Novela de Janete Clair
Adaptação de Toni Figueira
CAPÍTULO 107
Participam deste
capítulo
Cyro -
Tarcísio Meira
Vanda - Dina
Sfat
Baby -
Claudio Cavalcanti
Inês -
Betty Faria
Otto -
Jardel Filho
Naná - Mary
Daniel
Mestre Jonas -
Gilberto Martinho
Comendador
Liberato - Macedo Netto
Valter / Coice de
Mula -
Dary Reis
Marlene
Tavares
CENA 1 -
PORTO AZUL - CABARÉ DE NANÁ -
QUARTO - INTERIOR
- NOITE
MARLENE, DANÇARINA DA BOATE, APONTOU PARA A MULHER QUE DORMIA
MUITO À VONTADE NA CAMA DE VANDA VIDAL.
NANÁ - (reconheceu de imediato a esposa do filho)
Mas... ela está aqui?
MARLENE - Esperando desde esta tarde... olha, até
dormiu!
NANÁ - (balançou a moça com energia) Inês! Inês!
INÊS - (despertou, esfregando os olhos) Puxa! Dormi
de cansada! A senhora chegou agora?
NANÁ - neste momento, minha filha. O que foi que fez
você vir aqui? Não é lugar para gente como você, Inês!
INÊS - Dona Naná... seu filho está em maus lençóis,
tudo por usa causa...
NANÁ - Por minha...
INÊS - Sim! Por sua causa! Tudo o que está
acontecendo é porque a senhora reclamou seus direitos na justiça e com isso
impediu a posse dos homens... das suas casas!
NANÁ - Eu... reclamei?
INÊS - nada de fingimentos, Dona Naná. O juiz
impediu porque a senhora reclamou! E é com isso que seu filho não se conforma!
E essa luta toda... a fuga dele... é porque Leandro não se conforma mesmo...
está revoltado!
NANÁ
- (ajoelhou-se junto à cama da
nora) Meu Deus do Céu! Eu não fiz nada contra meu filho! Eu não reclamei nada
na Justiça. Eu não sei do que você está falando, minha filha! Tudo o que você
me fala, parece absurdo. Eu não fiz nada contra meu próprio filho!
NANÁ VESTIU-SE COM RAPIDEZ E RUMOU PARA A RESIDENCIA DE OTTO
MULLER. ESTAVA DISPOSTA A TUDO. REFLETIRA E A ÚNICA CONCLUSÃO ERA A DE QUE O
PREFEITO TINHA FORJADO NOVA TRAMA PARA ENVOLVÊ-LA E PREJUDICAR OS INTERESSES DO
SEU FILHO. ELA ESCLARECERIA TUDO DENTRO DE MINUTOS.
CORTA PARA:
CENA 2 -
MANSÃO DE OTTO MULLER - SALA - INTERIOR
- NOITE
E MESMO ANTE A REAÇÃO DE WERNER VON MULLER QUE TENTOU IMPEDIR
SUA ENTRADA NA LUXUOSA MORADIA, NANÁ FORÇOU A PORTA E INGRESSOU NA GRANDE SALA.
OTTO FESTEJAVA O CÊRCO CONTRA CYRO VALDEZ. A DONA DO CABARÉ PASSEOU OS OLHOS
PELA SALA E ATENTOU PARA A PRESENÇA DO COMENDADOR LIBERATO. DIRIGIU-SE ATÉ ELE,
ANTE OS OLHARES ESTARRECIDOS DOS CONVIDADOS DO PREFEITO.
NANÁ - Posso falar com você? É importante!
O COMENDADOR AFASTOU-SE, CABISBAIXO, PARA UM CANTO NAS
PROXIMIDADES DA ESCADARIA. APOIOU-SE NO CORRIMÃO.
COMENDADOR - Está satisfeita com os últimos
acontecimentos? Não era isso o que pretendia? Que seu filho se transformasse
num fora-da-lei para fazer valer seus direitos?
NANÁ - Parece que todos vocês me acusam como
responsável por esta situação. Você quer me explicar o que está havendo? Eu não
fiz nada contra meu filho! Juro!
COMENDADOR - (cerrou os punhos) Elisa... não seja cínica!
NANÁ - Pelo amor de Deus, Augusto... me diga alguma
coisa... senão enlouqueço!
COMENDADOR - A procuração que deu ao Dr. Paulus, Victor
Paulus, para ele agir na sua ausência, contra Baby...
