quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

O HOMEM QUE DEVE MORRER - Capítulo 117


Novela de Janete Clair

Adaptação de Toni Figueira

CAPÍTULO 117

últimos capítulos!

Participam deste capítulo

Prof. Valdez  -  Enio Santos
Bárbara  -  Zilka Salaberry
Orjana  -  Neusa Amaral
Ricardo  -  Edney Giovenazzi
Delegado  -  Vinicius Salvatori
Inspetor
Tavares
Coice de Mula  -  Dary Reis
Catarina  -  Lidia Mattos
Otto  -  Jardel Filho
Dr. Toledo
Vanda -  Dina Sfat
Cyro  -  Tarcísio Meira


CENA 1  -  PORTO AZUL  -  CASA DE BÁRBARA  -  SALA  -  INTERIOR  -  DIA

O PROFESSOR VALDEZ ENTROU, SALTITANTE.

D. BÁRBARA  -  Já sabemos que o meteorito foi encontrado!

PROF. VALDEZ  -  Foi! Foi sim! (confirmou, excitado, beijando a mulher) É uma verdadeira maravilha!

RICARDO  -  Uma pedra comum, professor.

PROF. VALDEZ  -  Não. Você não pode dizer isso. É uma pedra que possui um brilho fora do normal. Estranho. Deve ter vindo de um planeta muito especial. O planeta... do qual enviaram a mensagem por intermédio de Cyro!

RICARDO  -  (fez um gesto de desaprovação) Lá vem o senhor de novo com essa história!

PROF. VALDEZ  -  (falou, sério) Não estou brincando, Ricardo. Os raios que emanaram da pedra, quando caiu na Terra... tiveram influência no cérebro de Cyro. Isto é preciso ser estudado, pesquisado muito bem.

D. BÁRBARA  -  É uma hipótese lógica.

ORJANA  -  Também acho.

RICARDO  -  Em que base o senhor pode afirmar isso?

PROF. VALDEZ  -  Na realidade. Cyro não é um homem comum. E ele foi escolhido, entre milhões e milhões de seres... para dizer alguma coisa através de atos... e exemplos.

RICARDO  -  Não diga tolices, professor! Eu não acredito em vida noutro planeta!

PROF. VALDEZ  -  Mas existe. E são seres que possuem inteligência muito acima da nossa. Dentro de mais algumas horas saberemos o resultado do exame da pedra. Existe uma outra... que foi dada a André, por um homem do espaço... Segundo as palavras dele... o ser desceu da nave espacial... deu-lhe a pedra e partiu... e possuía certa semelhança com Cyro! André morreu afirmando que a pedra era verdadeira e que trazia uma mensagem. Se o material coincidir... então... então...

RICARDO  -  Então, o quê?

PROF. VALDEZ  -  (sem conter a emoção que o dominava) Minha versão será a verdadeira. Existe vida em outros planetas. E Cyro foi escolhido para mensageiro de alguma coisa muito importante para nós, aqui na Terra!

CORTA PARA:

CENA 2  -  PORTO AZUL  -  DELEGACIA  - INTERIOR  -  DIA.

O INSPETOR REUNIU OS CAPANGAS DE OTTO MULLER NUMA MESMA SALA, FORTEMENTE VIGIADA PELOS POLICIAIS ARMADOS. ESTER E JÚLIA ESTAVAM PRESENTES AO INTERROGATÓRIO.

DELEGADO  -  (passeou os olhos pelos bandidos e ameaçou) Vocês estão todos perdidos! Dr. Paulus acabou de confessar tudo. Vocês mataram Cyro Valdez!

TAVARES  -  (perdeu o controle e gritou, histérico, sentindo-se derrotado) Foi ele quem mandô!

CAPANGA  -  (berrou, com energia) Idiota! Cala essa boca!

TAVARES  -  (depois de uma pausa incômoda, prosseguiu) A gente... só obedeceu ordem!

O DELEGADO ENCAMINHOU-SE PARA O PISTOLEIRO QUE TREMIA DESCONTROLADAMENTE. TAVARES RECUOU, AMEDRONTADO, OLHANDO OS GUARDAS DE ARMA EM PUNHO.

DELEGADO  -  Você vai dizer tudo... Onde esconderam o corpo de Cyro?

TAVARES  -  Foi o Válter! Ele é que fez o serviço! E eu não sei onde ele está! Juro que não sei!

