quinta-feira, 22 de janeiro de 2015

O HOMEM QUE DEVE MORRER - Capítulo 114



Novela de Janete Clair

Adaptação de Toni Figueira

CAPÍTULO 114

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Participam deste capítulo

Padre Miguel  -  Artur Costa Filho
Das Dores  -  Ruth de Souza
Cyro  -  Tarcísio Meira
Orjana  -  Neusa Amaral
Ester  -  Gloria Menezes
Inspetor
Delegado Moreira  -  Vinicius Salvatori
Tavares
Von Muller  -  Jorge Cherques
Lia  -   Arlete Salles

CENA 1  -  PORTO AZUL  -  IGREJA  -  INTERIOR  -  DIA

O VIGÁRIO DE PORTO AZUL, PADRE MIGUEL, OUVIA NO CONFESSIONÁRIO AS REVELAÇÕES DA NEGRA DAS DORES.

O SACERDOTE TINHA AS FEIÇÕES ENDURECIDAS, DIANTE DA GRAVIDADE DO QUE ACABARA DE LHE DIZER A VELHA NEGRA.

PADRE  -  Acho que agora você deve saber o que deve fazer, minha filha, para aliviar sua consciência e salvar um inocente.

DAS DORES  -  Não me sinto ainda com coragem, padre. Ás vezes o remorso bate mais forte e eu tenho um impulso de ir confessá tudo praquele home. Otras vez... como agora... o medo vorta a tomá conta de mim. E eu tenho vontade de fugir.

PADRE  -  Pense... pense bem... e reze bastante. Peça a Deus para lhe dar coragem. Você precisa salvar este homem que está carregando a sua culpa.

O PADRE DEIXOU A IGREJA E DAS DORES REINICIOU SUAS ORAÇÕES COM OS OLHOS BANHADOS DE LÁGRIMAS.

CORTA PARA:

CENA 2  -  DELEGACIA  -  SALA DE VISITAS  -  INTERIOR  -  DIA

ESTER CONTINUAVA RELATANDO OS FATOS.

ESTER  -  Paulus levou o padre até minha casa. Eu conversei com ele e me revelou que havia casado vocês...

CYRO  -  (balançou a cabeça) Só podia ser o Dr. Paulus. Eu soube que você e ele estavam noivos, de casamento marcado (Ester baixou a cabeça, confirmando a verdade) Foi por isso que você resolveu se casar com ele? Ou foi desculpa que arranjou pra si mesma?

ESTER  -  (ergueu-se de um salto, como uma fera ferida) Não se defenda acusando! Eu não esperava isso de você, Cyro!

ESTER DEIXOU CORRENDO A PEQUENA SALA DA DELEGACIA, SEM DAR TEMPO AO EX-MARIDO DE DETER OS SEUS MOVIMENTOS.

CORTA PARA:

CENA 3  -  PORTO AZUL  -  DELEGACIA  -  GABINETE DO DELEGADO  -  INTERIOR  -  NOITE

QUANDO O CARRO NEGRO, CHAPA BRANCA, PAROU DIANTE DA DELEGACIA, A NOITE JÁ TINHA ENVOLVIDO A CIDADE DE PORTO AZUL, MAS O DELEGADO MOREIRA SABIA, DE ANTEMÃO, DE QUEM SE TRATAVA. HORAS ANTES RECEBERA UM COMUNICADO DA SECRETARIA DE SEGURANÇA DO ESTADO. UM INSPETOR VIAJAVA EM MISSÃO ESPECIAL PARA EXAMINAR OS PROBLEMAS QUE AFLIGIAM A DELEGACIA DA CIDADE PRAIANA.

E AGORA, SENTADO AO LADO DA AUTORIDADE POLICIAL, O INSPETOR ACOMPANHAVA O DEPOIMENTO DA MULHER DO PREFEITO DA CIDADE A PROPÓSITO DA TENTATIVA DE ASSASSINATO CONTRA NANÁ, A DONA DO CABARÉ.

