quarta-feira, 27 de junho de 2012

ASSIM NA TERRA COMO NO CÉU - Capítulo 66

Novela de Toni Figueira
Inspirada na Obra de Dias Gomes


CAPÍTULO 66
Personagens deste capítulo:

VÍTOR
HELÔ
DR. LEIVAS
EMILIANO
RENATÃO
RODOLFO AUGUSTO
D. MARIETA
KONSTANTÓPULUS
MARIA REGINA

CENA 1  -  PENSÃO PRIMAVERA  -  FRENTE  -  EXT.  -  DIA.

Continuação Imediata da Última Cena do Capítulo Anterior.

HELÔ PAROU O CARRO EM FRENTE À PENSÃO. EM SEGUIDA, VÍTOR APROXIMOU-SE, COM UMA MOCHILA NAS COSTAS. HELÔ SALTOU, CORREU AO SEU ENCONTRO E ABRAÇOU-O, EMOCIONADA.

HELÔ  -  Meu amor eu lembrei! Eu lembrei!

VÍTOR  -  Lembrou o que? Não vá me dizer que...

HELÔ  -  (cortou) Eu lembrei do momento que dei a Nívea o medalhão! Foi muito antes de ela ser assassinada! Isso quer dizer que... que não fui eu! Eu não a matei! Não sou uma assassina! Eu não matei Nívea!

VÍTOR E HELÔ BEIJARAM-SE, LONGAMENTE, SEM SE IMPORTAR COM OS OLHARES DE CURIOSOS QUE PASSAVAM NA RUA, NAQUELE MOMENTO.

VÍTOR  -  Meu amor, eu nunca duvidei disso. Sempre soube que você era inocente. Nós só precisávamos arrumar um jeito de provar isso.

HELÔ  -  Eu tou tão aliviada, você nem imagina... sinto como se tivesse tirado um peso enorme das costas!

VÍTOR  -  Eu também estou muito feliz por você. Na verdade, por nós.

HELÔ  -  Vamos pra Teresópolis?

ABRAÇADOS, CAMINHARAM ATÉ O CARRO. HELÔ ENTREGOU-LHE AS CHAVES, ENTRARAM NO AUTOMÓVEL E PARTIRAM.

CORTA PARA:

CENA  2  -  APARTAMENTO DE EMILIANO  -  SALA  -  INT.  -  DIA.

NO DIA SEGUINTE, MARIETA SERVIU O ALMOÇO, EM SILÊNCIO. EMILIANO OBSERVOU-A, SENTADO À MESA,  E PARECIA LER SEUS PENSAMENTOS.

EMILIANO  -  Mais cedo ou mais tarde você vai saber, então acho melhor contar logo.

MARIETA  -  Do que você está falando?

EMILIANO  -  O Doutor Oliveira me fez confidencias, ontem, no banco. Ele me disse que Vítor e Helô fizeram as pazes e viajaram juntos.

MARIETA NÃO SE CONTEVE. BATEU A MÃO NA MESA, INDIGNADA.

MARIETA  -  Eu sabia! Não há a menor dúvida de que eles estão juntos! Você é um ingênuo, Emiliano... Eu vi nos olhos dele, ontem, quando ele disse que ia a São Paulo, que estava mentindo. Quando lhe perguntei se ia sozinho, ele não teve coragem de me olhar.

EMILIANO  -  E para quê ele precisava mentir sobre isso? Afinal, ela é mulher dele. Se eles também fizeram as pazes, ninguém tem nada com isso (levantou-se) Eu acho, Marieta, que você se preocupa demais com Vítor.

MARIETA  -  Não é com ele que eu estou preocupada. É com ela. Logo, vai aprontar de novo, você vai ver!

CORTA PARA:

CENA 2  -  TERESÓPOLIS  -  ARREDORES DO SÍTIO  -  EXT.  -  DIA.

VÍTOR E HELÔ GALOPAVAM NAS CERCANIAS DO SÍTIO DE OLIVEIRA RAMOS. ALGUM TEMPO DEPOIS, SALTARAM DOS CAVALOS E DEITARAM-SE NA RELVA, AOS PÉS DE UMA ENORME ÁRVORE.

HELÔ  -  (apoiando a cabeça nos ombros do marido) Adoro esta árvore. É linda, não acha?

VÍTOR  -  É. Este lugar é muito bonito.

HELÔ  -  Vítor... você vai voltar comigo para a nossa casa, não vai?

VÍTOR  -  (brincou) Isso é um pedido ou uma intimação?

HELÔ  -  Nenhum dos dois. Quero que vá só se for a sua vontade.

VÍTOR  -  (abraçou-a) Eu vou. Vou voltar pra nossa casa porque quero voltar a viver com minha mulher.

FITARAM-SE, COM AMOR E BEIJARAM-SE MAIS UMA VEZ.

