quinta-feira, 8 de janeiro de 2015

O HOMEM QUE DEVE MORRER - Capítulo 108


Novela de Janete Clair

Adaptação de Toni Figueira

CAPÍTULO 108

Participam deste capítulo

Baby -  Claudio Cavalcanti
Inês  -  Betty Faria
Ester  -  Glória Menezes
Júlia  -  Ida Gomes
Cesário  -  Carlos Eduardo Dolabella
Paulus  -  Emiliano Queiroz
Orjana  -  Neusa Amaral
Dr. Garcia


CENA 1  -  CASEBRE DE BABY E INÊS  -  EXTERIOR  -  NOITE

O CARRO DO DR. GARCIA DERRAPOU E GIROU NUM ÂNGULO DE 70 GRAUS, ANTE A VIOLENCIA DA FREADA. INÊS GRITOU DO INTERIOR DA CASA, PARA O MARIDO QUE ASSOMAVA À JANELA:

INÊS  -  Quem será esse maluco?

DR. GARCIA PULOU DO AUTOMÓVEL E CORREU PARA O CASEBRE ONDE BABY SE ESCONDIA DOS HOMENS DE OTTO MULLER. CHOVIA UMA GAROA FINA E ENJOADA.

DR. GARCIA  -  Olá, Baby! Desculpe-me entrar assim!

BABY  -  (apertando a mão que o advogado lhe oferecia) Que foi que houve, gente?

SENTARAM-SE EM BANCOS TOSCOS, DE MADEIRA NEGRA. O ADVOGADO ATIROU A PEQUENA VALISE SOBRE A MESA. INÊS AJEITOU O VESTIDO ENTRE AS PERNAS E ACOCOROU-SE A UM CANTO SOBRE A ESTEIRA.

DR. GARCIA  -  Em primeiro lugar, quase tive de dar na cara dos sujeitos que me barraram na estrada. Isso é revoltante. Eles não respeitam mais ninguém!

BABY  -  Tentaram impedir o senhor de passar?

DR. GARCIA  -  Se tentaram? É preciso dar um jeito nisso!

BABY  -  É por isso... que está tão nervoso?

DR. GARCIA  -  Não. O assunto é outro. Estive ausente à noite. Cheguei em casa muito tarde. Recebi o recado de Dona Naná, de que ela precisava falar comigo. Era urgente.

BABY COMEÇOU A INTERESSAR-SE PELA CONVERSA. ESTICOU O PESCOÇO E CONTRAIU OS MÚSCULOS DA FACE. ATENTO.

DR. GARCIA  -  Eram quase 3 da manhã... e eu decidi vê-la agora cedo. De manhã. Seria a primeira coisa a fazer. Bem... minha mulher hoje me acordou e me entregou este bilhete de Dona Naná... que me revoltou. Achei melhor vir depressa te colocar a par das intenções dela...

BABY AGARROU O BILHETE, COM INTERESSE. LEU EM VOZ ALTA.

BABY  -  “Dr. Garcia. Procurei pelo senhor ontem à noite. Inês foi falr comigo. Ela pensa, coitada, que eu posso salvar a vida do marido dela. Mas eu não posso fazer nada por ninguém. Deixe as coisas como estão. Queria avisar o senhor que vou fazer uma longa viagem e só voltarei quando os ânimos estiverem serenados. Não pretendo regressar tão cedo! Fecho o cabaré a pedido do prefeito. Ele acha que deve captar a simpatia do povo de Porto Azul para que esta seja uma causa justa. E o povo de Porto Azul... não gosta de minha casa de diversões. Quero que aconselhe Baby Liberato a aceitar a decisão da Justiça. Não existe mais solução. Ele que se conforme com as brigas inúteis. Por enquanto era só o que eu tinha a lhe dizer. Queira aceitar um abraço de Elisa Liberato.”

DR. GARCIA  -  (olhando por cima da lente dos óculos) O que acha disso?

BABY  -  O que eu acho? (tinha os lábios trêmulos) O que eu acho, Dr. Garcia? Eu acho... acho que aquela mulher... ou está louca... ou não tem entranhas. Porque ela sabe que eu vou continuar a brigar! E com certeza é isso que ela está querendo! Que eu morra de um tiro! O tiro que não me deram, quando eu nasci!

BABY SAIU, DESATINADO, BATENDO A PORTA COM FORÇA.

CORTA PARA:

CENA  2  -  CASA DE ESTER  -  SALA  -  INTERIOR  -  DIA

A VISITA DO VELHO SANTIAGO TRAZENDO NOTÍCIAS DE CYRO VALDEZ, ABALOU OS NERVOS DE ESTER. DE TUDO O QUE O CAMPONÊS CONTARA A ELA, ORJANA E RICARDO, APENAS UMA COISA SE FIXARA EM SUA MENTE E A ALUCINAVA COMO NADA NO MUNDO: O ROMANCE DE CYRO E VANDA VIDAL. AS PALAVRAS DO HOMEM NÃO LHE SAÍAM DOS OUVIDOS: “OLHA... E COMO É BONITO VÊ OS DOIS SEMPRE SE AMANDO. ELA É CASADA COM ELE HÁ 5 ANOS, MAS PARECE QUE FOI ONTE. ELES SE AMAM PRA VALÊ. SÓ VENDO.”

NO DIA SEGUINTE, ORJANA RETORNOU À CASA DE ESTER, PREOCUPADA COM O ABALO QUE A REVELAÇÃO TROUXERA À MULHER.

JÚLIA TINHA ACABADO DE LHE DAR UMA XÍCARA DE CHÁ.

ORJANA  -  Como está ela, Júlia?

JÚLIA  -  Mais ou menos, Dona Orjana...

