segunda-feira, 21 de maio de 2012

ASSIM NA TERRA COMO NO CÉU - Capítulo 49

Novela de Toni Figueira
Inspirada na Obra de Dias Gomes


CAPÍTULO 49

Personagens deste capítulo:

VÍTOR
LEOPOLDO
DETETIVE JONAS
JUREMA
JOANINHA
DELEGADO FONTOURA
MÁRIO MALUCO
VERINHA
HELÔ
RENATÃO
SAMUCA
ADELAIDE
D. MARIETA
MÉDICO
KONSTANTÓPULUS

CENA 1  -  APARTAMENTO DE RENATÃO  -  ATELIÊ  -  INT.  -  DIA.
Continuação imediata da última cena do capítulo anterior.

RENATÃO  -  Espere aí! Eu tenho um álibi! Na hora do quase atropelamento, eu estava curtindo uma garota aqui mesmo, em casa.

DETETIVE JONAS  -  O senhor pode provar isso?

RENATÃO  -  É claro! Podem comprovar isso a garota e o meu mordomo, Konstantópulus! (e dirigiu-se ao mordomo, que assistia a tudo, em silêncio)  Não é mesmo, Konstan?

KONSTANTÓPULUS  -  Perfeitamente. Uma mulher maravilhosa, por sinal. Dona Gisela. Já esteve aqui outras vezes. Pràticamente, passaram a noite juntos.

CORTA PARA:

CENA 2  -  SAQUAREMA  -  CASA DE PRAIA -  EXT.  -  DIA.

O CARRO DO DELEGADO FONTOURA PAROU Á FRENTE DA BELA CASA DE PRAIA. MARIO MALUCO E VERINHA SALTARAM, ANIMADOS. FONTOURA FEZ UM RÁPIDO ALONGAMENTO APÓS A LONGA VIAGEM E CAMINHOU EM VOLTA DA RESIDÊNCIA COM A MULHER, ADELAIDE.

VERINHA  -  Que casa linda! Adorei, pai!

MARIO MALUCO  -  (resmungou)  Sei não... acho que esse fim de semana vai ser um porre! Haja saco! Enfim... tudo pra agradar o velho!

CORTA PARA:

CENA 3  -  ARPOADOR  -  CALÇADÃO  -  EXT.  -  DIA.
   
SAMUCA E JOANINHA CAMINHAVAM NO CALÇADÃO. O RAPAZ TENTAVA ANIMÁ-LA, MAS A MOÇA ESTAVA SÉRIA, INTROSPECTIVA.

SAMUCA  -  Quer uma água, um refri? Vou pegar...

JOANINHA   -  (cortou) Não quero nada. Só quero saber o que você quer de mim, por que me chamou aqui...

SAMUCA  -  Que é isso, Joana... tá tão séria, tão fria... Te chamei porque tava com saudades... Você sabe que eu te amo.

JOANINHA  -  Não me envolvo com homens casados! E nem acho certo você falar que me ama, casado com outra.

SAMUCA  -  Joaninha, tem um pouco de paciência, meu amor. Mais cedo ou mais tarde, a velha morre e a gente vai herdar uma bolada!

JOANINHA  -  (fitou-o, horrorizada) Você devia se envergonhar de falar assim! Torcer pra pobre velhinha morrer só pra ficar com a fortuna dela... Que falta de sensibilidade, Samuca! Sabe, às vezes tenho a sensação de que não te conheço!

SAMUCA  -  Peraí, Joaninha, eu não tou enganando ninguém. D. Consuelo sabe que não casei por amor. Foi ela quem me propôs casamento, dizendo que queria fazer de mim seu único herdeiro!

JOANINHA  -  Só que ela não morreu! Quer saber? Não acho certo a gente se ver enquanto você estiver casado com ela. Por favor, não me procure mais! Não quero mais te ver, Samuca! E vê se para de me procurar, pra repetir sempre a mesma coisa!

SAMUCA  -  (surpreso)  Que isso, Joana... você não pode tá falando sério... fiz tudo isso pela gente!

JOANINHA  -  Fez tudo errado, como sempre! Eu cansei, Samuca! Vou embora! Tchau!

JOANINHA DEU-LHE AS COSTAS E ATRAVESSOU A RUA, APRESSADAMENTE. SAMUCA SUSPIROU, DESANIMADO.