HELÔ  -  Eu te amo.

VÍTOR  -  Também te amo, meu amor (franziu a testa, pensativo) Helô... estou preocupado com a sua situação. Precisamos esclarecer essa dúvida, sobre a morte de Nívea. Estive pensando... se você concordar, podemos convidar o Dr. Leivas para vir aqui.

HELÔ  -  (ergueu-se, surpresa) Aqui?!

VÍTOR  -  Isso mesmo. Sei que você não vai entender imediatamente, mas procure ouvir com atenção e concordará comigo. Foi muito importante o que aconteceu ontem. Agora eu começo a ter certeza que você é inocente. Mas o simples fato de lembrar-se, como lembrou, do momento em que deu a Nívea o medalhão, não é o bastante. Nem mesmo para nós. É preciso que você se lembre de tudo! Tudo o que fez naquela noite!

HELÔ  -  Mas o que é que você pensa? Que isso depende de mim? Se dependesse, eu já tinha lembrado! Ninguém mais interessada do que eu.

VÍTOR  -  (insistiu) Posso convidar o Dr. Leivas para vir a Teresópolis?

HELÔ  -  Tá bem. Faça o convite.

VÍTOR  -  Ótimo. Hoje mesmo vou ligar pra ele.

CORTA PARA:

CENA  3  -  APARTAMENTO DE RODOLFO AUGUSTO  -  ATELIÊ  -  INT.  -  DIA.

RODOLFO AUGUSTO ESTAVA ATAREFADO DESENHANDO ALGUNS CROQUIS, QUANDO MARIA REGINA ENTROU NO ATELIÊ, EXIBINDO UMA REVISTA.

MARIA REGINA  -  Gugu, olha que bacana: a nossa foto está na capa da “Mulher de Hoje”!

RODOLFO AUGUSTO  -  (arrancou-lhe a revista das mãos) Deixa ver! “Rodolfo Augusto e Maria Regina – o casamento do ano”.

MARIA REGINA  -  Conseguimos, Gugu! Conseguimos! Agora somos famosos, capa de revista!

RODOLFO AUGUSTO  -  (com desdém) Eu já era famoso, há muitos anos. O que eu queria era voltar à mídia. Só lembram de mim na época do carnaval, por causa das  fantasias... Você conseguiu muito mais do que eu. Em poucos meses, tornou-se uma top model conhecida no Brasil inteiro! E isso, graças a quem?

MARIA REGINA  -  (beijou-o no rosto) Graças a você, meu Xuxuzinho! Nosso casamento vai ser o máximo! Aí sim,vai ser a glória total!

RODOLFO AUGUSTO  -  (desconfiado) Não sei, não... Agora que está se aproximando o dia, tá me dando um frio na barriga.... um medo!...

MARIA REGINA  -  O que é isso, Gugu? Já combinamos tudo: vai ser um casamento de mentirinha, não de fato. Até porque você não é chegado...

RODOLFO AUGUSTO  -  Mentirinha nada! Vamos casar na frente do juiz, assinar os papéis e tudo o mais!

MARIA REGINA  -  Sim, claro. Mas nem vamos dormir juntos, por isso não precisa ficar nervoso!

RODOLFO AUGUSTO  -  (preocupado) Você não acha que levamos essa história longe demais? Ai, meu Deus, só de pensar...

MARIA REGINA  -  Olha aqui, Gugu, nem pense em desistir agora, pelo amor de Deus! Esqueceu o que nós combinamos? Depois de um tempo, a gente separa... e a amizade continua! (T) Cadê o meu vestido de noiva?

RODOLFO AUGUSTO  -  (apontou para uma bancada) Ali. Falta só uns arremates...

MARIA REGINA PEGOU E VESTIDO, COLOU AO CORPO E CIRCULOU PELA SALA, DESLUMBRADA.

MARIA REGINA  -  Está maravilhoso! O casamento do ano! Vamos brilhar mais uma vez! (e delirando) A sociedade carioca, as colunas sociais, a internet... todos vão se curvar diante de nós!

CORTA PARA:

CENA  4  -  TERESÓPOLIS  -  CASA DO SÍTIO  -  SALA  -  INT.  -  DIA.

DR. LEIVAS  -  Como vai, Vítor? Como tem passado, Helô?

VÍTOR  -  Obrigado por ter vindo, Dr. Leivas. Por favor, fique à vontade.

O MÉDICO SENTOU-SE AO LADO DE HELÔ.

DR. LEIVAS  -  Helô, eu e Vítor conversamos muito a seu respeito. Falamos na possibilidade de hipnotizar você. Já foi hipnotizada alguma vez?

HELÔ  -  Já... A meu pedido, Dr. Oto, o meu analista, fez uma experiencia. Mas ele é analista. Condena o hipnotismo.

