Novela de Toni figueira
Inspirada na obra de Dias Gomes
Fonte: http://youtu.be/zIuryHGvAVc
CAPÍTULO 50
Personagens deste capítulo:
VÍTOR
DETETIVE JONAS
JOANINHA
DELEGADO FONTOURA
HELÔ
RENATÃO
SAMUCA
KONSTANTÓPULUS
D. CONSUELO
D. JOSÉ
ARAKEN
ADELAIDE
BABI
AMIGOS DA PRAIA
VÍTOR
DETETIVE JONAS
JOANINHA
DELEGADO FONTOURA
HELÔ
RENATÃO
SAMUCA
KONSTANTÓPULUS
D. CONSUELO
D. JOSÉ
ARAKEN
ADELAIDE
BABI
AMIGOS DA PRAIA
CENA 1 - AV. VIEIRA SOUTO - CALÇADÃO - EXT. - NOITE
A AVENIDA VIEIRA SOUTO ESTAVA COMPLETAMENTE ILUMINADA ÀQUELA HORA DA NOITE. NO PONTO EM QUE NÍVEA CAIU DO PAREDÃO, UMA MULHER ACENDIA UMA VELA JUNTANDO-SE ÀS MUITAS QUE SE VIAM ESPALHADAS PELO LOCAL.
VÍTOR - Foi aqui. Você se lembra de ter estado com ela neste local?
HELÔ - (fez um esforço para lembrar-se) Não, não lembro de nada.
VÍTOR - (procurou ajudá-la) Vocês estavam ali, no bar. Depois, que fizeram? Não saíram juntas? Não vieram até aqui?
HELÔ - Não. Se viemos, eu não me lembro. (se desesperou) Não adianta, eu não me lembro!
VÍTOR TIROU O MEDALHÃO DO BÔLSO E MOSTROU-O A HELÔ.
VÍTOR - É seu?
HELÔ - Sim, é meu. Há muito tempo que tinha dado por falta dele.
VÍTOR - Pois foi encontrado junto ao corpo de Nívea.
A REAÇÃO DE HELÔ FOI VISÍVEL. DE ATORDOAMENTO.
HELÔ - Pode ser que ela tivesse me pedido emprestado. Ás vezes eu emprestava coisas a ela, até vestidos. Você sabe, ela não tinha, era pobre!
VÍTOR - Você tem certeza que emprestou este medalhão?
HELÔ - Não, não tenho certeza de nada. Mas podia ter emprestado.
VÍTOR - Mas podia também ter deixado cair... ou ela podia ter arrancado do seu pescoço na hora em que você a empurrou!
HELÔ - (olhou-o, espantada) Você acha, então... que eu a matei... Que eu sou uma assassina!
VÍTOR - Eu não quero acreditar nisso... mas temos de apelar pra tudo, pra descobrir a verdade!
HELÔ - (perturbada) Por favor... me leva pra casa!
CORTA PARA:
CENA 2 - APARTAMENTO DO DELEGADO FONTOURA - SALA - INT. - DIA.
A CAMPAINHA TOCOU E ADELAIDE ABRIU A PORTA. ERA O DETETIVE JONAS.
DETETIVE JONAS - Bom dia, D. Adelaide. Eu estava aqui perto e vim saber do estado de saúde da Verinha...
ADELAIDE - Bom dia, seu Jonas. Ela está no quarto, se recuperando devagar, mas está bem, obrigada.
FONTOURA SURGIU NA SALA VESTINDO O TERNO.
DELEGADO FONTOURA - Olá, Jonas! Estou de saída para o Distrito! Alguma novidade?
DETETIVE JONAS - Nada de novo. Sòmente aquele caso do Araken Teixeira. Sabe como é essa gente da imprensa; se não se toma logo providência, eles caem no nosso pêlo...
DELEGADO FONTOURA - Mas você não o levou pra ver o carro?
DETETIVE JONAS - Acontece que não era aquele. Ele anotou errado a chapa do carro. Mas já conseguiu identificar o veículo. É um Peugeot, que também foi roubado naquela tarde. A queixa tá lá no distrito.
DELEGADO FONTOURA - Quem é o dono do carro?
DETETIVE JONAS - Aí é que o senhor vai levar um susto. É o senhor Renato Itararé de Souza.
DELEGADO FONTOURA - Renatão!
DETETIVE JONAS - Ele mesmo!
