Novela de Janete Clair
Adaptação de Toni Figueira
CAPÍTULO 117
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Participam deste
capítulo
Prof. Valdez - Enio
Santos
Bárbara -
Zilka Salaberry
Orjana -
Neusa Amaral
Ricardo -
Edney Giovenazzi
Delegado -
Vinicius Salvatori
Inspetor
Tavares
Coice de Mula - Dary
Reis
Catarina -
Lidia Mattos
Otto -
Jardel Filho
Dr. Toledo
Vanda - Dina Sfat
Cyro -
Tarcísio Meira
CENA 1 -
PORTO AZUL - CASA DE BÁRBARA -
SALA - INTERIOR
- DIA
O PROFESSOR VALDEZ ENTROU, SALTITANTE.
D. BÁRBARA - Já sabemos que o meteorito foi encontrado!
PROF. VALDEZ - Foi! Foi sim! (confirmou, excitado, beijando
a mulher) É uma verdadeira maravilha!
RICARDO - Uma pedra comum, professor.
PROF. VALDEZ - Não. Você não pode dizer isso. É uma pedra
que possui um brilho fora do normal. Estranho. Deve ter vindo de um planeta
muito especial. O planeta... do qual enviaram a mensagem por intermédio de
Cyro!
RICARDO - (fez um gesto de desaprovação) Lá vem o
senhor de novo com essa história!
PROF. VALDEZ - (falou, sério) Não estou brincando, Ricardo.
Os raios que emanaram da pedra, quando caiu na Terra... tiveram influência no
cérebro de Cyro. Isto é preciso ser estudado, pesquisado muito bem.
D. BÁRBARA - É uma hipótese lógica.
ORJANA - Também acho.
RICARDO - Em que base o senhor pode afirmar isso?
PROF. VALDEZ - Na realidade. Cyro não é um homem comum. E
ele foi escolhido, entre milhões e milhões de seres... para dizer alguma coisa
através de atos... e exemplos.
RICARDO - Não diga tolices, professor! Eu não acredito
em vida noutro planeta!
PROF. VALDEZ - Mas existe. E são seres que possuem
inteligência muito acima da nossa. Dentro de mais algumas horas saberemos o
resultado do exame da pedra. Existe uma outra... que foi dada a André, por um
homem do espaço... Segundo as palavras dele... o ser desceu da nave espacial...
deu-lhe a pedra e partiu... e possuía certa semelhança com Cyro! André morreu
afirmando que a pedra era verdadeira e que trazia uma mensagem. Se o material
coincidir... então... então...
RICARDO - Então, o quê?
PROF. VALDEZ - (sem conter a emoção que o dominava) Minha
versão será a verdadeira. Existe vida em outros planetas. E Cyro foi escolhido
para mensageiro de alguma coisa muito importante para nós, aqui na Terra!
CORTA PARA:
CENA 2 - PORTO
AZUL -
DELEGACIA - INTERIOR - DIA.
O INSPETOR REUNIU OS CAPANGAS DE OTTO MULLER NUMA MESMA SALA,
FORTEMENTE VIGIADA PELOS POLICIAIS ARMADOS. ESTER E JÚLIA ESTAVAM PRESENTES AO
INTERROGATÓRIO.
DELEGADO - (passeou os olhos pelos bandidos e ameaçou)
Vocês estão todos perdidos! Dr. Paulus acabou de confessar tudo. Vocês mataram
Cyro Valdez!
TAVARES - (perdeu o controle e gritou, histérico,
sentindo-se derrotado) Foi ele quem mandô!
CAPANGA - (berrou, com energia) Idiota! Cala essa boca!
TAVARES - (depois de uma pausa incômoda, prosseguiu) A
gente... só obedeceu ordem!
O DELEGADO ENCAMINHOU-SE PARA O PISTOLEIRO QUE TREMIA
DESCONTROLADAMENTE. TAVARES RECUOU, AMEDRONTADO, OLHANDO OS GUARDAS DE ARMA EM
PUNHO.
DELEGADO - Você vai dizer tudo... Onde esconderam o
corpo de Cyro?
TAVARES - Foi o Válter! Ele é que fez o serviço! E eu
não sei onde ele está! Juro que não sei!
