Novela de Janete Clair
Adaptação de Toni Figueira
CAPÍTULO 114
ÚLTIMOS CAPÍTULOS!
Participam deste
capítulo
Padre Miguel - Artur
Costa Filho
Das Dores - Ruth
de Souza
Cyro -
Tarcísio Meira
Orjana -
Neusa Amaral
Ester -
Gloria Menezes
Inspetor
Delegado Moreira -
Vinicius Salvatori
Tavares
Von Muller -
Jorge Cherques
Lia -
Arlete Salles
CENA 1 -
PORTO AZUL - IGREJA
- INTERIOR - DIA
O VIGÁRIO DE PORTO AZUL, PADRE MIGUEL, OUVIA NO
CONFESSIONÁRIO AS REVELAÇÕES DA NEGRA DAS DORES.
O SACERDOTE TINHA AS FEIÇÕES ENDURECIDAS, DIANTE DA GRAVIDADE
DO QUE ACABARA DE LHE DIZER A VELHA NEGRA.
PADRE - Acho que agora você deve saber o que deve
fazer, minha filha, para aliviar sua consciência e salvar um inocente.
DAS DORES - Não me sinto ainda com coragem, padre. Ás
vezes o remorso bate mais forte e eu tenho um impulso de ir confessá tudo
praquele home. Otras vez... como agora... o medo vorta a tomá conta de mim. E
eu tenho vontade de fugir.
PADRE - Pense... pense bem... e reze bastante. Peça a
Deus para lhe dar coragem. Você precisa salvar este homem que está carregando a
sua culpa.
O PADRE DEIXOU A IGREJA E DAS DORES REINICIOU SUAS ORAÇÕES
COM OS OLHOS BANHADOS DE LÁGRIMAS.
CORTA PARA:
CENA 2 -
DELEGACIA - SALA DE VISITAS -
INTERIOR - DIA
ESTER CONTINUAVA RELATANDO OS FATOS.
ESTER - Paulus levou o padre até minha casa. Eu
conversei com ele e me revelou que havia casado vocês...
CYRO - (balançou a cabeça) Só podia ser o Dr.
Paulus. Eu soube que você e ele estavam noivos, de casamento marcado (Ester
baixou a cabeça, confirmando a verdade) Foi por isso que você resolveu se casar com ele? Ou foi desculpa que arranjou pra
si mesma?
ESTER - (ergueu-se de um salto, como uma fera ferida)
Não se defenda acusando! Eu não esperava isso de você, Cyro!
ESTER DEIXOU CORRENDO A PEQUENA SALA DA DELEGACIA, SEM DAR
TEMPO AO EX-MARIDO DE DETER OS SEUS MOVIMENTOS.
CORTA PARA:
CENA 3 -
PORTO AZUL - DELEGACIA
- GABINETE DO DELEGADO -
INTERIOR - NOITE
QUANDO O CARRO NEGRO, CHAPA BRANCA, PAROU DIANTE DA
DELEGACIA, A NOITE JÁ TINHA ENVOLVIDO A CIDADE DE PORTO AZUL, MAS O DELEGADO
MOREIRA SABIA, DE ANTEMÃO, DE QUEM SE TRATAVA. HORAS ANTES RECEBERA UM
COMUNICADO DA SECRETARIA DE SEGURANÇA DO ESTADO. UM INSPETOR VIAJAVA EM MISSÃO
ESPECIAL PARA EXAMINAR OS PROBLEMAS QUE AFLIGIAM A DELEGACIA DA CIDADE PRAIANA.
E AGORA, SENTADO AO LADO DA AUTORIDADE POLICIAL, O INSPETOR
ACOMPANHAVA O DEPOIMENTO DA MULHER DO PREFEITO DA CIDADE A PROPÓSITO DA
TENTATIVA DE ASSASSINATO CONTRA NANÁ, A DONA DO CABARÉ.
INSPETOR - (sério e carrancudo) ...foi seu marido, Otto
Muller, quem mandou matar Elisa Liberato?
LIA - (ainda indecisa) Não sei. Quer dizer... eu
acho que não foi.
INSPETOR - Mas a senhora viu quem atirou nela, não?
LIA - Vi.
INSPETOR - Então?
LIA - Foi Tavares.
DELEGADO - (voltou-se para o enviado de Florianópolis,
explicando) É o marido de Dona Zélia. O senhor sabe de quem se trata... a fama
dele não é boa.
INSPETOR - A senhora sabe quem pagou a esse Tavares para
cometer o crime?
DURANTE ALGUNS MINUTOS A MULHER FICOU PARALISADA, COMO SE
MEDITASSE NAS CONSEQUENCIAS DE UMA ACUSAÇÃO FORMAL.
INSPETOR - Não esconda a verdade. O Governo está fazendo
um esforço desesperado para que a tranquilidade volte a esta cidade.É preciso
que todos ajudem. A senhora não sabe realmente quem mandou esse homem matar
Dona Elisa Liberato?
LIA - Não.
INSPETOR - (moveu-se, desanimado, na cadeira) Estamos
satisfeitos, Dona Lia. Obrigado pela sua cooperação.