DELEGADO FONTOURA - Isso vai nos obrigar a reabrir o inquérito de Nívea Louzada!
DETETIVE JONAS - É o que eu acho.
CORTA PARA:
CENA 3 - PRAIA DE IPANEMA - EXT. - DIA.
O BELO DIA DE SOL E O MAR AZUL ERAM UM ATRATIVO IRRESISTÍVEL PARA RENATÃO, QUE, TRAJANDO APENAS SUNGA AZUL E ÓCULOS DE SOL, CONVERSAVA ANIMADAMENTE COM DOIS AMIGOS. O PLAYBOY OLHOU DISTRAÍDAMENTE PARA A ARREBENTAÇÃO E PAROU, COMO QUE HIPNOTIZADO. A LOIRA ESCULTURAL, COM UM MINÚSCULO BIQUÍNI VALORIZANDO SUAS CURVAS PERFEITAS, GANHOU O MAR E MERGULHOU, GRACIOSAMENTE.
RENATÃO - Caramba! Que avião!
AMIGO 1 - É a Babi, você não conhece? Mário Maluco e ela já “ficaram” algumas vezes...
RENATÃO - (sem desgrudar os olhos da água) Eles tão juntos? Digo, é sério?
AMIGO 1 - Sério? (e debochado) E Mario Maluco leva alguma coisa a sério? Acho que só o Ricardinho!...
TODOS RIRAM. RENATÃO AFASTOU-SE EM DIREÇÃO Á JOVEM, QUE ACABAVA DE SAIR DO MAR.
RENATÃO - Oi!
BABI - (com as mãos nos cabelos, retirando o excesso de água salgada) Oi!
RENATÃO - (olhando-a fixamente) Espere... eu te conheço! Você não estava na festa de casamento da Helô, no apê do Oliveira Ramos?
BABI - Tava, tava... Você é o Renatão, não é? A gente caiu junto na piscina.
RENATÃO - É mesmo! Foi a maior zorra! Todo mundo doidão, de pileque! Acho que por isso não reparei direito em você (fitou-a dos pés à cabeça) Aposto que você é modelo. Acertei?
BABI - (sorriu, simpática) Não. Faço curso de teatro.
RENATÃO - (animou-se) É mesmo? Nossa, que coincidência!
BABI - Por quê? Você é ator?
RENATÃO - Não. Sou uma espécie de caçador de talentos, “olheiro”, entende?
BABI - Que interessante...
RENATÃO - Pois é. Várias atrizes, hoje famosas, foram encaminhadas por mim. Natália Dill, Bianca Bin, Vanessa Giácomo, por exemplo.
OS OLHOS DA JOVEM SE ILUMINARAM.
BABI - Jura? Que incrível!
RENATÃO - (olhando-a fixamente) Você tem o tipo físico que estou procurando, sabia? Sou muito amigo do Guel Arraes e estou ajudando a montar o elenco do novo filme dele. Se você quiser, podemos fazer um teste...
BABI - Nossa, eu adoraria! Você tá falando sério?
RENATÃO - Menina, você acha que eu ia brincar com isso? Você tá me vendo aqui na praia, de sunga, relaxadão, mas estou a trabalho. (apontou para o prédio quase em frente) Tá vendo aquele prédio? Eu moro ali. Terceiro Andar. Me procure amanhã, sem falta. Quem sabe não está a um passo de se tornar uma grande estrela?
BABI - (emocionada) Ai, fiquei até nervosa.... Olha, seu Renatão, meu nome é Babi. Prometo que você não vai se arrepender. Vou agarrar essa oportunidade com unhas e dentes!
RENATÃO - Tá bom, mas por favor, esquece esse “seu”. Pode me chamar de Renatão. É como todo mundo me conhece aqui na área!
BABI - Tudo bem, Renatão. Amanhã estarei na sua casa, com certeza!
A JOVEM AFASTOU-SE, CORRENDO, DEIXANDO O BOQUIABERTO RENATÃO BABANDO.
RENATÃO - Maravilhosa!... Que mulher!...
CORTA PARA:
CENA 4 - APARTAMENTO DE RENATÃO - SALA - INT. - DIA.
“ALELUIA” ALELUIA!” A CAMPAINHA TOCOU NO APARTAMENTO DE RENATÃO. KONSTANTÓPULUS FOI ABRIR E DEU DE CARA COM O DETETIVE JONAS E ARAKEN TEIXEIRA.
