Novela de Janete Clair
Adaptação de Toni Figueira
CAPÍTULO 115
ÚLTIMOS CAPÍTULOS!
ÚLTIMOS CAPÍTULOS!
Participam deste
capítulo
Cyro -
Tarcísio Meira
Otto -
Jardel Filho
Paulus -
Emiliano Queiroz
Dr. Max -
Álvaro Aguiar
Válter / Coice de
Mula -
Dary Reis
Baby -
Claudio Cavalcanti
Catarina - Lidia Matos
Delegado -
Vinicius Salvatori
Inspetor
Tavares
Ricardo -
Edney Giovenazzi
CENA 1 -
PORTO AZUL - DELEGACIA
- INTERIOR - DIA
HORAS DEPOIS OS REPÓRTERES AFLUÍRAM EM MASSA À PEQUENA
DELEGACIA DE PORTO AZUL. FLASHES ESPOCAVAM A TODO INSTANTE RECOLHENDO
FLAGRANTES PARA AS REVISTAS E JORNAIS DA CAPITAL E DE VÁRIOS ESTADOS. O
INSPETOR RESPONDIA NA MEDIDA DO POSSÍVEL ÀS PERGUNTAS QUE OS JORNALISTAS LHE
FAZIAM.
REPÓRTER 1 - O senhor nos poderia dizer quem era o morto?
INSPETOR - Em vista das circunstancias especiais que
cercaram o caso, eu desconfiei que se tratasse de um criminoso nazista.
Solicitei informações à Secretaria de Segurança e minhas suspeitas foram
confirmadas. Tratava-se de um antigo colaborador de Himmler e Eichmann.
REPÓRTER 2 - Soubemos que ele era protegido por Otto
Muller.
REPÓRTER 3 - o
que o senhor pretende fazer a respeito?
CORTA PARA:
CENA 2 -
PORTO AZUL - EXTERIOR
- DIA
TRÊS PESSOAS APENAS ACOMPANHAVAM CONTRITAS O CARRO FUNERÁRIO
COM O CAIXÃO DE WERNER VON MULLER QUE CRUZAVA AS RUAS CENTRAIS DA CIDADEZINHA
DE SANTA CATARINA: OTTO MULLER, CATARINA E DR. PAULUS. A TARDE COMEÇAVA A CAIR
E UM VENTO FRESCO TORNAVA AGRADÁVEL AQUELE PEÇADO DO TERRITÓRIO CATARINENSE. OS
OLHOS COMPRIDOS DO ZÉ POVINHO ASSISTIAM À PASSAGEM DO CORPO DAQUELE QUE SE
DIZIA “UM SER SUPERIOR”. MEMBRO DE UMA SUPER-RAÇA INVENCÍVEL E INDÔMITA.
CENA 3 -
PORTO AZUL - EXTERIOR
- NOITE
À NOITE PORTO AZUL LEMBRAVA AS CIDADEZINHAS PRAIANAS DO
NORDESTE BRASILEIRO. MUITA GENTE À BEIRA-MAR, ASPIRANDO O AR SALITRADO, E OS
BARCOS PESQUEIROS A REGRESSAR APÓS O TRABALHO DURO A MILHAS DA COSTA. OS PEIXES
FRESCOS ERAM VENDIDOS ALI MESMO, DENTRO DOS BARCOS, A PREÇOS CONVIDATIVOS.
CENA 4 -
PORTO AZUL - MANSÃO DE OTTO MULLER -
SALA - INTERIOR
- NOITE
NAQUELA NOITE OTTO MULLER PRETENDIA DORMIR CEDO E FOI
DESPEDIR-SE DE DONA CATARINA, QUANDO A MÃE O AVISOU, MEIO APREENSIVA, APONTANDO
UM HOMEM QUE SE ACHAVA NA SALA.
CATARINA - Meu filho... este senhor deseja lhe falar.
OTTO MULLER CONSIDEROU O HOMEM, DE ALTO A BAIXO. UM TIPO
FORTE, DE MEIA IDADE, COM AR SEVERO E ALTIVO.
INSPETOR - Senhor Otto
Muller, sou o Inspetor Miguez de Melo, da Secretaria de Segurança do Estado, e
estou aqui para lhe fazer algumas perguntas indispensáveis a respeito de Werner
Von Muller, um criminoso de guerra nazista, morto ontem nesta cidade.
OTTO - Só posso lhe dizer que ele era meu pai.
INSPETOR - (encarou-o surpreso) Sei que talvez este não
seja o momento oportuno para esta espécie de interrogatório. Respeito sua
dor...
OTTO - (voltou a falar) Só posso lhe dizer que ele
era meu pai.
