quinta-feira, 3 de maio de 2012

ASSIM NA TERRA COMO NO CÉU - Capítulo 41

Novela de Toni Figueira
Inspirada na Obra de Dias Gomes

http://youtu.be/zIuryHGvAVc

CAPÍTULO 41

Personagens deste capítulo:
 
CARLINHA
KONSTANTÓPULUS
TIA COLÓ
RENATÃO
VÍTOR
HELÔ
ELISA
MANOLO
MARIETA
MISS JULY
OLIVEIRA RAMOS
SUSI

CENA 1  – APARTAMENTO DE HELÔ  -  SALA  -  INT.  -  DIA.

VÍTOR CHEGOU EM CASA E HELÔ FOI AO SEU ENCONTRO, TRAJANDO UM  AVENTAL.

HELÔ  -  Oi, amor! Estava na cozinha, tentando decifrar o livro de receitas da Miss July, pra  fazer um suflê de legumes pra  você. Quero muito saber cozinhar para o meu maridinho...

ABRAÇOU-O, APAIXONADA. VÍTOR PARECEU NÃO OUVI-LA.

VÍTOR  -  (falou, a voz grave) Helô... você se encontrou com Nívea, na noite em que ela foi assassinada?

HELÔ  -  (fitou-o, atordoada) Nossa, que pergunta, assim, sem mais nem menos...

VÍTOR  -  Esteve ou não?

HELÔ  -  Não. Você acha que se eu tivesse me encontrado com ela naquela noite, não teria lhe contado?

CORTA PARA:

CENA  2  -   APARTAMENTO DE RENATÃO  -  SALA  -  INT.  -  DIA.

TIA COLÓ ESTAVA CONCENTRADA FAZENDO UMA MANTA DE CROCHÊ, ENQUANTO CARLINHA BRINCAVA COM SUAS BONECAS. RENATÃO APROXIMOU-SE E SENTOU-SE AO LADO DA TIA.

 RENATÃO  -  (procurando as palavras com cuidado) Tia... eu estou preocupado, sabe?

TIA COLÓ  -  (ergueu os olhos sobre os óculos) Preocupado com o quê, Renatinho? 

RENATÃO  -  A senhora conhece a minha profissão... os perigos que tenho de enfrentar como agente internacional, não sabe?

TIA COLÓ  -  (sacudindo a cabeça) Ai, Natinho, você precisa arrumar outra profissão! Não gosto nem de pensar nos riscos que você corre!

RENATÃO  -  Pois é, tia... Tem uns espiões russos que estão vindo para o Rio, à minha procura... e vou ter que enfrentá-los. Tenho pensado muito na senhora e na Carlinha... Não quero que façam nada de mal a vocês... Por isso, acho melhor passarem um tempo em Niterói, como medida de segurança...

TIA COLÓ  -  (assustada) Que horror, Renatinho! Então, acho melhor irmos todos pra minha casa! Assim você também não corre risco! Fica escondido lá até eles irem embora!

RENATÃO  -  Não, de jeito nenhum, tia! E se eles me descobrirem lá? Vão saber onde é sua casa, também! Não, não! Não posso pôr a vida de vocês em perigo...

TIA COLÓ  -  Mas e você? E se capturarem você? Vão te torturar, Natinho, até contar tudo o que sabe!

RENATÃO  -  Eu sei me cuidar, tia. Pode deixar...

TIA COLÓ -  Sendo assim, é melhor eu e Carlinha voltarmos pra Niterói. Natinho, eu adoro você, meu filho, mas estou morrendo de saudades da minha casa, das minhas plantinhas... Sabia que Carlinha também vive perguntando pelas amiguinhas? Vai ser muito bom pra nós, voltar pra casa.... Mas,  e você?

RENATÃO  -  Vai dar tudo certo, prometo! E vou ver vocês toda semana, como sempre fiz, tia!

TIA COLÓ  -  (fitou-o, carinhosamente) Ah, Natinho, você é um menino de ouro! 

RENATÃO BEIJOU A TIA NA TESTA E PISCOU, DISFARÇADAMENTE PARA KONSTANTÓPULUS, QUE ASSISTIA A TUDO COM UM LEVE SORRISO DE IRONIA NOS LÁBIOS.

CORTA PARA:

CENA  3  -  CASTELINHO  -  INT.  -  DIA.

VÍTOR ACORDOU CEDO. ANTES DE IR À ESCOLA EM COPACABANA TRATAR DO EMPREGO DE PROFESSOR, PASSOU NO CASTELINHO, POIS A CONVERSA COM ARAKEN TEIXEIRA NO DIA ANTERIOR NÃO LHE SAÍA DA CABEÇA.