DETETIVE JONAS - Boa tarde. Queremos falar com o senhor Renato Itararé de Souza.
KONSTANTÓPULUS - O patrão não está, senhor. Foi à praia.
DETETIVE JONAS - (fez cara de espanto) Praia? São tres e meia da tarde.
KONSTANTÓPULUS - Pois é. Tenho ordens para chamá-lo às quatro.
ARAKEN - Que boa vida, hem? Escute aqui, ele não faz nada?
KONSTANTÓPULUS - Sim. Meu patrão é produtor cinematográfico.
ARAKEN - Então, diz aí um filme dele.
KONSTANTÓPULUS - Eu não sei, senhor. Nunca vou ao cinema.
DETETIVE JONAS - Ele deve ter uma grana firme. Pra manter essa vida! Mas de onde vem essa grana, é um mistério que eu nunca consegui decifrar.
KONSTANTÓPULUS - (pigarreou) Bem, os senhores podem voltar mais tarde, eu digo ao patrão.
DETETIVE JONAS - Nada disso. Nós viemos aqui falar com você mesmo.
KONSTANTÓPULUS - (se assustou) Comigo? Mas eu não sei de nada.
DETETIVE JONAS - Como você diz que não sabe de nada, se eu não disse do que se trata?
ARAKEN - Ele deve ter ouvido a conversa entre os dois, isto é, Nívea Louzada e Renatão, na noite do crime. Ela esteve aqui e você ouviu o que eles conversaram.
DETETIVE JONAS - Se você disser o que ouviu, nada vai lhe acontecer. Senão, vai ter que vir comigo ao Distrito.
KONSTANTÓPULUS - (recuou, ainda mais amedrontado) Mas eu não ouvi nada. Seria uma falta de educação.
DETETIVE JONAS - (repetiu a pergunta, pausadamente) Você não ouviu mesmo? Nem uma palavra?
KONSTANTÓPULUS - Nem uma palavra! Juro!
JONAS E ARAKEN TROCARAM UM OLHAR.
ARAKEN - Eu não lhe disse? Ela esteve aqui naquela noite. (e dirigindo-se ao assustado mordomo) Você apenas confirmou que Nívea Louzada esteve aqui na noite do crime.
CORTA PARA:
CENA 5 - DELEGACIA - SALA DO DELEGADO FONTOURA - INT. - DIA.
RENATÃO ESTAVA SENTADO AO LADO DA MESA DO DELEGADO, SENDO INTERROGADO.
RENATÃO - (protestava) Francamente, Delegado, acho um absurdo que um cidadão tenha o seu carro roubado e seja obrigado a vir ao Distrito dar explicações!
DELEGADO FONTOURA - Está lavrado o protesto. Vamos agora às explicações. Em primeiro lugar, desculpe por não têrmos ainda localizado o seu carro.
RENATÃO - Mas o carro já apareceu.
DELEGADO FONTOURA - (fingiu de nada saber) Ah, já apareceu?! E o senhor não nos comunicou nada! Nós podíamos estar ainda procurando, perdendo tempo. Toda a máquina policial à sua disposição, trabalhando para o senhor. (sua voz aumentava à medida que sua fingida indignação crescia) É um procedimento estranho. Principalmente porque, como o senhor sabe, alguém utilizou seu carro para tentar atropelar um jornalista. E por coincidência, um jornalista que estava fazendo investigações por conta própria no caso Nívea Louzada. E o senhor, seu Renato, está envolvido nesse caso. Como se explica que em seu depoimento, tomado por mim há tempos, o senhor tenha omitido um detalhe tão importante: que Nívea Louzada estêve em seu apartamento na noite do crime?
RENATÃO - Ei, espera aí! De onde o senhor tirou essa história? Isso não é verdade! Ela não...
DELEGADO FONTOURA - (cortou, enérgico) O seu mordomo disse que ela estêve!
RENATÃO - (maneirou) Bem, tá bem. Vamos lá, que é que o senhor deseja saber?
DELEGADO FONTOURA - O que ela foi fazer naquela noite em seu apartamento.
RENATÃO - Ela me procurou para tentar recuperar as fotos. Ela queria as fotos de volta. Ia casar com o padre, não queria que ele soubesse que havia tirado fotos... sensuais.
DELEGADO FONTOURA - Nua, o senhor quer dizer, não é?
RENATÃO - (hesitante) Isso...
DELEGADO FONTOURA - E quando o senhor lhe disse que não podia conseguir a devolução das fotos, qual foi a atitude dela?
