Novela de Janete Clair
Adaptação de Toni Figueira
CAPÍTULO 113
Participam deste
capítulo
Otto -
Jardel Filho
Cyro -
Tarcisio Meira
Cesário -
Carlos Eduardo Dolabella
Vanda - Dina
Sfat
Mestre Jonas -
Gilberto Martinho
Ester -
Gloria Menezes
Delegado Moreira
- Vinicius Salvatori
CENA 1 -
MANSÃO DE OTTO MULLER - SALA
- INTERIOR -
NOITE
ENQUANTO A NOITE AVANÇAVA E UMA TEMPESTADE SE FORMAVA SOBRE A
REGIÃO COSTEIRA CATARINENSE, OTTO MULLER PASSEAVA DE UM LADO PARA OUTRO, NA
GRANDE SALA DE VISITAS DE SEU PALACETE.
OTTO - (voltou-se para Cesário) Então? Que é que
você veio fazer aqui?
CESÁRIO ESTAVA BARBADO E SUJO.
CESÁRIO – (falou com cinismo, unindo as mãos diante do peito)
Acho que chegou a hora.
OTTO - Hora de quê? Você está louco? E por que veio
me incomodar tão tarde?
CESÁRIO - Porque não quero ser visto na cidade. Bem...
(fez uma pausa premeditada) Quanto é que vai me pagar pra eu lhe dizê onde o
Doutô Cyro está?
OTTO - Eu não estava pensando em dinheiro.
CESÁRIO - Pois eu estou, Seu Otto.
OTTO - Pensei que você se interessasse por outras
coisas... uma pequena fazenda, quem sabe? Com todo o conforto, onde você
pudesse viver o resto de sua vida.
CESÁRIO - Não, Seu Otto. Eu quero tutu, grana...
OTTO - está bem, então. Eu faço um preço.
CESÁRIO - Ótimo... vamos lá... pode dizer.
OTTO - O que é que você me diz de 100 mil?
CESÁRIO - (gesticulou com a mão) Não dá nem pra gente
conversá...
OTTO - Duzentos...
CESÁRIO - Tá melhorando... mas ainda não dá.
OTTO - Tá bem. Trezentos.
CESÁRIO - O senhor não acha que o Dr. Cyro vale muito
mais? Acho melhor a gente não perdê mais tempo (bateu com uma mão sobre a
outra) Eu quero 500 mil pra dizê onde o Dr. Cyro está. Com toda a segurança.
OTTO - (espantou-se) 500 mil?
CESÁRIO - Isso mesmo. Nenhum tostão a menos.
OTTO - Está muito bem. Eu concordo.
CESÁRIO - Eu sabia que o sinhô ia concordá. Também tem
os seus sonhos e a cabeça de Cyro Valdez é um deles.
OTTO - (contornou a mesa central e postou-se diante
do rapaz) Bem... agora me diga onde ele está.
CESÁRIO - Nada disso, Seu Otto. Primeiro a grana. E em
tutu vivo. Nada de cheque. Dinheiro vivo. Eu sei que o senhor tem a erva aqui
em casa. (apontou para a parece) Nesse cofre aí.
OTTO - Eu tenho apenas a metade. Dou o resto depois
que Cyro for preso.
COM VISÍVEL MÁ VONTADE, OTTO MULLER GIROU O SEGREDO E ABRIU O
COFRE. CONTOU AS CÉDULAS E COLOCOU-AS EM FILEIRA, SOBRE A MESA. CESÁRIO AVANÇOU, MAS O ALEMÃO O DETEVE
COM UM MOVIMENTO FELINO.
OTTO - Calminha, Cesário! Agora... o nome do lugar.
Onde é que está o miserável do Cyro Valdez?
CESÁRIO - Num lugar chamado Cajazeiras, a mais ou menos
três horas de viagem daqui. É uma casa de montanha muito difícil de achar. É
preciso um gruía para chegar até lá.
OTTO - De qualquer forma, faça um mapa do lugar para
não haver dúvida, enquanto eu telefono.
