quarta-feira, 7 de janeiro de 2015

O HOMEM QUE DEVE MORRER - Capítulo 107


Novela de Janete Clair

Adaptação de Toni Figueira

CAPÍTULO 107

Participam deste capítulo

Cyro  -  Tarcísio Meira
Vanda  -  Dina Sfat
Baby  -  Claudio Cavalcanti
Inês  -  Betty Faria
Otto  -  Jardel Filho
Naná  -  Mary Daniel
Mestre Jonas  -  Gilberto Martinho
Comendador Liberato  -  Macedo Netto
Valter / Coice de Mula  -  Dary Reis
Marlene
Tavares


CENA 1  -  PORTO AZUL  -  CABARÉ DE NANÁ  -  QUARTO   -  INTERIOR  -  NOITE

MARLENE, DANÇARINA DA BOATE, APONTOU PARA A MULHER QUE DORMIA MUITO À VONTADE NA CAMA DE VANDA VIDAL.

NANÁ  -  (reconheceu de imediato a esposa do filho) Mas... ela está aqui?

MARLENE  -  Esperando desde esta tarde... olha, até dormiu!

NANÁ  -  (balançou a moça com energia) Inês! Inês!

INÊS  -  (despertou, esfregando os olhos) Puxa! Dormi de cansada! A senhora chegou agora?

NANÁ  -  neste momento, minha filha. O que foi que fez você vir aqui? Não é lugar para gente como você, Inês!

INÊS  -  Dona Naná... seu filho está em maus lençóis, tudo por usa causa...

NANÁ  -  Por minha...

INÊS  -  Sim! Por sua causa! Tudo o que está acontecendo é porque a senhora reclamou seus direitos na justiça e com isso impediu a posse dos homens... das suas casas!

NANÁ  -  Eu... reclamei?

INÊS  -  nada de fingimentos, Dona Naná. O juiz impediu porque a senhora reclamou! E é com isso que seu filho não se conforma! E essa luta toda... a fuga dele... é porque Leandro não se conforma mesmo... está revoltado!

NANÁ  -  (ajoelhou-se junto à cama da nora) Meu Deus do Céu! Eu não fiz nada contra meu filho! Eu não reclamei nada na Justiça. Eu não sei do que você está falando, minha filha! Tudo o que você me fala, parece absurdo. Eu não fiz nada contra meu próprio filho!

NANÁ VESTIU-SE COM RAPIDEZ E RUMOU PARA A RESIDENCIA DE OTTO MULLER. ESTAVA DISPOSTA A TUDO. REFLETIRA E A ÚNICA CONCLUSÃO ERA A DE QUE O PREFEITO TINHA FORJADO NOVA TRAMA PARA ENVOLVÊ-LA E PREJUDICAR OS INTERESSES DO SEU FILHO. ELA ESCLARECERIA TUDO DENTRO DE MINUTOS.

CORTA PARA:

CENA 2  -  MANSÃO DE OTTO MULLER  -  SALA  -  INTERIOR  -  NOITE

E MESMO ANTE A REAÇÃO DE WERNER VON MULLER QUE TENTOU IMPEDIR SUA ENTRADA NA LUXUOSA MORADIA, NANÁ FORÇOU A PORTA E INGRESSOU NA GRANDE SALA. OTTO FESTEJAVA O CÊRCO CONTRA CYRO VALDEZ. A DONA DO CABARÉ PASSEOU OS OLHOS PELA SALA E ATENTOU PARA A PRESENÇA DO COMENDADOR LIBERATO. DIRIGIU-SE ATÉ ELE, ANTE OS OLHARES ESTARRECIDOS DOS CONVIDADOS DO PREFEITO.

NANÁ  -  Posso falar com você? É importante!

O COMENDADOR AFASTOU-SE, CABISBAIXO, PARA UM CANTO NAS PROXIMIDADES DA ESCADARIA. APOIOU-SE NO CORRIMÃO.

COMENDADOR  -  Está satisfeita com os últimos acontecimentos? Não era isso o que pretendia? Que seu filho se transformasse num fora-da-lei para fazer valer seus direitos?

NANÁ  -  Parece que todos vocês me acusam como responsável por esta situação. Você quer me explicar o que está havendo? Eu não fiz nada contra meu filho! Juro!

COMENDADOR  -  (cerrou os punhos) Elisa... não seja cínica!

NANÁ  -  Pelo amor de Deus, Augusto... me diga alguma coisa... senão enlouqueço!

COMENDADOR  -  A procuração que deu ao Dr. Paulus, Victor Paulus, para ele agir na sua ausência, contra Baby...

