Novela de Janete Clair
Adaptação de Toni Figueira
CAPÍTULO 111
Participam deste
capítulo
Baby -
Claudio Cavalcanti
Inês -
Betty Faria
Ester -
Gloria Menezes
Paulus -
Emiliano Queiroz
Padre Miguel -
Artur Costa Filho
Lia -
Arlete Salles
Dr. Max -
Álvaro Aguiar
Ricardo -
Edney Giovenazzi
Orjana -
Neusa Amaral
CENA 1 -
PORTO AZUL - HOSPITAL
- QUARTO DE NANÁ -
INTERIOR - DIA
DR. MAX TINHA OPERADO A PACIENTE, COM ÊXITO, MAS SEU ESTADO
AINDA ERA CLASSIFICADO DE MUITO GRAVE.
LIA - Como está ela, doutor?
DR. MAX - Muito mal. Sobreviveu à operação, mas entrou
em estado de coma.
LIA - E... e quanto tempo ela pode permanecer
assim?
DR. MAX - Talvez um dia... dois... talvez o resto da
vida. É imprevisível.
CORTA PARA:
CENA 2 -
PORTO AZUL - DELEGACIA
- GABINETE DO DR. MOREIRA -
INTERIOR - DIA
MAS O DR. MOREIRA NÃO ERA TÃO FRACO COMO MOSTRAVAM AS
APARÊNCIAS. HAVIA RESQUÍCIOS DE ENERGIA E DE CARÁTER DEBAIXO DA CAPA DE MEDO E
HUMILDADE QUE APRESENTAVA.
DISCOU UM NÚMERO, COM DEDOS NERVOSOS. TRÊMULOS.
DELEGADO - Alô? Telefonista? Me ligue com urgência para
a Secretaria de Segurança, em Florianópolis.
ESPEROU ALGUNS MINUTOS, COM O FONE AO OUVIDO, ENQUANTO OUVIA
O RÁDIO DIVULGAR NOTÍCIAS SOBRE O ATENTADO CONTRA A VIDA DA DONA DO CABARÉ DE
PORTO AZUL. TENTOU CAPTAR DETALHES DO NOTICIÁRIO RADIOFÔNICO. MAS ALGUÉM DO LADO DE LÁ DA LINHA JÁ O CHAMAVA,
COM VOZ APRESSADA.
DELEGADO - Alô? Dr. Secretário? Aqui é o delegado de
Porto Azul. Sim, ele mesmo. Doutor, eu estou enfrentando problemas muito sérios
aqui... creio que vou precisar do seu auxílio urgente.
CORTA PARA:
CENA 3 -
ALDEIA DOS PESCADORES - CHOUPANA DE
MESTRE JONAS - SALA
- INTERIOR - DIA
SEM CONHECER DETALHES DO CRIME, PADRE MIGUEL TINHA PROCURADO
PESSOALMENTE BABY LIBERATO PARA LHE RELATAR A NOVIDADE DESAGRADÁVEL.
INÊS (enxugando as
lágrimas que lhe escorriam pelas faces)
- Mas, padre, não se sabe quem
foi? Não se sabe por que motivo?
PADRE - Dizem que foi um homem do prefeito.
BABY - (revoltado) Covardes! Covardes!
INÊS - Mas que homem, padre?
PADRE - Bem... ela foi encontrada na casa do Tavares.
INÊS - Que miserável!
PADRE - Minha filha, eu não disse que foi o Tavares.
Eu não o estou acusando. Ainda não se tem certeza de nada. O estado dela é
desesperador.
BABY - O senhor disse que foi Lia quem a socorreu?
PADRE - Foi. Eu soube disso através de uma filha de
Maria que é atendente lá no hospital.
INÊS - Agora eu tenho certeza de que aquele bilhete
era falso. Se não fosse... que interesse teria Otto em mandar matá-la? Só há
uma maneira de saber: falando com Lia.
BABY - E quem vai falar com ela?
INÊS - Ora essa... quem havia de ser? Eu.
BABY - Pode ser o padre, por exemplo.
