Novela de Janete Clair
Adaptação de Toni Figueira
CAPÍTULO 112
Participam deste capítulo
Baby - Claudio Cavalcanti
Cyro - Tarcisio Meira
Ester - Gloria Menezes
Otto - Jardel Filho
Inês - Betty Faria
Prof. Valdez - Ênio Santos
Bárbara - Zilka Salaberry
Orjana - Neusa Amaral
Ricardo - Edney Giovenazzi
Paulus - Emiliano Queiroz
Delegado - Vinicius Salvatori
Dr. Max - Alvaro Aguiar
Lia - Arlete Salles
Daniel - Paulo Araújo
CENA 1 - PORTO AZUL - PREFEITURA - GABINETE DE OTTO MULLER - INTERIOR - DIA
OTTO - Então, o Dr. Cyro Valdez... o todo-poderoso... quer se encontrar comigo?
OTTO MULLER ARREGALOU OS OLHOS, BATENDO HISTÉRICAMENTE COM OS PUNHOS NO PEITO. APROXIMOU-SE DO EMISSÁRIO, CARATEANDO AMEAÇADORAMENTE.
ZECA - Qué, sim senhô. Foi o que ele lhe mandô dizê... Taqui no bilhete.
OTTO MULLER TOMOU O PAPEL COM GESTO AGRESSIVO. LEU.
OTTO - “O portador é homem que absoluta confiança. Siga as instruções dele. Caso contrário você se arrependerá. Cyro Valdez”.
OTTO RECONHECEU A LETRA DO MÉDICO E NUM ROMPANTE DE IRA RASGOU O PAPEL, ATIRANDO-O CONTRA O EMISSÁRIO DO INIMIGO.
OTTO - Caso contrário você se arrependerá! Está vendo só, Válter? Ele ainda tem a coragem, a petulância de me ameaçar! Um fugitivo da justiça! Com a cabeça a prêmio e ameaçando o prefeito desta cidade! Um homem íntegro! Um homem cuja vida é um livro aberto. Patife! (rodopiou na sala, sentando-se na cadeira de braços. Olhou diretamente para o rapaz que se postava seguro à sua frente) Como é seu nome?
ZECA - Zeca.
OTTO - Muito bem. O senhor, então, seu Zeca, cai do céu de repente em meu gabinete dizendo que Cyro Valdez deseja me ver. Me mostra um bilhete dele... e espera que eu acredite nisso tudo. Deixe-me olhá-lo bem, seu Zeca.
O HOMEM NÃO DEMONSTROU COVARDIA DIANTE DA MANEIRA AUTORITÁRIA DO PREFEITO.
ZECA - (retrucou com firmeza) Olha aqui, seu Otto. Se o senhô qué acreditá, muito bem. Se num qué, deixa eu ir mimbora pra levá sua recusa ao Dotô Cyro. Ele sabe muito bem o que deve de fazê...
OTTO - Vamos supor, só pra argumentar, que eu aceitasse. Onde, por exemplo, nos encontraríamos?
ZECA OLHOU PARA COICE DE MULA SIGNIFICATIVAMENTE.
ZECA - Tô autorizado a dizê isso só pro sinhô. Ninguém mais deve sabê...
OTTO - (berrou) Que petulância! Pois fique sabendo que, se você é o homem de confiança de Cyro, Válter é o meu homem de confiança. Entendeu bem?
ZECA - (concordou) Tá bem... eu falo. O encontro vai sê hoje, no barraco onde eu moro. A 50 quilômetros daqui.