NANÁ ATORDOOU-SE COM A
REVELAÇÃO.
NANÁ - (abriu a boca, de espanto) Pro... pro...
curação?
ENQUANTO AUGUSTO LIBERATO SE AFASTAVA, DISCRETAMENTE, OTTO
MULLER SE APROXIMOU DA MULHER.
OTTO - Queria falar comigo, Naná?
NANÁ - (despejou sua ira contra o alemão) O que você
fez, miserável?
OTTO - (ignorou o ataque) Já recebeu minha
comunicação? Vou fechar o seu cabaré... a pedido do povo de Porto Azul em peso.
Válter... (gritou para o assecla) mostre a lista de assinaturas... Sua casa é
indesejável nesta cidade. A senhora tem 24 horas para fechar a casa e
desaparecer. Vai receber a notificação... oficial.
NANÁ - (mal podia falar, com as lágrimas a escorrer
pelo rosto excessivamente pintado) O que foi que você fez, seu canalha? Sujo!
Miserável! Eu vou à Justiça! Vou acabar com sua alegria! Seu porco afeminado!
Vou te desmascarar! Quem vai para a cadeia é você! Está me ouvindo? É você que
vai para a cadeia!
OTTO BATIA PALMINHAS NERVOSAS, ENQUANTO DOIS HOMENS DO SEU
BANDO AFASTAVAM A MULHER DA SALA.
OTTO - Desculpem-me por tudo isso... só porque fui
obrigado a fechar o cabaré dela a pedido do povo desta minha cidade. Alegria...
hoje é um dia de felicidade para todos nós. Aos poucos vamos limpar a cidade
dos maus elementos... Cyro, Baby... Jonas... e agora desta prostituta... Naná!
Alegria, minha gente! Alegria!
CENA 3 - CAJAZEIRAS -
EXTERIOR - DIA
CYRO DESCEU DO LOMBO DA MONTARIA E OLHOU DO ALTO DA MONTANHA
O PANORAMA QUE SE DESCORTINAVA AOS SEUS OLHOS. A CACHOEIRA CAINDO, AO LONGE, AS
VEREDAS POR ENTRE A VEGETAÇÃO VERDE. MAIS AO LONGE, AS ROCHAS ENCARPADAS QUE
ABRANDAVAM O VENTO TRAZIDO DO MAR. CYRO RESPIROU FUNDO O OXIGÊNIO DE
CAJAZEIRAS.
CYRO - (dirigiu-se a Jonas, mostrando uma casa de
tijolos escondida numa sebe) É aqui?
MESTRE JONAS - Só pode ser aqui, Cyro!
VANDA - (jogando os
braços por sobre o pescoço do médico, abraçando-o por trás) É bonito, Cyro!
Lindo!
CYRO - Vamos descer.
VANDA - Estamos no fim do mundo! (e dançava
alegremente) Estamos livres! Estamos livres! Neste céu ninguém encontra a gente! É o lugar mais lindo do mundo, Cyro! Estamos no céu!
Alcançamos a residência de Deus!
ABRAÇOU CYRO, RINDO RUIDOSAMENTE.
MESTRE JONAS - (aborrecido) Começô o assanhamento!
VANDA - Estamos no céu!
VANDA - Estamos no céu!
MESTRE JONAS - Pôca vergonha!
CYRO - (sorriu, abraçando a jovem) Deixa ela, Jonas.
Você implica demais! Ela está feliz e isso é muito bom pra ela!
VANDA - Estamos no céu! Estamos no céu!
O VENTO BATIA FORTE CONTRA AS PALMEIRAS ABANANDO AS COPAS DO
ARVOREDO. UM CHEIRO DE MATO EMANAVA DO MUNDO VERDE QUE ENVOLVIA OS FIGITIVOS DE
PORTO AZUL.
CORTA PARA:
CENA 4 -
CHOUPANA NA MATA -
INTERIOR - NOITE
BABY, DE CÓCORAS A UM CANTO DO CASEBRE, PENSAVA NAS PALAVRAS
DE INÊS. RELEMBRAVA PEDAÇOS DA CONVERSA QUE A ESPOSA TIVERA COM NANÁ, NO
CABARÉ.
INÊS - Tá nervoso, bem? Por que não dorme?
O FOGO CREPITAVA NA FOGUEIRINHA DE GALHOS SECOS.
BABY - Estive pensando... no que você me disse.
INÊS - Na sua mãe?
