sábado, 16 de junho de 2012

ASSIM NA TERRA COMO NO CÉU - Capítulo 60

Novela de Antonio Figueira
Inspirada na Obra de Dias Gomes


CAPÍTULO 60

Personagens deste capítulo:

RICARDINHO
HELÔ
DELEGADO FONTOURA
VERINHA
ADELAIDE
RENATÃO
BABI
KONSTANTÓPULUS
SAMUCA
D. CONSUELO
DOM JOSÉ
DOM CARVAJAL
MATILDE
MISS JULY
OLIVEIRA RAMOS
D. DIDI
MARIA LÚCIA

CENA 1  -  APARTAMENTO DE RENATÃO  -  SALA  -  INT.  -  DIA.
Continuação Imediata da Última Cena de Capítulo Anterior.

RENATÃO LEVOU UM SUSTO E TOMOU A MOÇA NOS BRAÇOS.

RENATÃO  -  Enfim!

KONSTANTÓPULUS  -  (não se conteve) Também, pudera! Um mês inteiro aquela faixa passando pra lá e pra cá... até eu!

BABI  -  (empurrou Renatão) Não pense que lhe perdoei. Vim porque não aguento mais!

RENATÃO BEIJOU-A ARDENTEMENTE.

CORTA PARA:

CENA 2  -  APARTAMENTO DO DELEGADO FONTOURA  -  SALA  -  INT.  -  NOITE.


FONTOURA JOGOU O JORNAL SOBRE A MESA.

FONTOURA  -  Vejam vocês que vergonha! E o pior é que eu não posso fazer nada, porque tudo o que ele diz aí é verdade! Quando um padre vai pro jornal fazer o que esse tá fazendo, é o fim do mundo!

VERINHA LEU A MANCHETE DO “CORREIO DA TARDE” E RIU.

VERINHA  -  Olha aí, seu Delega, Ipanema deve estar em pânico!

FONTOURA  -  (teve um sorriso forçado) Não vejo nada engraçado.

VERINHA  -  Porque você não tem senso de humor. Imagino a cara do Oliveira Ramos, do Renatão, da Danusa Miranda, da Susi, com essa fofoca!

FONTOURA  -  E a minha também, você não imagina?! Com que cara eu vou ficar agora, depois que todo mundo souber que meus filhos são dois marginais?

VERINHA  -  Pera lá, ele não disso isso!

FONTOURA  -  Mas a vida que ele descreve aí que vocês levam, é a de doidos, irresponsáveis. Mariozinho, então, pelo que ele diz, está a um passo do crime. Meu filho, a um passo do crime!

VERINHA  -  Olha aí, nem o Rodolfo Augusto escapou!

VERA RIU NOVAMENTE.

FONTOURA  -  O pior é que agora o Juiz, se deferir o pedido de revisão, vai chamar essa gente toda.

ADELAIDE  -  (entrando na sala) Não é possível!

FONTOURA  -  É perfeitamente possível. É o que eu faria se fosse ele!

CORTA PARA:

CENA  3  -  APARTAMENTO DE RENATÃO  -  SALA  -  INT.  -  NOITE.

BABI E RENATÃO, DEITADOS NO DIVÃ, CONTINUAVAM EM ATITUDE ROMÂNTICA.

BABI  -  No princípio, quando aquele avião começou a passar com a faixa, minha mãe não queria nem que eu fosse à praia. Mas os dias foram passando e a faixa também. Na terceira semana, ela se virou para mim e disse: Vai, minha filha, vai falar com esse homem, senão ele é capaz de pichar a cidade toda com o seu nome.

RENATÃO TORNOU A BEIJÁ-LA, DEMORADAMENTE.

CORTA PARA:

CENA  4  -  APARTAMENTO DE OLIVEIRA RAMOS  -  QUARTO DE HELÔ  -  INT.  -  NOITE

HELÔ ESTAVA INQUIETA. LUTAVA CONTRA OS PRÓPRIOS SENTIMENTOS, NA TENTATIVA DE TIRAR VÍTOR DA CABEÇA, MAS ERA EM VÃO. UMA HORA, OUVIA MÚSICA, E NA OUTRA, TENTAVA LER UM LIVRO, MAS TUDO LHE REMETIA À LEMBRANÇA DO MARIDO.

