Novela de Antonio Figueira
Inspirada na Obra de Dias Gomes
Inspirada na Obra de Dias Gomes
Fonte: http://youtu.be/zIuryHGvAVc
CAPÍTULO 63
Personagens deste capítulo:
VÍTOR
HELÔ
OLIVEIRA RAMOS
ARAKEN
RENATÃO
SAMUCA
SUSI
GOUVEIA NETO
DOM CARVAJAL
D. CONSUELO
DOM JOSÉ
BOLA 2
JOANINHA
MISS JULY
LÍDIA
ELISA
VÍTOR
HELÔ
OLIVEIRA RAMOS
ARAKEN
RENATÃO
SAMUCA
SUSI
GOUVEIA NETO
DOM CARVAJAL
D. CONSUELO
DOM JOSÉ
BOLA 2
JOANINHA
MISS JULY
LÍDIA
ELISA
CENA 1 - DELEGACIA - FACHADA - EXT. - NOITE.
VÍTOR E HELÔ FICARAM ALI, PARADOS, OLHANDO-SE LONGAMENTE.
VÍTOR - (quebrou o silêncio) Como vai, Helô?
HELÔ - (procurando disfarçar a emoção) Vou indo... e você?
VÍTOR - (sorriu, a expressão de alívio) Como vê, agora melhor. Acho que devo agradecer a você e a seu pai...
HELÔ - Isso não tem a menor importância... O importante é que, agora, você está livre.
VÍTOR - É. Armaram uma cilada pra mim. Imagina, eu, envolvido com tráfico de drogas!...
HELÔ - Fiquei indignada quando soube da injustiça que fizeram com você!
VÍTOR - Pois é. Mas eu vou descobrir quem fez isso.
HELÔ - (mostrou o carro, ali perto) Vamos? Vim buscar você, te dar uma carona.
VÍTOR - Ah, sim, obrigado. Vamos, então. Vou voltar pra Pensão da D. Didi.
HELÔ - Eu te levo.
VÍTOR - Obrigado, Helô.
ENCAMINHARAM-SE PARA O AUTOMÓVEL.
CORTA PARA:
CENA 2 - PENSÃO PRIMAVERA - FACHADA - EXT. - NOITE.
HELÔ PAROU O CARRO EM FRENTE À PENSÃO. VÍTOR SORRIU, AGRADECIDO E ABRIU A PORTA PARA SAIR DO VEÍCULO. HELÔ SEGUROU-O PELO BRAÇO, NUM IMPULSO.
HELÔ - Vítor! Espera!
VÍTOR - (fitou-a, ar tranquilo) Mais uma vez, obrigado por ter ido à delegacia, Helô. E obrigado pela carona também. Você é uma mulher muito especial.
HELÔ - Quando a gente se vê de novo?
VÍTOR - Eu te ligo. Prometo.
HELÔ - (sorriu, com ternura no olhar) Vou esperar.
VÍTOR BEIJOU-A NO ROSTO, SALTOU E PAROU JUNTO À JANELA DO AUTOMÓVEL.
VÍTOR - Boa noite, Helô. Dirija com cuidado, tá?
HELÔ SORRIU. O BRILHO NOS OLHOS E O SEMBLANTE TRANQUILO A DEIXAVAM AINDA MAIS BELA.
HELÔ - Boa noite, Vítor.
HELÔ DEU PARTIDA. VÍTOR FICOU PARADO ALGUNS INSTANTES OLHANDO O CARRO SE AFASTAR E ENTROU NA PENSÃO PRIMAVERA.
CORTA PARA:
CENA 3 - APARTAMENTO DE OLIVEIRA RAMOS - ESCRITÓRIO - INT. - DIA.
APÓS O CAFÉ DA MANHÃ, OLIVEIRA RAMOS TRANCOU-SE NO ESCRITÓRIO E LIGOU PARA O DIRETOR DA “FOLHA DO RIO”.
OLIVEIRA RAMOS - Gouveia Neto? Sou eu, Oliveira Ramos. Quase não dormi essa noite, pensando. Não estou gostando nada dos rumos que essa história está tomando. Pensei, pensei e cheguei a uma conclusão!
GOUVEIA NETO - (voz em off) Que conclusão, Doutor Oliveira?
OLIVEIRA RAMOS - Temos que iniciar nova campanha, e desta vez... acabando de vez com a reputação de Jurema de Alencar! Mostre-a para o povo como uma mulher fria, sem escrúpulos e capaz, sim, de cometer um crime brutal!
GOUVEIA NETO - (voz em off) Mas uma campanha dessas, Dr. Oliveira Ramos! Agora que a mulher já foi condenada, está na penitenciária... isto ia ficar antipático para o jornal.