CORTA PARA:
CENA 3 -
HOSPITAL DE PORTO AZUL - QUARTO DE OTTO -
INTERIOR - DIA
NO CASARÃO DO PREFEITO AS COISAS COMEÇAVAM A DESANDAR. OTTO
ENTRARA EM NOVA CRISE PERIGOSA. E FÔRA REMOVIDO ÀS PRESSAS PARA O HOSPITAL.
TODO O APARELHAMENTO TINHA SIDO REQUISITADO PARA O QUARTO DO PREFEITO DE PORTO
AZUL. OTTO ARFAVA NA CAMA. TULA ENTREGOU UM PAPEL A DOIS MÉDICOS QUE
CONVERSAVAM BAIXO.
TULA - São os resultados dos exames.
DR. TOLEDO - Obrigado, Tula!
CATARINA - (apressou-se a saber a verdade) A crise é
muito grave, doutor?
DR. TOLEDO - O estado dele se agrava.
CATARINA - E vocês não podem fazer nada?
DR. TOLEDO - Estamos fazendo tudo o que é possível, minha
senhora.
CATARINA - O soro... o soro que acalmava as crises...
DR. TOLEDO - Está sendo aplicado.
CATARINA - (atordoada com a ameaça que rondava o leito
do filho) Dr.Cyro sempre o tirava das crises... e o Dr. Max seguia
religiosamente o tratamento dele.
DR. TOLEDO - Todos nós estamos fazendo o que eles teriam
feito.
CATARINA - Tragam então o Dr. Cyro. Ele é um médico...
não vai se negar a curar meu menino! (tomou uma decisão inesperada) Eu mesma...
vou procurá-lo! Vou sim! Dr. Cyro vai salvá-lo!
OTTO - (ainda falava, no semi-inconsciente em que se
encontrava) Mamãe...
CATARINA - Estou aqui, meu filhinho...
OTTO - Não quero morrer, mamãe...
OS MÉDICOS ASSISTIAM AO DIÁLOGO PATÉTICO.
CATARINA - Que é isso? Você não vai morrer, meu amor.
Olhe... eu vou sair para buscar a única pessoa que o pode tirar desta crise...
OTTO - Quem, mamãe?
CATARINA - O Dr. Cyro Valdez, meu querido!
OTTO - Cy... ro Valdez?! Então chame... diga a ele
que eu... darei uma fortuna para ele vir...
CATARINA - Ele virá, Ottinho. Ele virá.
OTTO - Mamãe?
CATARINA - Diga, meu querido...
OTTO - Ainda sou... o homem mais bonito do mundo?
CATARINA - Ainda, meu bem. Ainda.
OTTO - Faz leãozinho... faz...
CATARINA SORRIU E IMITOU UM FILHOTE DE LEÃO MIMADO.
CENA 4 - CASEBRE
NAS MONTANHAS - SALA
- INTERIOR - DIA
O LOCAL ERA QUASE INACESSÍVEL, UM PEQUENO CASEBRE ISOLADO
ENTRE MONTANHAS, A QUILÔMETROS DE PORTO AZUL. VANDA VIDAL TINHA SEGUIDO UMA
PISTA E ALCANÇARA A CASA DE SANTIAGO, UM DOS HOMENS A QUEM CYRO HAVIA PROTEGIDO
DURANTE SUA PEREGRINAÇÃO PELO INTERIOR. IRACEMA, A MULHER, VEIO ATENDÊ-LA, À
PORTA. ROUPA POBRE, DE CHITÃO, OS PÉS DESCALÇOS. VANDA VIDAL DIVISOU A FIGURA
DO CAPATAZ DE OTTO MULLER. E CORREU ATÉ ELE.
VANDA - Válter! Cyro está aqui? Diga que está! Diga
que ele não morreu!
COICE DE MULA - (confirmou com um aceno de cabeça) Ele está
aqui, sim...
VANDA - (abafou um soluço com a mão e arrancou toda a
coragem que ainda armazenava no fundo do peito, ao perguntar) Está vivo... não
está?
IRACEMA ABRAÇOU-A E CONVIDOU-A A ENTRAR NA CASA. UM VENTO
FORTE PENETRAVA AS DEPENDÊNCIAS, FUSTIGANDO AS IMAGENS DE SANTOS QUE PENDIAM
DAS PAREDES.