DR. LEIVAS  -  Eu também tenho as minhas objeções. Há casos  em  que  se  pode  obter  bons resultados.  Em  outros,  é até prejudicial. E ainda há outros em que o hipnotismo não tem nenhum valor.

VÍTOR  -  Em casos de amnésia, tenho lido...     

DR. LEIVAS  -  Sim, Vítor, há casos de amnésia em que o doente foi curado pelo hipnotismo. Há outros casos em que os resultados foram negativos. No caso dela, esse nunca me pareceu um método adequado.

VÍTOR  -  Por quê?

DR. LEIVAS  -  Porque a amnésia, neste caso, é uma espécie de defesa. O inconsciente não quer lembrar o que aconteceu naquela noite.

VÍTOR  -  (ansioso) Mas em estado hipnótico ela não se lembrará?

DR, LEIVAS  -  Pode mentir.

VÍTOR  -  Isso, caso ela tivesse realmente culpa. Mas como eu estou certo que não, acho que ela vai dizer a verdade. Isto é, vai relembrar tudo, exatamente como aconteceu.

O MÉDICO PENSOU UM INSTANTE, COMO SE ESTIVESSE PESANDO AS POSSIBILIDADES.

DR. LEIVAS  -  Também é possível. De qualquer maneira, pode-se fazer uma experiencia.

VÍTOR OLHOU PARA A ESPOSA.

VÍTOR  -  Você está de acordo?

HELÔ  -  Estou. Antes, eu não estava. Tinha medo. Agora, não.

VÍTOR  -  Medo de quê? Você fez tanta análise, é quase a mesma coisa.

HELÔ  -  Não, não é. Na análise a gente está consciente e pode controlar, inclusive, as recordações. Nunca tive coragem de me deixar hipnotizar de uns tempos para cá porque... eu tinha medo da verdade.

VÍTOR  -  (falou, com segurança) Mas você não tem mais. Você quer se convencer de uma vez por todas que é inocente, dissipar as dúvidas que possam existir no seu espírito.

HELÔ  -  Isso mesmo.

DR. LEIVAS  -  Então, vamos tentar (indicou uma poltrona) Sente-se aqui.

HELÔ SENTOU-SE, CONFORTAVELMENTE, E O MÉDICO INICIOU O TRABALHO.

DR. LEIVAS  -  Você vai dormir... Quando eu contar cinco, você estará dormindo tranquilamente... Você já está sentindo as pálpebras pesadas... O sono está vindo... Um... dois... tres... quatro... cinco...

HELÔ PENDEU A CABEÇA PARA O LADO. ADORMECEU.

DR. LEIVAS  -  (continuou) Você está dormindo, dormindo profundamente, Helô... você está me ouvindo?

HELÔ  -  Estou...

DR. LEIVAS  -  Então você vai responder a umas perguntas que vou lhe fazer. Quero que diga a verdade, nada de mentiras. A verdade. Você se lembra da noite em que Nívea foi assassinada?

HELÔ  -  Lembro...

O MÉDICO OLHOU PARA VÍTOR, SATISFEITO.

DR. LEIVAS  -   Você vai me descrever todos os seus passos naquela noite. Até voltar para casa. Quero simplesmente que me diga a verdade. Só a verdade, entendeu?

HELÔ APRUMOU A CABEÇA, MAS COM OS OLHOS SEMPRE FECHADOS.
.
HELÔ  -  Sim, eu direi toda a verdade.

CORTA PARA:

CENA 5  -  PRAIA DE IPANEMA  -  EXT.  -  DIA.

AO LADO DE DOIS AMIGOS DE PRAIA, RENATÃO, TRAJANDO APENAS BERMUDA DE TACTEL E ÓCULOS DE SOL, OBSERVAVA COM ATENÇÃO UMA BELA MORENA DE CORPO ESCULTURAL QUE, REBOLANDO SENSUALMENTE, ENCAMINHAVA-SE PARA O MAR, MERGULHANDO GRACIOSAMENTE.

RENATÃO  -  Vocês tão vendo, não é? Tou aqui, quieto, curtindo esse sol maravilhoso, e vem essa aparição me tentar! Assim não dá! Assim eu fico louco...

KONSTANTÓPULUS  -  Patrão!

O PLAYBOY VOLTOU-SE, SURPRESO COM A CHEGADA REPENTINA DO MORDOMO, QUE, VESTIDO A CARÁTER, CHAMAVA A ATENÇÃO DOS BANHISTAS AO CAMINHAR COM CERTA DIFICULDADE SOBRE A AREIA FOFA DA PRAIA.

RENATÃO  -  Konstan! O almoço tá pronto? Por quê não tocou a trombeta?

KONSTANTÓPULUS  -  (a expressão séria) Não é isso, patrão. Achei melhor vir pessoalmente. Sua tia Coló acabou de ligar de Niterói.