OLIVEIRA RAMOS - Mas que diabo, vocês passaram o ano inteiro dizendo o diabo dela, fizeram dela uma fera. A “Fera de Ipanema”, e agora vocês ficam cheios de escrúpulos!
GOUVEIA NETO - (voz em off) Antes, era diferente. Ela ainda não tinha sido condenada. Agora, parece covardia.
O BANQUEIRO SE MOSTRAVA IMPACIENTE.
OLIVEIRA RAMOS - Gouveia, eu não tenho muito tempo a perder. Além do mais, sou um homem objetivo. Você se recusa a fazer a campanha?
GOUVEIA ESTAVA ACOVARDADO.
GOUVEIA NETO - (voz em off) Não, eu não disse que me recuso. Acho, apenas, inoportuna.
OLIVEIRA RAMOS - Não é inoportuna. Ademais, o advogado de defesa pediu revisão criminal e é preciso impedir que o juiz despache favoravelmente.
GOUVEIA NETO - (voz em off) Agora entendo.
OLIVEIRA RAMOS - E quanto a esse juiz, seria bom ver se ele não tem nenhum rabo de palha. Os juízes, antes de serem juízes, foram homens como os outros. Alguns ainda são. Quem sabe se esse não tem algum vício: jogo, bebida, mulheres!
CORTA PARA:
CENA 4 - APARTAMENTO DE OLIVEIRA RAMOS - SALA - INT. - DIA.
AO SOM DA CAMPAINHA, MISS JULY ABRIU A PORTA E DEPAROU COM A JOVEM MORENA, DE APARENCIA DISCRETA, OS CABELOS PRESOS NUM COQUE, NA ALTURA DA NUCA.
LÍDIA - Bom dia. A senhora é Miss July?
MISS JULY - Sim, sou eu. O que deseja?
LÍDIA - (sorriu, amável) Desculpe ter vindo assim, sem avisar. Meu nome é Lídia. Sou enfermeira... É que eu soube, no Hospital, pela secretária do Dr. Leivas, que estão precisando de uma pessoa para cuidar de uma senhora doente...
MISS JULY - Ah, sim! É verdade. Entre, por favor. Tem referências?
LÍDIA - (estendeu-lhe uma folha de papel) Tenho, sim. Aqui está.
MISS JULY - Muito bem. Venha, Lídia, vamos conversar na cozinha, enquanto tomamos um cafezinho.
CORTA PARA:
CENA 5 - CEMITÉRIO SÃO JOÃO BATISTA - CAPELA - INT. - DIA.
O CLIMA ERA DE PROFUNDA TRISTEZA NO VELÓRIO DE D. CONSUELO. EM VOLTA DO CAIXÃO, SAMUCA, DOM JOSÉ E DOM CARVAJAL, QUE BALANÇAVA A CABEÇA, INCONSOLÁVEL.
DOM CARVAJAL - (acercando-se ainda mais do caixão, fitando demoradamente o rosto da velha senhora) Mi pobre Consuelo! Hay muchas cosas que yo quería decir y no tive tiempo!
RENATÃO FEZ SINAL PARA QUE SAMUCA O ACOMPANHASSE A UM CANTO MAIS AFASTADO.
RENATÃO - (falou, em voz baixa) E então, velho, ela vai ser enterrada aqui mesmo, no Brasil?
SAMUCA - Não. Conversei com Dom Carvajal. Ele veio do México para providenciar o translado do corpo pra Cartagena, onde vivem os parentes dela. O avião sai às 10 da noite.
RENATÃO - Entendi (coçou o queixo, intrigado) Agora, a pergunta que não quer calar: e o empréstimo que ela fez no Banco Oliveira Ramos? E a mansão, o carro?...
SAMUCA - Sinceramente? Ainda não sei. Conversei com Dom José e ele acredita que Dom Carvajal vai voltar ao Brasil pra resolver esse “pepino”.
RENATÃO - Imagine quando o Oliveira Ramos souber que a velha morreu... vai ter um troço!
SAMUCA - É... se eles derem o cano, ele vai ter um prejuízão!
RENATÃO OLHOU PARA A PORTA E SUSSURROU PARA SAMUCA:
RENATÃO - Por falar no diabo... ele acaba de chegar! Olha aí, na porta!
SAMUCA VOLTOU-SE E VIU OLIVEIRA RAMOS, EXPRESSÃO SÉRIA POR TRÁS DOS ÓCULOS ESCUROS, ENTRAR NA CAPELA MORTUÁRIA E APROXIMAR- SE DO CAIXÃO. FICOU ALGUNS INSTANTES EM SILENCIO, E ACERCOU-SE DE DOM JOSÉ E DOM CARVAJAL.
