Roteirizado por Toni Figueira
do original de Janete Clair
CAPÍTULO 109
PARTICIPAM DESTE CAPÍTULO:
DELEGADO FALCÃO
JOÃO
ALBERTO
JUIZ
PROMOTOR
BRANCA
PEDRO BARROS
SINHANA
POTIRA
MANUEL ANDRADE
RODRIGO
DELEGADO FALCÃO
JOÃO
ALBERTO
JUIZ
PROMOTOR
BRANCA
PEDRO BARROS
SINHANA
POTIRA
MANUEL ANDRADE
RODRIGO
CENA 1 - COROADO - DELEGACIA - CELA DE JOÃO - INT. - DIA.
A hora tinha chegado. Dia claro, com algumas nuvens pintando de branco o azul do infinito. Com um charuto no canto da boca, Falcão chegou até a porta da cela, escancarando-a.
DELEGADO FALCÃO - Vamos indo, João. Chegou a tua hora.
O garimpeiro apertou as mãos do companheiro de prisão, visìvelmente intranquilo.
JOÃO - Reza por mim, Alberto.
ALBERTO - Vai com Deus. E pode estar certo de uma coisa: Teu julgamento é também o meu. A minha sentença.
CORTA PARA:
CENA 2 - COROADO - TRIBUNAL DO JURI - INT. - DIA.
Dois soldados ladearam o prisioneiro até o Tribunal do Júri. Tribunal pobre, de paredes caiadas. No alto da parede, por trás do juiz, um crucifixo de madeira, com um Cristo em marfim. Sala repleta. O juiz segurou o martelo e pediu silencio.
Sob os olhares de piedade, raiva, curiosidade e amor, João Coragem surgiu pela porta traseira e sentou-se diante dos 7 jurados, de frente para o magistrado.
O juiz iniciou o interrogatório.
JUIZ - Seu nome?
JOÃO - João Coragem.
JUIZ - Idade?
JOÃO - 32 anos.
JUIZ - Nome dos pais?
JOÃO - Sebastião Coragem e Ana Ribeiro Coragem.
JUIZ - Residência?
JOÃO - Uai... aqui mesmo, em Coroado. O senhor sabe.
JUIZ - Profissão?
JOÃO - Garimpeiro. Qué dizê... quando me deixavam. Agora, eu sou... vingadô, curandeiro, justiceiro... santo milagreiro... uma porção de coisas.
O auditório riu ante as palavras simples do réu. O juiz pediu silencio, badalando a sinêta.
JUIZ - O réu deve limitar-se a responder às perguntas.
JOÃO - Tou respondendo, uai.
JUIZ - O réu conhecia a vítima, Lourenço D’Ávila?
JOÃO - Conheci, sim senhô.
JUIZ - De acordo com os autos, o réu estêve em casa da esposa da vítima, em Morrinhos, no dia em que foi cometido o crime. Confirma?
JOÃO - Eu num sei, seu doutô, que dia foi cometido o crime. Só sei que estive lá, uma vez, uma semana depois do sem-vergonha do Lourenço ter roubado minha pedra.
JUIZ - Advirto o réu que deve referir-se à vítima com mais respeito.
JOÃO - Seu doutô juiz, me desculpe. Mas... que era um sem-vergonha, era, que Deus me perdoe.
O auditório tornou a rir e o magistrado, mais uma vez, badalou a sinêta, exigindo silencio. O juiz começava a impacientar-se com as tiradas do prisioneiro.
JUIZ - Quando roubaram sua pedra?
JOÃO - Durante a festa do Divino, do ano passado. Lourenço D’Ávila e mais três ou quatro capangas do Coronel Barros, invadiram minha casa, espancaro meu pai, judiaro de Cema e levaro o maior diamante encontrado por estas banda. Todo mundo sabe disso.
JUIZ - Por causa desse roubo o réu saiu em perseguição a Lourenço D’Ávila?
JOÃO - Logo, logo, não! Foi uma semana depois. Quando vi que os macaco aí da delegacia num ia fazê nada. Aí, eu decidi ir atrás do patife...
JUIZ - Quando tomou essa decisão, o réu tinha o propósito de matá-lo?
JOÃO - Tinha, sim, senhô. Mas não matei. Não matei porque não encontrei. Só por isso.
Um zumbido, como se um enxame de abelhas cruzasse o ar, tomou conta do auditório.
O promotor pediu a palavra e dirigiu-se aos jurados.