PADRE - Pelo amor de Deus não me meta mais em
confusão.
INÊS - Posso ir vestida de freira e me encontrá com
Lia na sacristia, né, padre?
PADRE - De freira? Valha-me Deus!
O PADRE JUNTOU AS MÃOS, CONTRITO.
CORTA PARA:
CENA 4 -
HOSPITAL - EXTERIOR
- NOITE
O CARRO DO PADRE PAROU NAS CERCANIAS DO HOSPITAL.
CENA 5 -
HOSPITAL - QUARTO DE NANÁ -
INTERIOR - NOITE
LIA MANTINHA UMA DAS MÃOS DE NANÁ ENTRE AS SUAS, QUANDO A
ENFERMEIRA ENTROU NO QUARTO.
ENFERMEIRA - (falou baixo) Dona Lia. Acabo de receber um
recado do Padre Miguel. Ele pede pra senhora dar um pulinho com urgência lá na
igreja.
LIA - (estranhou) Na igreja?
ENFERMEIRA - É, sim senhora. Disse que tem lá uma pessoa
querendo falar com a senhora... e que é assunto muito importante.
A ESPOSA DE OTTO MULLER BENZEU-SE ANTES DE TOMAR UMA DECISÃO
DEFINITIVA.
CORTA PARA:
CENA 5 - CASA
DE ESTER - SALA
- INTERIOR - DIA
PAULUS SORRIU AO APRESENTAR O PADRE.
PAULUS - ... da igrejinha de Sacramento, Ester. Lá no
interior... (levou o sacerdote até o meio da sala, sentando-se ambos no sofá
confortável) Aceita uma bebida, padre?
PADRE - Um vinhozinho, filho, se tiver... O vinho não
ofende a Deus e purifica a alma. (virou-se para Ester, descontraído) Ah, minha
filha, se não fosse o pedido tão significativo do meu amigo, Dr. Paulus... juro
por Deus que não teria vindo. A viagem de ônibus até aqui é terrível... minha
filha. Não pode nem imaginar o que se tem de suportar. Tou até aqui de poeira!
(provou o vinho que Paulus lhe trouxe) Xerez? (estalou a língua) Ah, eu já
havia me esquecido do gosto do xerez.
PAULUS - (cortou, aparentando nervosismo) Bem,
padre... Vamos ao motivo que o trouxe aqui...
PADRE - Estou às suas ordens...
PAULUS - Dona Ester está interessada em informações
sobre um casamento que o senhor realizou, padre. Um especial... dentre tantos
que o senhor já selou. Há uns quinze dias...
PADRE - Há uns quinze
dias atrás... (cerrou o olho esquerdo como se retrocedesse no tempo) ... sim,
me lembro. Era um homenzarrão, usava barba cerrada. O que mais me impressionou
nele foram os olhos... uns olhos que pareciam entrar por dentro da gente.
AS REAÇÕES DE ESTER NÃO PASSARAM DESPERCEBIDAS AO ADVOGADO. À
MEDIDA QUE O SACERDOTE FAZIA AS REVELAÇÕES, A MULHER ISOLAVA-SE DO MUNDO. ERA
TODA CONCENTRAÇÃO NAS PALAVRAS QUE OUVIA.
PADRE - Também me lembro da noiva... que Deus me
perdoe, mas era uma criatura encantadora... mostrava tanta felicidade...
chegava a dar inveja. Eu me lembro tão bem deles porque formavam um casal fora
do comum... sabe? Na certidão ele declarou ser médico... sua carteira de
identidade conferia...
AOS OLHOS ARGUTOS DE VICTOR PAULUS AS REAÇÕES DE ESTER
ESTAVAM CLARAS. CONCLUIU QUE NADA MAIS DEVERIA SER DITO. O OBJETIVO TINHA SIDO
ALCANÇADO COM ABSOLUTO SUCESSO. ERA A PÁ DE CAL NO ROMANCE ESTER-CYRO VALDEZ.
PAULUS - bem, padre... era somente isso que
pretendíamos saber.
