domingo, 25 de dezembro de 2011

IRMÃOS CORAGEM - Capítulo 108


Roteirizado por Toni Figueira
do original de Janete Clair 

CAPÍTULO 108
PARTICIPAM DESTE CAPÍTULO:
RITINHA
DUDA
DEOLINDA
PADRE BENTO
PEDRO BARROS
MARGARIDA
JUCA CIPÓ
SINHANA
JOÃO
DELEGADO FALCÃO

CENA 1  -  CASA DO RANCHO CORAGEM - SALA  -  INT.  -  DIA.

Na cesta algumas frutas maduras, exalando um aroma apetitoso. Nas mãos flores colhidas no percurso. Ritinha chegou à casa dos Coragem, depois de uma longa caminhada pela estrada barrenta que ligava o rancho á cidade de Coroado.


RITINHA  -  Sinhana! Sinhana! Tou aqui. Mandou me chamar?

Silencio.

Uma porta rangeu, de repente, assustando a moça e a voz de alguém muito conhecido despertou-lhe a atenção.


DUDA  -  Fui eu que mandei te chamar.

A cesta foi ao chão, por causa do nervosismo da jovem.

RITINHA  -  Eduardo! O que você tá fazendo aqui?

DUDA  -  O quê? (perguntou, dando largos passos na direção da mulher)  O quê? Vim te buscar, sua trouxa!

Ritinha atirou-se nos braços do marido, com os olhos cheios de lágrimas. Não havia palavras. Só a linguagem dos beijos, dos carinhos, poderia expressar o que ia na alma dos dois. Separaram-se depois de longos minutos.


RITINHA  -  Por quê? Por quê tá me xingando, benzinho? Tá zangado comigo?

DUDA  -  Você não merece... não merece todo o meu sacrifício. Claro que tou zangado! Isso é coisa que se faça?

RITINHA  -  Mas... o quê? (aflita)  Que foi que eu fiz?

DUDA  -  Pensa que eu não sei? Quatro! Quatro admiradores!

RITINHA  -  Nossa Mãe! Quem te contou uma coisa dessas?

DUDA  -  Uma carta de amigos, avisando das coisas todas que tão acontecendo aqui com você!

Um leve sorriso abriu por segundos os lábios da mulher.


RITINHA  -  Virgem mãe! Eduardo, é mentira!

DUDA  -  (segurou-a firme, pelo pulso. Quase a machucando)  Vamos lá... uma carta de amor do tal de Alberto D’Ávila. Você pode negar?

RITINHA  -  (baixando a cabeça, encabulada)  Bem... essa eu não nego.

DUDA  -  Convite pra passear dum tal vereador Jacinto! Nega?

RITINHA  -  Também não...

DUDA  -  Uma paquerada de um tal de promotor novo. Um Doutor Luís! Você confirma?

Ela fez que sim com a cabeça e um muxôxo de confirmação.

RITINHA  -  Aham!

DUDA  -  E por último... o sem-vergonha do Hernani! Que montou um cinema aqui em Coroado, só pra ficar perto de você. Você pode negar isso?

RITINHA  -  Hum, hum...

DUDA  -  Pois então! (fuzilava de ciúme)  O que foi que você virou? Conquistadora?

Ritinha resolveu retrucar à altura, apesar de estar levando na brincadeira a reação amoroso do marido.


RITINHA  -  Meu querido, eu não tenho culpa. Tou separada de você, abandonada! Afinal de contas, não sou nenhuma bruxa... todo mundo diz que sou uma gracinha... que culpa eu tenho?

DUDA  -  Uma gracinha... uma gracinha! (com raiva) Mas não é pro bico de qualquer sujeito, não!

RITINHA  -  Claro, meu amorzinho. Eu não dei confiança pra ninguém. Como é que podia dar, se meu pensamento tava com você? O tempo todo.

DUDA  -  Sei não... essa gente toda dando em cima de você... não é só pelo seu palminho de cara, não!

RITINHA  -  Tá bom! Muito bom, mesmo! Você veio aqui, em vez de sê pra me proteger, veio pra brigar comigo! Pois não devia ter vindo, ora! Eu não te chamei, chamei?

