Novela de Janete Clair
Adaptação de Toni Figueira
CAPÍTULO 118
última semana!
Participam deste
capítulo
Otto -
Jardel Filho
Cyro -
Tarcísio Meira
Catarina -
Lídia Mattos
Lia -
Arlete Salles
Vanda - Dina
Sfat
Ricardo -
Edney Giovenazzi
Ester -
Gloria Menezes
Tula -
Lúcia Alves
Válter / Coice de Mula - Dary
Reis
Inspetor
Dr. Toledo
Santiago
Iracema
CENA 1 -
PORTO AZUL - HOSPITAL
- QUARTO DE OTTO -
INTERIOR - DIA
OTTO - (chamou, com voz de menino) Mamãe!
CATARINA - Estou aqui, filhinho...
OTTO - Onde está o Dr. Cyro Valdez?
CATARINA DECIDIU MENTIR. SEUS ESFORÇOS TINHAM SIDO VÃOS E
PAULUS SE RECUSARA A FORNECER UM POSSÍVEL LUGAR ONDE ENCONTRAR O MÉDICO.
CATARINA - Já foi avisado... ele... ele virá logo para
cuidar de você...
OTTO - Eu não quero morrer, mamãe!
CATARINA - Você não vai morrer, meu filho...
OTTO - Mamãe! Eu estou muito feio na cama?
CATARINA - Que nada, meu anjo! Está lindo! Não está,
Tula? (a moça confirmou e Catarina sorriu, baixando a cabeça até sussurrar aos
ouvidos do filho) Olhe... vou lhe contar um segredo. Não diga a ninguém que eu
contei...
OTTO - Fale, mamãe...
CATARINA - Todas as enfermeiras... estão apaixonadas por
você!
OTTO DEU UM RISINHO HISTÉRICO, MOVIMENTANDO AGILMENTE OS
OLHINHOS AZUIS.
CORTA PARA:
CENA 2 -
PORTO AZUL - DELEGACIA
- INTERIOR -
NOITE
ERA NOITE QUANDO ESTER ENTROU COM RICARDO NA DELEGACIA DE
PORTO AZUL. ERA INTENSA A MOVIMENTAÇÃO NAS IMEDIAÇÕES. OS SOLDADOS GUARNECIAM
AS RUAS, PARA IMPEDIR POSSÍVEIS MANIFESTAÇÕES DA POPULAÇÃO.
RICARDO - Mandaram me chamar?
INSPETOR - Sente-se, por favor!
RICARDO - Pois não.
INSPETOR - Obtivemos a confissão de um dos homens.
Tavares. Finalmente ele revelou tudo o que fizeram com o Dr. Cyro por ordem de
Otto Muller e do Dr. Paulus.
RICARDO - E então?
INSPETOR - Eles... o torturaram até a morte!
ESTER - (estava sombria, com os olhos arregalados)
Eles o viram morto?
INSPETOR - Foi desferido um tiro de misericórdia pelo tal
Válter Carpinelli. O mesmo que ficou incumbido de dar fim ao corpo.
RICARDO - (com a voz lhe faltando) E por que Válter...
não voltou até agora?
INSPETOR - Deve ter encontrado dificuldades.
ESTER - Alguma coisa não está bem contada. No íntimo,
sinceramente... não creio que Cyro esteja morto!
INSPETOR - Por quê?
ESTER - Se ele estivesse... seria diferente. Eu sei
que seria diferente. Ele está vivo... e seu pensamento está em mim!
CORTA PARA:
CENA 3 -
CASEBRE NAS MONTANHAS - SALA - INTERIOR
- DIA
NO LUGAREJO ENTRE MONTANHAS, VANDA TERMINARA DE ESCANHOAR O
ROSTO DE CYRO. A NAVALHA AFIADA CONSERVAVA ALGUNS FIAPOS DA BARBA NEGRA DO
MÉDICO. IRACEMA FERVIA O CAFÉ.