RENATÃO  -  (encarou-o, preocupado) Minha filha! Aconteceu alguma coisa com ela?

KONSTANTÓPULUS  -  Ela está doente, com febre alta. Sua tia me parecia bastante preocupada.

INCONTINENTI, RENATÃO RECOLHEU SEUS PERTENCES E ACENOU PARA OS COMPANHEIROS.

RENATÃO  -  Tchau, pessoal! Tenho que ir pra Nitéroi agora mesmo!

EM SEGUIDA, ENCAMINHOU-SE, A PASSOS LARGOS, PARA O CALÇADÃO, SEGUIDO PELO MORDOMO.

CORTA PARA:

CENA  6  -  TERESÓPOLIS  -  CASA DO SÍTIO  -  SALA  -  INT.  -  DIA.

DR. LEIVAS  -  (tornou a perguntar) Você quer nos dizer essa verdade? Você está certa de que deseja mesmo, nos dizer tudo  o que aconteceu naquela noite? Então comece.

HELÔ ESTAVA SOB SONO HIPNÓTICO. VÍTOR TINHA OS OLHOS FIXOS NELA.

DR. LEIVAS  -  Veja se recorda, sem omitir nenhum detalhe. Eu quero saber tudo o que você fez naquela noite.

HELÔ  -  Eu estava muito angustiada. Não havia uma razão. Era aquela angústia que eu sentia de vez em quando. Medo de ficar só... medo das pessoas... medo de viver.

DR. LEIVAS  -  Mas o que foi que você fez?

HELÔ  -  Telefonei para Nívea. Pedi pra ela ir lá em casa. Percebi que ela estava com Vítor. Ela disse que não podia. Eu então ameacei fazer uma besteira. Mas era só pra impressionar. Tinha feito isso algumas vezes antes e dera resultado. Nívea prometeu que mais tarde iria me ver. Por isso, fiquei esperando. Acho que às nove horas, mais ou menos, Miss July me chamou para jantar. Mas eu não quis. Não tinha apetite. Então, esperei Nívea até às onze horas e resolvi sair. Sem destino. Rodei por vários   lugares.   Quando  passei  em  frente  ao  prédio  onde mora Renatão, vi Nívea saindo de lá. Estacionei o carro e fui ao encontro dela. Entramos no Castelinho.   

DR. LEIVAS  -  Quanto tempo ficaram lá?

HELÔ  -  Acho que meia hora, mais ou menos.

DR. LEIVAS  -  Até meia-noite?...

HELÔ  -  Ou um pouco mais... Não olhei a hora.

VÍTOR  -  (ao Dr. Leivas) Pergunte onde elas foram, depois que saíram do Castelinho.

DR. LEIVAS  -  Quer dizer que você saiu do Castelinho entre meia-noite e meia-noite e meia. Nívea saiu com você?

HELÔ HESITOU UM POUCO.

HELÔ  -  Sim, ela saiu comigo. Nós andamos até o meu carro, que estava estacionado perto, no lado da praia. Ficamos lá, paradas, um tempo, conversando.

DR. LEIVAS  -  Quanto tempo? Muito tempo?

HELÔ  -  Não sei. Quinze... vinte minutos...

DR. LEIVAS  -  No local em que Nívea caiu? Foi ali que vocês ficaram?

HELÔ PAROU DE FALAR. VÍTOR E O DR. LEIVAS OLHARAM-SE, SIGNIFICATIVAMENTE. VÍTOR PARECIA OUVIR O SOM DAS BATIDAS DESCOMPASSADAS DO PRÓPRIO CORAÇÃO.

FIM DO CAPÍTULO 66
e no próximo capítulo...


*** Danusa percebe a insegurança de Rodolfo Augusto com a proximidade do casamento com Maria Regina.


*** Mario Maluco, cheio de esperanças ao saber que Babi e Renatão não estão mais juntos, convida-a para sair!


*** O advogado Celso Barroso está empenhado em conseguir a  prisão de Helô!


MOMENTOS DECISIVOS!



NÃO PERCA O CAPÍTULO 67 DE





ASSIM NA TERRA COMO NO CÉU - Capítulo 65

Novela de Antonio Figueira
Inspirada na Obra de Dias Gomes


CAPÍTULO 65

 Personagens deste capítulo:

VÍTOR
HELÔ
OLIVEIRA RAMOS
EMILIANO
RENATÃO
SAMUCA
D. MARIETA
KONSTANTÓPULUS
MISS JULY
JOANINHA
 

CENA  1  -  ARPOADOR  -  CALÇADÃO  -  EXT.  -  DIA.