CORTA PARA:
CENA 4 - CHOUPANA
DE TAVARES - SALA -
INTERIOR - DIA
AS BATIDAS ENÉRGICAS NA PORTA DA FRENTE INDICAVAM QUE ALGUÉM
PRETENDIA FALAR COM OS MORADORES DA CASA HUMILDE, PRÓXIMA À PRAIA. WERNER VON
MULLER ERGUEU O CANO DO REVÓLVER E MOVIMENTOU A CABEÇA, SIGNIFICATIVAMENTE
PARA O PISTOLEIRO TAVARES.
VON MULLER - Quem serr?
TAVARES - Eu que vou sabê?
VON MULLER - Melhor esperrarr... pode serr que o pessoa
canse de bater e vá emborra...
VON MULLER ACOMODOU-SE A UM CANTO DA SALA.
DELEGADO - (off) Pode abrir, Tavares. Eu sei que você
está aí dentro.
O CARRASCO ALEMÃO RECONHECEU, DE IMEDIATO, A VOZ DO DELEGADO.
ODIAVA O POLICIAL DE PORTO AZUL.
DELEGADO - (anunciou, tranquilizando o bandido) Trago um
recado do Senhor Otto.
TAVARES - Olha, tá vendo? É pessoal da casa. Por que
toda essa lengalenga?
IA DIRIGIR-SE PARA A PORTA, QUANDO O NAZISTA SE INTERPÔS, COM
A ARMA AMEAÇADORA.
VON MULLER - Pode ir, agora... mas cuidado. Eu terr um
arma apontada parra seu costa.
O PISTOLEIRO ABRIU A PORTA, COM UM ÔLHO EM VON MULLER, QUE SE
ESCONDERA ATRÁS DE UM ARMÁRIO, NA COZINHA.
NUM INSTANTE OS SOLDADOS IMOBILIZARAM O ASSASSINO.
DELEGADO - Está preso, Tavares. Podem levá-lo!
ENQUANTO OS GUARDAS DEIXAVAM O INTERIOR DA CASA, O DELEGADO
MOREIRA CORREU OS OLHOS PELOS QUARTOS E DEMAIS CÔMODOS. O CANO DA ARMA DO EX-CORONEL
NAZISTA APONTADO PARA ELE. WERNER VON MULLER ESTAVA PRONTO PARA LIQUIDAR O
POLICIAL A QUALQUER INSTANTE. RESPIROU FUNDO QUANDO O DR. MOREIRA SE AFASTOU EM
DEFINITIVO, FECHANDO FIRME A PORTA DA CASA.
CENA 5 -
DELEGACIA - INTERIOR
- DIA
INSPETOR - (olhava com ar de poucos amigos para o
pistoleiro) Você está perdido, Tavares. Não adianta esconder nada! Confesse,
homem, quem mandou foi Otto Muller? (Tavares permaneceu mudo, quieto) Quanto
você recebeu?
DELEGADO - Por que eles queriam matá-la? Ela vai ficar
boa, vai desmascarar vocês todos... Então, por que não confessa agora?
INSPETOR - Isso só poderá ajudá-lo...
DELEGADO - Vamos, Tavares, fale! Você só está agravando
a situação. Se falar agora, a pena será mais branda.
TAVARES - (gritou, pondo as mãos contra os ouvidos) Tá
bem, eu falo!
OS POLICIAIS ENTREOLHARAM-SE E O ESCRIVÃO PREPAROU-SE PARA
REGISTRAR A CONFISSÃO. FÊZ-SE UM SILENCIO PESADO NA DELEGACIA DE PORTO AZUL.
TODOS OS OLHOS CONVERGIAM PARA O ASSASSINO.
DELEGADO - Afinal... quem o mandou matar Elisa Liberato?
Foi Otto Muller?
TAVARES - Não. Foi o Seu Henrique.
INSPETOR - E quem é esse Seu Henrique?
DELEGADO - Sei muito pouca coisa a respeito dele.
Trata-se de um velho técnico, empregado nas minas de Otto Muller.
INSPETOR - (dirigindo-se ao bandido) Você sabe onde ele
está?
TAVARES - Sim... em minha casa.
CORTA PARA:
CENA 6 -
DELEGACIA - SALA DE VISITAS -
INTERIOR - DIA
CYRO SORRIA, FELIZ, E SEGURAVA AS MÃOS DE ORJANA. MAIS
ADIANTE UM GUARDA DE OLHOS ATENTOS ACOMPANHAVA O DIÁLOGO DE MÃE E FILHO.
CYRO - A senhora está dizendo... que Ester espera um
filho meu? Um filho? Alguém para conduzir pela vida... para orientar... para
amar. Parece... inacreditável.
ORJANA - Mas é a verdade, Cyro.
CYRO - (apertando as mãos da mãe) Preciso ver Ester.
Ela tem de se convencer de uma vez por todas que eu não me casei com Vanda!
ORJANA - (sorrindo) Ela já sabe da verdade.
CYRO - Como?
ORJANA - Padre Miguel, a nosso pedido, escreveu ao
vigário de Sacramento. Ele desmentiu tudo. O padre que esteve aqui era falso.