VANDA - (admirando a cara do rapaz) Quando eu não
tiver mais o que fazer, vou ser barbeira. Até que ficou bacana! (entregou o
espelho a Cyro) Dá uma olhada!
CYRO - (passou a mão na face) É... Até que não está
mal!
VÁLTER CARPINELLI SURGIU NA SALA, ACOMPANHADO PELO DONO DA
CHOUPANA. SANTIAGO TINHA UM OLHAR FELIZ.
VÁLTER - Dr. Cyro, vamos descer até a estrada.
Consegui um carro para levar a gente de volta.
VANDA CORREU A AJUDÁ-LO A VESTIR UMA CAMISA DE SANTIAGO.
CYRO - Ai! Cuidado!
VANDA - Puxa! Isto ainda está em ferida... você podia
esperar mais um pouco.
CYRO - Não. Tenho de ir hoje mesmo. Eu sinto que
preciso acalmar a família. Minha mãe. Meu pai. Obrigado por tudo, gente!
(abraçou e beijou Iracema) Adeus, Santiago.
SANTIAGO - Conta sempre com a gente, doutô!
VANDA - (ergueu os olhos, súplice) Olha... reza! Reza
pra ele ficar comigo!
CORTA PARA:
CENA 4
- PORTO AZUL -
HOSPITAL - SALA DOS MÉDICOS -
INTERIOR - DIA
TULA ARRANCOU A TIRA DE PAPEL DA MÁQUINA E LEVOU O COMPLICADO
EXAME PARA ANÁLISE DOS MÉDICOS. A FISIONOMIA DA EQUIPE QUE ACOMPANHAVA A CRISE
DE OTTO MULLER ERA GRAVE. UM DOS ESPECIALISTAS CHAMOU A ENFERMEIRA.
DR. TOLEDO - Tula!
Mande buscar a mãe dele. É o fim.
CORTA PARA:
CENA 5 -
PORTO AZUL - HOSPITAL
- CORREDOR -
INTERIOR - DIA
DONA CATARINA ESPANTOU-SE COM O CHAMAMENTO DA MOÇA.
CATARINA - Que foi?
TULA - Fique com seu filho!
CATARINA - Por quê?
TULA - Porque é melhor!
ESTER ENCORAJOU-A, PEGANDO-LHE NAS MÃOS.
ESTER - Vamos.
RICARDO - (perguntou à filha) Ele está morrendo?
TULA - Está, papai. Nas últimas.
CENA 5 -
PORTO AZUL - HOSPITAL
- QUARTO DE OTTO -
INTERIOR - DIA
CATARINA APROXIMOU-SE DO LEITO DE MORTE DE OTTO MULLER. NÃO
HAVIA ESPERANÇA DE SOBREVIVÊNCIA PARA O PREFEITO DE PORTO AZUL. OS MÉDICOS
AFASTARAM-SE, CABISBAIXOS, ENQUANTO A VELHA MILIONÁRIA SE COLOCAVA DIANTE DA
CAMA DO FILHO, AMPARADA POR ESTER E TULA. VIU OS OLHOS CERRADOS DO DOENTE. O
PEITO ARFANTE, NUM MOVIMENTO ANORMAL, DESRITMADO. SEGUROU-LHE AS MÃOS GÉLIDAS.
PÁLIDAS.
OTTO - (gemeu) Mamãe!
CATARINA - Estou aqui, meu amor.
OTTO - Tenho medo...
CATARINA - Não tenha, não. Você é um homem valente.
OS OLHOS DE OTTO MULLER ESTUFARAM-SE COMO OS DE UM PEIXE.
OTTO - (gritou) Mamãe!
O GRITO ABALOU O QUARTO, ENQUANTO O DOENTE SE AGITAVA,
TENTANDO LEVANTAR-SE. O DR. TOLEDO CORREU A ACUDI-LO. TORNOU A AJEITÁ-LO NA
CAMA DE FERRO.