INSPETOR - Senhor Otto... por favor, não dificulte as
coisas. A morte desse homem está tendo repercussão internacional. As
autoridades judaicas solicitaram informações ao governo brasileiro. Acabo de
receber telegrama do Secretário de Segurança nesse sentido. É muito importante
que o senhor me preste alguns esclarecimentos. O senhor entende isso...
OTTO - Ele era meu pai, isso não basta?
INSPETOR - mas era também um nazista, responsável pela
morte de milhares de judeus.
OTTO - Era quem me dava coragem e alento.
INSPETOR - Foi um dos carrascos de Treblinka e
Auschwitz. O caçador de nazistas Simon Wiesenthal reuniu centenas de
testemunhas contra ele.
OTTO CONTINUAVA DESLIGADO, PÁLIDO, IMPASSÍVEL. O INSPETOR
NOTOU O ESTADO EMOCIONAL DO PREFEITO.
INSPETOR - Senhor Otto! Está sentindo alguma coisa?
CORTA PARA:
Von Muller (Jorge Cherques) |
CENA 4 -
MANSÃO DE OTTO MULLER - QUARTO DE OTTO -
INTERIOR - NOITE
LOGO APÓS OUVIR OTTO MULLER, O INSPETOR MIGUEZ CONVERSOU
RAPIDAMENTE COM O DR. PAULUS, ACRESCENTANDO MAIS ALGUNS PONTOS AO SEU
RACIOCÍNIO. AS COISAS COMEÇAVAM A SE DEFINIR E OS MISTÉRIOS DE PORTO AZUL DENTRO DE POUCO TEMPO PASSARIAM AO ROL DOS CASOS
RESOLVIDOS. PAULUS SUBIU AO ANDAR SUPERIOR DO PALACETE, EM BUSCA DO CHEFE.
PAULUS - O procurador me fez várias perguntas, Otto, e
disse que Cyro lhe prometeu contar tudo o que sabe no tribunal, durante o
julgamento... (Otto estremeceu) Você sabe o que isso significa, Otto? Cyro tem
de morrer... não é possível que ele continue nos fazendo tanto mal. Já não
basta a morte de seu pai? Ester... Ester também... você sabia que ela está
espernado um filho dele?
OTTO - (fuzilou de ódio) Um filho! Um filho!
PAULUS - É, Otto! Um filho! Um filho dele! Você se
convenceu de que Cyro deve morrer?
O PREFEITO PENSOU POR ALGUNS INSTANTES, ANTES DE RESPONDER.
CURVOU ATÉ RACHAR UMA RÉGUA DE PLÁSTICO QUE APANHOU NA ESCRIVANINHA.
OTTO - (estava inteiramente transtornado) Está
bem... eu concordo. Cyro Valdez tem de morrer! Tem de morrer! Tome as
providencias. Chame Válter.
O CAPATAZ ENTROU NO APOSENTO COM ANDAR MACIO. SABIA QUE ALGO
DE MUITO GRAVE ESTAVA ACONTECENDO E ALGUMA DECISÃO IMPORTANTE TINHA SIDO TOMADA
PELOS DOIS HOMENS. PAULUS SEGUROU-O PELO OMBRO.
PAULUS - Válter... precisamos de um homem de
confiança, de absoluta confiança, para uma missão importantíssima. Um caso de
vida e morte. E pensamos em você.
OTTO BALANÇOU A CABEÇA LUZIDIA, NUM GESTO DE AQUIESCÊNCIA.
COICE DE MULA - De que se trata?
PAULUS - Você é fiel a Otto. Já deu provas disso. Nós
confiamos inteiramente em você. Por isso foi nosso escolhido.
COICE DE MULA - Para quê?
OTTO - (revelou, com voz pausada) Para matar o Dr.
Cyro!
COICE DE MULA - Matar? Mas por quê? O Dr. Cyro?
OTTO - Porque ele sabe demais. E se falar sobre nós
na polícia, todos nós estamos perdidos... incluindo você.
COICE DE MULA - Mas... eu... eu não fiz nada!
OTTO - Você foi nosso cúmplice. Ele será julgado na
próxima semana e vai revelar tudo o que sabe.
PAULUS - Se nos livrarmos desse homem, tudo acaba bem.
O idiota do Cesário não é problema, pois tem muita culpa no cartório e depende
muito de nós. Não há nada que afirme que Naná vai se recuperar... mas, se isso
acontecer, eu mesmo faço piorar o seu estado. Quanto a Das Dores, se disser
alguma coisa, jogaremos a culpa sobre Von Muller, que já não existe e não
poderá acusar, nem se defender. Você está entendendo?
OTTO - O perigo maior é Cyro Valdez!
PAULUS - A morte dele nos livrará de todas as
acusações... poderemos viver em paz... e cuidaremos então de gratificar você
generosamente.
OTTO - Eu lhe darei uma pequena fortuna.