MISS JULY BATEU NA PORTA E ENTROU COM UM BUQUÊ DE ROSAS VERMELHAS.

MISS JULY  -  Com licença, minha querida! Olhe! São pra você!

OS OLHOS DE HELÔ SE ILUMUNARAM. NUM ÍMPETO, APANHOU O BUQUÊ E PROCUROU O CARTÃO. ABRIU E LEU.

HELÔ  -  “Não vou desistir. Vou provar que sou o cara certo pra você. Por favor, me dê uma chance. Ricardinho” (com ar desanimado, devolveu as flores a Miss July) Coloque num vaso, Miss July... Obrigada...

MISS JULY  -  (surpresa)  Pensei que fossem do seu marido!... Helô! Não vá me dizer que aquele marginalzinho está dando em cima de você!... Não é possível!

HELÔ  -  É, sim, Miss July, o Ricardinho cismou comigo... Mas ele não é um marginal! Nos conhecemos há muitos anos e sempre percebi que tinha uma “queda” por mim, apesar de namorar a Nívea...

MISS JULY  -  Mas isso é um absurdo!

HELÔ  -  (revoltada) Absurdo por quê? Pois saiba que ele é um  cara  bonito,  interessante  e muito divertido! E eu me recuso a  ficar aqui, sofrendo por um cara que não confia em mim, que nunca me amou! (abriu a porta) Por favor, Miss July, me deixe sozinha!

MISS JULY SAIU E HELÔ FECHOU A PORTA. UM TOQUE NO CELULAR ATRAIU SUA ATENÇÃO. PEGOU O APARELHO.

HELÔ  -  Uma mensagem.... (leu) “Estou na portaria do seu prédio. Que tal um chope no Castelinho? Ricardinho” (pôs o aparelho no criado-mudo, pensativa) Ele não desiste!... Por quê não?

PENTEOU OS CABELOS, PASSOU UM BATON DISCRETO, TROCOU DE ROUPA RÀPIDAMENTE E SAIU.

CORTA PARA:

CENA  5  -  APARTAMENTO DE RENATÃO  -  SALA  -  INT.  -  NOITE.


RENATÃO SAÍRA PARA LEVAR BABI EM CASA E, NA VOLTA, TEVE UMA SURPRESA INESPERADA: OLIVEIRA RAMOS ESTAVA À SUA ESPERA.

OLIVEIRA RAMOS  -  Como vai, Renatão?

RENATÃO  -  Ora, quem diria! O banqueiro Oliveira Ramos, como diria aquele cantor,  na minha  humilde residencia!

OLIVEIRA RAMOS  -  Chama de humilde essa vista maravilhosa de Ipanema? Ora, Renatão, somos pràticamente vizinhos!

RENATÃO  -  A que devo a honra de tão ilustre visita?

OLIVEIRA RAMOS  -  Você já deve imaginar!... As reportagens do meu genro, Vítor Mariano, na “Folha da Tarde”!

RENATÃO  -  É verdade! O padre empunhou uma metralhadora giratória e não deixou pedra sobre pedra!
 

OLIVEIRA RAMOS  -  É, isso tá me tirando o sono. Estou muito preocupado. Como sei que você também foi citado numa dessas matéria, vim aqui pra termos uma conversa informal sobre o assunto, visto  que  estamos  metidos no mesmo saco.   Ademais,  as Consequencias já estão se refletindo também em algumas pessoas ligadas ao meu  banco.

RENATÃO  -  Imagino, Dr. Oliveira... mas acho que nao podemos fazer nada pra impedir...

OLIVEIRA RAMOS  -  (olhou-o, significativamente) Tem certeza?

RENATÃO  -  Bem... pelos meios legais, creio que não. Até o momento, ele não fez nenhuma calúnia. Ao que me parece, só falou a verdade...

OLIVEIRA RAMOS  -  (falou, incisivo) E... por outros meios?

RENATÃO SORRIU, MALICIOSO.