INSPETOR  -  (sério e carrancudo) ...foi seu marido, Otto Muller, quem mandou matar Elisa Liberato?

LIA  -  (ainda indecisa) Não sei. Quer dizer... eu acho que não foi.

INSPETOR  -  Mas a senhora viu quem atirou nela, não?

LIA  -  Vi.

INSPETOR  -  Então?

LIA  -  Foi Tavares.

DELEGADO  -  (voltou-se para o enviado de Florianópolis, explicando) É o marido de Dona Zélia. O senhor sabe de quem se trata... a fama dele não é boa.

INSPETOR  -  A senhora sabe quem pagou a esse Tavares para cometer o crime?

DURANTE ALGUNS MINUTOS A MULHER FICOU PARALISADA, COMO SE MEDITASSE NAS CONSEQUENCIAS DE UMA ACUSAÇÃO FORMAL.

INSPETOR  -  Não esconda a verdade. O Governo está fazendo um esforço desesperado para que a tranquilidade volte a esta cidade.É preciso que todos ajudem. A senhora não sabe realmente quem mandou esse homem matar Dona Elisa Liberato?

LIA  -  Não.

INSPETOR  -  (moveu-se, desanimado, na cadeira) Estamos satisfeitos, Dona Lia. Obrigado pela sua cooperação.

CORTA PARA:

CENA 4  -  CHOUPANA DE TAVARES  -  SALA  - INTERIOR  -  DIA

AS BATIDAS ENÉRGICAS NA PORTA DA FRENTE INDICAVAM QUE ALGUÉM PRETENDIA FALAR COM OS MORADORES DA CASA HUMILDE, PRÓXIMA À PRAIA. WERNER VON MULLER ERGUEU O  CANO DO REVÓLVER E MOVIMENTOU A CABEÇA, SIGNIFICATIVAMENTE PARA O PISTOLEIRO TAVARES.

VON MULLER  -  Quem serr?

TAVARES  -  Eu que vou sabê?

VON MULLER  -  Melhor esperrarr... pode serr que o pessoa canse de bater e vá emborra...

VON MULLER ACOMODOU-SE A UM CANTO DA SALA.

DELEGADO  -  (off) Pode abrir, Tavares. Eu sei que você está aí dentro.

O CARRASCO ALEMÃO RECONHECEU, DE IMEDIATO, A VOZ DO DELEGADO. ODIAVA O POLICIAL DE PORTO AZUL.

DELEGADO  -  (anunciou, tranquilizando o bandido) Trago um recado do Senhor Otto.

TAVARES  -  Olha, tá vendo? É pessoal da casa. Por que toda essa lengalenga?

IA DIRIGIR-SE PARA A PORTA, QUANDO O NAZISTA SE INTERPÔS, COM A ARMA AMEAÇADORA.

VON MULLER  -  Pode ir, agora... mas cuidado. Eu terr um arma apontada parra seu costa.

O PISTOLEIRO ABRIU A PORTA, COM UM ÔLHO EM VON MULLER, QUE SE ESCONDERA ATRÁS DE UM ARMÁRIO, NA COZINHA.

NUM INSTANTE OS SOLDADOS IMOBILIZARAM O ASSASSINO.

DELEGADO  -  Está preso, Tavares. Podem levá-lo!

ENQUANTO OS GUARDAS DEIXAVAM O INTERIOR DA CASA, O DELEGADO MOREIRA CORREU OS OLHOS PELOS QUARTOS E DEMAIS CÔMODOS. O CANO DA ARMA DO EX-CORONEL NAZISTA APONTADO PARA ELE. WERNER VON MULLER ESTAVA PRONTO PARA LIQUIDAR O POLICIAL A QUALQUER INSTANTE. RESPIROU FUNDO QUANDO O DR. MOREIRA SE AFASTOU EM DEFINITIVO, FECHANDO FIRME A PORTA DA CASA.