IRACEMA - Entre... ele está naquele quarto, minha
filha!
VANDA ENXUGOU OS OLHOS COM AS COSTAS DA MÃO E ENCOSTOU A
MOCHILA DE VIAGEM A UM CANTO DA PAREDE. AJEITOU UM POUCO OS CABELOS
DESGRENHADOS, TENTOU SORRIR E ENTROU NO QUARTO. SANTIAGO, SENTADO À BEIRA DA
CAMA, MOLHAVA COM UM PANO FINO AS COSTAS LANHADAS DO MÉDICO. CYRO GEMIA A CADA
TOQUE NA CARNE VIVA.
VANDA - Oi, Cyro!
CYRO - (moveu o pescoço, gemendo a cada segundo)
Vanda! O que... você está... fazendo aqui?
VANDA - Vim no teu rastro, ué!
ELA O ABRAÇOU IMPETUOSAMENTE.
CYRO - Doidinha!
VANDA - Pensou que pudesse fugir de mim?
CYRO - (notou que a jovem chorava) Que é isso? Pra
que as lágrimas?
VANDA - Pensei... todo mundo pensou... que você
tivesse morrido. Vim por estas estradas... meio doida! Pedia carona... sem
rumo... pedindo a Deus pra me dar uma pista do lugar onde você se achava!
CYRO - E como foi que deu com este sítio?
VANDA - Olhe... eu nem sei! Foi um pressentimento...
daqueles que você me dizia. O homem quando quer pode usar seu pensamento em
favor do bem. Aí eu me concentrei pra burro... forcei meu pensamento em você...
levei ele até Deus... e pedi ajuda: “Deus, me leve até ele, senão eu morro...
Deus, tenha pena de mim... Deus, esse homem é a minha vida! Tem pena de mim!”
CYRO - E Ele teve!
VANDA - Eu te achei, não achei?
CYRO - Eu não estava escondido, Vanda. Aliás... já
devia ter voltado... mas é que desta vez... quase me mataram...
VANDA OBSERVOU VÁLTER, QUE ENTRAVA NO QUARTO.
VANDA - Foi ele?
CYRO - Não. Válter me salvou a vida. A ordem era
para me eliminar.
COICE DE MULA - Nunca... em nenhum momento... tive a idéia de
cumprir aquela ordem maldita!
CYRO - Eu acredito, Válter!
COICE DE MULA - Aceitei o trabalho porque pensei que só eu
podia lhe salvar a vida. Se não aceitasse... ele teria mandado aqueles
outros... e eles iam obedecer cegamente à ordem dele.
VANDA - De Otto Muller?
CYRO - Otto Muller e Victor Paulus.
EM POUCOS INSTANTES VANDA VIDAL PÔS O MÉDICO A PAR DOS
ÚLTIMOS ACONTECIMENTOS DE PORTO AZUL. A MORTE DO DR. MAX, A PRISÃO DE PAULUS, A
CONFISSÃO DE DAS DORES E DOS CAPANGAS E O ESTADO DE SAÚDE DE OTTO MULLER.
COICE DE MULA - Bem que o senhor disse, Dr. Cyro! Isso estava
no fim...
CYRO - Nós precisamos voltar... para que tudo se
esclareça. Válter...
VANDA VIRA O ESTADO DAS COSTAS DO MÉDICO. HORRORIZOU-SE
DIANTE DA SELVAGERIA.
VANDA - Cyro! O que fizeram com você?! Que horror!
SANTIAGO - A gente fez o que pôde... mas juro... quando
Seu Válter trouxe ele pra cá... eu e minha mulher pensamo que tivesse morto.
COICE DE MULA - Por um momento, também pensei!
VANDA LEMBROU-SE DE ESTER. E TENTOU AFASTAR DO PENSAMENTO DO
HOMEM A QUEM AMAVA A IDÉIA DE REGRESSAR A PORTO AZUL.
VANDA - Cyro... meu amor... não vamos voltar... Otto
Muller pode se levantar da cama de novo, como aconteceu outras vezes... vai
continuar te perseguindo. A gente podia... eu e você... tomar outro rumo.
CYRO - Você continua falando as coisas sem pensar!
VANDA - Tá bom, a gente volta. Mas olha, eu me grudo
em você e agora, nem o céu, nem o inferno vai nos separar.
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