VÍTOR  -  Bom dia! Eu gostaria de falar com o senhor Manolo... ele é garçom.

AO OUVIR SEU NOME, MANOLO, UM HOMEM EM TORNO DE 40 ANOS, APROXIMOU-SE.

MANOLO  -  Sou eu. Em que posso servi-lo?

VÍTOR  -  Como vai? Meu nome é Vítor Mariano. Sou amigo de Araken Teixeira. Queria lhe falar sobre o assassinato de Nívea Louzada. Ele me disse que o senhor viu Nívea conversando com uma morena, de olhos grandes, pouco antes do crime...

MANOLO  -  Olha, moço, não foi bem assim. Aqui vêm muita gente, e não tem como lembrar de todos que vem aqui...

VÍTOR  -  (insistiu) Eu entendo, Seu Manolo... mas o senhor se recorda que Nívea esteve aqui, com uma moça, momentos antes de ser assassinada?

MANOLO  -  (desconfiado) Sim... sim, isso eu não posso negar.

VÍTOR  -  Por favor, é muito importante... o senhor lembra de algo, de alguma conversa entre elas, uma frase?...

MANOLO  -  (comprimiu os olhos, puxando pela memória) Tem uma coisa que me chamou a atenção, sim... Dona Nívea falava muito no nome de uma mulher, e isso irritava bastante a outra morena!

VÍTOR  -  (ansioso)  O senhor lembra desse nome? Por favor, tente recordar...

MANOLO  -  Sim, lembro o nome! Duas vezes fui levar bebidas. Duas vezes ouvi Nívea falar de uma tal Lucrécia.

VÍTOR  -  Lucrécia? Quem era Lucrécia? A moça que estava com ela?

MANOLO  -   Não sei. Não deu pra entender. Só sei que a morena disse, da segunda vez: “se falar novamente este nome, eu te dou na cara”. Mais nada.

CORTA PARA:

CENA 4  -  APARTAMENTO DE OLIVEIRA RAMOS  -  SALA  - INT.  -  DIA.

HELÔ CHEGOU À CASA DO PAI E FOI RECEBIDA COM ALEGRIA POR MISS JULY.

MISS JULY  -  (abraçando-a) Que saudade, minha querida! Me conta, como está a vida de casada?

HELÔ  -  (beijou-a no rosto, carinhosa) Melhor, impossível, Miss July! Vítor é um homem maravilhoso. Amável e cheio de cuidados para comigo. Não posso me queixar.

MISS JULY  -  Fico feliz em saber. Você sabe que torço e rezo muito pela sua felicidade!

HELÔ  -  Eu sei, Miss July. Você é a referencia que eu tive em toda a minha vida como a mãe que sempre cuidou de mim, me deu carinho, broncas... (respirou fundo e falou, séria) Miss July... tem uma coisa que não me sai da cabeça: minha mãe. 

MISS JULY FITOU-A, APREENSIVA, ADIVINHANDO OS RUMOS QUE A CONVERSA TOMARIA…

HELÔ  -  (continuou)  Miss July... por favor, eu confio muito em você, e sei que não mentiria pra mim. É sobre aquela mulher que invadiu meu quarto no dia do meu casamento... Me diga, Miss July... ela... é minha mãe, não é?

MISS JULY  -  (após uma breve pausa, afirmou) Não há como negar isso, Helô. Sim, Elisa é sua mãe.

HELÔ  -  (reagiu, emocionada) Eu sabia! Desde aquele dia ela não me saiu mais da cabeça! Miss July, eu preciso encontrá-la. Você sabe onde ela está, não sabe?

MISS JULY – É verdade. Eu sei onde fica a Casa de Saúde que sua mãe está internada.

HELÔ  -  (quase suplicante) Então... me leve até ela! Por favor!

CORTA PARA:

CENA  5  -  APARTAMENTO DE EMILIANO  -  SALA  -  INT.  -  DIA.

A CAMPAINHA TOCOU E MARIETA ABRIU A PORTA. ERA VÍTOR.

MARIETA  -  Vítor! Que surpresa! Já voltaram da lua-de-mel?

VÍTOR  -  (beijou-a no rosto) Voltamos ontem. Como vai, D. Marieta? E seu Emiliano?

MARIETA  -  Tudo na mesma. Emiliano está no banco, trabalhando. Estou indo para o salão daqui a pouco...

VÍTOR  -  D. Marieta, mesmo estando casado, não vou desistir de descobrir por que fizeram aquilo com Nívea...   É por isso que estou aqui. Por acaso, a senhora já ouviu falar de uma mulher chamada Lucrécia?

MARIETA  -  (fez uma pausa, pensativa)  Lucrécia... Lucrécia... já ouvi este nome... Já sei! Li esse nome no diário dela! Vamos ver!