CORTA PARA:



CENA 5  -  DELEGACIA  -  INTERIOR  -  DIA

INSPETOR  -  (olhava com ar de poucos amigos para o pistoleiro) Você está perdido, Tavares. Não adianta esconder nada! Confesse, homem, quem mandou foi Otto Muller? (Tavares permaneceu mudo, quieto) Quanto você recebeu?

DELEGADO  -  Por que eles queriam matá-la? Ela vai ficar boa, vai desmascarar vocês todos... Então, por que não confessa agora?

INSPETOR  -  Isso só poderá ajudá-lo...

DELEGADO  -  Vamos, Tavares, fale! Você só está agravando a situação. Se falar agora, a pena será mais branda.

TAVARES  -  (gritou, pondo as mãos contra os ouvidos) Tá bem, eu falo!

OS POLICIAIS ENTREOLHARAM-SE E O ESCRIVÃO PREPAROU-SE PARA REGISTRAR A CONFISSÃO. FÊZ-SE UM SILENCIO PESADO NA DELEGACIA DE PORTO AZUL. TODOS OS OLHOS CONVERGIAM PARA O ASSASSINO.

DELEGADO  -  Afinal... quem o mandou matar Elisa Liberato? Foi Otto Muller?

TAVARES  -  Não. Foi o Seu Henrique.

INSPETOR  -  E quem é esse Seu Henrique?

DELEGADO  -  Sei muito pouca coisa a respeito dele. Trata-se de um velho técnico, empregado nas minas de Otto Muller.

INSPETOR  -  (dirigindo-se ao bandido) Você sabe onde ele está?

TAVARES  -   Sim... em minha casa.

CORTA PARA:

CENA 6  -  DELEGACIA  -  SALA DE VISITAS  -  INTERIOR  -  DIA

CYRO SORRIA, FELIZ, E SEGURAVA AS MÃOS DE ORJANA. MAIS ADIANTE UM GUARDA DE OLHOS ATENTOS ACOMPANHAVA O DIÁLOGO DE MÃE E FILHO.

CYRO  -  A senhora está dizendo... que Ester espera um filho meu? Um filho? Alguém para conduzir pela vida... para orientar... para amar. Parece... inacreditável.

ORJANA  -  Mas é a verdade, Cyro.

CYRO  -  (apertando as mãos da mãe) Preciso ver Ester. Ela tem de se convencer de uma vez por todas que eu não me casei com Vanda!

ORJANA  -  (sorrindo) Ela já sabe da verdade.

CYRO  -  Como?

ORJANA  -  Padre Miguel, a nosso pedido, escreveu ao vigário de Sacramento. Ele desmentiu tudo. O padre que esteve aqui era falso. Invenção de Paulus, querendo confundir Ester.

CORTA PARA:

CENA 7  -  CHOUPANA DE TAVARES  -  QUARTO  -  INTERIOR  -  DIA

WERNER VON MULLER COCHILAVA ENCOSTADO À PAREDE E COM AS PERNAS ESTICADAS SOBRE O COLCHÃO RASGADO. A ARMA DESCANSAVA ENTRE AS MÃOS RUGOSAS. ACORDOU COM UM ESTREMECIMENTO. ALGUÉM BATIA À PORTA E GRITAVA DO LADO DE FORA.

DELEGADO  -  Seu Henrique... é a policia. Abra a porta. Sabemos que o senhor está armado. Não tente resistir. A casa está cercada. Qualquer tentativa de sua parte será o fim...

COM DUAS PANCADAS FORTES, A PORTA SE ESCANCAROU E COM ARMAS EM PUNHO O DELEGADO E O INSPETOR VIRAM-SE DIANTE DO CRIMINOSO DE GUERRA.

DELEGADO  -  (berrou, pulando para o lado) Cuidado, ele está armado!

INSPETOR  -  (ordenou) Abaixe esta arma. Nós queremos apenas lhe fazer algumas perguntas.