CORTA PARA:
CENA 2 - ESTRADA - EXTERIOR - DIA
DURANTE TODA A VIAGEM ZECA SE MANTEVE CALADO, EVITANDO RESPONDER ÀS PERGUNTAS DE OTTO MULLER. NUM
CERTO MOMENTO, O HOMEM ANUNCIOU QUE O RESTO SERIA FEITO A PÉ. E EXIGIU QUE AMBOS SE DEIXASSEM VENDAR. O CAMINHO TINHA DE SER MANTIDO EM SEGREDO. ERA ORDEM SEVERA DE CYRO VALDEZ. OTTO CALCULOU QUE TIVESSEM ANDADO CERCA DE 35 MINUTOS, ANTES DE ZECA ORDENAR QUE PARASSEM. VÁRIAS VOLTAS POR CAMINHOS COMPLICADOS AFASTAVAM QUALQUER HIPÓTESE DE RECONSTITUIÇÃO DA VIAGEM. RECONHECIA A EFICIÊNCIA DO EMISSÁRIO DE CYRO.
CENA 3 - CASA DE ZECA - INTERIOR - DIA
ZECA BATEU COM OS NÓS DOS DEDOS NUMA PORTA DE MADEIRA E OS HOMENS ENTRARAM. O PRÓPRIO PREFEITO RETIROU A VENDA NEGRA QUE LHE OCULTAVA OS OLHOS. E DEPAROU COM A FIGURA SERENA DO HOMEM A QUEM ODIAVA.
OTTO - Ora, até que enfim... até que enfim, Cyro Valdez!
CYRO - Boa noite, Otto. Como vai você?
OTTO - Está perguntando como vou de saúde? Pois está vendo: muito bem!
CYRO - Fico satisfeito com isso. Agora você quer saber por que veio ao meu encontro, não?
OTTO - Claro. Estou ansioso por isso, Dr. Cyro!
CYRO - Você sabe que é um homem desumano, cruel e que usa o seu cargo para matar, roubar e criar sofrimento para o povo de Porto Azul. (Otto apequenou os olhos, enrubescendo) Eu quero que você não utilize mais a violência contra ninguém em Porto Azul. E exijo que mande soltar Baby e os outros homens. A prisão deles chegou ao meu conhecimento cá em cima. E eu não estou de acordo com essa arbitrariedade.
OTTO - (rangendo os dentes) Eu não disse que você tinha ficado maluco? Então você acha que eu vou mandar soltar o meu querido priminho e aquela corja de vagabundos, depois de todo o sacrifício que tive para conseguir prendê-los? Você é audacioso, Cyro Valdez!
CYRO - Eu exijo que você liberte Baby e os outros. E que dê a eles o direito de ocuparem suas casas.
OTTO - (riu irônicamente) Você não está em condições de exigir nada!
CYRO - Estou, Otto. E vou lhe provar.
OTTO - Então prove.
CYRO FIXOU COM ENERGIA O INIMIGO. UM PARANÓICO. DOENTE MENTAL, DIGNO DE PENA.
CYRO - Bem... se quer mesmo que eu lhe diga... eu sei quem matou Ivanzinho... Sei quem causou o desmoronamento, acendendo o estopim da dinamite, para comprometer Baby... Sei quem matou Pedrão, na praça, para espalhar o pânico entre os homens... com um tiro que era reservado para mim. Sei que foram as mesmas mãos que cometeram os três crimes. E sei de muita coisa mais. Sei quem foi o miserável que pagou para que tudo isso fosse feito!
OTTO - (abriu a boca e a voz saiu minguada, pequenina) Sabe?
CYRO - Foi você, Otto Muller... você, orientado pelo carrasco de guerra, Werner Von Muller e ajudado pelo miserável Doutor Victor Paulus.
OTTO LEVOU MAQUINALMENTE A MÃO AO PEITO. O CORAÇÃO TAQUICARDEAVA DOIDAMENTE.
OTTO - Não diga mais nada... não é preciso. Não fale mais. Eu vou morrer e você me matou!
CYRO - (segurou o pulso do prefeito, controlando os batimentos) Não... você não vai morrer, Otto. Você sabe que nas minhas mãos não morre!
OTTO - (tomando uns comprimidos que o médico lhe dera) Você me odeia muito?
CYRO - Não... eu não o odeio. Nem sinto desprezo ou piedade por você. Vejo apenas que você é um doente. E que eu posso salvá-lo. Venha comigo. Você nunca sentiu vontade de se transformar num novo homem? De ver no seu semelhante um irmão, sem diferença de cor, nem raça? Nunca teve vontade de ser bom, Otto?
