terça-feira, 6 de janeiro de 2015

O HOMEM QUE DEVE MORRER - Capítulo 106


Novela de Janete Clair

Adaptação de Toni Figueira

CAPÍTULO 106

Participam deste capítulo

Ester  -  Gloria Menezes
Cyro  -  Tarcisio Meira
Júlia  -  Ida Gomes
Delegado  -  Vinicius Salvatore
Cesário  -   Carlos Eduardo Dolabella
Mestre Jonas  -  Gilberto Martinho


CENA 1  -  PORTO AZUL  -  DELEGACIA  -  GABINETE DO DELEGADO  -  INTERIOR  -  NOITE

O DELEGADO MOREIRA EXPLICAVA AOS SEUS AUXILIARES DIRETOS:

DELEGADO  -  O cadáver achado não era o de Dona Júlia! Era o de uma mulher que desapareceu há muito tempo, por aquelas bandas. Não tinha nada de Dona Júlia.

CORTA PARA:

CENA 2  -  CASA DE ESTER  -  SALA  -  INTERIOR  -  NOITE

ESTER DEU UM JEITO NOS CABELOS E FOI ABRIR A PORTA. ALGUÉM TINHA TOCADO A CAMPAINHA SEGUNDOS ANTES. NO PRIMEIRO INSTANTE O CHOQUE PARALISOU-A. ESTER ESTREMECEU E AGARROU-SE À PORTA, SEM DIZER PALAVRA. NENHUM SOM SAÍA-LHE DA GARGANTA.

ESTER  -  (a muito custo conseguiu falar) Júlia!

JÚLIA  -  Eu mesma. Mais viva do que nunca. Não tenha medo, Ester.

AS DUAS MULHERES, APÓS PEQUENA PAUSA DE ALGUNS SEGUNDOS ABRAÇARAM-SE CHORANDO.

ESTER  -  Júlia... Júlia...

JÚLIA  -  Estava com muitas saudades de você.

ESTER AFASTOU-SE UM POUCO E FITOU A AMIGA “MORTA” BALANÇANDO A CABEÇA. INACREDITÁVEL!

ESTER  -  Júlia! Será possível?! Você voltou e eu preciso tanto de você! Preciso tanto! Que bom você estar aqui! Viva! Mais saudável do que nunca! Oh, Deus, que felicidade!

CORTA PARA:

CENA 3  -  COLONIA DOS PESCADORES  -   ESTRADA  -  EXTERIOR  -  NOITE

CESÁRIO SE ARRASTOU NOITE ADENTRO, TORTURADO PELAS DORES QUE LHE QUEBRAVAM A RESISTENCIA. ASSIM MESMO, AOS TRANCOS PELOS CAMINHOS DE PORTO AZUL, FOI TER À COLONIA DOS PESCADORES. O SOFRIMENTO ERA INSUPORTÁVEL E APESAR DA ROBUSTEZ QUE O DESTACAVA COMO UM DOS HOMENS MAIS FORTES DO BANDO DE OTTO MULLER, CESÁRIO PERDEU OS SENTIDOS A POUCOS METROS DE ALGUNS DOS HOMENS DE CYRO VALDEZ.

CORTA PARA:

CENA 4  -  CHOUPANA DE CYRO  -  INTERIOR  -  NOITE

NA CHOUPANA ESCONDIDA NUM TRECHO DE VEGETAÇÃO CERRADA, OS DOIS HOMENS AGUARDAVAM QUE O ASSECLA DO PREFEITO RETORNASSE A SI. HAVIA HORAS QUE CESÁRIO FORA RECOLHIDO E ENVIADO AO ESCONDERIJO DO MÉDICO. JONAS OBSERVOU QUE OS OLHOS DO FERIDO ENTREABRIAM-SE LENTAMENTE.

CESÁRIO  -  Ai!... o que é que tou fazendo aqui?

CYRO  -  Segure-o, Jonas!

CYRO APLICAVA MAIS UMA INJEÇÃO NO HOMEM FERIDO. CESÁRIO GEMEU.

CESÁRIO  -  Estou procurando o Dr. Cyro... eu preciso falá com ele!

CYRO  -  (percebeu a confusão que ainda dominava o inimigo) Você já vai falar com ele... mas fique quieto.

CESÁRIO  -  Ele tem de me ouvir! Acha que ele vai me ouvir?

CYRO  -  Depende do que você quer lhe dizer...

CESÁRIO  -  Preciso que dê um jeito daquela assombração pará de me atentá...

MESTRE JONAS  -  Não disse? Só fala bobagem...

CYRO  -  A quem se refere?