RENATÃO - Ficou chateada, é claro, mas compreendeu que eu não tinha culpa. Até me agradeceu o que tinha feito por ela. E foi-se embora.
CORTA PARA:
CENA 6 - MIRANTE DO LEBLON - EXT. - DIA.
MARCOS E VERINHA SALTARAM DA MOTO E, RETIRANDO OS CAPACETES, SENTARAM NUM BANCO DA PRAÇA, ADMIRANDO A BELA VISTA DAS PRAIAS DO LEBLON E IPANEMA.
MARCOS - Você tá legal, mesmo, gata?
VERINHA - Agora tou (fez uma pausa, olhando o mar, expressão de tristeza) Fiquei muito triste... você sabe... por ter perdido nosso filho.
MARCOS - Verinha, na boa... eu não tava preparado pra ser pai. Nem emprego fixo eu tenho... meu velho é que me banca, você sabe...
VERINHA - Eu sei disso. Mas, se a criança nascesse, a gente ia ter que se virar, não ia?
MARCOS - Ia. Nem sei como ia ser... mas, fazer o que, né... (e aliviado) Só que, agora, a situação é outra. Voltou tudo a ser como era antes.
VERINHA - É. Voltou...
MARCOS - E a gente pode namorar muito, sem se preocupar com nada... a não ser com a gente (abraçou-a) Vem cá... me dá um beijo, vai.
CORTA PARA:
CENA 7 - APART-HOTEL - APARTAMENTO DE D. CONSUELO - SALA - INT. - DIA.
HÁ TRÊS DIAS, SAMUCA ESTRANHAVA O COMPORTAMENTO DE CONSUELO, PENSATIVA E DISTANTE. MAIS UMA VEZ TENTAVA DESCOBRIR O QUE ESTAVA ACONTECENDO.
SAMUCA - Eu sei que alguma coisa aconteceu pra você ficar assim... Por que não me conta?
CONSUELO - Non es nada, Samuquito. Solamente una enxaqueca...
SAMUCA - Não é verdade. E esse tal de Dom José, que veio do México falar com você e está vindo para cá? Veio fazer o quê?
CONSUELO - Ah, sí. Dom José, além de mi procurador en mi negócios, es un gran amigo en México.
A CAMPAINHA TOCOU. SAMUCA FITOU A MULHER, SIGNIFICATIVAMENTE, E DIRIGIU-SE PARA A PORTA. DOM JOSÉ, UM HOMEM GORDO, DE SOBRANCELHAS GROSSAS E TERNO BEM CORTADO, ENTROU NA SALA.
CONSUELO - Dom José, entonces usted veio mismo!
DOM JOSÉ - Buenos dias, Dona Consuelo! Io necessitava vir para hablar pessoalmente con usted!
CONSUELO - (fez as apresentações) Dom José, esto es Samuca.... quiero decir, Samuel, mi esposo.
SAMUCA E DOM JOSÉ APERTARAM-SE AS MÃOS.
DOM JOSÉ - Dona Consuelo, o que me traz ao Brasil es...
CONSUELO - (cortou) Io creo que devemos hablar en particular... (e para o marido) Usted non se importa, non es, Samuquito?
SAMUCA - Non, non... fiquem à vontade.
CONSUELO E DOM JOSÉ DIRIGIRAM-SE PARA O QUARTO. SAMUCA FOI ATÉ O TELEFONE E DISCOU.
SAMUCA - (em voz baixa) Joaninha! Sou eu, Samuca!
DO OUTRO LADO DA LINHA, JOANINHA ATENDEU, DE MÁ VONTADE.
JOANINHA - O que você quer, Samuca? Eu falei que é pra você não me ligar, não me procurar mais, até resolver essa situação!
SAMUCA - Calma, Joaninha! Poxa, eu estava com saudades! Tenho pensado muito em você...
JOANINHA - (admitiu) Não vou negar que eu também penso muito em você... Mas não podemos...
SAMUCA - (cortou) Estão acontecendo umas coisas estranhas aqui!...
JOANINHA - O quê?
SAMUCA - Chegou do México o procurador de Consuelo, Dom José Quintana, e parece que trouxe más notícias. Isto é, talvez alguém que tenha morrido...
A VOZ DE CONSUELO SOOU BASTANTE ALTA, VINDA DO QUARTO EM QUE SE ENCONTRAVA COM DOM JOSÉ.