OTTO - Ir com você... me transformar... deixar Porto Azul. Eu não teria forças... nem coragem.
CYRO - Tente, Otto. Eu lhe darei forças e coragem.
OTTO - (levantou-se com movimentos difíceis) Quero que me responda: quanto quer para não me denunciar? Diga o seu preço. Não importa quanto. Sou rico. Tenho possibilidade de lhe dar tudo o que você quiser.
CYRO - Não, Otto. Prefiro continuar como estou. Não é dinheiro o que eu quero. Prefiro permanecer livre.
OTTO - Livre para quê? Pra ser acusado injustamente? Pra ser perseguido? Pra andar se escondendo pelo mato como bicho? Essa é a liberdade que você deseja?
CYRO - Desejo ser livre pra fazer o bem. Para poder exigir que você mande soltar Baby e os seus homens imediatamente.
OTTO - (após longa pausa) Pois bem. Vou fazer o que você pede. Chame aquele homem. Quero ir embora.
CYRO FOI ATÉ A PORTA E FEZ UM SINAL COM A CABEÇA PARA O COMPANHEIRO. ZECA ENTROU E TORNOU A VENDAR OS OLHOS DO PREFEITO.
CYRO - Eu lhe dou 24 horas para mandar soltar os homens e deixá-los entrar nas casas que lhes pertencem. São 6 horas e 16 minutos. Se até amanhã, a esta hora você não fizer o que eu quero, entrarei na cidade para denunciar seus crimes. Pode levá-lo, Zeca.
CORTA PARA:
CENA 4 - PORTO AZUL - CASA DE D. BÁRBARA - SALA - INTERIOR - DIA
VALDEZ, O VELHO PROFESSOR, ERA A IMAGEM DA AFOBAÇÃO AO ENTRAR EM CASA COMO UM ALUCINADO.
PROF. VALDEZ - Bárbara! Bárbara!
BÁRBARA - Que foi? Por que essa maluquice toda? Que aconteceu? Baby fugiu da cadeia? Cyro se entregou? Ester casou?
PROF. VALDEZ - Nada disso... eles acharam. Os homens lá na praia, os mergulhadores parece que encontraram o meteorito.
ORJANA - (vendo que o engenheiro acabava de entrar, ainda com as vestes úmidas da água do mar) Encontraram mesmo alguma coisa, Ricardo?
RICARDO - Não se sabe ao certo! Encontraram uma pedra. O Professor Zacarias levou tudo para o centro espacial. Vão analisá-la.
PROF. VALDEZ - (indicou com um movimento de braço o tamanho do meteorito) Olha, era uma baita pedra! Desse tamanho!
CORTA PARA:
CENA 5 - PORTO AZUL - PREFEITURA - GABINETE DE OTTO - INTERIOR - DIA
OTTO OLHOU O RELÓGIO. ERA MANHÃ AINDA. VOLTOU-SE PARA O DELEGADO QUE SE POSTAVA ERETO À SUA FRENTE.
OTTO - Mande soltar os homens. Todos eles.
DELEGADO - Baby Liberato também?
OTTO - Principalmente ele.
DELEGADO - Mas isto não faz sentido.
OTTO - Pelo amor de Deus, delegado! Não comece a teimar novamente comigo. Estou dando uma enorme prova de fé na humanidade. Meu interesse maior nisso tudo era dar uma lição no doidivanas do meu primo. Quis mostrar a ele que a violência pode gerar a violência.... que o ódio não constrói... só o amor pode trazer a paz e a concórdia.
DELEGADO - Bem... estou entendendo! Mas me responda uma coisa: se eu soltar e eles tornarem a cometer desatinos, armados, pra tentar entrar de novo nas casas?
OTTO - Aí é que está, delegado. O ponto básico de todo o problema. Prepare-se para presenciar uma grande lição de humanidade. Talvez a maior que já tenha visto! Delegado, nós vamos permitir que os homens ocupem as casas.