CORTA PARA:
CENA 2 -
CAJAZEIRAS - CHOUPANA DE CYRO -
QUARTO - INTERIOR
- NOITE
NA CHOUPANA DA SERRA, ENVOLVIDO PELO SILENCIO QUE LHE DOÍA
NOS OUVIDOS, CYRO VALDEZ LEVANTOU-SE ABRUPTAMENTE DA CAMA RÚSTICA. SENTOU-SE E
PÔS AMBAS AS MÃOS NO ROSTO.
CYRO - Cesário, Cesário... por que você me traiu?
CORTA PARA:
CENA 3 - PORTO
AZUL -
MANSÃO DE OTTO MULLER - SALA - INTERIOR
- NOITE.
OTTO MULLER FAZIA CONEXÃO PELO TELEFONE COM A DELEGACIA.
CHAMOU O DR. MOREIRA COM URGENCIA À SUA CASA.
DEZ MINUTOS DEPOIS...
DELEGADO - Pronto, senhor prefeito!
OTTO - Cesário tem uma grande notícia para o senhor,
delegado.
DELEGADO - Que notícia?
OTTO - Ele vai lhe dizer onde está o Dr. Cyro
Valdez!
DELEGADO - (olhou para o bandido, desconfiado) Vamos lá.
Onde está o fugitivo?
CESÁRIO - Num lugar que chama de Cajazeiras... uma casa
rústica de montanha. Um sítio difícil de ser localizado.
OTTO ABRIU UM PAPEL DIANTE DO POLICIAL.
OTTO - Aqui tem a direção certa. (o delegado fixou o
desenho de linhas sinuosas) Por este mapa não vai haver engano.
DELEGADO - Nunca soube que houvesse um sítio nesse lugar
(virou-se para o criminoso) Vou para lá imediatamente.
OTTO - (segurou o ombro do delegado com energia)
Calma, doutor! Temos de dar tempo de Cesário seguir na frente. Faz parte da
tática de apresamento... O Cesário aqui é um artista.
CESÁRIO - O caso, delegado, é que eu não quero que
ninguém saiba que fui eu. Cyro tem muitos amigos...
DELEGADO - Está bem. Eu lhe dou algumas horas de
dianteira. Depois sigo com a minha gente.
OTTO - (bateu palmas com histerismo) Graças a Deus!
Vamos agarrar de vez aquele médico maldito!
CORTA PARA:
CENA 3 - CAJAZEIRAS -
CHOUPANA DE CYRO - INTERIOR
- DIA
OS PRIMEIROS RAIOS DE SOL DOURAVAM OS MONTES. AVERMELHANDO O
VERDE DAS ÁRVORES, QUANDO CESÁRIO ENTROU NA CHOUPANA DA SERRA, ALEGRE E
SORRINDO PARA OS COMPANHEIROS.
CESÁRIO - Oi, gente... Olá, amigos...
NENHUMA VOZ ROMPEU O SILENCIO EM RESPOSTA À SAUDAÇÃO DO
BANDIDO. CESÁRIO ARREPIOU-SE. BUSCOU A FIGURA DE CYRO VALDEZ.
CESÁRIO - Tudo bem por aqui? Cadê o Doutô Cyro? Que que
há? Parece que viraro bicho do mato... Sou eu, gente.
VANDA ERGUEU SEUS GRANDES OLHOS PARA O RECÉM-CHEGADO. HAVIA
RANCOR E DESPREZO NO SEU OLHAR.
VANDA - Por onde você
andou?
CESÁRIO - Fui... fui até Porto Azul.
VANDA - Eu sabia!
CESÁRIO - Fui sim. Não nego. Fui vê minha mãe. A
coitadinha tava meio maluca sem sabê notícia minha...
MESTRE JONAS LEVANTOU-SE DO BANCO QUE CIRCUNDAVA A MESA. FEIÇÕES
SEVERAS, TRANSTORNADAS PELA RAIVA.
MESTRE JONAS - Foi só... vê sua mãe?
CESÁRIO FICOU PARADO SOB A PORTA DE ENTRADA. MEIO DE LADO,
COMO SE AGUARDASSE UMA SAÍDA DE EMERGÊNCIA.
CESÁRIO - Só! Que mais eu pudia fazê, gente?