D. CONSUELO - (off) No! No es posible! Dios mio!
SAMUCA - Deve ser uma notícia terrível! Joaninha, vou ver o que tá acontecendo e depois falo com você! Te amo! Beijo!
SAMUCA DESLIGOU E CORREU PARA O QUARTO E FOI ENCONTRAR A MULHER COM A MÃO SOBRE O PEITO, À BEIRA DE UM COLAPSO. AJOELHOU-SE AO SEU LADO.
D. CONSUELO - Yo no creo... No puedo crer...
SAMUCA ERGUEU OS OLHOS PARA O ALTO, FITANDO O ADVOGADO.
SAMUCA - Qual foi a má notícia que o senhor trouxe?
VÍTOR - Foi aqui. Você se lembra de ter estado com ela neste local?
HELÔ - (fez um esforço para lembrar-se) Não, não lembro de nada.
VÍTOR - (procurou ajudá-la) Vocês estavam ali, no bar. Depois, que fizeram? Não saíram juntas? Não vieram até aqui?
HELÔ - Não. Se viemos, eu não me lembro. (se desesperou) Não adianta, eu não me lembro!
VÍTOR TIROU O MEDALHÃO DO BÔLSO E MOSTROU-O A HELÔ.
VÍTOR - É seu?
HELÔ - Sim, é meu. Há muito tempo que tinha dado por falta dele.
VÍTOR - Pois foi encontrado junto ao corpo de Nívea.
A REAÇÃO DE HELÔ FOI VISÍVEL. DE ATORDOAMENTO.
HELÔ - Pode ser que ela tivesse me pedido emprestado. Ás vezes eu emprestava coisas a ela, até vestidos. Você sabe, ela não tinha, era pobre!
VÍTOR - Você tem certeza que emprestou este medalhão?
HELÔ - Não, não tenho certeza de nada. Mas podia ter emprestado.
VÍTOR - Mas podia também ter deixado cair... ou ela podia ter arrancado do seu pescoço na hora em que você a empurrou!
HELÔ - (olhou-o, espantada) Você acha, então... que eu a matei... Que eu sou uma assassina!
VÍTOR - Eu não quero acreditar nisso... mas temos de apelar pra tudo, pra descobrir a verdade!
HELÔ - (perturbada) Por favor... me leva pra casa!
CORTA PARA:
CENA 2 - APARTAMENTO DO DELEGADO FONTOURA - SALA - INT. - DIA.
A CAMPAINHA TOCOU E ADELAIDE ABRIU A PORTA. ERA O DETETIVE JONAS.
DETETIVE JONAS - Bom dia, D. Adelaide. Eu estava aqui perto e vim saber do estado de saúde da Verinha...
ADELAIDE - Bom dia, seu Jonas. Ela está no quarto, se recuperando devagar, mas está bem, obrigada.
FONTOURA SURGIU NA SALA VESTINDO O TERNO.
DELEGADO FONTOURA - Olá, Jonas! Estou de saída para o Distrito! Alguma novidade?
DETETIVE JONAS - Nada de novo. Sòmente aquele caso do Araken Teixeira. Sabe como é essa gente da imprensa; se não se toma logo providência, eles caem no nosso pêlo...
DELEGADO FONTOURA - Mas você não o levou pra ver o carro?
DETETIVE JONAS - Acontece que não era aquele. Ele anotou errado a chapa do carro. Mas já conseguiu identificar o veículo. É um Peugeot, que também foi roubado naquela tarde. A queixa tá lá no distrito.
DELEGADO FONTOURA - Quem é o dono do carro?
DETETIVE JONAS - Aí é que o senhor vai levar um susto. É o senhor Renato Itararé de Souza.
DELEGADO FONTOURA - Renatão!
DETETIVE JONAS - Ele mesmo!
DELEGADO FONTOURA - Isso vai nos obrigar a reabrir o inquérito de Nívea Louzada!
DETETIVE JONAS - É o que eu acho.
CORTA PARA:
CENA 3 - PRAIA DE IPANEMA - EXT. - DIA.