CORTA PARA:

CENA 3  -  HOSPITAL DE PORTO AZUL  -  QUARTO DE OTTO  -  INTERIOR  -  DIA

NO CASARÃO DO PREFEITO AS COISAS COMEÇAVAM A DESANDAR. OTTO ENTRARA EM NOVA CRISE PERIGOSA. E FÔRA REMOVIDO ÀS PRESSAS PARA O HOSPITAL. TODO O APARELHAMENTO TINHA SIDO REQUISITADO PARA O QUARTO DO PREFEITO DE PORTO AZUL. OTTO ARFAVA NA CAMA. TULA ENTREGOU UM PAPEL A DOIS MÉDICOS QUE CONVERSAVAM BAIXO.

TULA  -  São os resultados dos exames.

DR. TOLEDO  -  Obrigado, Tula!

CATARINA  -  (apressou-se a saber a verdade) A crise é muito grave, doutor?

DR. TOLEDO  -  O estado dele se agrava.

CATARINA  -  E vocês não podem fazer nada?

DR. TOLEDO  -  Estamos fazendo tudo o que é possível, minha senhora.

CATARINA  -  O soro... o soro que acalmava as crises...

DR. TOLEDO  -  Está sendo aplicado.

CATARINA  -  (atordoada com a ameaça que rondava o leito do filho) Dr.Cyro sempre o tirava das crises... e o Dr. Max seguia religiosamente o tratamento dele.

DR. TOLEDO  -  Todos nós estamos fazendo o que eles teriam feito.

CATARINA  -  Tragam então o Dr. Cyro. Ele é um médico... não vai se negar a curar meu menino! (tomou uma decisão inesperada) Eu mesma... vou procurá-lo! Vou sim! Dr. Cyro vai salvá-lo!

OTTO  -  (ainda falava, no semi-inconsciente em que se encontrava) Mamãe...

CATARINA  -  Estou aqui, meu filhinho...

OTTO  -  Não quero morrer, mamãe...

OS MÉDICOS ASSISTIAM AO DIÁLOGO PATÉTICO.

CATARINA  -  Que é isso? Você não vai morrer, meu amor. Olhe... eu vou sair para buscar a única pessoa que o pode tirar desta crise...

OTTO  -  Quem, mamãe?

CATARINA  -  O Dr. Cyro Valdez, meu querido!

OTTO  -  Cy... ro Valdez?! Então chame... diga a ele que eu... darei uma fortuna para ele vir...

CATARINA  -  Ele virá, Ottinho. Ele virá.

OTTO  -  Mamãe?

CATARINA  -  Diga, meu querido...

OTTO  -  Ainda sou... o homem mais bonito do mundo?

CATARINA  -  Ainda, meu bem. Ainda.

OTTO  -  Faz leãozinho... faz...

CATARINA SORRIU E IMITOU UM FILHOTE DE LEÃO MIMADO.

CORTA PARA:


CENA 4  -  CASEBRE NAS MONTANHAS  -  SALA  -  INTERIOR  -  DIA

O LOCAL ERA QUASE INACESSÍVEL, UM PEQUENO CASEBRE ISOLADO ENTRE MONTANHAS, A QUILÔMETROS DE PORTO AZUL. VANDA VIDAL TINHA SEGUIDO UMA PISTA E ALCANÇARA A CASA DE SANTIAGO, UM DOS HOMENS A QUEM CYRO HAVIA PROTEGIDO DURANTE SUA PEREGRINAÇÃO PELO INTERIOR. IRACEMA, A MULHER, VEIO ATENDÊ-LA, À PORTA. ROUPA POBRE, DE CHITÃO, OS PÉS DESCALÇOS. VANDA VIDAL DIVISOU A FIGURA DO CAPATAZ DE OTTO MULLER. E CORREU ATÉ ELE.

VANDA  -  Válter! Cyro está aqui? Diga que está! Diga que ele não morreu!

COICE DE MULA  -  (confirmou com um aceno de cabeça) Ele está aqui, sim...

VANDA  -  (abafou um soluço com a mão e arrancou toda a coragem que ainda armazenava no fundo do peito, ao perguntar) Está vivo... não está?

IRACEMA ABRAÇOU-A E CONVIDOU-A A ENTRAR NA CASA. UM VENTO FORTE PENETRAVA AS DEPENDÊNCIAS, FUSTIGANDO AS IMAGENS DE SANTOS QUE PENDIAM DAS PAREDES.