ORJANA  -  Mais calma?

ESTER ACABARA DE CHEGAR DO QUARTO.

ESTER  -  É melhor não tocarmos no assunto, pronto! Estou muito chocada, ainda, com o que soube ontem.

ORJANA  -  Só lamento... que meu filho não esteja aqui... para cuidar de você!

ESTER  -  É melhor não falar no nome dele!

ORJANA  -  Eu sinto que ele precisa saber o que está acontecendo com você.

ESTER  -  Não, eu não quero que ele saiba de coisa alguma!

ORJANA  -  Ester... ontem você estava disposta até a ir ao encontro dele.

ESTER  -  Ontem... eu não sabia que ele e Vanda Vidal... estavam passando por casados! E queira Deus... que isto já não seja uma verdade. Quem sabe... se não estão mentindo... e já se uniram mesmo... em algum lugar. Oh, meu Deus... eu morro só de pensar!

ESTER ESCONDEU O ROSTO ENTRE AS MÃOS.

ORJANA  -  (tomou uma decisão) Eu vou ao encontro dele. Eu vou dizer o que está se passando com você!

ESTER  -  (levantou-se, enraivecida, cheia de orgulho) Eu não quero, Dona Orjana! Eu não quero isso! Ele não tem de voltar pra mim por sentir pena! Se está casado... com ela... Oh, eu nem sei o que vai acontecer!

CORTA PARA:


CENA  3  -  CHOUPANA (ANTIGO ESCONDERIJO DE CYRO)  -  INTERIOR  -  DIA

POR ALGUNS INSTANTES, CESÁRIO NÃO ENTENDEU O QUE ESTAVA ACONTECENDO. OS SOLDADOS VASCULHARAM O PEQUENO CASEBRE E O QUINTAL, REPLETO DE BANANEIRAS. POUCO A POUCO A COISA FOI SE ACLARANDO NA MENTE DO BANDIDO. ERA UMA BATIDA POLICIAL E SUA POSIÇÃO ERA DELICADA. FOI AÍ QUE AVISTOU PAULUS, EMPUNHANDO UM REVÓLVER.

CESÁRIO  -   (balbuciou, explicando) Dr. Paulus... acho... que... essa busca... não... vai adiantá nada...

PAULUS ACENOU PARA OS SOLDADOS E FICOU NA ESCUTA.

CESÁRIO  -  Dr. Paulus... mande os... home... pará.

PAULUS  -  Que é? Não fique aí parado, como um estafermo...

CESÁRIO  -  É que... eu queria lhe dizer... uma coisa.

PAULUS  -  Fale!

CESÁRIO  -  O senhor está procurando o Dr. Cyro?

PAULUS  -  Parece evidente, não? Por quê? Você sabe onde ele está?

CESÁRIO OLHOU EM TORNO, PELA JANELA E VIU VÁRIOS SOLDADOS DE CARABINA APONTADA PARA O INTERIOR DA SALA.

CESÁRIO  -  Aquele home... que tava aqui... o dono desta casa...

PAULUS  -  Está lá fora. O que é que você quer me dizer?

CESÁRIO  -  Vim dar aqui, ferido. Tava muito doente. Me recolhero na estrada e me trouxero pra cá. Foi ele que me tratou.

PAULUS  -  E por isso você está muito agradecido. Até regenerado, hem, Cesário? Garanto que se arrependeu de todos os erros!

CESÁRIO  -  A morte de Júlia me deixou quase doido, Dr. Paulus. Aqui, pelo menos, não tenho mais visto ela... e tou fazendo tudo pra tirá aquela lembrança da minha cabeça...

PAULUS SORRIU, IRÔNICO, DANDO UM TAPINHA NAS COSTAS DO BANDIDO.

PAULUS  -  Dr. Cyro, com certeza afastou o fantasma de Júlia!

CESÁRIO  -  É... ela não voltou mais...

O ADVOGADO RESPIROU FUNDO, ANTES DE RELATAR A VERDADE.

PAULUS  -  Claro que não voltou, seu estúpido! E nem vai voltar! Júlia apareceu em Porto Azul, bem viva, e está em companhia de Ester, novamente!

CESÁRIO DEBATEU-SE NUMA CRISE DE CHÔRO. MINUTOS DEPOIS, LIMPANDO O ROSTO COM O PUNHO DA CAMISA, VOLTOU A DIRIGIR-SE AO ADVOGADO.

CESÁRIO  -  No duro?

PAULUS  -  Estou dizendo!

CESÁRIO  -  Então... aquilo tudo...

PAULUS  -  Ela queria levar você à loucura!

CESÁRIO  -  E quase conseguiu!

PAULUS  -  Em compensação você não está livre. Ela o acusou de tentativa de assassinato e o delegado instaurou processo contra você. É botar o pé em Porto Azul e cair na cadeia. Acusação séria, meu caro. Cadeia por muitos anos...

CESÁRIO  -  Desgraçada! Desgraçada!

DE FORA UMA VOZ BERROU, AVISANDO AO ADVOGADO.

VOZ  -  (off) Não há ninguém aqui!

PAULUS  -  (voltou-se para o foragido) Escuta. Você sabe onde o Dr. Cyro está?

CESÁRIO  -  Sei. Sei onde ele está. Mas imponho uma condição. A de ir lá buscá ele sozinho. Quero o seu apoio e o de seu Otto para qualquer coisa que queiram fazer contra mim. Qualquer coisa, entendeu? Não me siga... não mande ninguém atrás de mim. Deixe eu agir à minha moda... e eu lhe entrego o Dr. Cyro Valdez... numa bandeja!

FIM DO CAPÍTULO 108



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