CORTA PARA:      

CENA 4  -  SAQUAREMA  -  CASA DE PRAIA  -  INT. E EXT. - DIA

FONTOURA PASSOU UM FIM DE SEMANA DE VERDADEIRA AGITAÇÃO COM A FAMÍLIA, EM SAQUAREMA. PESCOU COM MARIOZINHO, TOMOU BANHOS DE SOL, FEZ GINÁSTICA SUECA E ATÉ ANDOU À CAVALO GALOPANDO COMO QUALQUER GAROTO DE QUINZE ANOS. ERA UM ESFORÇO MUITO GRANDE QUE ELE FAZIA, NA TENTATIVA DE SE APROXIMAR DOS FILHOS, DE COMPREENDÊ-LOS E DIALOGAR COM ELES. ENFIM, PENSAVA CORRIGIR UMA FALHA QUE FÔRA NUNCA TER PARTICIPADO DAS COISAS QUE MARIO E VERINHA FAZIAM.

MARIO MALUCO  -  (apontando o cavalo em que o pai estava montado) Como conseguiu esse bicho, seu delega?

FONTOURA  -  É emprestado de um amigo, o José Eugênio. Aliás, você deveria conhecer a família dele: a esposa, Maria do Sul e as filhas, Silvania e Talita. Eu ficaria bem mais tranquilo, meu filho, se você e sua irmã se cercassem de pessoas de bem. 

MARIO MALUCO  -  Qual é, velho! Quer escolher minhas amizades, agora?
FONTOURA  -  Não, mas acho que vocês iriam gostar de conhecer Silvania e Talita...  são duas belas moças... Uma faz faculdade de direito e a outra é analista de sistemas... são pessoas de grande futuro...

MARIO MALUCO  -  (irônico) Corta essa, velho... Não entra nessa, não. Deixa que eu mesmo escolho meus amigos, valeu? (segurou as rédeas do cavalo) Posso montar?

FONTOURA  -  (resignado) Ok, Ok, não tá mais aqui quem falou. Vá em frente!

VERINHA  -  (aproximando-se) Depois sou eu!

FONTOURA  -  Você, eu acho que não deve...

VERINHA  -  Por quê, pai?

FONTOURA  -  (fez alusão à gravidez) Você acha que pode?

VERINHA  -  Por que não?

MARIOZINHO MONTOU E CAVALGOU POR TODA A EXTENSÃO DA PRAIA, SOB O OLHAR DIVERTIDO DE VERINHA E FONTOURA.

VERINHA  -  Agora é minha vez! (gritou, quando o irmão retornou).

O ANIMAL ESTAVA INDÓCIL QUANDO VERA MONTOU EM SEU  LOMBO, AJUDADA PELO PAI E O IRMÃO. A GAROTA NEM SEQUER CONSEGUIU DOMINÁ-LO NOS PRIMEIROS INSTANTES, TALVEZ POR FALTA DE PRÁTICA, OU NERVOSISMO. O ANIMAL RABEOU UMA, DUAS, TRÊS VEZES E ACABOU SAINDO EM DISPARADA PRAIA AFORA.

FONTOURA  -  Cuidado! Puxa a rédea! Puxa a rédea!

MAS ERA TARDE DEMAIS. O CAVALO EMPINOU SÙBITAMENTE E VERA FOI ATIRADA AO SOLO, CAINDO DESACORDADA.

ATRAÍDA PELOS GRITOS, ADELAIDE SURGIU Á PORTA DA CASA.

ADELAIDE  -  (gritou, desesperada) Minha filha!!!

CORTA PARA:

CENA 5  -  IPANEMA  -  DELEGACIA  -  INT.  -  DIA.


LEOPOLDO REIS ESTAVA À FRENTE DO DETETIVE JONAS.

LEOPOLDO  -  Eu gostaria de visitar Dona Jurema de Alencar.

DETETIVE JONAS  -  Lembro do senhor. É o pai do Ricardo Miranda, certo?

LEOPOLDO  -  Isso mesmo. Meu nome é Leopoldo Reis.

CENA 6  -  DELEGACIA  -  SALA DE VISITAS  -  INT.  -  DIA.


LEOPOLDO  -  Eu soube que o julgamento foi marcado para dentro de quinze dias, e vim visitar você... pela primeira vez, depois que sofri o acidente.

JUREMA  -  (sorriu, agradecida) Obrigada, meu amigo. Eu soube do acidente.... mas não deveria. Está se recuperando ainda...
     
LEOPOLDO  -  Já estou quase bom, mas ainda sinto algumas dores nos rins e nas pernas. O médico recomendou bastante repouso, mas eu não aguentava mais.

JUREMA  -  (o tom de leve repreensão) Você veio me ver ainda sem poder andar direito...