NANÁ  ATORDOOU-SE COM A REVELAÇÃO.

NANÁ  -  (abriu a boca, de espanto) Pro... pro... curação?

ENQUANTO AUGUSTO LIBERATO SE AFASTAVA, DISCRETAMENTE, OTTO MULLER SE APROXIMOU DA MULHER.

OTTO  -  Queria falar comigo, Naná?

NANÁ  -  (despejou sua ira contra o alemão) O que você fez, miserável?

OTTO  -  (ignorou o ataque) Já recebeu minha comunicação? Vou fechar o seu cabaré... a pedido do povo de Porto Azul em peso. Válter... (gritou para o assecla) mostre a lista de assinaturas... Sua casa é indesejável nesta cidade. A senhora tem 24 horas para fechar a casa e desaparecer. Vai receber a notificação... oficial.

NANÁ  -  (mal podia falar, com as lágrimas a escorrer pelo rosto excessivamente pintado) O que foi que você fez, seu canalha? Sujo! Miserável! Eu vou à Justiça! Vou acabar com sua alegria! Seu porco afeminado! Vou te desmascarar! Quem vai para a cadeia é você! Está me ouvindo? É você que vai para a cadeia!

OTTO BATIA PALMINHAS NERVOSAS, ENQUANTO DOIS HOMENS DO SEU BANDO AFASTAVAM A MULHER DA SALA.

OTTO  -  Desculpem-me por tudo isso... só porque fui obrigado a fechar o cabaré dela a pedido do povo desta minha cidade. Alegria... hoje é um dia de felicidade para todos nós. Aos poucos vamos limpar a cidade dos maus elementos... Cyro, Baby... Jonas... e agora desta prostituta... Naná! Alegria, minha gente! Alegria!

CORTA PARA:
Vanda Vidal (Dina Sfat)

CENA 3  -  CAJAZEIRAS  -  EXTERIOR  -  DIA

CYRO DESCEU DO LOMBO DA MONTARIA E OLHOU DO ALTO DA MONTANHA O PANORAMA QUE SE DESCORTINAVA AOS SEUS OLHOS. A CACHOEIRA CAINDO, AO LONGE, AS VEREDAS POR ENTRE A VEGETAÇÃO VERDE. MAIS AO LONGE, AS ROCHAS ENCARPADAS QUE ABRANDAVAM O VENTO TRAZIDO DO MAR. CYRO RESPIROU FUNDO O OXIGÊNIO DE CAJAZEIRAS.

CYRO  -  (dirigiu-se a Jonas, mostrando uma casa de tijolos escondida numa sebe) É aqui?

MESTRE JONAS  -  Só pode ser aqui, Cyro!

VANDA  - (jogando os braços por sobre o pescoço do médico, abraçando-o por trás) É bonito, Cyro! Lindo!

CYRO  -  Vamos descer.

VANDA  -  Estamos no fim do mundo! (e dançava alegremente) Estamos livres! Estamos livres! Neste céu ninguém encontra a gente! É o lugar mais lindo do mundo, Cyro! Estamos no céu! Alcançamos a residência de Deus!

ABRAÇOU CYRO, RINDO RUIDOSAMENTE.

MESTRE JONAS  -  (aborrecido) Começô o assanhamento!

VANDA  -  Estamos no céu!

MESTRE JONAS  -  Pôca vergonha!

CYRO  -  (sorriu, abraçando a jovem) Deixa ela, Jonas. Você implica demais! Ela está feliz e isso é muito bom pra ela!

VANDA  -  Estamos no céu! Estamos no céu!

O VENTO BATIA FORTE CONTRA AS PALMEIRAS ABANANDO AS COPAS DO ARVOREDO. UM CHEIRO DE MATO EMANAVA DO MUNDO VERDE QUE ENVOLVIA OS FIGITIVOS DE PORTO AZUL.

CORTA PARA:

CENA 4  -  CHOUPANA  NA MATA  -  INTERIOR  -  NOITE

BABY, DE CÓCORAS A UM CANTO DO CASEBRE, PENSAVA NAS PALAVRAS DE INÊS. RELEMBRAVA PEDAÇOS DA CONVERSA QUE A ESPOSA TIVERA COM NANÁ, NO CABARÉ.

INÊS  -  Tá nervoso, bem? Por que não dorme?

O FOGO CREPITAVA NA FOGUEIRINHA DE GALHOS SECOS.

BABY  -  Estive pensando... no que você me disse.

INÊS  -  Na sua mãe?

BABY  -  É... nela! Se a gente pudesse acreditar... se fosse uma pessoa de confiança... eu iria até ela e diria o que tem a fazer para nos ajudar...