PROMOTOR - Senhores jurados, (com gestos teatrais) está mais do que claro. O próprio réu confessou que partiu desta cidade em perseguição à vítima, com o propósito deliberado de matá-la. Chegando à casa de sua esposa, Dona Branca D’Ávila, declarou francamente suas intenções homicidas. O réu não nega isto. E, segundo o laudo médico, naquele mesmo dia, talvez minutos depois, Lourenço D’Ávila foi liquidado com requintes de maldade. Seu rosto foi completamente desfigurado e seu corpo atirado ao rio, só sendo encontrado uma semana depois. O réu nega o crime. Tratava-se de um homem violento, que foi capaz de organizar um bando de facínoras pra desafiar a lei e as autoridades. Quem conhece este homem, não pode duvidar de que ele conseguiu seu propósito. (apontou dramàticamente para João Coragem, humildemente vestido e com a barba crescida, de muitos meses) Ele matou Lourenço D’àvila!
JOÃO - (interveio, colérico) Nada disso é verdade! Tudo isso aí é um amontoado de mentira e de besteirada!
O promotor empalideceu. Ligeiro tumulto tomou conta da sala.
JUIZ - Silencio, senhores!
JOÃO - Por causa disso é que eu num me entregava! Porque sabia que isso aqui ia sê uma palhaçada! Tá aí! Dito e feito!
JUIZ - (batendo o martelo na mesa) Advirto novamente o réu de que não pode se manifestar!
JOÃO - Eu num posso me manifestá? Ele diz um monte de baboseira e eu tenho de ficá calado?
JUIZ - Tem! Do contrário mandarei retirá-lo da sala e o julgamento prosseguirá sem a sua presença.
JOÃO - Tá bem... cês tão com a força. Tá bem!
JUIZ - O senhor promotor tenha a bondade de prosseguir!
PROMOTOR - Peço ao meritíssimo que chame a testemunha, Dona Branca D’Ávila.
O juiz convidou a mulher a depor.
CORTA PARA:
CENA 3 - COROADO - TRIBUNAL DO JURI - INT. - DIA.
BRANCA - Quando se despediu de mim, ele disse que ia acabar com a vida de meu marido.
Durante meia hora a mulher respondeu às perguntas da promotoria, construindo uma rêde de acusações contra o garimpeiro.
Pedro Barros assumiu o posto, logo após a saída de Branca D’Ávila. No melhor dos seus ternos, cordão de ouro saindo-lhe do bolso do colête, o coronel ergueu o busto como um soldado perfilado.
JUIZ - Seu nome?
PEDRO BARROS - Pedro Barros.
JUIZ - (perguntou, solene) O senhor promete, sob palavra de honra, dizer a verdade, sobre tudo o que lhe for perguntado?
PEDRO BARROS - Prometo.
JUIZ - A testemunha está à disposição do Ministério Público, que pode inquiri-la diretamente.
O Promotor Luís preparou a cena, encaminhando-se lentamente para a testemunha de acusação.
PROMOTOR - Quais eram as relações da testemunha com a vítima?
PEDRO BARROS - Lourenço era meu empregado.
PROMOTOR - A testemunha admite que ele tenha roubado o diamante encontrado pelo réu?
PEDRO BARROS - Eu não sei de nada... é o que dizem. Eu não tenho nada com essa história.
JOÃO - (levantou-se protestando em altos brados) Como é que não tem nada? Se foi ele quem mandou roubar?
JUIZ - Advirto o réu, pela última vez, que não tem o direito de se manifestar.
JOÃO - Mas é muito difícil, seu juiz, ouvi um camarada desse, dizê quie não tem nada com a história! Bancá o santo! Ele que não só mandô roubá meu diamante, como também tem roubado todo mundo aqui, há anos e anos!
A sinêta vibrou demoradamente e o juiz dirigiu-se ao réu com energia, meio descontrolado.
JUIZ - Ordeno que se cale!
JOÃO - (não deu ouvidos à determinação) Este é o maior ladrão e assassino que já houve por estas bandas!
CORTA PARA:
CENA 4 - TRIBUNAL DO JURI - INT. - DIA.
PROMOTOR - Peço ao meritíssimo que seja chamada a testemunha Manuel Andrade.
Por um momento o tribunal pareceu transformar-se numa feira livre. Ninguém jamais ouvira falar no nome da testemunha invocada pela acusação.
SINHANA - (voltando-se para Potira) Quem é esse cara?
POTIRA - Sei não. Nunca vi falar nesse nome.