Continuação Imediata da Última Cena do Capítulo Anterior.
DIANTE DO BELO ESPETÁCULO DO PÔR-DO-SOL DE IPANEMA, AO LONGE, EM MEIO A DEZENAS DE PESSOAS QUE CAMINHAVAM NAQUELE FIM DE TARDE, VÍTOR E HELÔ SE RECONHECERAM E CAMINHARAM UM AO ENCONTRO DO OUTRO, COMO QUE ATRAÍDOS POR UM ÍMÂ.

ERA COMO SE NINGUÉM MAIS EXISTISSE, ALÉM DELES, NA FACE DA TERRA. APROXIMARAM-SE MAIS E MAIS, E SEM DIZER QUALQUER PALAVRA, ABRAÇARAM-SE, EMOCIONADOS, E BEIJARAM-SE NOS LÁBIOS, COM ARDOR.

VÍTOR  -  (murmurou ao seu ouvido) Senti muito a sua falta!...

HELÔ NÃO CABIA EM SI DE FELICIDADE. SORRIA, ENTRE LÁGRIMAS.
 

HELÔ  -  Eu te amo, Vítor Mariano.

VÍTOR  -  Eu também te amo, Heloísa.

CAMINHARAM DE MÃOS DADAS ATÉ A PEDRA DO ARPOADOR.

HELÔ  -  Tenho uma proposta pra te fazer! Mas não vale dizer não!

VÍTOR  -  Então não é uma proposta, é uma intimação!

HELÔ  -  É. Uma intimação! Vamos subir a serra, passar o fim de semana no sítio de Teresópolis? Quero andar a cavalo, sentir o cheiro do mato, andar descalça,enfim... curtir a natureza com você. Topa?

VÍTOR  -  Poxa, depois de ficar trancafiado naquela cadeia, como eu recusaria um convite desses? Ainda mais ao lado de uma mulher maravilhosa.... (ficou sério, de repente) Helô... tem uma coisa que eu preciso lhe contar.

PARARAM NUM LOCAL MAIS AFASTADO. HELÔ FITOU-O NOS OLHOS.

VÍTOR  -  Eu descobri que foi seu pai quem armou aquela cilada pra me pôr na cadeia!

HELÔ  -  (incrédula) Meu... meu pai?! Você tem certeza do que está me dizendo?

VÍTOR  -  (assentiu com a cabeça) Sinto muito, mas é preciso que você saiba.

HELÔ  -  Mas como meu pai pôde descer tão baixo? Eu sabia que ele tava indignado com as reportagens, mas chegar a esse ponto!...


VÍTOR  -  Ele contou com a ajuda do Renatão. Foi ele que contratou aqueles dois marginais, o Bola 2 e o Mãozinha, pra plantarem a droga embaixo do meu colchão. Susi, sua ex-madrasta também ajudou.

HELÔ  -  (arregalou os olhos) Susi?!

VÍTOR  -  Ela participou me atraido pra fora da Pensão, enquanto um dos bandidos fazia o serviço.

HELÔ  -  (chocada) Meu Deus, que horror!  Eu sempre soube que Renatão era um cafajeste e Susi uma vigarista, mas meu próprio pai!... (falou, indignada) Mas isso não vai ficar assim! Ah, não vai!

VÍTOR  -  (segurou-lhe os braços) Calma, Helô. Não devemos fazer nada de cabeça quente.

HELÔ  -  É um absurdo! Meu amor, nem sei o que dizer... no fundo, eu desconfiava que meu pai tinha algo a ver com essa história, mas é diferente de ter certeza! Eu... eu tou chocada! O que vamos fazer? Eles tem que pagar por isso!

VÍTOR  -  (falou com tranquilidade) Calma. Não vamos nos precipitar. Estamos falando do seu pai. Eu sei que nada justifica o que ele fez, mas pensei bastante.... eu sei que ele se sentiu atacado com as coisas que publiquei nos jornais. Foi o jeito que ele encontrou pra me fazer parar.

HELÔ  -  (balançou a cabeça, nervosa) Ah, não acredito, Vítor! Só um santo encontraria argumentos pra defender meu pai, depois de tudo o que ele fez!

VÍTOR  -  Não estou defendendo. Só tentei entender os seus motivos. Escuta, Helô: o importante é que a gente está aqui, junto. Estamos felizes, isso é o que importa. Quanto a eles... a vida vai se encarregar de dar o merecido castigo. Mas isso, pra mim, já não tem a menor importância, entende?

HELÔ OLHOU-O, COM ADMIRAÇÃO.


HELÔ  -  (falou, emocionada) Quanto mais te conheço, mais eu te amo e te admiro (e com lágrimas nos olhos) Eu preciso muito de você, Vítor. Obrigada por me ensinar a ser uma pessoa melhor.

VÍTOR  -  Que isso, Helô... Sou um homem cheio de defeitos. Também tenho meus momentos de fúria, vivo sempre tentando acertar...

HELÔ  -  Jura que nunca mais vai me deixar?