LEOPOLDO  -  Só pensava em você, dia e noite... (sentiu que se abrira demais, ante o constrangimento dela) E Ricardinho, tem estado aqui?

JUREMA  -  (mentiu)  Sim... tem.

LEOPOLDO  -  Preciso conversar com o advogado. Saber como estão as coisas. Você tem que ser absolvida. Do contrário, eu não sei o que vai ser...

JUREMA  -  (sem perceber o sentido das palavras dele) Como?

LEOPOLDO  -  Você me entende... sabe a que estou me referindo.

OLHARAM-SE NOS OLHOS, ANGUSTIADOS.

JUREMA  -  Eu não sei, não sei do que você está falando.

LEOPOLDO  -  Jurema, eu... eu sou apaixonado por você, é isso!

JUREMA  -  Não pode ser! Isso não tem cabimento.... E se eu for condenada, tudo o que eu quero é que você me esqueça!

LEOPOLDO  -  Jurema, você deve calcular o conflito que trago comigo.

JUREMA  -  Eu lhe peço como um favor (disse, quase chorando) que nunca mais toque nesse assunto!

CORTA PARA:
  
CENA 7  -  HOSPITAL  -  SALA DE ESPERA  -  INT.  -  DIA.


FONTOURA E ADELAIDE AGUARDAVAM, AFLITOS. FONTOURA CAMINHAVA DE UM LADO PARA O OUTRO, SOB O OLHAR ANGUSTIADO DA MULHER.

ADELAIDE  -  Pára um pouco, Fontoura, está me deixando mais nervosa ainda!

FONTOURA  -  E esse médico que não aparece pra dizer como ela está!

O CIRURGIÃO ENTROU NA SALA E DIRIGIU-SE AO CASAL.

MÉDICO  -  Delegado, Dona Adelaide...

FONTOURA  -  Como está minha filha, doutor?

MÉDICO  -  Bem, a queda que sua filha sofreu do cavalo foi muito mais séria do que a princípio se julgava. Ela foi operada e, como consequencia, perdeu a criança.

ADELAIDE  -  Ah, meu Deus!

FONTOURA  -  Doutor, e ela... está fora de perigo?

MÉDICO  -  A moça está bem. Já está no quarto, recuperando-se da anestesia. Com licença.

O MÉDICO AFASTOU-SE. FONTOURA FITOU A MULHER, COM EXPRESSÃO DE ALÍVIO.

FONTOURA  -  Não posso negar que, para mim, esta foi uma solução. Um mal que veio para o bem de nossa filha.

ADELAIDE  -  (indignada) Fontoura! Como pode falar assim?

FONTOURA  -  Eu não queria isso... mas aconteceu, ora! Agora, o jeito é aceitar a vontade de Deus.

CORTA PARA:

CENA  8  -  APARTAMENTO DE EMILIANO  -  SALA  -  INT.  -  DIA.

D. MARIETA ABRIU A PORTA E VÍTOR ENTROU.

VÍTOR  -  Como vai, D. Marieta? Recebi seu recado e vim assim que pude...

D. MARIETA  -  Obrigada por ter vindo, Vítor. (mostrou-lhe o sofá) Sente-se. Chamei você, na ausência de Emiliano, para confessar não estou mais convencida de que tenha sido mesmo Jurema de Alencar quem matou Nívea.

VÍTOR  -  (fitou-a, surprêso) O que fez a senhora chegar a essa concluisão?

D. MARIETA  -  Aquele jornalista, Araken Teixeira, me convenceu de que não podia ter sido ela. Então, comecei a procurar nas coisas de Nívea alguma indicação, alguma pista. (parou de falar um instante, como para observar o efeito de suas palavras) A noite passada, tive um sonho. Nívea me apareceu e disse que eu procurasse nos objetos encontrados na praia, junto ao corpo.

D. MARIETA LEVANTOU-SE E DIRIGIU-SE PARA O QUARTO, DE ONDE VOLTOU COM UM PEQUENO COFRE. ABRIU-O E ESPALHOU OS OBJETOS SOBRE A MESA. HAVIA UM ANEL, UMA CORRENTE COM UM MEDALHÃO, UM ESTÔJO DE BASE, UM LENÇO, UMA CARTEIRINHA DE IDENTIDADE, ALGUMAS MOEDAS E UM LIVRINHO DE TELEFONES.

D. MARIETA  -  Estão todos aqui, desde que a Polícia os devolveu. No momento em que o delegado me pediu para reconhecê-los, eu estava desnorteada, mal olhei. Pareceu-me que tudo era realmente de Nívea. Agora é que fui olhar detidamente: este medalhão não era de minha filha!