OS DOIS ENCAMINHARAM-SE PARA O QUARTO DE NÍVEA.

CORTA PARA:

CENA 6  -  CASA DE SAÚDE  -  PÁTIO  -  EXTERIOR  -  DIA.

O DR. LEIVAS DIRIGIU-SE PARA O ENORME PÁTIO DA CASA DE SAÚDE, SEGUIDO DE PERTO POR HELÔ E MISS JULY.

DR. LEIVAS  -  Ela gosta muito de ficar aqui. Costuma ficar horas sozinha, fazendo seus bordados.

HELÔ  -  (emocionada) Meu Deus... esperei tanto por esse momento... nunca pensei que fosse encontrar minha mãe num lugar como esse!...

DR. LEIVAS  -  Desculpe, Helô, mas sua mãe é muito bem tratada aqui.... Seu pai não deixa faltar nada... As enfermeiras cuidam muito bem dela.

HELÔ  -  Eu não quis dizer isso, doutor. É que me fizeram acreditar que minha mãe morava em Nova York, que era uma pessoa realizada, saudável, independente...

MISS JULY  -  (apontou para um banco, onde Elisa bordava uma toalha, distraída) Helô, querida... veja... aquela é sua mãe!

COM O CORAÇÃO AOS PULOS, HELÔ APROXIMOU-SE DA SENHORA, SOB O OLHAR ATENTO DE MISS JULY E DO DR. LEIVAS.

HELÔ  -  Mamãe! Minha mãe!
 
ELISA ERGUEU OS OLHOS, SURPRESA, E FITOU HELÔ POR ALGUNS INSTANTES. EM SEGUIDA, LEVANTOU-SE, DEIXANDO O BORDADO CAIR NO CHÃO.

ELISA  -  Heloísa... minha filha!  É você mesma?

HELÔ  -  (abriu os braços, com lágrimas nos olhos) Sou eu, minha mãe. Vim buscar você.

ELISA  -  Minha filha! Verdade mesmo? Vai me levar... pra casa?

HELÔ  -  Vou, minha querida.

ELISA  -  (apanhou o pano do chão) Eu... posso levar meus bordados?

HELÔ SORRIU, COM TERNURA NO OLHAR.

HELÔ  -  É claro que pode, minha querida. Pode levar o que quiser.

A jovem acariciou os cabelos prateados da mãe, sob o olhar emocionado de Miss July e do Dr. Leivas.

CORTA PARA;

CENA  7  -  APARTAMENTO DE EMILIANO  -  QUARTO DE NÍVEA  -  INT.  -  DIA.

MARIETA ABRIU UMA GAVETA, RETIROU O DIÁRIO E FOLHEOU ALGUMAS PÁGINAS.

MARIETA  -  Achei! Quer ver? Está aqui, olhe: “Hoje Lucrécia me encheu a paciência. Estou desesperada! Não sei mais o que fazer!!” São palavras de minha filha.

VÍTOR  -  Mas então... a senhora e seu Emiliano nem imaginam quem seja Lucrécia?

MARIETA  -  Não temos a menor idéia! Aliás, nunca soubemos que Nívea tivesse uma amiga com esse nome.

VÍTOR  -  (constatou)  Porém amiga, conhecida, seja o que fosse, Lucrécia existe, eu agora tenho certeza! E Nívea estava desesperada, o que torna a coisa mais misteriosa!

CORTA PARA:

CENA 8  -  APARTAMENTO DE OLIVEIRA RAMOS  -  SALA  -  INT.  -  NOITE.

ERAM QUASE 7 DA NOITE, QUANDO HELÔ ADENTROU O APARTAMENTO DO PAI EM COMPANHIA DE MISS JULY E DA MÃE, ELISA.

HELÔ  -  (mostrou à mãe uma confortável poltrona) Sente-se aqui, minha mãe. (e para Senhorinha)  Onde está meu pai?

MISS JULY  -  Pela hora, deve estar no escritório...

CENA  9  -  APARTAMENTO DE OLIVEIRA RAMOS  -  ESCRITÓRIO  -  INT.  -  NOITE.

OLIVEIRA RAMOS FUMAVA UM CHARUTO E LIA UM JORNAL, QUANDO HELÔ ENTROU NO RECINTO.

HELÔ  -  Meu pai!

OLIVEIRA RAMOS  -  (ergueu os olhos e sorriu, feliz) Filha! Mas que surpresa boa!

ABRAÇARAM-SE, EMOCIONADOS.

HELÔ  -  Estava morrendo de saudades!

OLIVEIRA RAMOS  -  Nem me fale! Me conte, como foi a viagem? E Vítor?