Invenção de Paulus, querendo confundir Ester.
CORTA PARA:
CENA 7 -
CHOUPANA DE TAVARES - QUARTO
- INTERIOR - DIA
WERNER VON MULLER COCHILAVA ENCOSTADO À PAREDE E COM AS
PERNAS ESTICADAS SOBRE O COLCHÃO RASGADO. A ARMA DESCANSAVA ENTRE AS MÃOS
RUGOSAS. ACORDOU COM UM ESTREMECIMENTO. ALGUÉM BATIA À PORTA E GRITAVA DO LADO
DE FORA.
DELEGADO - Seu Henrique... é a policia. Abra a porta.
Sabemos que o senhor está armado. Não tente resistir. A casa está cercada.
Qualquer tentativa de sua parte será o fim...
COM DUAS PANCADAS FORTES, A PORTA SE ESCANCAROU E COM ARMAS
EM PUNHO O DELEGADO E O INSPETOR VIRAM-SE DIANTE DO CRIMINOSO DE GUERRA.
DELEGADO - (berrou, pulando para o lado) Cuidado, ele
está armado!
INSPETOR - (ordenou) Abaixe esta arma. Nós queremos
apenas lhe fazer algumas perguntas.
VON MULLER - (retrucou, enlouquecido, prevendo o fim de
tudo) Eu já os esperava... seus porcos!
DELEGADO - Calma, seu Henrique. Queríamos apenas que nos
acompanhasse até a delegacia.
VON MULLER - (sorria, como um demente) E lá, me colocariam
numa câmara de gás! Não... sei muito bem o que vocês querem! Mas eu já lhes
disse tudo o que sabia... em Nuremberg, eu disse tudo... Eu não fui o culpado. Eu
cumpria ordens. A posição de Himmler era muito clara. Ele sempre dizia: “Um
princípio básico deve ser regra absoluta para os homens da SS: temos de ser
honestos, decentes, leais e amigos daqueles que tem o nosso sangue. A mais
ninguém”. (os homens olhavam o velho militar com estupefação) Eu fui apenas um
soldado... um soldado da solução final.
DELEGADO - (tentou aproximar-se do velho louco) Por que
não nos entrega essa arma? Vamos conversar calmamente. (deu mais um passo à
frente) Não tenha receio de nada.
VON MULLER - (berrou) Não se aproxime! (o delegado estacou
alerta) Eu fugi... fugi sim. Vocês não tinham o direito de me fazer apodrecer
numa prisão. Eu sou um ser superior, vocês não veem? Sou representante de uma
super-raça.
INSPETOR - Ninguém quer prendê-lo. Só precisamos saber
se são verdadeiras as acusações que Tavares lhe fez.
VON MULLER - (berrou, alucinado) Tavares é um imundo! Ele
não pode me acusar. Eu sou o arauto de uma nova ordem.
DE REPENTE, O ALEMÃO DESCARREGOU A ARMA CONTRA OS DOIS
POLICIAIS E ESCAPULIU PELA PORTA DOS FUNDOS. UM TIRO FORTE ECOOU NO QUINTAL.
O DELEGADO LEVANTOU-SE DO CHÃO EMPOEIRADO E OLHOU O INSPETOR.
DELEGADO - Ficou ferido?
INSPETOR - Não. Para onde ele foi?
DELEGADO - Entrou na casa vizinha.
INSPETOR - Mande cercar a zona. Não deixe ninguém
passar. Ele é perigosíssimo e está louco.
DELEGADO - Ele não poderá resistir por muito tempo.
INSPETOR - Temos de pegá-lo vivo. Ou muito me engano ou
esse sujeito é um criminoso de guerra importante que estava sendo procurado por
toda a América Latina.
DELEGADO - Vamos tentar o envolvimento...
INSPETOR - Não. É melhor continuar atirando para que ele
atire também. Quando a munição dele acabar, nós o apanharemos.
POR UNS SEGUNDOS A VOZ POSSANTE ECOOU, SOBREPONDO-SE AO
TIROTEIO.
VON MULLER - Viva o reich de mil anos! Heil, Hitler!
VON MULLER ATIROU-SE CONTRA OS SOLDADOS. DEZENAS DE BALAS
PICOTARAM-LHE O CORPO E O VELHO CAIU ESTIRADO A POUCOS METROS DA PORTA. O
SANGUE BANHOU A TERRA EM REDOR DO CRIMINOSO DE GUERRA. OS POLICIAIS
APROXIMARAM-SE PARA EXAMINAR O CORPO. VON MULLER ESTAVA MORTO.
CORTA PARA:
CENA 7 -
PORTO AZUL - DELEGACIA
- INTERIOR - DIA
INSPETOR - Precisamos estabelecer com certeza a
identidade do morto.. Mande imediatamente estes dados para a Secretaria de
Segurança de Florianópolis.
ENTREGOU UM DOCUMENTO AO DELEGADO.
DELEGADO - E o corpo? O Senhor Otto já mandou
reclamá-lo.
INSPETOR - Pode
liberá-lo.
FIM DO CAPÍTULO 114
Nenhum comentário:
Postar um comentário