quarta-feira, 21 de janeiro de 2015

O HOMEM QUE DEVE MORRER - Capítulo 113


Novela de Janete Clair

Adaptação de Toni Figueira

CAPÍTULO 113

Participam deste capítulo

Otto  -  Jardel Filho
Cyro  -  Tarcisio Meira
Cesário  -  Carlos Eduardo Dolabella
Vanda  -  Dina Sfat
Mestre Jonas  -  Gilberto Martinho
Ester  -  Gloria Menezes
Delegado  Moreira  -  Vinicius Salvatori


CENA 1  -  MANSÃO DE OTTO MULLER  -  SALA  -  INTERIOR  -  NOITE

ENQUANTO A NOITE AVANÇAVA E UMA TEMPESTADE SE FORMAVA SOBRE A REGIÃO COSTEIRA CATARINENSE, OTTO MULLER PASSEAVA DE UM LADO PARA OUTRO, NA GRANDE SALA DE VISITAS DE SEU PALACETE.

OTTO  -  (voltou-se para Cesário) Então? Que é que você veio fazer aqui?

CESÁRIO ESTAVA BARBADO E SUJO.

CESÁRIO – (falou com cinismo, unindo as mãos diante do peito) Acho que chegou a hora.

OTTO  -  Hora de quê? Você está louco? E por que veio me incomodar tão tarde?

CESÁRIO  -  Porque não quero ser visto na cidade. Bem... (fez uma pausa premeditada) Quanto é que vai me pagar pra eu lhe dizê onde o Doutô Cyro está?

OTTO  -  Eu não estava pensando em dinheiro.

CESÁRIO  -  Pois eu estou, Seu Otto.

OTTO  -  Pensei que você se interessasse por outras coisas... uma pequena fazenda, quem sabe? Com todo o conforto, onde você pudesse viver o resto de sua vida.

CESÁRIO  -  Não, Seu Otto. Eu quero tutu, grana...

OTTO  -  está bem, então. Eu faço um preço.

CESÁRIO  -  Ótimo... vamos lá... pode dizer.

OTTO  -  O que é que você me diz de 100 mil?

CESÁRIO  -  (gesticulou com a mão) Não dá nem pra gente conversá...

OTTO  -  Duzentos...

CESÁRIO  -  Tá melhorando... mas ainda não dá.

OTTO  -  Tá bem. Trezentos.

CESÁRIO  -  O senhor não acha que o Dr. Cyro vale muito mais? Acho melhor a gente não perdê mais tempo (bateu com uma mão sobre a outra) Eu quero 500 mil pra dizê onde o Dr. Cyro está. Com toda a segurança.

OTTO  -  (espantou-se) 500 mil?

CESÁRIO  -  Isso mesmo. Nenhum tostão a menos.

OTTO  -  Está muito bem. Eu concordo.

CESÁRIO  -  Eu sabia que o sinhô ia concordá. Também tem os seus sonhos e a cabeça de Cyro Valdez é um deles.

OTTO  -  (contornou a mesa central e postou-se diante do rapaz) Bem... agora me diga onde ele está.

CESÁRIO  -  Nada disso, Seu Otto. Primeiro a grana. E em tutu vivo. Nada de cheque. Dinheiro vivo. Eu sei que o senhor tem a erva aqui em casa. (apontou para a parece) Nesse cofre aí.

OTTO  -  Eu tenho apenas a metade. Dou o resto depois que Cyro for preso.

COM VISÍVEL MÁ VONTADE, OTTO MULLER GIROU O SEGREDO E ABRIU O COFRE. CONTOU AS CÉDULAS E COLOCOU-AS EM  FILEIRA, SOBRE A MESA. CESÁRIO AVANÇOU, MAS O ALEMÃO O DETEVE COM UM MOVIMENTO FELINO.

OTTO  -  Calminha, Cesário! Agora... o nome do lugar. Onde é que está o miserável do Cyro Valdez?

CESÁRIO  -  Num lugar chamado Cajazeiras, a mais ou menos três horas de viagem daqui. É uma casa de montanha muito difícil de achar. É preciso um gruía para chegar até lá.

OTTO  -  De qualquer forma, faça um mapa do lugar para não haver dúvida, enquanto eu telefono.