CESÁRIO  -  Júlia! Eu matei Júlia e ela voltou! Eu matei e ela está me atentando, dia e noite! Alguém tem de dá um jeito de fazê ela me deixá em paz!

CYRO  -  Nós vamos fazer isso, rapaz. Agora... vai ficar tranquilo... vai relaxar...

CESÁRIO TENTOU MOVER-SE. AS DORES ERAM TERRÍVEIS, APESAR DAS INJEÇÕES QUE CYRO LHE HAVIA APLICADO.

CESÁRIO  -  Júlia vem aí! Ela tá atrás de mim! Ela vai aparecê aqui de repente! Alma vai onde quer!

CYRO LEVANTOU-SE E AO LADO DE JONAS, AFASTOU-SE DO QUARTO ONDE O FERIDO DELIRAVA.

MESTRE JONAS  -  É a febre, Cyro?

CYRO  -  É, é o delírio da febre.

MESTRE JONAS  -  Ele não está fingindo, não?

CYRO  -  Não. Está delirando, mesmo.

MESTRE JONAS  -   O que é que a gente vai fazê? A gente tinha de dá sumiço daqui. A policia não tarda a voltá.

CYRO  -  Nós temos de colocar antes este homem fora de perigo, Jonas. Está muito ferido.

MESTRE JONAS  -  Cyro, você já tratou dele. Já medicou... agora vamos dar no pé. É arriscado a gente ficá aqui.

CYRO  -  De acordo, Mestre... mas eu não vou abandonar este homem, porque ele ainda está muito mal. Está correndo perigo de vida.

MARTINS OUVIRA AS PALAVRAS FINAIS DO CHEFE E INTERVEIO NO ASSUNTO. FORA UM DOS QUE RECOLHERAM O MINEIRO MILIONÁRIO DESFALECIDO NO CHÃO.

MARTINS  -  Dr. Cyro, me desculpe... mas esse cara... esse cara trabalha pro Otto Muller.

MESTRE JONAS  -  Tem razão. Esse homem é seu inimigo... é um bandido que se meteu até na vida de Dona Ester...

CYRO LEMBROU-SE DA LUTA PARA CONQUISTAR OS NEGATIVOS E UMA IRA REPENTINA LEVOU-O A PENSAR NUMA VINGANÇA TOTAL. REFLETIU A TEMPO.

CYRO  -  Eu sei. Não é preciso que vocês me digam tudo isso... É um mau caráter... um tipo sem escrúpulos... diz até que matou a mulher... e quem sabe se não terá outros crimes nas costas... Mas, pelo amor de Deus, será que tenho de repetir tudo de novo? É um ser humano e eu vou cuidar dele até colocá-lo fora de perigo. Quando achar que está salvo... nós o deixaremos aqui para cuidar de sua vida como bem quiser.

DO INTERIOR DO QUARTO CONTÍGUO A VOZ DE CESÁRIO CHEGAVA NÍTIDA.

CESÁRIO  -  Eu matei, matei sim... eu sou um criminoso... um assassino. Olha... eu matei, viu? Só o Dr. Cyro pode me salvá! Não viu ele por aí? Quem foi que viu Dr. Cyro? Dr. Cyro!

CORTA PARA:


CENA 5  -  CASA DE ESTER  -  SALA  -  INTERIOR  -  DIA

A PRIMEIRA INICIATIVA DE ESTER FOI CHAMAR O DELEGADO À SUA RESIDENCIA E COLOCÁ-LO A PAR DOS ACONTECIMENTOS.

A PRÓPRIA “MORTA”, EM PESSOA, ABRIU A PORTA PARA A AUTORIDADE POLICIAL.

JÚLIA  -  Entre, por favor, delegado!

DR. MOREIRA NÃO ACREDITAVA NO QUE VIA DIANTE DE SEUS OLHOS. SÓ PODIA SER ALGUMA BRINCADEIRA DA EX-PROMOTORA, PENSAVA. MAS ERA A MULHER QUE ESTAVAM DANDO POR MORTA HÁ VÁRIOS MESES.

DELEGADO  -  Dona Júlia! Mas... é a senhora mesmo?

JÚLIA  -  Eu mesma. Em carne e osso. Não precisa ficar assustado.

ESTER APROXIMOU-SE DO RECÉM-CHEGADO, SORRIDENTE.

ESTER  -  Como está, delegado?

O HOMEM PERMANECIA ESTÁTICO, ADMIRANDO A FIGURA DA MULHER QUE TINHA À SUA FRENTE. MAIS VIVA DO QUE ANTES.