DR. MOREIRA FICOU EXTÁTICO, SEM ACREDITAR NO QUE OUVIA.
DELEGADO - O que foi... que o senhor disse?
OTTO - O que o senhor ouviu, delegado! Eu assumo a inteira responsabilidade. O amor e a justiça encontram-se no infinito da bondade humana. Tenho a certeza de que o Juiz compreenderá isso. Agora, vá... solte os homens e deixe-os entrar nas casas.
CORTA PARA:
CENA 6 - CASA DE ESTER - SALA - INTERIOR - DIA
AS PALAVRAS PRONUNCIADAS POR NANÁ NO LEITO DO HOSPITAL ECOAVAM AINDA NOS OUVIDOS DE ESTER E MESMO DIANTE DAS NEGATIVAS DO DR. PAULUS, ELA NÃO SE DEIXAVA COMOVER.
PAULUS - Mas Ester... só porque uma moribunda disse duas palavras, isso não quer dizer que eu esteja envolvido em nada que possa me comprometer. Você tem de confiar em mim.
ESTER - Ela disse: “Dr. Paulus” e “fui traída”.
PAULUS - E por isso você decidiu me acusar?
ESTER - Eu não o estou acusando (disse, com frieza) Ninguém está desconfiando de você.
PAULUS - Vocês não poderão provar nada.
ESTER - (observando a intranquilidade do homem) Você já está pensando em provas?
PAULUS - Bem... é... é uma maneira de dizer.
ESTER PERCEBIA QUE TRILHAVA CAMINHO CERTO. POR ALI PODERIA CHEGAR À SOLUÇÃO DE MUITOS MISTÉRIOS.
ESTER - Seria absurdo imaginar que você estivesse envolvido. Mas... Otto e o pai estão, não?
PAULUS - (gaguejou) Estão.
ESTER - Como é que você sabe?
PAULUS - Eu... bem... imagino.
ESTER - Você era o procurador de Naná quando ela impugnou a doação feita por Baby, não era?
PAULUS - Era. O que tem isso demais? Sou advogado.
ESTER - Paulus... vocês falsificaram a procuração?
PAULUS - (estremeceu) Ora, Ester... por favor... não seja ridícula!
ESTER - Responda, Paulus.
PAULUS - Eu não vou responder nada!
CORTA PARA:
CENA 7 - HOSPITAL - QUARTO DE NANÁ - INTERIOR - DIA
DR. MAX GUARDOU O ESTETOSCÓPIO E CONCLUIU O EXAME DE NANÁ. NÃO ESCONDIA A SATISFAÇÃO DIANTE DO RESULTADO.
DR. MAX - Ela está reagindo muito bem, Dona Lia. É surpreendente. Parece que alguma coisa a prende à vida. Algo que a tirou da verdadeira morte clínica na qual se debateu durante todos esses dias.
LIA - Eu sei o que é, doutor! Eu sei o que é!
MAX ABRIU OS OLHOS, ATENTO. LIA EMUDECEU.
CORTA PARA:
CENA 8 - PORTO AZUL - CASA DE BABY - INTERIOR - DIA
BABY LEU O BILHETE QUE DANIEL LHE MOSTRAVA. O BILHETE DE CYRO A OTTO. TODOS OS HOMENS ESTAVAM LIVRES, E ISSO SURPREENDIA AO HERDEIRO DO COMENDADOR LIBERATO.
BABY - Então foi por isso que aquele cretino cedeu! Eu tinha certeza. Ele não podia ter ficado bonzinho de uma hora para outra. Não um cara como Otto.
DANIEL - Eu acho que o mais importante é o que o pai falou a respeito de Cesário. Se ele tá mesmo na cidade, a gente tem de achá ele, antes que ele entregue o Doutô Cyro.
BABY CONVOCOU O GRUPO.
BABY - Vamos botar todo mundo de sobreaviso. O pessoal tem de caçar esse bandido pela cidade. Tem que achar ele de qualquer maneira. Vamos embora, Inês... você, reúna as mulheres. Vasculhem tudo. Quero aquele patife vivo ou morto...
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