PAULUS - Você terá um cargo mais elevado. Será um
homem rico. Otto lhe oferecerá a direção das minas...
COICE DE MULA - (balançou nos alicerces. A tentação era
demais) A direção? O senhor disse?!
OTTO - Sim... a direção geral da companhia de
mineração.
COICE DE MULA - Mas o Seu Baby... ainda manda nas minas...
PAULUS - Mas não pode decidir nada sozinho.
COICE DE MULA - Puxa! Eu... eu! Diretor geral da companhia de
mineração! Eu!
PAULUS - (aproveitou a onda de entusiasmo) Então?
Aceita ou não aceita?
COICE DE MULA - Certo! Eu aceito! O que tenho de fazer?
PAULUS - Muito simples. Temos de retirar Cyro da cadeia
em hora morta... esta madrugada... nisso eu ajudo. Depois você e mais um homem
de confiança o levarão para muito longe, onde darão cabo dele... e jogarão seu
corpo depois, num barranco... ou darão outro fim mais adequado.
CORTA PARA:
CENA 5
- PORTO AZUL -
DELEGACIA - INTERIOR
- NOITE
APENAS TRÊS HOMENS MONTAVAM GUARDA À CADEIA DE PORTO AZUL E
UMA NEBLINA INDEVASSÁVEL VINHA FACILITAR OS MOVIMENTOS DOS HOMENS DE OTTO
MULLER. VÁLTER CARPINELLI OLHOU O RELÓGIO DE PULSO. 2,30 DA MADRUGADA. EM QUESTÃO DE SEGUNDOS, OS HOMENS DOMINARAM OS
SOLDADOS, AMARRANDO-OS NAS CADEIRAS DA SALA DE VISITAS. PAULUS APANHOU AS
CHAVES DAS CELAS E, SEGUIDO PELOS CAPANGAS, DIRIGIU-SE PARA AQUELA EM QUE CYRO
ESTAVA. O MÉDICO TENTOU REAGIR, MAS DEPOIS DE UMA BREVE LUTA, FOI INTEIRAMENTE
DOMINADO.
TAVARES, LIBERTADO PELO ADVOGADO, SORRIA DE SATISFAÇÃO DIANTE
DO INIMIGO VENCIDO.
CORTA PARA:
CENA 6 -
PORTO AZUL - EXTERIOR
- NOITE
O DR. MAX ACABARA DE EXAMINAR OTTO MULLER, ACOMETIDO DE
SÚBITA CRISE E DEIXAVA O PALACETE, PRÓXIMO À DELEGACIA. PAROU POR INSTANTES AO
VER OS INDIVÍDUOS SUSPEITOS QUE FORÇAVAM UM HOMEM A ENTRAR NUM CARRO NEGRO.
RECONHECEU O PRISIONEIRO. ERA CYRO VALDEZ.
DR. MAX - (gritou) Cyro!
CYRO - Max! Avise a quem puder!
O MÉDICO AVIZINHOU-SE DO GRUPO E ENCAROU OS BANDIDOS.
DR. MAX - Soltem... soltem esse homem! O que vão fazer
com ele?
FRIAMENTE VICTOR PAULUS MIROU O PEITO DO CIRURGIÃO E PUXOU O
GATILHO DA MAUSER. COM UM GEMIDO, O DR. MAX CAIU NO CHÃO. O DR. PAULUS ATIROU
NOVAMENTE.
CORTA PARA:
CENA 7 -
PORTO AZUL - HOSPITAL
- INTERIOR -
NOITE
PELA MADRUGADA O HOSPITAL DORMIA EM SILENCIO, MAS DE REPENTE
FOI TOMADO POR ESTRANHA AGITAÇÃO. DR. MAX ACABARA DE FALECER. NÃO RESISTIRA AOS
FERIMENTOS. UMA DAS BALAS, A FATAL, LHE ATINGIRA O PULMÃO ESQUERDO, PROVOCANDO
HEMORRAGIA INTERNA. A OUTRA ENCRAVARA-SE NA COLUNA VERTEBRAL. PAULUS ATIRARA
PARA MATAR.
CORTA PARA:
CENA 8 -
PORTO AZUL - DELEGACIA
- INTERIOR - DIA
RICARDO - (esclarecia, diante do delegado) “Raptaram
Cyro. Vão matá-lo. Eu tentei defendê-lo.” – foram as últimas palavras do Dr.
Max.
BABY - Parece que isso diz tudo, não é verdade? Os
amigos de Cyro não atirariam no Dr. Max.
INSPETOR - Isso parece evidente.
RICARDO - o que prova, doutor, que raptaram meu filho
para matá-lo.
INSPETOR - Sem dúvida. Mas... quem teria interesse em
eliminar o Dr. Cyro e por quê?