O homem, magro e com amplas entradas na cabeça, tinha o aspecto doentio de um tuberculoso. Ombros estreitos, cuvados em circunflexo e um terno preto, esverdeado pelo uso. Figura repugnante.
MANUEL ANDRADE - ...prometo, sim, senhor.
PROMOTOR - Profissão?
MANUEL ANDRADE - Boiadeiro, sim, senhor.
PROMOTOR - Residencia?
MANOEL - Cumo é?
PROMOTOR - Onde mora, onde trabalha?
MANOEL - Ah... lá pras riba de Morrinhos. Trabalhei muito tempo na Faznda do Coronel Tertuliano.
PROMOTOR - Que é que o senhor andava fazendo por aqui, em janeiro do ano passado?
MANOEL - Tava de passage...
PROMOTOR - Quando o senhor passou pela margem do rio Coroado, nas proximidades do garimpo dos Coragem... viu algo de anormal?
MANOEL - Me lembro que vi um home a cavalo, carregando outro home, que parecia desmaiado ou morto. Esse home chegô na beira do rio e jogô o outro dentro d’água. Dispois sumiu a galope. Era de manhãzinha. O dia tava nascendo. Mas ainda era meio escuro.
PROMOTOR - E a testemunha, o que fez?
MANOEL - Eu? (perguntou, apontando para o próprio peito) Eu cheguei perto do lugá onde ele tinha jogado o corpo... mas num vi mais nada. O corpo tinha sumido dentro d’água.
PROMOTOR - E o homem a cavalo? A testemunha seria capaz de reconhecê-lo?
MANOEL - Como já disse... inda tava meio escuro... mas, eu acho que... que se visse ele de novo...
Esticando um dedo curto e gordo, de unhas brilhantes, o promotor apontou para João Coragem.
PROMOTOR - Foi aquele homem que está ali sentado no banco dos réus?
O boiadeiro hesitou um pouco, fitando demoradamente o rsoto do acusado. João esperava. Finalmente, o magricela decidiu responder.
MANOEL - Acho que foi, sim senhor.
PROMOTOR - (insistiu) Acha... ou tem certeza?
MANOEL - Tenho certeza! Foi ele. Por essa luz que me alumia. Foi ele!
Vozerio e agitação transtornaram os trabalhos, paralisando-os por alguns segundos. A sinêta do juiz vibrou nervosamente.
PROMOTOR - Obrigado, meritíssimo!
JUIZ - A defesa quer interrogar a testemunha?
RODRIGO - Sim, meritíssimo.
Deu alguns passos no interior da sala, olhando fixamente os jurados.
RODRIGO - A testemunha disse que ainda era noite, quando se deu o fato que acabou de relatar.
PROMOTOR - (interveio) Perdão, a testemunha não disse que era noite. Disse que o dia estava amanhecendo.
RODRIGO - Ou isso. O fato é que não era ainda dia claro. Não é isso?
MANOEL - É, sim senhor. Inda tava assim meio luscofusco.
RODRIGO - A que distancia se encontrava do tal homem?
MANOEL - (meio hesitante) Assim, uma coisa como daqui, lá na igreja...
RODRIGO - Daqui lá na igreja deve ter pelo menos uns cem metros!
PROMOTOR - Protesto, meritíssimo! O meu colega de defesa está querendo confundir a testemunha.
RODRIGO - Não estou querendo confundir nada. Ao contrário. Estou querendo precisar as coisas. Ainda que não haja cem metros daqui até a igreja, o fato é que a testemunha estava a uma distancia bastante grande para poder, naquela hora da manhã, distinguir as feições da pessoa que atirava o cadáver dentro d’água. (retornando ao banco de defesa, Rodrigo agradeceu ao juiz) Obrigado, meritíssimo. Era só o que eu queria esclarecer.
JUIZ - A testemunha está dispensada.
O promotor retornou ao centro da sala.
PROMOTOR - Senhores jurados: as provas e os testemunhos apresentados são suficientes para chegarmos a uma conclusão: João Coragem matou Lourenço D’Ávila e o fez premeditadamente, com requintes de selvageria. Não há atenuante para esse crime, que seria apenas o primeiro elo de uma cadeia de muitos outros, que durante um ano revoltariam e tumultuariam toda esta região pacífica, cobrindo de vergonha a nossa cidade e o nosso Estado. Por isso eu peço para o réu a pena máxima.E que os senhores jurados tenham consciência do seguinte: condenar João Coragem não é apenas punir um assassino. É agir em nome de Deus, da Família e da Sociedade!