CORTA PARA:

CENA 2  -  CAJAZEIRAS  -  CHOUPANA DE CYRO  -  QUARTO  -  INTERIOR  -  NOITE

NA CHOUPANA DA SERRA, ENVOLVIDO PELO SILENCIO QUE LHE DOÍA NOS OUVIDOS, CYRO VALDEZ LEVANTOU-SE ABRUPTAMENTE DA CAMA RÚSTICA. SENTOU-SE E PÔS AMBAS AS MÃOS NO ROSTO.

CYRO  -  Cesário, Cesário... por que você me traiu?

CORTA PARA:


CENA 3  -  PORTO AZUL  -  MANSÃO DE OTTO MULLER  -  SALA  -  INTERIOR  -  NOITE.

OTTO MULLER FAZIA CONEXÃO PELO TELEFONE COM A DELEGACIA. CHAMOU O DR. MOREIRA COM URGENCIA À SUA CASA.

DEZ MINUTOS DEPOIS...

DELEGADO  -  Pronto, senhor prefeito!

OTTO  -  Cesário tem uma grande notícia para o senhor, delegado.

DELEGADO  -  Que notícia?

OTTO  -  Ele vai lhe dizer onde está o Dr. Cyro Valdez!

DELEGADO  -  (olhou para o bandido, desconfiado) Vamos lá. Onde está o fugitivo?

CESÁRIO  -  Num lugar que chama de Cajazeiras... uma casa rústica de montanha. Um sítio difícil de ser localizado.

OTTO ABRIU UM PAPEL DIANTE DO POLICIAL.

OTTO  -  Aqui tem a direção certa. (o delegado fixou o desenho de linhas sinuosas) Por este mapa não vai haver engano.

DELEGADO  -  Nunca soube que houvesse um sítio nesse lugar (virou-se para o criminoso) Vou para lá imediatamente.

OTTO  -  (segurou o ombro do delegado com energia) Calma, doutor! Temos de dar tempo de Cesário seguir na frente. Faz parte da tática de apresamento... O Cesário aqui é um artista.

CESÁRIO  -  O caso, delegado, é que eu não quero que ninguém saiba que fui eu. Cyro tem muitos amigos...

DELEGADO  -  Está bem. Eu lhe dou algumas horas de dianteira. Depois sigo com a minha gente.

OTTO  -  (bateu palmas com histerismo) Graças a Deus! Vamos agarrar de vez aquele médico maldito!

CORTA PARA:

CENA 3  -  CAJAZEIRAS  -  CHOUPANA DE CYRO  -  INTERIOR  -  DIA

OS PRIMEIROS RAIOS DE SOL DOURAVAM OS MONTES. AVERMELHANDO O VERDE DAS ÁRVORES, QUANDO CESÁRIO ENTROU NA CHOUPANA DA SERRA, ALEGRE E SORRINDO PARA OS COMPANHEIROS.

CESÁRIO  -  Oi, gente... Olá, amigos...

NENHUMA VOZ ROMPEU O SILENCIO EM RESPOSTA À SAUDAÇÃO DO BANDIDO. CESÁRIO ARREPIOU-SE. BUSCOU A FIGURA DE CYRO VALDEZ.

CESÁRIO  -  Tudo bem por aqui? Cadê o Doutô Cyro? Que que há? Parece que viraro bicho do mato... Sou eu, gente.

VANDA ERGUEU SEUS GRANDES OLHOS PARA O RECÉM-CHEGADO. HAVIA RANCOR E DESPREZO NO SEU OLHAR.

VANDA  - Por onde você andou?

CESÁRIO  -  Fui... fui até Porto Azul.

VANDA  -  Eu sabia!

CESÁRIO  -  Fui sim. Não nego. Fui vê minha mãe. A coitadinha tava meio maluca sem sabê notícia minha...

MESTRE JONAS LEVANTOU-SE DO BANCO QUE CIRCUNDAVA A MESA. FEIÇÕES SEVERAS, TRANSTORNADAS PELA RAIVA.

MESTRE JONAS  -  Foi só... vê sua mãe?

CESÁRIO FICOU PARADO SOB A PORTA DE ENTRADA. MEIO DE LADO, COMO SE AGUARDASSE UMA SAÍDA DE EMERGÊNCIA.