RICARDO - Meu filho tem inimigos, embora a ninguém ele
considere como inimigo. Há pessoas que o odeiam.
INSPETOR - Quem?
BABY - (percebeu a indecisão do engenheiro) Vocês
estão com escrúpulos em dizer o nome de Otto? Mas se Otto é o seu maior
inimigo...
INSPETOR - O prefeito? E como podemos provar que tenha
sido ele?
DELEGADO - Investiguei e soube que o Senhor Otto passou
a noite em casa, acamado. O Dr. Max estava saindo de sua casa quando foi
atingido.
BABY - Meu primo tem guarda-costas que trabalham
para ele. E conta ainda com a eficiência do Dr. Paulus, o maior inimigo do
Cyro.
INSPETOR - Tudo acusações, palavras apenas...
BABY - Que ao senhor compete provar.
INSPETOR - Quero saber quem está ausente da cidade. Esse
Cesário... verifique se está aqui... e se estiver, interrogue-o. Vigie também
os passos do Dr. Paulus...
DELEGADO - (franziu a testa, surpreso) Dr. Paulus!
Absurdo! Foi ele quem me avisou que a cadeia havia sido invadida!
INSPETOR - Por isso mesmo. Esse advogado não me merece
confiança. A cara dele diz tudo, Dr. Moreira.
CORTA PARA:
CENA 9 - SITIO
A ALGUNS QUILÕMETROS DE PORTO AZUL
- EXTERIOR - DIA
O RAPTO NÃO TINHA SIDO DIFÍCIL, DEVIDO AOS PLANOS FORMULADOS
E EXECUTADOS PELO DR. PAULUS. EM POUCAS HORAS, CYRO JÁ SE ACHAVA A QUILÔMETROS
DE PORTO AZUL. E AGORA, MANHÃ AINDA, VIA-SE AMARRADO A UMA ÁRVORA DE TRONCO
LARGO. A CABEÇA PENDIA-LHE CONTRA O PEITO E DAS COSTAS FLUÍAM RIACHOS DE
SANGUE. O CHICOTE ABRIRA-LHE SULCOS EM GRANDE EXTENSÃO DA PELE. CYRO DESMAIARA
DE DOR, ENQUANTO TAVARES CONTINUAVA A VERGASTÁ-LO SEM PIEDADE.
TAVARES - (gritou) Ele ainda tá vivo, gente!
VÁLTER CONTEVE A ÚLTIMA CHICOTADA JÁ PREPARADA PELO CARRASCO.
OUTROS DOIS CAPANGAS AGARRARAM CYRO POR DEBAIXO DOS BRAÇOS E PELAS PERNAS.
TAVARES - (gozou) Faça um milagrinho, Doutô Cyro!
COICE DE MULA - Chega! Acho que já chega! Para essa droga!
CYRO MAL RESPIRAVA. O CAPATAZ ENCOSTOU O OUVIDO CONTRA O
PEITO DO MÉDICO.
TAVARES - (abrindo os olhos do médico) Acho que tá
morto.
COICE DE MULA - (vendo que um dos homens apontava um revólver
para o peito do inimigo) Que vai fazer? Deixem... eu faço isso. Sai todo mundo.
TAVARES - Também fico!
COICE DE MULA - (gritou, com os olhos esbugalhados) Sai todo
mundo! Afinal, de quem tão recebendo ordem? Droga! Eu fui incumbido disso.
Sumam daqui! Me esperem no carro.
OS HOMENS OBEDECERAM E SE AFASTARAM DO LOCAL. COICE DE MULA
RETIROU O REVÓLVER DA CINTURA E APONTOU-O PARA A CABEÇA DO HOMEM QUE SE ACHAVA
INERTE AOS SEUS PÉS.SEGUNDOS DEPOIS, OS HOMENS OUVIRAM A DETONAÇÃO DO 45 DO
CAPATAZ DAS MINAS DE PORTO AZUL.
TAVARES SORRIU E DEU UM VIVA AO DEMÔNIO.
CYRO VALDEZ ENTREGARA A ALMA AO DIABO – PENSAVA ELE, ENQUANTO
SUGAVA COM GOSTO A FUMAÇA DE UM MATA-RATO.
VÁLTER APARECEU NA CLAREIRA. ROSTO CONTORCIDO.
TAVARES - Tudo certo?
COICE DE MULA - Tudo acabado. Vocês vão na frente. Acho que
por tudo o que fez, ele merece ser enterrado. Eu faço sozinho. (cuspiu para o
lado) É uma promessa que tenho de cumprir...
TAVARES - Certo. A gente espera mais adiante.
COICE DE MULA - Não. Voltem pra cidade, pra despistar. Eu me
arranjo depois. Vão!
FIM DO CAPÍTULO 115
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