BABY - É... nela! Se a gente pudesse acreditar... se
fosse uma pessoa de confiança... eu iria até ela e diria o que tem a fazer para
nos ajudar...
INÊS - Mas ela vai fazer... Seria muito bom... se
isso ficasse resolvido por bem. Você está cansado de brigar...
BABY - Estou, embora não esteja querendo cruzar os
braços e esperar. Mas seria muito bom se ela decidisse, com a justiça, acabar
com esse conflito.
INÊS - Tenho fé em Deus que ela entendeu bem o que
eu disse. Que tudo depende dela!
BABY - (abraçou-a amorosamente) Você hoje cometeu
uma boa ação, mosquinha!
INÊS - Não mereço um prêmio?
O RAPAZ OLHOU-A E ENTENDEU O DESEJO QUE SE APOSSAVA DA
MULHER.
CORTA PARA:
CENA 5 -
PORTO AZUL - CABARÉ DA NANÁ -
INTERIOR - NOITE
ERAM QUASE DUAS HORAS DA MADRUGADA. A MÚSICA SUAVE ENCHIA OS
RECANTOS DO CABARÉ, ONDE VÁRIOS CASAIS SE ACHAVAM.
NANÁ DORMITAVA DE ROUPA E SAPATO, SOBRE A CAMA DE VANDA
VIDAL. SENTIU QUANDO A MÃO DE MARLENE SACUDIU-A LEVEMENTE.
MARLENE - Dona Naná! (ela abriu os olhos) Tem um cara
aí querendo falar com a senhora. Disse que vem da parte do seu advogado.
NANÁ - Faça entrar...
MARLENE COLOCOU O DORSO DA MÃO CONTRA A BOCA, BOCEJANDO
DEMORADAMENTE. FEZ UM SINAL PARA FORA E TAVARES ENTROU NO PEQUENO QUARTO DE
PAREDES COR-DE-ROSA. NANÁ ACENDEU A LUZ.
NANÁ - Vem da parte de quem?
TAVARES - Do advogado.
NANÁ - Dr. Garcia? Estou esperando por ele até
agora. Que horas são?
TAVARES - (olhou o relógio de pulso) Duas da manhã.
NANÁ - Como é tarde! Ele está aí?
TAVARES - Não. Ele mandou lhe chamar. Se é urgente o
que tem de falar com ele, pra me acompanhar logo.
NANÁ - Onde ele está?
TAVARES - Lá fora, no carro.
NANÁ - Podia ter entrado!
TAVARES - Mandou eu vir saber se a senhora ainda estava
de pé.
NANÁ - Faça ele entrar pra cá... eu espero...
TAVARES - Não. Ele tem razões para não querer entrar.
Sabe... a esposa é danada de ciumenta. E este lugar... as mulheres...
NANÁ - (sorriu, entendida) Ah, eu compreendo! Então
eu vou falar com ele um instante, no carro...
AJEITOU LIGEIRAMENTE OS CABELOS, FRENTE AO ESPELHO E SAIU COM
O ASSECLA DE OTTO MULLER.
CORTA PARA:
CENA 6 -
CABARÉ DE NANÁ - EXTERIOR
- NOITE
NA PORTA DA RUA, TAVARES INDICOU O CARRO NEGRO, ESTACIONADO
SOB UMA ÁRVORE FRONDOSA, NA PRAÇA. NANÁ ATRAVESSOU A PISTA E SE ENCAMINHOU PARA
O AUTOMÓVEL.
SÓ NO INTERIOR PERCEBEU A TRAMA. NÃO ERA O DR. GARCIA QUEM A
ESPERAVA DENTRO DO CARRO NEGRO.
NANÁ - O que é isso?
VON MULLER - Não se assustarr, Dona Naná!
NANÁ - Mas... o senhor não é o Dr. Garcia!
VON MULLER - Eu vir a mando dele.
NANÁ - Não acredito! É uma cilada!
VON MULLER - Nós a levaremos até Dr. Garcia.
NANÁ - Não... eu não quero ir!
NANÁ TENTOU SAIR DO CARRO, MAS A MÃO FORTE DE TAVARES A
IMPEDIU. COM VIOLENCIA, O BANDIDO A ATIROU NO BANCO TRASEIRO, COMPRIMINDO A MÃO
IMUNDA CONTRA A BOCA DA MULHER. NANÁ TENTOU GRITAR, MAS MAL PODIA RESPIRAR, ENQUANTO
O CARRO PARTIA, AFASTANDO-SE DO CENTRO DA CIDADEZINHA.
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