O BELO DIA DE SOL E O MAR AZUL ERAM UM ATRATIVO IRRESISTÍVEL PARA RENATÃO, QUE, TRAJANDO APENAS SUNGA AZUL E ÓCULOS DE SOL, CONVERSAVA ANIMADAMENTE COM DOIS AMIGOS. O PLAYBOY OLHOU DISTRAÍDAMENTE PARA A ARREBENTAÇÃO E PAROU, COMO QUE HIPNOTIZADO. A LOIRA ESCULTURAL, COM UM MINÚSCULO BIQUÍNI VALORIZANDO SUAS CURVAS PERFEITAS, GANHOU O MAR E MERGULHOU, GRACIOSAMENTE.
RENATÃO - Caramba! Que avião!
AMIGO 1 - É a Babi, você não conhece? Mário Maluco e ela já “ficaram” algumas vezes...
RENATÃO - (sem desgrudar os olhos da água) Eles tão juntos? Digo, é sério?
AMIGO 1 - Sério? (e debochado) E Mario Maluco leva alguma coisa a sério? Acho que só o Ricardinho!...
TODOS RIRAM. RENATÃO AFASTOU-SE EM DIREÇÃO Á JOVEM, QUE ACABAVA DE SAIR DO MAR.
RENATÃO - Oi!
BABI - (com as mãos nos cabelos, retirando o excesso de água salgada) Oi!
RENATÃO - (olhando-a fixamente) Espere... eu te conheço! Você não estava na festa de casamento da Helô, no apê do Oliveira Ramos?
BABI - Tava, tava... Você é o Renatão, não é? A gente caiu junto na piscina.
RENATÃO - É mesmo! Foi a maior zorra! Todo mundo doidão, de pileque! Acho que por isso não reparei direito em você (fitou-a dos pés à cabeça) Aposto que você é modelo. Acertei?
BABI - (sorriu, simpática) Não. Faço curso de teatro.
RENATÃO - (animou-se) É mesmo? Nossa, que coincidência!
BABI - Por quê? Você é ator?
RENATÃO - Não. Sou uma espécie de caçador de talentos, “olheiro”, entende?
BABI - Que interessante...
RENATÃO - Pois é. Várias atrizes, hoje famosas, foram encaminhadas por mim. Natália Dill, Bianca Bin, Vanessa Giácomo, por exemplo.
OS OLHOS DA JOVEM SE ILUMINARAM.
BABI - Jura? Que incrível!
RENATÃO - (olhando-a fixamente) Você tem o tipo físico que estou procurando, sabia? Sou muito amigo do Guel Arraes e estou ajudando a montar o elenco do novo filme dele. Se você quiser, podemos fazer um teste...
BABI - Nossa, eu adoraria! Você tá falando sério?
RENATÃO - Menina, você acha que eu ia brincar com isso? Você tá me vendo aqui na praia, de sunga, relaxadão, mas estou a trabalho. (apontou para o prédio quase em frente) Tá vendo aquele prédio? Eu moro ali. Terceiro Andar. Me procure amanhã, sem falta. Quem sabe não está a um passo de se tornar uma grande estrela?
BABI - (emocionada) Ai, fiquei até nervosa.... Olha, seu Renatão, meu nome é Babi. Prometo que você não vai se arrepender. Vou agarrar essa oportunidade com unhas e dentes!
RENATÃO - Tá bom, mas por favor, esquece esse “seu”. Pode me chamar de Renatão. É como todo mundo me conhece aqui na área!
BABI - Tudo bem, Renatão. Amanhã estarei na sua casa, com certeza!
A JOVEM AFASTOU-SE, CORRENDO, DEIXANDO O BOQUIABERTO RENATÃO BABANDO.
RENATÃO - Maravilhosa!... Que mulher!...
CORTA PARA:
CENA 4 - APARTAMENTO DE RENATÃO - SALA - INT. - DIA.
DETETIVE JONAS - Boa tarde. Queremos falar com o senhor Renato Itararé de Souza.
KONSTANTÓPULUS - O patrão não está, senhor. Foi à praia.
DETETIVE JONAS - (fez cara de espanto) Praia? São tres e meia da tarde.
KONSTANTÓPULUS - Pois é. Tenho ordens para chamá-lo às quatro.
ARAKEN - Que boa vida, hem? Escute aqui, ele não faz nada?
KONSTANTÓPULUS - Sim. Meu patrão é produtor cinematográfico.
ARAKEN - Então, diz aí um filme dele.
KONSTANTÓPULUS - Eu não sei, senhor. Nunca vou ao cinema.
DETETIVE JONAS - Ele deve ter uma grana firme. Pra manter essa vida! Mas de onde vem essa grana, é um mistério que eu nunca consegui decifrar.