RENATÃO  -  Bem, eu conheço uma turma que podia nos ajudar. Turma da pesada. Só era preciso molhar bem a mão dos rapazes. Mas isso é com o senhor.

OLIVEIRA RAMOS  -  Ponho à sua disposição o numerário que quiser! Mas, pra todos os efeitos, eu não tenho nada com isso!

RENATÃO  -  Nem você nem eu!

CORTA PARA:

CENA 6  -  CASA DE D. CONSUELO  -  EXT.  -  NOITE.

O TAXI PAROU À FRENTE DA MANSÃO. O MOTORISTA RETIROU AS MALAS E DOM JOSÉ, EM COMPANHIA DE DOM CARVAJAL, DIRIGIRAM-SE PARA A PORTA PRINCIPAL DA CASA.

CORTA PARA:
    
CENA 7  -  CASA DE D. CONSUELO  -  SALA  -  INT.  -  NOITE.

D. CONSUELO E SAMUCA ESTAVAM NA SALA DE VIDEO, ASSISTINDO A UM FILME, QUANDO A CRIADA, MATILDE, ENTROU NO RECINTO.

MATILDE  -  (aproximando-se do casal) D. Consuelo,desculpem, mas...

D. CONSUELO  -  (cortou) Matilde, estamos en la mejor cena de la película, e tú nos interrompes!...

A VOZ POR TRÁS DE MATILDE, OS FEZ VOLTAR-SE, SURPRESOS.

DOM CARVAJAL  -  No he venido a recibirnos
, mi cara Consuelo?

SAMUCA, RÀPIDAMENTE, PÔS O FILME EM “PAUSE” E ACENDEU AS LUZES.

SAMUCA  -  Quem é esse?

D. CONSUELO  -  (empalideceu) Dom Carvajal! Pero ... ¡qué sorpresa!


DOM CARVAJAL  -  Agradable, espero.

D. CONSUELO  -  Sí, sí, por que no? (e para Dom José) Dom José, usted desobedeceu mis ordens e llamou Dom Carvajal!

DOM JOSÉ  -  Perdone, señora, pero la situación estaba volviendo insostenible! No había otra manera de ser no llamar Don Carvajal!


SAMUCA ADIANTOU-SE, NERVOSO.

SAMUCA  -  Peraí, peraí, peraí! Qual foi a parte do filme que eu perdi? Pode rebobinar a fita? Não tou entendendo nada!
  
D. CONSUELO   -  Samuquito, mi amore, no es nada...

SAMUCA  -  Consuelo, quer parar de me tratar como um débil mental? Já  faz  algum  tempo  que  venho  sacando  vocês! Tão  me
escondendo uma parada muito grave e vão ter que me contar agora! Quem é esse homem? O que tá acontecendo aqui?

DOM JOSÉ, D. CONSUELO E DOM CARVAJAL OLHARAM-SE, SEM SABER O QUE DIZER.

SAMUCA  -  (insistiu, incisivo) Como é, tou esperando! Vão abrir o jogo agora ou ninguém sai daqui!

DOM CARVAJAL  -  Mi amigo, podemos hablar en privado? Voy a explicar todo!

SAMUCA  -  Mas... mas... quem é o senhor?

DOM JOSÉ  -  Samuca, vaya con Don Carvajal a la oficina y escuche lo que el tiene que decir.


D. CONSUELO  -  Dom José, usted me traiu! Apunhalou-me pelas costas!

DOM JOSÉ  -  No había otra salida, D. Consuelo! Fiz esto por tu bien ...


D. CONSUELO  -  (balançou a cabeça, desolada) Estoy perdida! Está tudo acabado!...

DOM JOSÉ  - Cálmese, señora. Mira el corazón ...


D. CONSUELO  -  (desolada) Después do resultado desta conversa, será mejor morir de una vez por todas!

SAMUCA E DOM CARVAJAL DIRIGIRAM-SE PARA O ESCRITÓRIO.

CORTA PARA:

CENA  8  -  PENSÃO PRIMAVERA  -  RECEPÇÃO  -  INT.  -  NOITE.

