA -
(perplexo) Ficou maluco, Renatão? Tá delirando?
VESPERTINA -
Valha-me Nossa Sinhora do Distêrro! (benzeu-se, assustada) Não tou
entendendo nadica de nada!
RENATÃO - Isso
mesmo! É uma idéia incrível! Vai ser a sensação da noite! O único problema é
esse sotaque do interior do Ceará!...
SAMUCA -
Caramba! O cara pirou de vez!
RENATÃO - (sem
dar ouvidos ao amigo) Já sei! Ela vai ficar muda porque não fala outro idioma,
a não ser a língua nativa de... de... Tobokobuko! Tá decidido! Vespertina,
amanhã você vai comigo à festa do doutor Oliveira Ramos, como a Princesa de
Tobokobuko.
SAMUCA - (fez
uma careta) Xiiiii! Isso não vai dar certo! Renatão, você tem certeza do que tá
fazendo?
RENATÃO - Fica
frio, velho. Vai dar tudo certo, você vai ver!
VESPERTINA -
(benzendo-se) Valha-me, Nossa Sinhora, que eu num entendi nadica... Posso voltá pra minha cunzinha?
RENATÃO -
Pode, Vespertina. Você não precisa entender nada. Só vai ter que manter
a boca fechada. Nada mais.
CORTA PARA:
CENA 8 -
APARTAMENTO DO DELEGADO FONTOURA
- SALA -
INT. - NOITE.
NO DIA SEGUINTE, ERAM
QUASE 11 DA NOITE. APÓS O JANTAR, FONTOURA E ADELAIDE ESTAVAM SENTADOS, VENDO
UM FILME NA TV, QUANDO A CAMPAINHA TOCOU. VERINHA SAIU DO QUARTO E CORREU A
ABRIR A PORTA. ERA MARCOS.
VERINHA - Oi,
amor!
O RAPAZ ENTROU E
PAROU NO MEIO DA SALA, TÍMIDAMENTE. FONTOURA ENCAROU-O COM AR DE POUCOS AMIGOS.
MARCOS
- B-boa no-noite, doutor
Fontoura. Bo... boa noite. D. Adelaide!
FONTOURA -
Posso saber aonde vão?
VERINHA -
Vamos á festa do doutor Oliveira Ramos, papai!
ADELAIDE - Você
está linda, minha filha!
FONTOURA -
(dirigiu-se a Marcos, autoritário) Escute aqui, rapaz! Você engravidou
minha filha; vem aqui, fica com ela, saem, e não vejo você tomar nenhuma
atitude! Pois bem: quero saber agora como vai ficar essa situação! O que vocês
pretendem fazer! Vão se casar ou não?
MARCOS, VERINHA E
ADELAIDE OLHARAM PARA O DELEGADO AO MESMO TEMPO.
VERINHA -
Papai! O que é isso, assim você assusta o Marcos!
FONTOURA - É
pra assustar mesmo! Tá pensando que minha filha é o quê? Como é, rapaz, estou
esperando sua resposta!
FIM DO CAPÍTULO 46
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