OLIVEIRA RAMOS - Meus pêsames... fiquei realmente chocado, quando soube!...
DAÍ A INSTANTES, JOANINHA ENTROU, DISCRETAMENTE, ATRAINDO A ATENÇÃO DE SAMUCA, QUE FOI AO SEU ENCONTRO.
SAMUCA - Joaninha! Você veio... Que bom.
JOANINHA - (pesarosa) Você fez bem em me ligar... Coitada!... Me deu pena dela...
APROXIMARAM-SE DO CAIXÃO. JOANINHA PÔS UMA ROSA BRANCA NAS MÃOS DE D. CONSUELO.
JOANINHA - Que descanse em paz...
SAMUCA - Amém.
CORTA PARA:
CENA 6 - PENSÃO PRIMAVERA - QUARTO DE VÍTOR - INT. - DIA.
VÍTOR CAMINHAVA PELO QUARTO, PENSATIVO, SOB O OLHAR ATENTO DE ARAKEN.
VÍTOR - Tenho certeza, agora. Só há uma pessoa que pode esclarecer tudo sobre a minha prisão: o marginal que me acusou.
ARAKEN - “Bola 2”.
VÍTOR - Deve ter sido pago pra isso.
ARAKEN - E eu quase garanto que sei quem pagou. Mas precisamos ter certeza.
VÍTOR - A certeza, somente ele poderá dar. Mas “Bola 2” está preso.
ARAKEN - Não está mais. Saiu esta manhã... o que é estranho, também.
VÍTOR - Ele disse ao delegado Fontoura que havia se encontrado comigo na Galeria Alaska. Onde fica isso?
ARAKEN - Copacabana, no Posto 6.
VÍTOR - Vou atrás desse sujeito. Preciso falar com ele, de qualquer maneira!
CORTA PARA:
CENA 7 - APARTAMENTO DE OLIVEIRA RAMOS - QUARTO DE ELISA - INT. - DIA.
ELISA, SENTADA NUMA CONFORTÁVEL POLTRONA, FOLHEAVA, DISTRAÌDAMENTE, UMA REVISTA, QUANDO MISS JULY ENTROU NO QUARTO EM COMPANHIA DE LÍDIA.
MISS JULY - D. Elisa, quero lhe apresentar Lídia, sua enfermeira. Ela foi contratada pelo Dr. Oliveira pra cuidar da senhora.
ELISA FITOU-AS, COM DESDÉM.
ELISA - Não preciso de enfermeira.
MISS JULY - Que é isso, D. Elisa! Seja educada com a moça. Ela está aqui pra cuidar da senhora, dar seus remédios e refeições na hora certa, lhe fazer companhia...
LÍDIA - (sorriu, amável) Como vai. D. Elisa? Espero que sejamos amigas.
ELISA - Você não vai ficar o dia inteiro atrás de mim, vai?
MISS JULY - (pacientemente) Ela vai cuidar da senhora, D. Elisa, e vai estar por perto quando for preciso.
ELISA - (para Lídia) Você sabe bordar?
LÍDIA - Quase nada... a senhora me ensina?
ELISA - (sorriu, animada, e pegou uma pequena cesta de costura do criado-mudo) Sente aqui do meu lado. Eu te ensino. Você conhece o Roberto Carlos?
LÍDIA - Quem?...
MISS JULY - É o cantor...
LÍDIA - Ah, claro! Sou fã dele! Adoro suas músicas.
ELISA - Que bom. Nós vamos no casar, sabia? Ele me escreve toda semana!
MISS JULY SORRIU E RETIROU-SE DO APOSENTO, DEIXANDO ELISA E LÍDIA SÒZINHAS.
CORTA PARA:
CENA 8 - COPACABANA - GALERIA ALASKA - EXT. - NOITE.
SEGUINDO AS INDICAÇÕES DE ARAKEN, VÍTOR CAMINHAVA PELO CALÇADÃO DE COPACABANA. O MOVIMENTO DE TURISTAS ERA INTENSO, COM PESSOAS INDO E VINDO EM TODAS AS DIREÇÕES. CAMINHOU MAIS ALGUNS MINUTOS E, DE LONGE, DIVISOU O LETREIRO: “GALERIA ALASKA”.
VÍTOR - (entrando na galeria) É Aqui!
CAMINHOU, ESTUDANDO O AMBIENTE. PAROU EM FRENTE A UM BAR, ONDE ALGUMAS PESSOAS BEBIAM, E APROXIMOU-SE DO BALCÃO.