HELÔ  -  Saiu cedo. Estava ansioso pra ver se consegue um emprego de professor numa escola em Copacabana.

OLIVEIRA RAMOS  -  Você sabe que, se ele concordasse, poderia trabalhar comigo no banco. Só que ele, educadamente,  recusou minha proposta...

HELÔ  - Pois é, ele quer procurar seu próprio caminho, sabe como é...

OLIVEIRA RAMOS  -  (resignado)  Eu entendo. Vítor é um homem íntegro, correto... e orgulhoso.

HELÔ  -  Pai... eu trouxe uma pessoa comigo.... ela está na sala...

OLIVEIRA RAMOS  -  Quem?

HELÔ  -  Minha mãe.

OLIVEIRA EMPALIDECEU.

OLIVEIRA RAMOS  -  Sua mãe? Então você... descobriu tudo?

HELÔ  -  (assentiu)  Sim... Obriguei Miss July a me levar até ela.

OLIVEIRA RAMOS  -  Filha, me perdoe. Só inventei aquela história dos Estados Unidos pra poupar você de mais um sofrimento... Tentei proteger você e fiz tudo errado...

HELÔ  -  (tranquilizou-o)  Miss July me contou tudo. Sei que você teve a melhor das intenções... Mas agora, temos que fazer o que é certo. Minha mãe, finalmente, está em casa. Na casa que, por direito, lhe pertence. Quero pedir seu consentimento para recebê-la de volta!

OLIVEIRA RAMOS  -  (aflito) Mas Helô, sua mãe é uma esquizofrênica! Ela precisa de tratamento.

HELÔ  -  Eu sei que ela é esquizofrênica. Já me convenci disso, e nesse estado, precisa de cuidados, ao invés de ficar relegada ao esquecimento numa Casa de Saúde. Podemos contratar uma enfermeira para cuidar dela aqui, 24 horas por dia.

OLIVEIRA RAMOS  -  (suspirou, resignado)  Filha, eu não tenho como negar isso a você. Mas... e Susi? Como vai reagir quando souber?

A PORTA SE ABRIU E SUSI ENTROU, NERVOSA.

SUSI  -  Posso saber o que está acontecendo aqui? O que aquela mulher está fazendo, na sala?

HELÔ  -  (indignada)  Quem você pensa que é pra falar assim? Dobre a língua quando falar dela! Aquela mulher é minha mãe e eu exijo respeito!

SUSI  -  Falo como esposa de seu pai! (e para o marido) Oliveira... eu não acredito que vai trazer esta mulher pra morar aqui! Diga que estou enganada!

OLIVEIRA RAMOS  -  Calma, Susi, vamos conversar...

SUSI  -  Se for isso, é um desaforo, uma imoralidade sua, trazer para dentro de casa uma ex-mulher! Daqui a pouco o senhor traz as outras também e transforma isto num harém! Oliveira, o sultão!   Essa,  não!   Da  minha  parte,  pode  ficar  com  todas!  Ou melhor: se trouxer esta senhora pra morar aqui, eu vou embora! A escolha é sua!

HELÔ  -  (avançou, fora de si) Mas o que é que essa Gata Amarela está querendo? Expulsar minha mãe daqui? De jeito nenhum. Ou ela fica aqui, ou vai morar comigo!

SUSI  -  Ótimo! Acho que o lugar dela é mesmo com você!

HELÔ  -  Que é que você tá querendo dizer?

SUSI  -  Não estou querendo dizer nada. Tou falando claro: se ela não sair desta casa, saio eu!

HELÔ  -  (gritou) Pois então, saia você!

SUSI -  (ofendida)  É pra já! Depois eu aviso pra onde você, Oliveira, deve mandar minhas coisas.

HELÔ  -  (fez um gesto de mofa) Não é preciso. Todo mundo sabe pra onde você vai: pro apartamento de Renatão! (e arrematando) Todo mundo sabe que você é gamada por ele e só está esperando uma chance de pedir o divórcio, pegar uma bolada e se mandar! Só meu pai não enxerga isso!

OLIVEIRA RAMOS  -  (indignado) Mas... que história é essa?! Isso é verdade? Fale, Susi. Exijo uma explicação!

FIM DO CAPÍTULO 41

    e no próximo capítulo...

*** Vítor continua suas investigações, na tentativa de descobrir quem é a mulher por trás de um nome: Lucrécia!

*** Susi não aceita a presença de Elisa na casa do marido. Elisa, por sua vez, começa a provocá-la.

*** Vítor recebe um estranho telefonema de uma mulher identificando-se como Lúcrécia. O que fará? Será uma nova cilada?

NÃO PERCA O CAPÍTULO 42 DE
   
  

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