A hora tinha chegado. Dia claro, com algumas nuvens pintando de branco o azul do infinito. Com um charuto no canto da boca, Falcão chegou até a porta da cela, escancarando-a.
DELEGADO FALCÃO - Vamos indo, João. Chegou a tua hora.
O garimpeiro apertou as mãos do companheiro de prisão, visìvelmente intranquilo.
JOÃO - Reza por mim, Alberto.
ALBERTO - Vai com Deus. E pode estar certo de uma coisa: Teu julgamento é também o meu. A minha sentença.
CORTA PARA:
CENA 2 - COROADO - TRIBUNAL DO JURI - INT. - DIA.
Dois soldados ladearam o prisioneiro até o Tribunal do Júri. Tribunal pobre, de paredes caiadas. No alto da parede, por trás do juiz, um crucifixo de madeira, com um Cristo em marfim. Sala repleta. O juiz segurou o martelo e pediu silencio.
Sob os olhares de piedade, raiva, curiosidade e amor, João Coragem surgiu pela porta traseira e sentou-se diante dos 7 jurados, de frente para o magistrado.
O juiz iniciou o interrogatório.
JUIZ - Seu nome?
JOÃO - João Coragem.
JUIZ - Idade?
JOÃO - 32 anos.
JUIZ - Nome dos pais?
JOÃO - Sebastião Coragem e Ana Ribeiro Coragem.
JUIZ - Residência?
JOÃO - Uai... aqui mesmo, em Coroado. O senhor sabe.
JUIZ - Profissão?
JOÃO - Garimpeiro. Qué dizê... quando me deixavam. Agora, eu sou... vingadô, curandeiro, justiceiro... santo milagreiro... uma porção de coisas.
O auditório riu ante as palavras simples do réu. O juiz pediu silencio, badalando a sinêta.
JUIZ - O réu deve limitar-se a responder às perguntas.
JOÃO - Tou respondendo, uai.
JUIZ - O réu conhecia a vítima, Lourenço D’Ávila?
JOÃO - Conheci, sim senhô.
JUIZ - De acordo com os autos, o réu estêve em casa da esposa da vítima, em Morrinhos, no dia em que foi cometido o crime. Confirma?
JOÃO - Eu num sei, seu doutô, que dia foi cometido o crime. Só sei que estive lá, uma vez, uma semana depois do sem-vergonha do Lourenço ter roubado minha pedra.
JUIZ - Advirto o réu que deve referir-se à vítima com mais respeito.
JOÃO - Seu doutô juiz, me desculpe. Mas... que era um sem-vergonha, era, que Deus me perdoe.
O auditório tornou a rir e o magistrado, mais uma vez, badalou a sinêta, exigindo silencio. O juiz começava a impacientar-se com as tiradas do prisioneiro.
JUIZ - Quando roubaram sua pedra?
JOÃO - Durante a festa do Divino, do ano passado. Lourenço D’Ávila e mais três ou quatro capangas do Coronel Barros, invadiram minha casa, espancaro meu pai, judiaro de Cema e levaro o maior diamante encontrado por estas banda. Todo mundo sabe disso.
JUIZ - Por causa desse roubo o réu saiu em perseguição a Lourenço D’Ávila?
JOÃO - Logo, logo, não! Foi uma semana depois. Quando vi que os macaco aí da delegacia num ia fazê nada. Aí, eu decidi ir atrás do patife...
JUIZ - Quando tomou essa decisão, o réu tinha o propósito de matá-lo?
JOÃO - Tinha, sim, senhô. Mas não matei. Não matei porque não encontrei. Só por isso.
Um zumbido, como se um enxame de abelhas cruzasse o ar, tomou conta do auditório.
O promotor pediu a palavra e dirigiu-se aos jurados.
PROMOTOR - Senhores jurados, (com gestos teatrais) está mais do que claro. O próprio réu confessou que partiu desta cidade em perseguição à vítima, com o propósito deliberado de matá-la. Chegando à casa de sua esposa, Dona Branca D’Ávila, declarou francamente suas intenções homicidas. O réu não nega isto. E, segundo o laudo médico, naquele mesmo dia, talvez minutos depois, Lourenço D’Ávila foi liquidado com requintes de maldade. Seu rosto foi completamente desfigurado e seu corpo atirado ao rio, só sendo encontrado uma semana depois. O réu nega o crime. Tratava-se de um homem violento, que foi capaz de organizar um bando de facínoras pra desafiar a lei e as autoridades. Quem conhece este homem, não pode duvidar de que ele conseguiu seu propósito. (apontou dramàticamente para João Coragem, humildemente vestido e com a barba crescida, de muitos meses) Ele matou Lourenço D’àvila!