GARÇOM - Vai uma cervejinha aí, amigo?
VÍTOR - Não, obrigado. Uma água mineral, por favor.
O GARÇOM OLHOU-O COM CERTA ESTRANHEZA, MAS VÍTOR NÃO PERCEBEU. SUA ATENÇÃO FOI REPENTINAMENTE ATRAÍDA PARA A PRESENÇA DE DOIS HOMENS QUE CONVERSAVAM, EM ATITUDE SUSPEITA, A ALGUNS METROS DALI.
VÍTOR - (os olhos fixos num dos homens) “É ele! É o mesmo sujeito da foto que o delegado Fontoura me mostrou!”
O GARÇOM VOLTOU COM A ÁGUA, MAS VÍTOR ACABARA DE SAIR DO BAR.
GARÇOM - Cadê o cara? Aparece cada maluco!...
VÍTOR - Bola 2!
OS DOIS HOMENS VOLTARAM-SE AO MESMO TEMPO, ASSUSTADOS.
BOLA 2 - Quem é você? O que quer, meu chapa?
VÍTOR - Sou o homem que foi preso acusado de contrabando de drogas!
BOLA 2 EMPALIDECEU E, NUM IMPULSO, TENTOU CORRER, MAS VÍTOR FOI MAIS RÁPIDO: AGARROU-LHE O BRAÇO, COM FIRMEZA.
VÍTOR - Calma aí, rapaz! Você não sai daqui enquanto não me contar quem te mandou inventar aquela história pra polícia!
BOLA 2 - (fazendo uma careta de dor) Eu não sei de nada! Eu juro! Só falei pra polícia o que o Mãozinha de Veludo mandou!
VÍTOR - Mãozinha de Veludo!
CORTA PARA:
CENA 9 - IPANEMA - PRÉDIO DO APARTAMENTO DE SUSI - FRENTE - EXT. - NOITE.
O AUTOMÓVEL DE ARAKEN ESTAVA PARADO A ALGUNS METROS DO PRÉDIO. A UM PEDIDO DE VÍTOR, O JORNALISTA O LEVARA À RESIDENCIA DA EX-MULHER DE OLIVEIRA RAMOS. ESTAVAM OS DOIS NO INTERIOR DO VEÍCULO, OLHANDO ATENTAMENTE A ENTRADA DO PRÉDIO.
VÍTOR - Já estamos aqui há quase uma hora, e nada...
ARAKEN - Calma, o porteiro falou que ela saiu e não deve demorar. Temos que ter paciência...
QUASE MEIA HORA DEPOIS, RECONHECERAM A JOVEM LOIRA QUE CAMINHAVA EM DIREÇÃO Á PORTARIA DO EDIFÍCIO.
ARAKEN - (apontou) É ela!
VÍTOR, NUM IMPULSO, SAIU DO CARRO E CORREU EM DIREÇÃO À JOVEM, ALCANÇANDO-A.
VÍTOR - Susi!
SUSI VOLTOU-SE, SURPRÊSA. NERVOSA, TENTOU ENTRAR NO PRÉDIO, MAS VÍTOR A DETEVE, POSTANDO-SE À SUA FRENTE.
SUSI - O... o que você quer?
VÍTOR - (enérgico) Quero saber o nome da pessoa que mandou você me atrair pra fora da pensão, a fim de que o Mãozinha “plantasse” a muamba no meu quarto!
SUSI - Eu... eu não sei de nada....
VÍTOR - Sabe, sim. Você me atraiu pra fora da pensão, pra- quele sujeito colocar a droga debaixo do meu colchão! Quem mandou você, Susi? Fale!
SUSI REFLETIU POR ALGUNS INSTANTES E DECIDIU-SE.
SUSI - Está bem. Eu conto. Vou fazer isso porque você é um cara bacana e não merece a sujeirada que armaram pra você, Vítor. Quem me mandou foi o Renatão! Renato Itararé de Souza.
VÍTOR - (murmurou, pasmo) Renatão!...
SUSI - Mas não pense que é ele a pessoa que você procura. Essa pessoa se chama Carlos Eduardo Oliveira Ramos, seu sogro! O pai de sua querida Helô! Ele queria calar sua boca. E sabe por que? Porque sua Helozinha está cada vez mais encrencada!
FIM DO CAPÍTULO 63
e no próximo capítulo...
*** É revelada a identidade de Lídia e suas reais intenções fazendo-se passar por enfermeira de Elisa!
*** Babi discute com Renatão e, mais uma vez, dá-lhe um fora!
*** Vítor e Helô marcam um encontro.
NÃO PERCA O CAPÍTULO 64 DE
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