CATARINA - Otto... está me ouvindo? Eu estou aqui, meu
amor!
OS OLHOS DO HOMEM AINDA REFLETIAM VIDA. VONTADE DE NÃO
MORRER. UMA LUZ QUE SE ESVAÍA.
CATARINA DECIDIU ENCORAJAR O FILHO PARA A ETAPA DERRADEIRA.
PRESSENTIA O FIM.
CATARINA - Não tenha medo de coisa alguma. Você é
corajoso. Nunca teve medo de nada. O mundo seria maravilhoso se todos os homens
fossem valentes e fortes como você!
OTTO MULLER AINDA OUVIA E UM LEVE MOVER AOS LÁBIOS, UM
SORRISO, TALVEZ, AFLOROU-LHE À BOCA.
CATARINA - Você está tão bonito... não está, Ester? É
incrível como alguém, no leito, pode se conservar tão belo assim! Lindo mesmo,
Otto! Seus olhos... são de um azul nunca visto. Parece o azul do mar, num dia
calmo. Quando você nasceu... a primeira coisa que chamou a atenção de todos
foram os seus olhos. Todos diziam: “Parecem duas contas azuis!” E depois
olhavam a cor de sua pele... e depois seus bracinhos... tudo, tudo. Você sempre
foi tão perfeito, meu filho! Pois aquele brilho, no seu olhar... você tem,
agora. Sabe o que me fez lembrar? Sabe, Otto? O leão da floresta de olhos
azuis. Todos tem medo do leão. Não que ele seja mau... mas é valente! Ele
domina só com o olhar. Quando ele chega... domina todos. Todos tremem. Meu filho
é o leão! Meu filho... é... o leão! Meu filho é o mais belo leão de todas as
florestas do mundo! Meu filho é o mais valente de todos os leões! Meu filho é o
rei! Meu filho é o rei!
OTTO MULLER TINHA CERRADO OS OLHOS DE VEZ, ENQUANTO CATARINA
IMITAVA O RUGIR DO REI DAS FLORESTAS. ERA UMA CENA PATÉTICA. ESTER NÃO CONTINHA AS LÁGRIMAS E OS MÉDICOS
BAIXAVAM OS OLHOS, COMOVIDOS. TULA TREMIA, AGARRADA À GRADE DA CAMA. A VELHA
AINDA LUTAVA CONTRA A REALIDADE. OTTO MULLER JÁ TINHA PARTIDO PARA O ALÉM. FISIONOMIA
TRANQUILA DE QUEM SE REALIZARA NA VIDA. E PARTIRA CHEIO DE CORAGEM.
CATARINA ATIROU-SE SOBRE O CADÁVER DO FILHO.
CATARINA - Não existe ninguém mais belo do que o meu
filho! Não existe ninguém mais forte! Meu filho é valente! Meu filho é homem! Lindo!
Meu filho! Meu filho...
CORTA PARA:
CENA 6
- PORTO AZUL -
MANSÃO DE OTTO MULLER - SALA
- INTERIOR - DIA
LIA CORREU AO TELEFONE. ERA TULA.
LIA - Como disse? Otto? Otto?
O TELEFONE ESCORREGOU-LHE DAS MÃOS E CAIU NO TAPETE DA GRANDE
SALA DO PALACETE. AO MESMO TEMPO A EMPREGADA CHEGAVA, NERVOSA.
EMPREGADA - Dona Lia... Seu Válter, Dona Vanda Vidal e o
Dr. Cyro Valdez acabam de chegar! Foram direto para a delegacia...
LIA - (suspendeu o fone do chão e gritou) Tula!
Tula! Dr. Cyro acaba de chegar a Porto Azul. Você acha que adianta alguma
coisa? Devemos tentar?
FIM DO CAPÍTULO 118
NÃO PERCA, NA PRÓXIMA QUINTA, O PENÚLTIMO CAPÍTULO!
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