PADRE - Se é assim... não me resta outra coisa senão
me despedir e convidá-los a um dia visitar Sacramento. Vão gostar...
O PADRE ESTENDEU A MÃO A ESTER, AO MESMO TEMPO EM QUE
ENDEREÇAVA UM OLHAR COMUNICATIVO AO ADVOGADO DE OTTO MULLER.
SAÍRAM DA SALA.
CORTA PARA:
CENA 6 - CASA
DE ESTER - SALA
- INTERIOR - DIA
A DECISÃO FORA TOMADA NUM MOMENTO DE EXALTAÇÃO EMOCIONAL, MAS
TODA A CIDADE FICOU LOGO POR DENTRO DA NOTÍCIA. INCLUSIVE ORJANA, QUE NÃO
CONSEGUIA ENTENDER A REPENTINA MUDANÇA DE ATITUDE DA EX-ESPOSA DE SEU FILHO.
ORJANA - Não posso acreditar, Ester!
ESTER - Mas é verdade. Eu me caso com Paulus. Vocês
não viram a notícia no jornal?
ORJANA - Sim. E nos deixou chacados. A mim e a
Ricardo.
ESTER - Por quê? Não sou uma mulher livre? Não posso
me casar com quem bem entenda?
ORJANA - Mas é que Paulus...
ESTER - O que tem ele?
ORJANA - (segurou suas mãos com meiguice) Procure
entender, Ester... No estado... em que você está... nós pensávamos que...
depois da revelação que tivemos...
ESTER - Bem... e daí?
RICARDO - (interveio) Julgávamos que você jamais
pretendesse se ligar a outro homem.
ESTER - (explodiu) Só porque vou ser mãe? Isto não
altera as coisas... em nada.
RICARDO - Desculpe... não entendi. Não altera o quê?
ESTER - O fato dele haver se casado com Vanda Vidal.
O ESPANTO MODIFICOU A FISIONOMIA DO CASAL.
RICARDO E ORJANA
- (falaram quase ao mesmo tempo)
Como?
RICARDO - Então é por isso que você tomou essa
resolução?
ESTER - É.
RICARDO - Não vê que essa notícia pode ser simples
boato? O povo às vezes fala por falar. Afinal até agora nada se soube de
positivo. Nenhuma prova concreta.
ESTER - Eu tive essa prova! Conversei com o padre que
celebrou o casamento dos dois...
CORTA PARA:
CENA 7
- PORTO AZUL - IGREJA -
INTERIOR - DIA
INCRÉDULOS DIANTE DA REVELAÇÃO, ORJANA E RICARDO DECIDIRAM
PROCURAR A AJUDA DO VIGÁRIO DE PORTO AZUL. PADRE MIGUEL PODERIA ENCONTRAR A
CHAVE DO MISTÉRIO. A TARDE JÁ IA EM MEIO E O SACERDOTE, VESTINDO UMA BATINA
BRANCA, DEIXOU A SACRISTIA COM O LIVRO
DE ORAÇÕES NA MÃO DIREITA.
PADRE - Como estão, meus filhos?
RICARDO - Padre Miguel... queríamos sua ajuda. O senhor
conhece o vigário da cidadezinha de Sacramento?
PADRE - (pensou um pouco antes de responder) O
vigário de Sacramento? Sim. Um homem alto, careca, de óculos. Por quê?
RICARDO - Ele esteve ontem, aqui, em Porto Azul?
PADRE - Que eu saiba, não. Teria me procurado...
ORJANA - Nós soubemos que ele havia celebrado o
casamento de Cyro com Vanda Vidal. Ele conversou com Ester.
PADRE - Ele sempre foi um sujeito esquisitão. Deve
ter vindo mesmo. É estranho... mas deve ter vindo, sim.
RICARDO - O senhor não poderia entrar em contato com
ele para esclarecer tudo, padre?
PADRE - Claro. Eu vou me comunicar com o vigário de
Sacramento. Mas só posso fazer isso por carta. E vai demorar. Sacramento fica
muito longe e vocês sabem como é o correio por esses lados...
FIM DO CAPÍTULO 111
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