KONSTANTÓPULUS - (pigarreou) Bem, os senhores podem voltar mais tarde, eu digo ao patrão.
DETETIVE JONAS - Nada disso. Nós viemos aqui falar com você mesmo.
KONSTANTÓPULUS - (se assustou) Comigo? Mas eu não sei de nada.
DETETIVE JONAS - Como você diz que não sabe de nada, se eu não disse do que se trata?
ARAKEN - Ele deve ter ouvido a conversa entre os dois, isto é, Nívea Louzada e Renatão, na noite do crime. Ela esteve aqui e você ouviu o que eles conversaram.
DETETIVE JONAS - Se você disser o que ouviu, nada vai lhe acontecer. Senão, vai ter que vir comigo ao Distrito.
KONSTANTÓPULUS - (recuou, ainda mais amedrontado) Mas eu não ouvi nada. Seria uma falta de educação.
DETETIVE JONAS - (repetiu a pergunta, pausadamente) Você não ouviu mesmo? Nem uma palavra?
KONSTANTÓPULUS - Nem uma palavra! Juro!
JONAS E ARAKEN TROCARAM UM OLHAR.
ARAKEN - Eu não lhe disse? Ela esteve aqui naquela noite. (e dirigindo-se ao assustado mordomo) Você apenas confirmou que Nívea Louzada esteve aqui na noite do crime.
CORTA PARA:
CENA 5 - DELEGACIA - SALA DO DELEGADO FONTOURA - INT. - DIA.
RENATÃO ESTAVA SENTADO AO LADO DA MESA DO DELEGADO, SENDO INTERROGADO.
RENATÃO - (protestava) Francamente, Delegado, acho um absurdo que um cidadão tenha o seu carro roubado e seja obrigado a vir ao Distrito dar explicações!
DELEGADO FONTOURA - Está lavrado o protesto. Vamos agora às explicações. Em primeiro lugar, desculpe por não têrmos ainda localizado o seu carro.
RENATÃO - Mas o carro já apareceu.
DELEGADO FONTOURA - (fingiu de nada saber) Ah, já apareceu?! E o senhor não nos comunicou nada! Nós podíamos estar ainda procurando, perdendo tempo. Toda a máquina policial à sua disposição, trabalhando para o senhor. (sua voz aumentava à medida que sua fingida indignação crescia) É um procedimento estranho. Principalmente porque, como o senhor sabe, alguém utilizou seu carro para tentar atropelar um jornalista. E por coincidência, um jornalista que estava fazendo investigações por conta própria no caso Nívea Louzada. E o senhor, seu Renato, está envolvido nesse caso. Como se explica que em seu depoimento, tomado por mim há tempos, o senhor tenha omitido um detalhe tão importante: que Nívea Louzada estêve em seu apartamento na noite do crime?
RENATÃO - Ei, espera aí! De onde o senhor tirou essa história? Isso não é verdade! Ela não...
DELEGADO FONTOURA - (cortou, enérgico) O seu mordomo disse que ela estêve!
RENATÃO - (maneirou) Bem, tá bem. Vamos lá, que é que o senhor deseja saber?
DELEGADO FONTOURA - O que ela foi fazer naquela noite em seu apartamento.
RENATÃO - Ela me procurou para tentar recuperar as fotos. Ela queria as fotos de volta. Ia casar com o padre, não queria que ele soubesse que havia tirado fotos... sensuais.
DELEGADO FONTOURA - Nua, o senhor quer dizer, não é?
RENATÃO - (hesitante) Isso...
DELEGADO FONTOURA - E quando o senhor lhe disse que não podia conseguir a devolução das fotos, qual foi a atitude dela?
RENATÃO - Ficou chateada, é claro, mas compreendeu que eu não tinha culpa. Até me agradeceu o que tinha feito por ela. E foi-se embora.
CORTA PARA:
CENA 6 - MIRANTE DO LEBLON - EXT. - DIA.
MARCOS E VERINHA SALTARAM DA MOTO E, RETIRANDO OS CAPACETES, SENTARAM NUM BANCO DA PRAÇA, ADMIRANDO A BELA VISTA DAS PRAIAS DO LEBLON E IPANEMA.
MARCOS - Você tá legal, mesmo, gata?
VERINHA - Agora tou (fez uma pausa, olhando o mar, expressão de tristeza) Fiquei muito triste... você sabe... por ter perdido nosso filho.