CYRO APARECEU AO FUNDO DA SALA E ANDOU LENTAMENTE ATÉ ONDE SE
ENCONTRAVAM OS COMPANHEIROS.
CYRO - (falou pausado, olhando fundo nos olhos do
bandido) Demorou, Cesário... Você andou muito?
CESÁRIO - Pedi carona pela estrada até chegar aqui.
CYRO - Sirva um café pro nosso companheiro, Vanda.
CORTA PARA:
CENA 4 -
CAJAZEIRAS - CHOUPANA DE CYRO -
EXTERIOR - DIA
POR UNS INSTANTES CESÁRIO SE CONFUNDIU COM O MATO, OBSERVANDO
O COMPRIDO E SINUOSO CAMINHO DE ACESSO À CABANA. PERCEBEU A PRESENÇA DO GRUPO
DE SOLDADOS. À FRENTE, O DELEGADO DE PORTO AZUL. FEZ UM SINAL COM A MÃO,
AVISANDO QUE NÃO HAVIA HOMENS ARMADOS NAS IMEDIAÇÕES. NUM MOVIMENTO RÁPIDO, OS
HOMENS ENVOLVERAM A CHOUPANA E O DELEGADO, COM UM EMPURRÃO FIME, ESCANCAROU A
PORTA.
CENA 5 -
CAJAZEIRAS - CHOUPANA DE CYRO -
INTERIOR - DIA
A ARMA DE CANO APONTADO PARA O GRUPO DE FORAGIDOS. JONAS
LEVANTOU-SE, PÁLIDO. DR. MOREIRA RECONHECEU A FIGURA SERENA DO MÉDICO.
MOVIMENTOU A ARMA.
DELEGADO - O senhor está preso, Dr. Cyro Valdez!
JONAS AVANÇOU AMEAÇADORAMENTE NA DIREÇÃO DO DELEGADO.
MESTRE JONAS - O senhor não pode fazê isso!
DELEGADO - O senhor também está preso. Todos estão
presos!
CYRO - (falou, sem rispidez, dirigindo-se ao
policial) Meus companheiros não fizeram nada. Não tem o direito de prendê-los.
DELEGADO - Se fizeram ou não, isso é outra conversa.
Vamos. (ordenou ao Cabo Faria) Leve todo mundo para o carro.
CORTA PARA:
CENA 6 -
PORTO AZUL - DELEGACIA
- INTERIOR - DIA
JÁ ERA DIA EM PORTO AZUL. UM SOL ACANHADO COMEÇAVA A SE
DEBRUÇAR POR SOBRE A MURALHA DE NUVENS PESADAS QUE SE AFASTAVAM RUMO AO
ALTO-MAR. CYRO DEIXOU A PEQUENA SALA E SE DIRIGIU À SALA DE VISITAS DA
DELEGACIA. ESTER O ESPERAVA ENTRE NERVOSA E INCRÉDULA. A NOTÍCIA CORRERA POR
TODA A CIDADE COM QUE IMPELIDA POR UM VENTO FORTE: CYRO VALDEZ FORA PRESO.
CYRO - (pegando as mãos da mulher) Obrigado por ter
vindo, Ester!
ESTER - Você imaginou que eu não viesse?
CYRO - Não, não... bem... é que... É tão
maravilhoso!
ESTER - (retirou as mãos, num gesto frio e seco)
Solte-me!
CYRO - (atônito) O que foi? O que é que você tem?
Está contra mim?
ESTER - Cyro. Estou aqui porque preciso
desesperadamente que você me responda a uma pergunta!
CYRO - Faça a sua pergunta!
ESTER - Você está casado com Vanda Vidal?
CYRO - Por que você pergunta uma coisa dessas?
ESTER - Responda.
CYRO - Eu não posso compreender. É uma coisa tão
absurda!
ESTER - Absurda porque é verdade?
CYRO - Não. Exatamente pelo contrário.
ESTER - Eu estive com o padre que celebrou o
casamento de vocês.
CYRO - (atônito) Que padre?
ESTER - O vigário de Sacramento, lugar onde vocês se
casaram.
FIM DO CAPÍTULO 113
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