VÍTOR  -  Eu prometo. E se você tropeçar, vou estar sempre por perto pra te segurar.

ABRAÇARAM-SE POR LONGO TEMPO. AO FUNDO, O BARULHO DAS ONDAS CHOCANDO-SE NAS PEDRAS.

CORTA PARA:

CENA 2  -  APARTAMENTO DE RENATÃO  -  SALA   -  INT.  -  DIA.

RENATÃO ESTAVA DEITADO NO DIVÃ, COM UM COPO DE UÍSQUE NA MÃO. KONSTANTÓPULUS ENTROU NA SALA, TRAZENDO UM ENVELOPE.

KONSTANTÓPULUS  -  Meu patrão, chegou um convite pro senhor.

RENATÃO  -  (olhando para o teto) Não tou interessado, Konstan. Deixa aí...

KONSTANTÓPULUS  -  (insistiu, preocupado com o estado de prostração do playboy) Nem quer saber quem mandou?

RENATÃO  -  (entediado) Tá bem, Konstan. Veja de quem é o convite e pra quê...

KONSTANTÓPULUS  -  (abriu o envelope e leu) O senhor não vai acreditar! O convite é... do casamento de Rodolfo Augusto e Maria Regina! 


RENATÃO  -  (bebendo mais um gole) Tá vendo só, Konstan? Até aquela “borboleta” do Rodolfo Augusto arrumou alguém, e eu aqui, sozinho...

KONSTANTÓPULUS  -  Seu Renatão, não esqueça que o senhor tá sozinho porque não quer compromisso sério com ninguém!

RENATÃO  -  E eu tou errado por considerar o casamento uma instituição falida? Quem foi que inventou que uma argola no dedo é sinônimo de segurança? Eu desisto de tentar entender as mulheres, Konstan. Vou virar monge. Vou morar no Tibete.

SAMUCA SURGIU NA SALA, ANIMADO.

SAMUCA  -  (esfregando as mãos de contentamento) Velho, vou sair. Adivinha: finalmente a Joaninha aceitou sair comigo pra conversar! Devagar, vou conseguir amansar a fera.

RENATÃO RESPONDEU, COM TRISTEZA NO OLHAR.

RENATÃO  -  Boa sorte.

SAMUCA  -  O que é isso? Ô cara, que baixo astral é esse? Cê não acha que tá na hora de acabar com esse “luto”?

KONSTANTÓPULUS  -  Ele está assim desde ontem, quando dona Babi foi embora.

SAMUCA  -  Então chega, velho! Dois dias é tempo suficiente pra sair dessa e voltar ao ataque. Faz o seguinte: toma um banho, pôe uma roupa maneira e vem comigo pro Castelinho. Lá eu fico com a Joana e você encontra a turma. Vamos?

RENATÃO ENTREGOU O COPO A KONSTANTÓPULUS E ERGUEU-SE.

RENATÃO  -  É, acho que você tem razão. Eu tava pensando aqui  e  cheguei a uma conclusão: esse negócio de depressão, dor-de-cotovelo, não combina comigo. Já deu! (levantou-se) Você me espera?

SAMUCA E KONSTANTÓPULUS SORRIRAM, ALIVIADOS.

SAMUCA  -  Claro que eu espero, velho! Vai, vai lá! Não demora, hem!

CORTA PARA:

CENA 3  -  CASTELINHO  -  EXT.  -  NOITE.

SAMUCA E RENATÃO FORAM CAMINHANDO ATÉ O CASTELINHO.

RENATÃO OLHOU PARA DENTRO DO RECINTO ATRAVÉS DO VIDRO DA JANELA, DIVISOU UM GRUPO DE PESSOAS QUE BEBIAM E CONVERSAVAM ANIMADAMENTE. ENTRE ELES, NELSON MOTA, RICARDINHO E MARIO MALUCO. ACENOU.

RENATÃO  -  (para Samuca) E aí, vai entrar?

SAMUCA  -  Não. Marquei aqui com Joaninha. Vou esperar ela chegar.

RENATÃO  -  Bom, então mais tarde a gente se vê.

RENATÃO ENTROU NO BAR. SAMUCA FICOU PARADO ALGUNS MINUTOS E SORRIU AO VER JOANINHA CHEGAR.

SAMUCA  -  Oi.

JOANINHA  -  Oi.

SAMUCA INCLINOU-SE PARA BEIJÁ-LA, MAS A JOVEM ESQUIVOU-SE.

SAMUCA  -  Quer... entrar? Tomar um chopinho?

JOANINHA  -  Não. Você sabe que eu não bebo.


SAMUCA  -  Quer pegar um cineminha?

JOANINHA  -  Não tá meio tarde pra isso?

SAMUCA  -  Ah, é... desculpe.