INÊS  -  Mas ela vai fazer... Seria muito bom... se isso ficasse resolvido por bem. Você está cansado de brigar...

BABY  -  Estou, embora não esteja querendo cruzar os braços e esperar. Mas seria muito bom se ela decidisse, com a justiça, acabar com esse conflito.

INÊS  -  Tenho fé em Deus que ela entendeu bem o que eu disse. Que tudo depende dela!

BABY  -  (abraçou-a amorosamente) Você hoje cometeu uma boa ação, mosquinha!

INÊS  -  Não mereço um prêmio?

O RAPAZ OLHOU-A E ENTENDEU O DESEJO QUE SE APOSSAVA DA MULHER.

CORTA PARA:

CENA 5  -  PORTO AZUL -  CABARÉ DA NANÁ  -  INTERIOR  -  NOITE

ERAM QUASE DUAS HORAS DA MADRUGADA. A MÚSICA SUAVE ENCHIA OS RECANTOS DO CABARÉ, ONDE VÁRIOS CASAIS SE ACHAVAM.

NANÁ DORMITAVA DE ROUPA E SAPATO, SOBRE A CAMA DE VANDA VIDAL. SENTIU QUANDO A MÃO DE MARLENE SACUDIU-A LEVEMENTE.

MARLENE  -  Dona Naná! (ela abriu os olhos) Tem um cara aí querendo falar com a senhora. Disse que vem da parte do seu advogado.

NANÁ  -  Faça entrar...

MARLENE COLOCOU O DORSO DA MÃO CONTRA A BOCA, BOCEJANDO DEMORADAMENTE. FEZ UM SINAL PARA FORA E TAVARES ENTROU NO PEQUENO QUARTO DE PAREDES COR-DE-ROSA. NANÁ ACENDEU A LUZ.

NANÁ  -  Vem da parte de quem?

TAVARES  -  Do advogado.

NANÁ  -  Dr. Garcia? Estou esperando por ele até agora. Que horas são?

TAVARES  -  (olhou o relógio de pulso) Duas da manhã.

NANÁ  -  Como é tarde! Ele está aí?

TAVARES  -  Não. Ele mandou lhe chamar. Se é urgente o que tem de falar com ele, pra me acompanhar logo.

NANÁ  -  Onde ele está?

TAVARES  -  Lá fora, no carro.

NANÁ  -  Podia ter entrado!

TAVARES  -  Mandou eu vir saber se a senhora ainda estava de pé.

NANÁ  -  Faça ele entrar pra cá... eu espero...

TAVARES  -  Não. Ele tem razões para não querer entrar. Sabe... a esposa é danada de ciumenta. E este lugar... as mulheres...

NANÁ  -  (sorriu, entendida) Ah, eu compreendo! Então eu vou falar com ele um instante, no carro...

AJEITOU LIGEIRAMENTE OS CABELOS, FRENTE AO ESPELHO E SAIU COM O ASSECLA DE OTTO MULLER.

CORTA PARA:

CENA 6  -  CABARÉ DE NANÁ  -  EXTERIOR  -  NOITE

NA PORTA DA RUA, TAVARES INDICOU O CARRO NEGRO, ESTACIONADO SOB UMA ÁRVORE FRONDOSA, NA PRAÇA. NANÁ ATRAVESSOU A PISTA E SE ENCAMINHOU PARA O AUTOMÓVEL.

SÓ NO INTERIOR PERCEBEU A TRAMA. NÃO ERA O DR. GARCIA QUEM A ESPERAVA DENTRO DO CARRO NEGRO.

NANÁ  -  O que é isso?

VON MULLER  -  Não se assustarr, Dona Naná!

NANÁ  -  Mas... o senhor não é o Dr. Garcia!

VON MULLER  -  Eu vir a mando dele.

NANÁ  -  Não acredito! É uma cilada!

VON MULLER  -  Nós a levaremos até Dr. Garcia.

NANÁ  -  Não... eu não quero ir!

NANÁ TENTOU SAIR DO CARRO, MAS A MÃO FORTE DE TAVARES A IMPEDIU. COM VIOLENCIA, O BANDIDO A ATIROU NO BANCO TRASEIRO, COMPRIMINDO A MÃO IMUNDA CONTRA A BOCA DA MULHER. NANÁ TENTOU GRITAR, MAS MAL PODIA RESPIRAR, ENQUANTO O CARRO PARTIA, AFASTANDO-SE DO CENTRO DA CIDADEZINHA.

FIM DO CAPÍTULO 107



        

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