VÍTOR  -  (levantou-se, perturbado) Não era?! A senhora tem certeza?
     
D. MARIETA  -  Nívea tinha realmente um parecido. Daí a minha confusão.

D. MARIETA APANHOU OUTRO MEDALHÃO.

D. MARIETA  -  No estado em que estava, não percebi a diferença. Hoje encontrei o outro. Ela não tinha saído com ele naquela noite.

VÍTOR COMPAROU OS DOIS MEDALHÕES.

VÍTOR  -  A senhora acha que o medalhão encontrado com Nívea é de Helô?

D. MARIETA  -  Tenho quase certeza.

VÍTOR  -  A senhora viu Helô com este medalhão?

D. MARIETA  -  Vi. E me chamou a atenção justamente porque era parecido com o de Nívea.

VÍTOR  -  Pense bem, D. Marieta, a senhora está fazendo uma afirmação muito grave. Ela pode mudar o destino de várias pessoas.

D. MARIETA  -  Eu sei disso (respondeu, confiante)  Mas repito: esse medalhão não era de Nívea. E tem mais: o de Nívea tinha sido presente de Helô. Daí, naturalmente, a semelhança.

VÍTOR  -  Eu... posso levar esse medalhão?

D. MARIETA  -  Pode. Aliás, você não tem que pedir permissão: é de sua mulher.

VÍTOR  -  Isso não quer dizer nada. Mesmo que o medalhão seja dela, Nívea podia estar usando. Isso é comum entre amigas.

D. MARIETA  -  Claro, sempre se arranja uma justificativa, quando se quer esconder a verdade.
      
VÍTOR  -  Eu não quero esconder nada, D. Marieta. Só que ainda não estou convencido de que Helô tenha alguma culpa.

D. MARIETA  -  Você não quer se convencer (disse, sublinhando as palavras) agora que está apaixonado por ela, como me revelou. Eu não sei que desculpas você vai dar à sua consciência por isso. Mas eu lhe preveni. Eu fiz todo o possível para evitar que você chegasse à situação em que está agora.

CORTA PARA:

CENA  9  -  APARTAMENTO DE HELÔ  -  SALA  -  INT.  -  NOITE.


VÍTOR REGRESSOU À CASA, À PROCURA DE HELÔ. MAS ELA NÃO ESTAVA. TIROU, ENTÃO. O MEDALHÃO DO BÔLSO E EXAMINOU-O, CUIDADOSAMENTE.

VÍTOR  -  E agora, meu Deus, o que eu faço?

A PORTA SE ABRIU, DANDO PASSAGEM A HELÔ.

HELÔ  -  (tinha os olhos vidrados) Vítor!

VÍTOR  -  Onde você estava?

HELÔ  -  Estive no Castelinho. Vítor, eu consegui me lembrar! É verdade, sim, eu estive com Nívea no bar! Eu fui lá agora e me lembrei perfeitamente!

ELA SE ABRAÇOU COM O MARIDO, EMOCIONADA.

VÍTOR  -  De que você se lembrou?

HELÔ  -  Da conversa que nós tivemos, pelo menos uma parte. Foi naquela mesa e o garçom chegou quando nós estávamos discutindo. Uma bobagem. Ela me chamou de Lucrécia e eu me irritei, disse que estava com ódio dela. Deve ter sido uma tolice qualquer que eu não me lembro. Depois, não sei, só consegui me lembrar até aí. Eu acho que saí com ela, não tenho certeza...

HELÔ OLHOU PARA VÍTOR, ANGUSTIADA.

HELÔ  -  (pediu)  Quero que você faça uma coisa: que vá comigo até lá, agora, até o lugar onde ela caiu!

VÍTOR  -  (espantou-se) Agora?!

HELÔ  -  Sim, já! É possível que eu me lembre de tudo!

O RAPAZ OLHOU PARA ELA FIXAMENTE E HESITOU, TEMENDO A VERDADE. POR FIM SE DECIDIU.

VÍTOR  -  OK, se você quer assim, vamos, então!
FIM DO CAPÍTULO 49 
Vítor e Helô 
e no próximo capítulo...
*** Vítor pressiona Helô, que fica muito perturbada ao perceber que o marido desconfia dela.
*** Renatão vê Babi na praia e fica "babando" diante de sua beleza e convida-a a ir ao seu apartamento, com a promessa de conseguir-lhe um papel em um filme.
*** Consuelo recebe a visita de um amigo mexicano e Samuca fica muito desconfiado ao vê-los cheios de segredos!

NÃO PERCA O CAPÍTULO 50 DE

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