JOANINHA  -  Escuta, Samuca: só vim porque você insistiu muito. Diga o que você quer, porque amanhã eu pego no batente e não posso demorar.

SAMUCA  -  Tá, tá... vamos... caminhar um pouco? Ou prefere sentar num banco, na praia?

JOANINHA  -  (deu de ombros) Tanto faz. Vamos.

ATRAVESSARAM A RUA, LADO A LADO, E SENTARAM-SE NUM BANCO DE CONCRETO NO CALÇADÃO.

SAMUCA  -  Senti muito a sua falta.

JOANINHA  -  A escolha foi sua. Preferiu casar com a velha a ficar comigo...

SAMUCA  -  Joana, você sabe que tudo o que eu fiz foi por...

JOANINHA  -  (cortou) Já sei, já conheço essa história. Agora que a velha morreu... pelo menos você realizou o sonho de ficar rico? Herdou toda a fortuna dela?

SAMUCA  -  Não. Ela me enganou. Estava falida.

JOANINHA ARREGALOU OS OLHOS, SURPRESA.

JOANINHA  -  O quê?! Não!

SAMUCA  -  (confirmou) Infelizmente, é verdade. A velha comprou mansão, carro e fez outras dívidas com o empréstimo do Banco Oliveira Ramos. Com a morte dela, tive que devolver tudo e    sair da mansão. Voltei pro apê do Renatão, com uma mão na frente e outra atrás.


JOANINHA NÃO CONSEGUIU SE SEGURAR. COMEÇOU A GARGALHAR HISTÈRICAMENTE, CHEGANDO A DOBRAR-SE, QUASE ENCOSTANDO A CABEÇA NAS PERNAS. SAMUCA, A PRINCÍPIO, FICOU SEM AÇÃO, E EM SEGUIDA, COMEÇOU A RIR AO MESMO TEMPO. PESSOAS QUE PASSEAVAM NO CALÇADÃO OLHAVAM COM CURIOSIDADE O CASAL DE MALUCOS QUE GARGALHAVA SEM PARAR.

CORTA PARA:

CENA  4  -  APARTAMENTO DE OLIVEIRA RAMOS  -  SALA DE JANTAR  -  INT.  -  DIA.

OLIVEIRA RAMOS E HELÔ TOMAVAM O CAFÉ DA MANHÃ. O BANQUEIRO LIA O JORNAL, ENQUANTO TOMAVA UMA XÍCARA DE CAFÉ. MISS JULY ENTROU COM O CELULAR DE HELÔ.

MISS JULY  -  Querida, seu celular estava tocando sem parar, no seu quarto.

HELÔ PEGOU O APARELHO, ANSIOSA E OLHOU NO VISOR.

HELÔ  -  Obrigada, Miss July. É Vítor!

OLIVEIRA ESTREMECEU. DISCRETAMENTE, ACOMPANHOU A CONVERSA, POR TRÁS DO JORNAL.

HELÔ  -  Oi, meu amor! Já tou morrendo de saudade! Sim, claro. Então você vai à casa do seu Emiliano, enquanto eu faço as malas e passo na pensão pra te pegar em duas horas. Ok. Um beijo!

OLIVEIRA RAMOS SOLTOU O JORNAL NA MESA E DIRIGIU-SE À FILHA, AUTORITÁRIO.

OLIVEIRA RAMOS  -  Posso saber o que está acontecendo? Será que eu entendi bem ou você fez as pazes com seu ex-marido e estava combinando viajar com ele? Que loucura é essa, Helô?

HELÔ  -  (balançou a cabeça, sorrindo) Não é nenhuma loucura, meu pai. E Vítor não é ex porque não nos separamos pra valer. Fiz as pazes com meu marido, sim, e como você ouviu, vamos viajar juntos!

OLIVEIRA RAMOS  -  (indignado) Mas... mas isso é um despropósito! Esse rapaz acabou de sair da cadeia, acusado de tráfico de drogas e...

HELÔ  -  (levantou-se, esforçando-se para controlar a revolta) Chega, papai! Não seja cínico! Nós já sabemos de tudo. Pode acabar com seu teatro!

OLIVEIRA RAMOS  -  (empalideceu) Do... do que você está falando?

HELÔ  -  (a voz cortante) Da trama sórdida que você engendrou, ajudado pelo Renatão, pra pôr meu marido na cadeia!

MISS JULY  -  Meu Deus!

HELÔ  -  (dirigiu-se a Miss July, aproveitando seu espanto ante a revelação) É isso mesmo que você ouviu, Miss July. Meu querido papai teve a coragem de bolar um plano maquiavélico, tendo como cúmplices, além do Renatão e a pilantra da Susi, dois marginais de quinta!

OLIVEIRA RAMOS  -  (acuado, apelou) Cale-se, Helô! Não admito que fale assim comigo! Sou seu pai e exijo respeito!