JOÃO - (interveio, colérico) Nada disso é verdade! Tudo isso aí é um amontoado de mentira e de besteirada!
O promotor empalideceu. Ligeiro tumulto tomou conta da sala.
JUIZ - Silencio, senhores!
JOÃO - Por causa disso é que eu num me entregava! Porque sabia que isso aqui ia sê uma palhaçada! Tá aí! Dito e feito!
JUIZ - (batendo o martelo na mesa) Advirto novamente o réu de que não pode se manifestar!
JOÃO - Eu num posso me manifestá? Ele diz um monte de baboseira e eu tenho de ficá calado?
JUIZ - Tem! Do contrário mandarei retirá-lo da sala e o julgamento prosseguirá sem a sua presença.
JOÃO - Tá bem... cês tão com a força. Tá bem!
JUIZ - O senhor promotor tenha a bondade de prosseguir!
PROMOTOR - Peço ao meritíssimo que chame a testemunha, Dona Branca D’Ávila.
O juiz convidou a mulher a depor.
CORTA PARA:
CENA 3 - COROADO - TRIBUNAL DO JURI - INT. - DIA.
BRANCA - Quando se despediu de mim, ele disse que ia acabar com a vida de meu marido.
Durante meia hora a mulher respondeu às perguntas da promotoria, construindo uma rêde de acusações contra o garimpeiro.
Pedro Barros assumiu o posto, logo após a saída de Branca D’Ávila. No melhor dos seus ternos, cordão de ouro saindo-lhe do bolso do colête, o coronel ergueu o busto como um soldado perfilado.
JUIZ - Seu nome?
PEDRO BARROS - Pedro Barros.
JUIZ - (perguntou, solene) O senhor promete, sob palavra de honra, dizer a verdade, sobre tudo o que lhe for perguntado?
PEDRO BARROS - Prometo.
JUIZ - A testemunha está à disposição do Ministério Público, que pode inquiri-la diretamente.
O Promotor Luís preparou a cena, encaminhando-se lentamente para a testemunha de acusação.
PROMOTOR - Quais eram as relações da testemunha com a vítima?
PEDRO BARROS - Lourenço era meu empregado.
PROMOTOR - A testemunha admite que ele tenha roubado o diamante encontrado pelo réu?
PEDRO BARROS - Eu não sei de nada... é o que dizem. Eu não tenho nada com essa história.
JOÃO - (levantou-se protestando em altos brados) Como é que não tem nada? Se foi ele quem mandou roubar?
JUIZ - Advirto o réu, pela última vez, que não tem o direito de se manifestar.
JOÃO - Mas é muito difícil, seu juiz, ouvi um camarada desse, dizê quie não tem nada com a história! Bancá o santo! Ele que não só mandô roubá meu diamante, como também tem roubado todo mundo aqui, há anos e anos!
A sinêta vibrou demoradamente e o juiz dirigiu-se ao réu com energia, meio descontrolado.
JUIZ - Ordeno que se cale!
JOÃO - (não deu ouvidos à determinação) Este é o maior ladrão e assassino que já houve por estas bandas!
CORTA PARA:
CENA 4 - TRIBUNAL DO JURI - INT. - DIA.
PROMOTOR - Peço ao meritíssimo que seja chamada a testemunha Manuel Andrade.
Por um momento o tribunal pareceu transformar-se numa feira livre. Ninguém jamais ouvira falar no nome da testemunha invocada pela acusação.
SINHANA - (voltando-se para Potira) Quem é esse cara?
POTIRA - Sei não. Nunca vi falar nesse nome.
O homem, magro e com amplas entradas na cabeça, tinha o aspecto doentio de um tuberculoso. Ombros estreitos, cuvados em circunflexo e um terno preto, esverdeado pelo uso. Figura repugnante.
MANUEL ANDRADE - ...prometo, sim, senhor.
PROMOTOR - Profissão?
MANUEL ANDRADE - Boiadeiro, sim, senhor.
PROMOTOR - Residencia?
MANOEL - Cumo é?
PROMOTOR - Onde mora, onde trabalha?
MANOEL - Ah... lá pras riba de Morrinhos. Trabalhei muito tempo na Faznda do Coronel Tertuliano.