DUDA  -  Não chamou, mas vou te levar!  Nem que seja amarrada. O médico não queria me deixar sair do hospital. Tive que ameaçar fugir de novo. Aí ele me deu um dia de licença.

RITINHA  -  Como tá tua perna?

DUDA  -  Vai indo... tou em tratamento rigoroso... já me sinto melhor. Tava era abandonado... (puxou a esposa para seu colo, abraçando-a apaixonadamente).

Ritinha encostou a cabeça no ombro do marido, alisando-lhe o rosto barbado.

RITINHA  -  Agora eu cuido de você, amorzinho. Nenhum de nós vai mais ficar abandonado.

DUDA  -  Vamos já... tenho uma coisa a te dizer... em particular.

CORTA PARA:

CENA 2  -  COROADO  -  CASA DE DEOLINDA  -  SALA    -  INT.  -  DIA.


DEOLINDA  -  (parecia uma fera, diante da realidade)  Ele não vem, padre!

PADRE BENTO  -  Vem, vem! Falcão foi buscá-lo à força!

DEOLINDA  -  (tremia de impaciencia e raiva)  Era só o que faltava! Justamente minha filha... ter que casar na polícia!

PADRE BENTO  -  Não será assim, Dona Deolinda.  Para não dar essa impressão sugiro que vamos todos para a igreja, onde será realizado o casamento...

DEOLINDA  -  Mesmo assim, é um casamento obrigado... e a culpada é ela!

Deolinda levantou, bruscamente, o rosto de Margarida, até àquele instante, cabisbaixa e inerte.

DEOLINDA  -  (recriminativa)  Não se envergonha de nos obrigar a passar por esta situação?

Padre Bento interveio, enérgico, como bom pastor de almas. Via na atitude da mãe um começo de infelicidade para a vida que se descortinava para a filha.

PADRE BENTO  -  Deixe a moça, Dona Deolinda! Não complique mais a situação!

DEOLINDA  -  Ver ninho de coruja... é no que dá! Essas moças de hoje! Ainda bem que meu Jorginho não está aqui. Ele morreria de novo, de vergonha!

CORTA PARA:

CENA 3  -  COROADO  -  IGREJA  -  INT.  -  DIA.


PEDRO BARROS  -  Juca!

A voz firme e grossa de Pedro Barros varreu a igrejinha de Coroado, como o dobre do sino. O moleque levantou-se, assustado, tentando escapulir pela porta aberta. O coronel agarrou-o pelo fundo das calças.


JUCA CIPÓ  -  (tentou correr)  Ai!

PEDRO BARROS  -  Vamos simbora, larga de manha, safado!

JUCA CIPÓ  -  Num vou! Num vou! Me larga!

PEDRO BARROS  -  Eu quero que case, ora! E vai casá...

JUCA CIPÓ  -  Num quero casá!  (esbravejava,  lunático)  Com Margarida, num quero! Num fui eu! Num fui eu! Tou jurando, num fui eu!

Pedro Barros fechou as mãos e aplicou alguns cascudos, com força, na cabeça do filho. Juca berrava como um garoto.

Margarida esperava-o, com um véu claro a cobrir-lhe o rosto meigo. O juiz conferiu a documentação, enquanto o sacerdote preparava tudo para o ato sagrado. Pedro Barros, sempre com o filho preso pelos fundilhos das calças, aproximou-se do altar.


PEDRO BARROS  -  Tá ele aqui, Padre! Filho meu não faz papel sujo com moça!

DEOLINDA  -  (pôs as mãos nos quadris, em atitude insolente)  Que papel, hem, Juca? Que papelão!

JUCA CIPÓ  -  Papel é o dela, não o meu!

PADRE BENTO  -  Psiu! Silencio! Respeitem a casa de Deus! (advertiu, já com as vestes sacramentais)  Meus filhos, é preciso viver em paz. Com tranquilidade, com Deus e com nossas próprias consciências.

Pedro Barros cortou a palavra do sacerdote, sem a mínima atenção.

PEDRO BARROS  Nada de sermão, padre! Casa logo, antes que o noivo fuja de novo!

O juiz pôs a mão sobre a boca, evitando rir das advertencias do coronel e da cara emburrada do jagunço.