VON MULLER  -  (retrucou, enlouquecido, prevendo o fim de tudo) Eu já os esperava... seus porcos!

DELEGADO  -  Calma, seu Henrique. Queríamos apenas que nos acompanhasse até a delegacia.

VON MULLER  -  (sorria, como um demente) E lá, me colocariam numa câmara de gás! Não... sei muito bem o que vocês querem! Mas eu já lhes disse tudo o que sabia... em Nuremberg, eu disse tudo... Eu não fui o culpado. Eu cumpria ordens. A posição de Himmler era muito clara. Ele sempre dizia: “Um princípio básico deve ser regra absoluta para os homens da SS: temos de ser honestos, decentes, leais e amigos daqueles que tem o nosso sangue. A mais ninguém”. (os homens olhavam o velho militar com estupefação) Eu fui apenas um soldado... um soldado da solução final.

DELEGADO  -  (tentou aproximar-se do velho louco) Por que não nos entrega essa arma? Vamos conversar calmamente. (deu mais um passo à frente) Não tenha receio de nada.

VON MULLER  -  (berrou) Não se aproxime! (o delegado estacou alerta) Eu fugi... fugi sim. Vocês não tinham o direito de me fazer apodrecer numa prisão. Eu sou um ser superior, vocês não veem? Sou representante de uma super-raça.

INSPETOR  -  Ninguém quer prendê-lo. Só precisamos saber se são verdadeiras as acusações que Tavares lhe fez.

VON MULLER  -  (berrou, alucinado) Tavares é um imundo! Ele não pode me acusar. Eu sou o arauto de uma nova ordem.

DE REPENTE, O ALEMÃO DESCARREGOU A ARMA CONTRA OS DOIS POLICIAIS E ESCAPULIU PELA PORTA DOS FUNDOS. UM TIRO FORTE ECOOU NO QUINTAL.

O DELEGADO LEVANTOU-SE DO CHÃO EMPOEIRADO E OLHOU O INSPETOR.

DELEGADO  -  Ficou ferido?

INSPETOR  -  Não. Para onde ele foi?

DELEGADO  -  Entrou na casa vizinha.

INSPETOR  -  Mande cercar a zona. Não deixe ninguém passar. Ele é perigosíssimo e está louco.

DELEGADO  -  Ele não poderá resistir por muito tempo.

INSPETOR  -  Temos de pegá-lo vivo. Ou muito me engano ou esse sujeito é um criminoso de guerra importante que estava sendo procurado por toda a América Latina.

DELEGADO  -  Vamos tentar o envolvimento...

INSPETOR  -  Não. É melhor continuar atirando para que ele atire também. Quando a munição dele acabar, nós o apanharemos.

POR UNS SEGUNDOS A VOZ POSSANTE ECOOU, SOBREPONDO-SE AO TIROTEIO.

VON MULLER  -  Viva o reich de mil anos! Heil, Hitler!

VON MULLER ATIROU-SE CONTRA OS SOLDADOS. DEZENAS DE BALAS PICOTARAM-LHE O CORPO E O VELHO CAIU ESTIRADO A POUCOS METROS DA PORTA. O SANGUE BANHOU A TERRA EM REDOR DO CRIMINOSO DE GUERRA. OS POLICIAIS APROXIMARAM-SE PARA EXAMINAR O CORPO. VON MULLER ESTAVA MORTO.

CORTA PARA:

CENA 7  -  PORTO AZUL  -  DELEGACIA  -  INTERIOR  -  DIA

INSPETOR  -  Precisamos estabelecer com certeza a identidade do morto.. Mande imediatamente estes dados para a Secretaria de Segurança de Florianópolis.

ENTREGOU UM DOCUMENTO AO DELEGADO.

DELEGADO  -  E o corpo? O Senhor Otto já mandou reclamá-lo.

INSPETOR -  Pode liberá-lo.

FIM DO CAPÍTULO 114



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