IRACEMA  -  Entre... ele está naquele quarto, minha filha!

VANDA ENXUGOU OS OLHOS COM AS COSTAS DA MÃO E ENCOSTOU A MOCHILA DE VIAGEM A UM CANTO DA PAREDE. AJEITOU UM POUCO OS CABELOS DESGRENHADOS, TENTOU SORRIR E ENTROU NO QUARTO. SANTIAGO, SENTADO À BEIRA DA CAMA, MOLHAVA COM UM PANO FINO AS COSTAS LANHADAS DO MÉDICO. CYRO GEMIA A CADA TOQUE NA CARNE VIVA.

VANDA  -  Oi, Cyro!

CYRO  -  (moveu o pescoço, gemendo a cada segundo) Vanda! O que... você está... fazendo aqui?

VANDA  -  Vim no teu rastro, ué!

ELA O ABRAÇOU IMPETUOSAMENTE.

CYRO  -  Doidinha!

VANDA  -  Pensou que pudesse fugir de mim?

CYRO  -  (notou que a jovem chorava) Que é isso? Pra que as lágrimas?

VANDA  -  Pensei... todo mundo pensou... que você tivesse morrido. Vim por estas estradas... meio doida! Pedia carona... sem rumo... pedindo a Deus pra me dar uma pista do lugar onde você se achava!

CYRO  -  E como foi que deu com este sítio?

VANDA  -  Olhe... eu nem sei! Foi um pressentimento... daqueles que você me dizia. O homem quando quer pode usar seu pensamento em favor do bem. Aí eu me concentrei pra burro... forcei meu pensamento em você... levei ele até Deus... e pedi ajuda: “Deus, me leve até ele, senão eu morro... Deus, tenha pena de mim... Deus, esse homem é a minha vida! Tem pena de mim!”

CYRO  -  E Ele teve!

VANDA  -  Eu te achei, não achei?

CYRO  -  Eu não estava escondido, Vanda. Aliás... já devia ter voltado... mas é que desta vez... quase me mataram...

VANDA OBSERVOU VÁLTER, QUE ENTRAVA NO QUARTO.

VANDA  -  Foi ele?

CYRO  -  Não. Válter me salvou a vida. A ordem era para me eliminar.

COICE DE MULA  -  Nunca... em nenhum momento... tive a idéia de cumprir aquela ordem maldita!

CYRO  -  Eu acredito, Válter!

COICE DE MULA  -  Aceitei o trabalho porque pensei que só eu podia lhe salvar a vida. Se não aceitasse... ele teria mandado aqueles outros... e eles iam obedecer cegamente à ordem dele.

VANDA  -  De Otto Muller?

CYRO  -  Otto Muller e Victor Paulus.

EM POUCOS INSTANTES VANDA VIDAL PÔS O MÉDICO A PAR DOS ÚLTIMOS ACONTECIMENTOS DE PORTO AZUL. A MORTE DO DR. MAX, A PRISÃO DE PAULUS, A CONFISSÃO DE DAS DORES E DOS CAPANGAS E O ESTADO DE SAÚDE DE OTTO MULLER.

COICE DE MULA  -  Bem que o senhor disse, Dr. Cyro! Isso estava no fim...

CYRO  -  Nós precisamos voltar... para que tudo se esclareça. Válter...

VANDA VIRA O ESTADO DAS COSTAS DO MÉDICO. HORRORIZOU-SE DIANTE DA SELVAGERIA.

VANDA  -  Cyro! O que fizeram com você?! Que horror!

SANTIAGO  -  A gente fez o que pôde... mas juro... quando Seu Válter trouxe ele pra cá... eu e minha mulher pensamo que tivesse morto.

COICE DE MULA  -  Por um momento, também pensei!

VANDA LEMBROU-SE DE ESTER. E TENTOU AFASTAR DO PENSAMENTO DO HOMEM A QUEM AMAVA A IDÉIA DE REGRESSAR A PORTO AZUL.

VANDA  -  Cyro... meu amor... não vamos voltar... Otto Muller pode se levantar da cama de novo, como aconteceu outras vezes... vai continuar te perseguindo. A gente podia... eu e você... tomar outro rumo.

CYRO  -  Você continua falando as coisas sem pensar!

VANDA  -  Tá bom, a gente volta. Mas olha, eu me grudo em você e agora, nem o céu, nem o inferno vai nos separar.

FIM DO CAPÍTULO 117






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