PADRE BENTO  -  É preciso que os noivos se dêem as mãos, que se reconciliem. Deus quer assim!

O coronel deu um tapa com força no ombro do filho.

PEDRO BARROS  -  Dá a mão pra tua noiva, Juca!

JUCA CIPÓ  -  (batendo com o pé no chão, respondeu)  Num dou!

O coronel insistiu, já com outra atitude, os olhos pareciam jatos de fogo.

PEDRO BARROS  -  Dá, Juca. Acaba logo com isso! Tenho coisa mais importante a fazer. Pelo amor de Deus! (tornou a aplicar cascudos violentos na cabeça do filho)  Dá, desgraçado!

Juca estendeu a mão para Margarida, de olhos baixos e vermelha como crista de galo.

PEDRO BARROS  -  (ordenou, cofiando a barba grisalha)  Começa logo essa geringonça!

Padre Bento virou-se para a imagem no altar, abriu os braços e iniciou o casamento religioso.


PADRE BENTO  -  Senhor, meu Deus...

Ao fundo, observando com olhar irônico a solenidade, Hernani isolava-se de todos. Havia um quê de mistério no leve sorriso que lhe entreabria os lábios.

PADRE BENTO  -  (prosseguia)  Juca de Almeida Barros... é de sua livre e espontânea vontade que deseja se casar com Margarida Vieira?

Não houve resposta. Um arrepio percorreu a assistência. Barros cutucou com o cotovelo as costelas do jagunço.

JUCA CIPÓ  -  Que remédio, né?

PADRE BENTO  -  Margarida Vieira, é de sua livre e espontânea vontade que deseja se casar com Juca de Almeida Barros?

MARGARIDA  -  É, sim, senhor!

Benzendo as alianças, Padre Bento ajudou os recém-casados a colocá-las nos dedos.

JUCA CIPÓ  -  (disse baixinho, ao ouvido da mulher)  Tu me paga!

Estava findo o casamento.

CORTA PARA:

CENA 4  -  COROADO  -  DELEGACIA  -  SALA DE VISITAS  -  INT.  -  DIA.

Sinhana correra à delegacia para dar as novidades ao filho.


SINHANA  -  Não passa de hoje. Vim só te avisá!

Um riso de felicidade alegrou a face do garimpeiro.

JOÃO  -  Puxa vida! Meu filho tá pra nascê. Logo hoje... quando vai sê decidido meu destino!

SINHANA  -  Deus faz as coisa certa, meu filho!

JOÃO  -  Moleque levado! Tá é aflito pra sabê o destino do pai! E ela, como tá?

SINHANA  -  Sentida de num tá presente, hoje...

JOÃO  -  Bobage... (repentinamente entristecido. A lembraça da esposa, distante, afastada, necessitada de sua presença, deixava-o irritado)  Primeiro nosso filho, uai!

SINHANA  -  E tu... tá animado?

JOÃO  -  Sei lá, mãe. Tou é louco pra me ver livre daqui. Reza, mãe. Pede pra Deus, pras coisa terminá bem.

CORTA PARA:

CENA 5  -  COROADO  -  DELEGACIA  -  EXT.  -  DIA.

Falcão dava ordens rigorosas aos soldados que se agrupavam na porta da delegacia.


DELEGADO FALCÃO  -  Todo mundo de ôlho. Vigilância redobrada. O negócio hoje vai esquentar com o julgamento de João Coragem. Vocês me apertem o cêrco. Todo mundo conhece os homens dele. Não deixem nenhum daqueles cabras entrá. Eles estão doidos e são capazes de tudo...


FIM DO CAPÍTULO 108
Mingas (Ana Ariel), Pedro Barros (Gilberto Martinho), Falcão (Dollabela), Juca (Emiliano Queiroz) e Margarida (Leda Lucia), no divertido casamento de Juca Cipó
e no próximo capítulo... 

***  Tem início o julgamento de João Coragem, com todas as autoridades presentes ao Tribunal do Juri. Na tribuna, a população de Coroado aguarda, ansiosa, a sentença do juiz!

NÃO PERCA O CAPÍTULO 109 DE 
 

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