MARCOS - Verinha, na boa... eu não tava preparado pra ser pai. Nem emprego fixo eu tenho... meu velho é que me banca, você sabe...
VERINHA - Eu sei disso. Mas, se a criança nascesse, a gente ia ter que se virar, não ia?
MARCOS - Ia. Nem sei como ia ser... mas, fazer o que, né... (e aliviado) Só que, agora, a situação é outra. Voltou tudo a ser como era antes.
VERINHA - É. Voltou...
MARCOS - E a gente pode namorar muito, sem se preocupar com nada... a não ser com a gente (abraçou-a) Vem cá... me dá um beijo, vai.
CORTA PARA:
CENA 7 - APART-HOTEL - APARTAMENTO DE D. CONSUELO - SALA - INT. - DIA.
SAMUCA - Eu sei que alguma coisa aconteceu pra você ficar assim... Por que não me conta?
CONSUELO - Non es nada, Samuquito. Solamente una enxaqueca...
SAMUCA - Não é verdade. E esse tal de Dom José, que veio do México falar com você e está vindo para cá? Veio fazer o quê?
CONSUELO - Ah, sí. Dom José, além de mi procurador en mi negócios, es un gran amigo en México.
A CAMPAINHA TOCOU. SAMUCA FITOU A MULHER, SIGNIFICATIVAMENTE, E DIRIGIU-SE PARA A PORTA. DOM JOSÉ, UM HOMEM GORDO, DE SOBRANCELHAS GROSSAS E TERNO BEM CORTADO, ENTROU NA SALA.
CONSUELO - Dom José, entonces usted veio mismo!
DOM JOSÉ - Buenos dias, Dona Consuelo! Io necessitava vir para hablar pessoalmente con usted!
CONSUELO - (fez as apresentações) Dom José, esto es Samuca.... quiero decir, Samuel, mi esposo.
SAMUCA E DOM JOSÉ APERTARAM-SE AS MÃOS.
DOM JOSÉ - Dona Consuelo, o que me traz ao Brasil es...
CONSUELO - (cortou) Io creo que devemos hablar en particular... (e para o marido) Usted non se importa, non es, Samuquito?
SAMUCA - Non, non... fiquem à vontade.
CONSUELO E DOM JOSÉ DIRIGIRAM-SE PARA O QUARTO. SAMUCA FOI ATÉ O TELEFONE E DISCOU.
SAMUCA - (em voz baixa) Joaninha! Sou eu, Samuca!
DO OUTRO LADO DA LINHA, JOANINHA ATENDEU, DE MÁ VONTADE.
JOANINHA - O que você quer, Samuca? Eu falei que é pra você não me ligar, não me procurar mais, até resolver essa situação!
SAMUCA - Calma, Joaninha! Poxa, eu estava com saudades! Tenho pensado muito em você...
JOANINHA - (admitiu) Não vou negar que eu também penso muito em você... Mas não podemos...
SAMUCA - (cortou) Estão acontecendo umas coisas estranhas aqui!...
JOANINHA - O quê?
SAMUCA - Chegou do México o procurador de Consuelo, Dom José Quintana, e parece que trouxe más notícias. Isto é, talvez alguém que tenha morrido...
A VOZ DE CONSUELO SOOU BASTANTE ALTA, VINDA DO QUARTO EM QUE SE ENCONTRAVA COM DOM JOSÉ.
D. CONSUELO - (off) No! No es posible! Dios mio!
SAMUCA - Deve ser uma notícia terrível! Joaninha, vou ver o que tá acontecendo e depois falo com você! Te amo! Beijo!
SAMUCA DESLIGOU E CORREU PARA O QUARTO E FOI ENCONTRAR A MULHER COM A MÃO SOBRE O PEITO, À BEIRA DE UM COLAPSO. AJOELHOU-SE AO SEU LADO.
D. CONSUELO - Yo no creo... No puedo crer...
SAMUCA ERGUEU OS OLHOS PARA O ALTO, FITANDO O ADVOGADO.
SAMUCA - Qual foi a má notícia que o senhor trouxe?
FIM DO CAPÍTULO 50
Babi (Sandra Bréa)
e no próximo capítulo...
*** É carnaval. Tem início o desfile de fantasias do Municipal. Rodolfo Augusto aguarda, ansioso, a escolha da melhor fantasia pelos jurados!
*** Tem início o julgamento de Jurema de Alencar.
NÃO PERCA O CAPÍTULO 51 DE
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