ERAM MAIS DE ONZE DA NOITE, QUANDO VÍTOR SAIU DO QUARTO E ATRAVESSOU A RECEPÇÃO, SOB OS OLHARES CURIOSOS DE D. DIDI E MARIA LÚCIA.

D. DIDI  -  Vai sair, senhor Vítor?

VÍTOR  -  Estou sem sono... Vou caminhar um pouco.

MARIA LÚCIA  -  Bom passeio!

VÍTOR SAIU. MÃE E FILHA SE OLHARAM, PENALIZADAS.

D. DIDI  -  Coitado... parece tão solitário, tão perdido...

MARIA LÚCIA  -  É um belo homem. Deve tá sofrendo com o fim do casamento...

CORTA PARA:

CENA  9  -  CASTELINHO  -  INT.  -  NOITE.



RICARDINHO E HELÔ TOMAVAM O TERCEIRO CHOPE, SENTADOS A UMA MESA DO BAR. A JOVEM ESTAVA UM POUCO MAIS “ALEGRE”, SOB O EFEITO DA BEBIDA.

RICARDINHO  -  (segurando-lhe as mãos) Você fica linda, sorrindo, sabia? Devia sorrir mais.

HELÔ  -  Ah, para com isso, Ricardinho! A gente se conhece há anos e esse jeito de cara romântico nunca combinou com você! Lembro do seu namoro com Nívea... muitas vezes era até bem seco com ela!

RICARDINHO  -  (sem se abalar) Talvez não me conheça o suficiente... Já parou pra pensar que a Nívea nunca despertou em mim as sensações que tou experimentando com você?
 
HELÔ  -  (riu ainda mais) Olha, realmente, você tá se superando! Nunca pensei ouvir isso de você!

RICARDINHO  -  Tá vendo, seu mal é esse: não me leva a sério! Não seja irônica, vai! Tou abrindo meu coração,  menina!  Palavra.  Não  consigo parar de pensar em você, em te abraçar, te beijar...

HELÔ  -  (tirando as mãos) Vai devagar... Não esqueça que ainda sou uma mulher casada.

RICARDINHO  -   Aquele padreco não é homem pra você. Me dá uma chance, vai!

HELÔ  -  (ficou séria, de repente) Sabe o que eu mais quero, nesse momento? Me libertar, voltar a ser a mulher livre, forte e segura de antes... mas não consigo!

OS OLHOS DE HELÔ ENCHERAM-SE DE LÁGRIMAS. RICARDINHO PERCEBEU O MOMENTO DE FRAGILIDADE QUE A JOVEM ESTAVA ATRAVESSANDO. CALCULISTA, RESOLVEU QUE AQUELA ERA A HORA DE ATACAR.

RICARDINHO  -  (segurou-lhe o queixo e aproximou-se mais) Helô... fica comigo.... Me dá um beijo...

SEM ESPERAR RESPOSTA, BEIJOU-A NOS LÁBIOS. HELÔ, DESTA VEZ, NÃO ESBOÇOU QUALQUER REAÇÃO.

VÍTOR CAMINHAVA, ENTREGUE A SUAS DIVAGAÇÕES, QUANDO VIU-SE CRUZANDO A CALÇADA DO CASTELINHO, QUE, COMO SEMPRE, ESTAVA LOTADO. OLHOU, CASUALMENTE, ATRAVÉS DO VIDRO, E ESTACOU, DE REPENTE, PARALISADO.

VÍTOR  -  Helô!...

VÍTOR NÃO QUERIA ACREDITAR NO QUE SEUS OLHOS VIAM. SEU CORPO PARECIA TOMADO POR UMA DESCARGA ELÉTRICA. 

NO INTERIOR DO BAR, DIVISOU, NUMA DAS MESAS, RICARDINHO E HELÔ BEIJANDO-SE NA BOCA.


FIM DO CAPÍTULO 60

e no próximo capítulo...

*** Dom Carvajal conta a Samuca o segredo de Consuelo. Samuca faz as malas e vai embora, deixando a esposa inconsolável.

*** Renatão procura Mãozinha de Veludo, para que faça um "servicinho"!

*** Vítor é envolvido numa terrível armadilha!

NÃO PERCA O CAPÍTULO 61 DE


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