PROMOTOR - Que é que o senhor andava fazendo por aqui, em janeiro do ano passado?
MANOEL - Tava de passage...
PROMOTOR - Quando o senhor passou pela margem do rio Coroado, nas proximidades do garimpo dos Coragem... viu algo de anormal?
MANOEL - Me lembro que vi um home a cavalo, carregando outro home, que parecia desmaiado ou morto. Esse home chegô na beira do rio e jogô o outro dentro d’água. Dispois sumiu a galope. Era de manhãzinha. O dia tava nascendo. Mas ainda era meio escuro.
PROMOTOR - E a testemunha, o que fez?
MANOEL - Eu? (perguntou, apontando para o próprio peito) Eu cheguei perto do lugá onde ele tinha jogado o corpo... mas num vi mais nada. O corpo tinha sumido dentro d’água.
PROMOTOR - E o homem a cavalo? A testemunha seria capaz de reconhecê-lo?
MANOEL - Como já disse... inda tava meio escuro... mas, eu acho que... que se visse ele de novo...
Esticando um dedo curto e gordo, de unhas brilhantes, o promotor apontou para João Coragem.
PROMOTOR - Foi aquele homem que está ali sentado no banco dos réus?
O boiadeiro hesitou um pouco, fitando demoradamente o rsoto do acusado. João esperava. Finalmente, o magricela decidiu responder.
MANOEL - Acho que foi, sim senhor.
PROMOTOR - (insistiu) Acha... ou tem certeza?
MANOEL - Tenho certeza! Foi ele. Por essa luz que me alumia. Foi ele!
Vozerio e agitação transtornaram os trabalhos, paralisando-os por alguns segundos. A sinêta do juiz vibrou nervosamente.
PROMOTOR - Obrigado, meritíssimo!
JUIZ - A defesa quer interrogar a testemunha?
RODRIGO - Sim, meritíssimo.
Deu alguns passos no interior da sala, olhando fixamente os jurados.
RODRIGO - A testemunha disse que ainda era noite, quando se deu o fato que acabou de relatar.
PROMOTOR - (interveio) Perdão, a testemunha não disse que era noite. Disse que o dia estava amanhecendo.
RODRIGO - Ou isso. O fato é que não era ainda dia claro. Não é isso?
MANOEL - É, sim senhor. Inda tava assim meio luscofusco.
RODRIGO - A que distancia se encontrava do tal homem?
MANOEL - (meio hesitante) Assim, uma coisa como daqui, lá na igreja...
RODRIGO - Daqui lá na igreja deve ter pelo menos uns cem metros!
PROMOTOR - Protesto, meritíssimo! O meu colega de defesa está querendo confundir a testemunha.
RODRIGO - Não estou querendo confundir nada. Ao contrário. Estou querendo precisar as coisas. Ainda que não haja cem metros daqui até a igreja, o fato é que a testemunha estava a uma distancia bastante grande para poder, naquela hora da manhã, distinguir as feições da pessoa que atirava o cadáver dentro d’água. (retornando ao banco de defesa, Rodrigo agradeceu ao juiz) Obrigado, meritíssimo. Era só o que eu queria esclarecer.
JUIZ - A testemunha está dispensada.
O promotor retornou ao centro da sala.
PROMOTOR - Senhores jurados: as provas e os testemunhos apresentados são suficientes para chegarmos a uma conclusão: João Coragem matou Lourenço D’Ávila e o fez premeditadamente, com requintes de selvageria. Não há atenuante para esse crime, que seria apenas o primeiro elo de uma cadeia de muitos outros, que durante um ano revoltariam e tumultuariam toda esta região pacífica, cobrindo de vergonha a nossa cidade e o nosso Estado. Por isso eu peço para o réu a pena máxima.E que os senhores jurados tenham consciência do seguinte: condenar João Coragem não é apenas punir um assassino. É agir em nome de Deus, da Família e da Sociedade!
FIM DO CAPÍTULO 109
e no próximo capítulo...
e no próximo capítulo...
*** A entrada de Estela no Tribunal, para depor como testemunha de defesa João Coragem causa enorme burburinho, e deixa Pedro Barros possesso, mais ainda, quando acusa o coronel de ter mandado roubar o diamanete de João!
*** Nasce o filho de João e Lara!
NÃO PERCA O CAPÍTULO 110 DE
ÚLTIMOS CAPÍTULOS
EMOÇÕES FINAIS!
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