CESÁRIO  -  Só! Que mais eu pudia fazê, gente?

CYRO APARECEU AO FUNDO DA SALA E ANDOU LENTAMENTE ATÉ ONDE SE ENCONTRAVAM OS COMPANHEIROS.

CYRO  -  (falou pausado, olhando fundo nos olhos do bandido) Demorou, Cesário... Você andou muito?

CESÁRIO  -  Pedi carona pela estrada até chegar aqui.

CYRO  -  Sirva um café pro nosso companheiro, Vanda.

CORTA PARA:

CENA 4  -  CAJAZEIRAS  -  CHOUPANA DE CYRO  -  EXTERIOR  - DIA

POR UNS INSTANTES CESÁRIO SE CONFUNDIU COM O MATO, OBSERVANDO O COMPRIDO E SINUOSO CAMINHO DE ACESSO À CABANA. PERCEBEU A PRESENÇA DO GRUPO DE SOLDADOS. À FRENTE, O DELEGADO DE PORTO AZUL. FEZ UM SINAL COM A MÃO, AVISANDO QUE NÃO HAVIA HOMENS ARMADOS NAS IMEDIAÇÕES. NUM MOVIMENTO RÁPIDO, OS HOMENS ENVOLVERAM A CHOUPANA E O DELEGADO, COM UM EMPURRÃO FIME, ESCANCAROU A PORTA.

CENA 5  -  CAJAZEIRAS  -  CHOUPANA DE CYRO  -  INTERIOR  -  DIA

A ARMA DE CANO APONTADO PARA O GRUPO DE FORAGIDOS. JONAS LEVANTOU-SE, PÁLIDO. DR. MOREIRA RECONHECEU A FIGURA SERENA DO MÉDICO. MOVIMENTOU A ARMA.

DELEGADO  -  O senhor está preso, Dr. Cyro Valdez!

JONAS AVANÇOU AMEAÇADORAMENTE NA DIREÇÃO DO DELEGADO.

MESTRE JONAS  -  O senhor não pode fazê isso!

DELEGADO  -  O senhor também está preso. Todos estão presos!

CYRO  -  (falou, sem rispidez, dirigindo-se ao policial) Meus companheiros não fizeram nada. Não tem o direito de prendê-los.

DELEGADO  -  Se fizeram ou não, isso é outra conversa. Vamos. (ordenou ao Cabo Faria) Leve todo mundo para o carro.

CORTA PARA:

CENA 6  -  PORTO AZUL  -  DELEGACIA  -  INTERIOR  -  DIA

JÁ ERA DIA EM PORTO AZUL. UM SOL ACANHADO COMEÇAVA A SE DEBRUÇAR POR SOBRE A MURALHA DE NUVENS PESADAS QUE SE AFASTAVAM RUMO AO ALTO-MAR. CYRO DEIXOU A PEQUENA SALA E SE DIRIGIU À SALA DE VISITAS DA DELEGACIA. ESTER O ESPERAVA ENTRE NERVOSA E INCRÉDULA. A NOTÍCIA CORRERA POR TODA A CIDADE COM QUE IMPELIDA POR UM VENTO FORTE: CYRO VALDEZ FORA PRESO.

CYRO  -  (pegando as mãos da mulher) Obrigado por ter vindo, Ester!

ESTER  -  Você imaginou que eu não viesse?

CYRO  -  Não, não... bem... é que... É tão maravilhoso!

ESTER  -  (retirou as mãos, num gesto frio e seco) Solte-me!

CYRO  -  (atônito) O que foi? O que é que você tem? Está contra mim?

ESTER  -  Cyro. Estou aqui porque preciso desesperadamente que você me responda a uma pergunta!

CYRO  -  Faça a sua pergunta!

ESTER  -  Você está casado com Vanda Vidal?

CYRO  -  Por que você pergunta uma coisa dessas?

ESTER  -  Responda.

CYRO  -  Eu não posso compreender. É uma coisa tão absurda!

ESTER  -  Absurda porque é verdade?

CYRO  -  Não. Exatamente pelo contrário.

ESTER  -  Eu estive com o padre que celebrou o casamento de vocês.

CYRO  -  (atônito) Que padre?

ESTER  -  O vigário de Sacramento, lugar onde vocês se casaram.

FIM DO CAPÍTULO 113





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