DELEGADO  -  Bem! Isto é... tremendamente assustador! Quando me chamou, Dona Ester, não me disse que era pra falar com Dona Júlia!

ESTER  -  Sim, mas ela quer fazer uma denúncia!

DELEGADO  -  Uma denúncia?!

JÚLIA  -  Sim, delegado. Contra Cesário. Ele tentou me matar!

E JÚLIA RELATOU O QUE ACONTECERA DURANTE O PASSEIO FATÍDICO.

DELEGADO  -  Então... esta é que é a verdade? Ele tentou matar a senhora!

JÚLIA  -  Exato. Num passeio no lago Montebelo... ele tentou me afogar... Havia cismado de passar a tarde sozinho, na ilhota. Preparou tudo muito bem. Mandou que eu fosse buscá-lo de tardinha... foi o que fiz. Cheguei lá, de barco, como havíamos combinado... eu o encontrei... tomamos o bote de volta, juntos... Percebi logo as intenções dele, quando perguntou, meio sem jeito: sabe nadar, Júlia? Respondi que não. Notei um sorriso irônico nos lábios dele. Foi no meio do lago que ele virou o barco... e eu... eu me afoguei.

O DELEGADO MOVIMENTOU-SE NA CADEIRA, VISIVELMENTE NERVOSO.

JÚLIA  -  Fui pro fundo, sim... mas meu instinto de conservação foi mais forte. Reagi contra a morte, violentamente. Sabia nadar um pouco, desde menina. Criada perto do mar. Mas o nervosismo me impedia de controlar os movimentos. Debatendo-me feito uma louca me afastei muito do local onde ele estava. Exatamente do lado oposto, nas costas dele... e, bem ou mal, cheguei quase morta à outra margem do lago. Sei que boiei durante longo tempo antes de nadar até a terra. Foi por isso que ele me deu por morta.

DELEGADO  -  Bem... e daí? Ele não viu a senhora alcançar a margem?

JÚLIA  -  Não... ele só me viu ir no fundo. Não se preocupou em reparar se eu voltava. Ficou mais preocupado em salvar a própria pele. Nadou sozinho, depois de afundar o barco, até alcançar a margem.

DELEGADO  -  Mas o barco foi encontrado depois... E o que fez a senhora sozinha na margem deserta? Ali não vive ninguém...

JÚLIA  -  Eu me senti perdida, desamparada... Tentei andar e não podia. Havia engolido muita água... faltava-me a respiração. Estava cansadíssima... parecia que ia morrer. Mas surgiu uma alma boa... um bom homem... pescador dali da região que me socorreu. Eu não sei se teria sido melhor ter morrido... Fiquei mal, muito mal mas consgui viver. E um único pensamento me dava forças para sobreviver: fazer Cesário pagar na própria pele... tudo o que me fez passar! E eu creio que consegui!

CORTA PARA:

CENA 6  -  ALDEIA DOS PESCADORES  -  CHOUPANA DE CYRO  -  INTERIOR  -  DIA

CESÁRIO DELIRAVA NA CABANA DOS FORAGIDOS.

CESÁRIO  -  Júlia! Júlia! Onde você está, bandida? Ela tai! Me digam a verdade! Ela voltou!

CORTA PARA:

CENA 7  -  CASA DE ESTER  -  SALA  -  INTERIOR  -  DIA

O DELEGADO LEVANTOU-SE COM AS FEIÇÕES SEVERAS.

DELEGADO  -  Eu vou registrar a denúncia e vamos tentar descobrir o paradeiro dele.

JÚLIA  -  Eu agradeço (ea apertou-lhe a mão) Só descansarei quando vir aquele desalmado atrás das grades.

ESTER  -  O senhor pode me dizer alguma coisa... sobre o Dr. Cyro, delegado?

DELEGADO  -  Já foi localizado. Sua prisão é questão de horas.

ESTER  -  (tentando aparentar calma) Em que lugar está?

DELEGADO  -  Numa região chamada Pouso Alegre. É uma área extensa, montanhosa e selvagem. Por isso está sendo difícil botar as mãos nele. E o homem conta com a proteção dos moradores. Parece que por onde passa ele faz um bem, uma cura... (o delegado não escondia a emoção que o tomava) Dr. Cyro é um homem muito bom, Dona Ester! Nós sabemos disso. A maior dificuldade tem sido esta. A proteção das pessoas que são beneficiadas por ele. E eu lhe digo: são centenas...

ESTER  -  (contendo a emoção) Eu compreendo. Obrigada pelas informações. Passe bem!



FIM DO CAPÍTULO 106

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