HELÔ  -  (encarou-o com desprêzo) Respeito? Como pode exigir, meu pai, uma coisa que você nem sabe o que é: respeito pelo ser humano?

OLIVEIRA RAMOS, VENCIDO, LEVOU A MÃO AO PEITO E DEIXOU-SE CAIR NA CADEIRA.

OLIVEIRA RAMOS  -  Ai... estou com falta de ar... Miss July, por favor.... me traga um calmante... Ai...


MISS JULY  -  (apavorada) Meu Deus, Doutor, fique calmo, vou depressa...

HELÔ  -  (sem se abalar) Não se preocupe, Miss July. Ele vai ficar bem.  Meu  pai  é  forte  como  um  touro. Isso é só encenação. (deu-lhe as costas e parou, na porta) Ah, já ia esquecendo: eu e Vítor conhecemos toda a verdade, não precisa fingir mais. E meu marido, como o homem generoso que é, perdoou você!

HELÔ SAIU DA SALA. IMEDIATAMENTE, OLIVEIRA POSICIONOU-SE NA CADEIRA E SUSPIROU, ALIVIADO. MISS JULY VOLTOU, ESBAFORIDA, COM O CALMANTE.

MISS JULY  -  Aqui está, Doutor!

OLIVEIRA RAMOS  -  (falou calmamente) Já estou bem, obrigado, Miss July. Por favor, sirva mais café. Hoje estou com uma fome de lobo!

CORTA PARA:

CENA 5  -  APARTAMENTO DE EMILIANO  -  SALA  -  INT.  -  DIA.

VÍTOR E EMILIANO CONVERSAVAM, ENQUANTO MARIETA SERVIA UM CAFEZINHO.

EMILIANO  -  Vítor, você sabe  que eu te considero quase um filho. Gosto muito quando vem nos visitar... Sinto que, com sua presença, nossa Nívea fica mais próxima de nós.

VÍTOR  -  Eu compreendo, seu Emiliano. Isso me deixa muito feliz, porque Nívea vai ter sempre um lugar muito especial no meu coração.

MARIETA  -  (entregando-lhe a xícara de café) Então podia vir nos ver com mais frequencia. Passa semanas sem dar notícias!

VÍTOR  -  Que é isso, D. Marieta. Sempre que posso, venho aqui. Passei um tempinho sem vir porque... bem, vocês sabem... com a minha prisão...


MARIETA  -  Ficamos indignados com a injustiça que fizeram com você! Falando nisso... já descobriram quem armou essa infâmia pra te prejudicar?

VÍTOR  -  (sem jeito) Dona Marieta, eu... preferia não falar sobre isso. O importante é que eu estou aqui, livre, e a vida continua.

EMILIANO  -  Isso mesmo, vamos mudar de assunto. Você poderia vir almoçar com a gente, no domingo. O que acha?

VÍTOR  -  Desculpem... domingo eu não posso.

MARIETA  -  Mas como... não pode por quê?

VÍTOR  -  (baixou os olhos, ruborizado, e mentiu) É que... eu vou viajar. Vou a São Paulo.

MARIETA  -  Vai a São Paulo... sozinho?

VÍTOR  - Vou. 

CORTA PARA:

CENA  6  -  PENSÃO PRIMAVERA  -  FRENTE  -  EXT.  -  DIA.

HELÔ PAROU O CARRO EM FRENTE À PENSÃO. EM SEGUIDA, VÍTOR APROXIMOU-SE, COM UMA MOCHILA NAS COSTAS. HELÔ SAIU DO CARRO, CORREU AO SEU ENCONTRO E ABRAÇOU-O, EMOCIONADA.

HELÔ  -  Meu amor eu lembrei! Eu lembrei!

VÍTOR  -  Lembrou o que? Não vá me dizer que...

HELÔ  -  (cortou) Eu lembrei do momento que dei a Nívea o medalhão! Foi muito antes de ela ser assassinada! Isso quer dizer que... que não fui eu! Eu não a matei! Não sou uma assassina! Eu não matei Nívea!

FIM DO CAPÍTULO 65

e no próximo capítulo...

*** Marieta fica indignada ao descobrir que Vítor mentiu; que não viajou para S. Paulo, e sim para Teresópolis em companhia de Helô, após terem feito as pazes.

 *** Em Teresópolis, Vítor sugere a Helô que chame o Dr. Leivas para que a hipnotize e, assim, ajude-a a lembrar de todos os seus passos na noite me que Nívea morreu. Helô concorda e o médico é convidado a subir a serra.

*** Rodolfo Augusto e Maria Regina comemoram a primeira capa de revista com a foto do casal.

*** Helô submete-se à hipnose e começa a lembrar da noite em que Nívea morreu!

momentos decisivos!

NÃO PERCA O CAPÍTULO 66 DE