Novela de Janete Clair
Adaptação de Toni Figueira
CAPÍTULO 108
Participam deste
capítulo
Baby - Claudio Cavalcanti
Inês -
Betty Faria
Ester -
Glória Menezes
Júlia - Ida
Gomes
Cesário -
Carlos Eduardo Dolabella
Paulus -
Emiliano Queiroz
Orjana -
Neusa Amaral
Dr. Garcia
CENA 1 -
CASEBRE DE BABY E INÊS - EXTERIOR
- NOITE
O CARRO DO DR. GARCIA DERRAPOU E GIROU NUM ÂNGULO DE 70
GRAUS, ANTE A VIOLENCIA DA FREADA. INÊS GRITOU DO INTERIOR DA CASA, PARA O
MARIDO QUE ASSOMAVA À JANELA:
INÊS - Quem será esse maluco?
DR. GARCIA PULOU DO AUTOMÓVEL E CORREU PARA O CASEBRE ONDE
BABY SE ESCONDIA DOS HOMENS DE OTTO MULLER. CHOVIA UMA GAROA FINA E ENJOADA.
DR. GARCIA - Olá, Baby! Desculpe-me entrar assim!
BABY - (apertando a mão que o advogado lhe oferecia)
Que foi que houve, gente?
SENTARAM-SE EM BANCOS TOSCOS, DE MADEIRA NEGRA. O ADVOGADO
ATIROU A PEQUENA VALISE SOBRE A MESA. INÊS AJEITOU O VESTIDO ENTRE AS PERNAS E
ACOCOROU-SE A UM CANTO SOBRE A ESTEIRA.
DR. GARCIA - Em primeiro lugar, quase tive de dar na cara
dos sujeitos que me barraram na estrada. Isso é revoltante. Eles não respeitam
mais ninguém!
BABY - Tentaram impedir o senhor de passar?
DR. GARCIA - Se tentaram? É preciso dar um jeito nisso!
BABY - É por isso... que está tão nervoso?
DR. GARCIA - Não. O assunto é outro. Estive ausente à
noite. Cheguei em casa muito tarde. Recebi o recado de Dona Naná, de que ela
precisava falar comigo. Era urgente.
BABY COMEÇOU A INTERESSAR-SE PELA CONVERSA. ESTICOU O PESCOÇO
E CONTRAIU OS MÚSCULOS DA FACE. ATENTO.
DR. GARCIA - Eram quase 3 da manhã... e eu decidi vê-la
agora cedo. De manhã. Seria a primeira coisa a fazer. Bem... minha mulher hoje
me acordou e me entregou este bilhete de Dona Naná... que me revoltou. Achei
melhor vir depressa te colocar a par das intenções dela...
BABY AGARROU O BILHETE, COM INTERESSE. LEU EM VOZ ALTA.
BABY - “Dr. Garcia. Procurei pelo senhor ontem à
noite. Inês foi falr comigo. Ela pensa, coitada, que eu posso salvar a vida do
marido dela. Mas eu não posso fazer nada por ninguém. Deixe as coisas como
estão. Queria avisar o senhor que vou fazer uma longa viagem e só voltarei
quando os ânimos estiverem serenados. Não pretendo regressar tão cedo! Fecho o
cabaré a pedido do prefeito. Ele acha que deve captar a simpatia do povo de
Porto Azul para que esta seja uma causa justa. E o povo de Porto Azul... não
gosta de minha casa de diversões. Quero que aconselhe Baby Liberato a aceitar a
decisão da Justiça. Não existe mais solução. Ele que se conforme com as brigas
inúteis. Por enquanto era só o que eu tinha a lhe dizer. Queira aceitar um
abraço de Elisa Liberato.”
DR. GARCIA - (olhando por cima da lente dos óculos) O que
acha disso?
BABY - O que eu acho? (tinha os lábios trêmulos) O
que eu acho, Dr. Garcia? Eu acho... acho que aquela mulher... ou está louca...
ou não tem entranhas. Porque ela sabe que eu vou continuar a brigar! E com
certeza é isso que ela está querendo! Que eu morra de um tiro! O tiro que não me deram, quando eu
nasci!
BABY SAIU, DESATINADO, BATENDO A PORTA COM FORÇA.
CORTA PARA:
CENA 2
- CASA DE ESTER -
SALA - INTERIOR
- DIA
A VISITA DO VELHO SANTIAGO TRAZENDO NOTÍCIAS DE CYRO VALDEZ,
ABALOU OS NERVOS DE ESTER. DE TUDO O QUE O CAMPONÊS CONTARA A ELA, ORJANA E
RICARDO, APENAS UMA COISA SE FIXARA EM SUA MENTE E A ALUCINAVA COMO NADA NO
MUNDO: O ROMANCE DE CYRO E VANDA VIDAL. AS PALAVRAS DO HOMEM NÃO LHE SAÍAM DOS
OUVIDOS: “OLHA... E COMO É BONITO VÊ OS DOIS SEMPRE SE AMANDO. ELA É CASADA COM
ELE HÁ 5 ANOS, MAS PARECE QUE FOI ONTE. ELES SE AMAM PRA VALÊ. SÓ VENDO.”
NO DIA SEGUINTE, ORJANA RETORNOU À CASA DE ESTER, PREOCUPADA
COM O ABALO QUE A REVELAÇÃO TROUXERA À MULHER.
JÚLIA TINHA ACABADO DE LHE DAR UMA XÍCARA DE CHÁ.
ORJANA - Como está ela, Júlia?
JÚLIA - Mais ou menos, Dona Orjana...
ORJANA - Mais calma?
ESTER ACABARA DE CHEGAR DO QUARTO.
ESTER - É melhor não tocarmos no assunto, pronto!
Estou muito chocada, ainda, com o que soube ontem.
ORJANA - Só lamento... que meu filho não esteja
aqui... para cuidar de você!
ESTER - É melhor não falar no nome dele!
ORJANA - Eu sinto que ele precisa saber o que está
acontecendo com você.
ESTER - Não, eu não quero que ele saiba de coisa
alguma!
ORJANA - Ester... ontem você estava disposta até a ir
ao encontro dele.
ESTER - Ontem... eu não sabia que ele e Vanda
Vidal... estavam passando por casados! E queira Deus... que isto já não seja
uma verdade. Quem sabe... se não estão mentindo... e já se uniram mesmo... em
algum lugar. Oh, meu Deus... eu morro só de pensar!
ESTER ESCONDEU O ROSTO ENTRE AS MÃOS.
ORJANA - (tomou uma decisão) Eu vou ao encontro dele.
Eu vou dizer o que está se passando com você!
ESTER - (levantou-se, enraivecida, cheia de orgulho)
Eu não quero, Dona Orjana! Eu não quero isso! Ele não tem de voltar pra mim por
sentir pena! Se está casado... com ela... Oh, eu nem sei o que vai acontecer!
CENA 3
- CHOUPANA (ANTIGO ESCONDERIJO DE
CYRO) -
INTERIOR - DIA
POR ALGUNS INSTANTES, CESÁRIO NÃO ENTENDEU O QUE ESTAVA
ACONTECENDO. OS SOLDADOS VASCULHARAM O PEQUENO CASEBRE E O QUINTAL, REPLETO DE
BANANEIRAS. POUCO A POUCO A COISA FOI SE ACLARANDO NA MENTE DO BANDIDO. ERA UMA
BATIDA POLICIAL E SUA POSIÇÃO ERA DELICADA. FOI AÍ QUE AVISTOU PAULUS,
EMPUNHANDO UM REVÓLVER.
CESÁRIO - (balbuciou, explicando) Dr. Paulus...
acho... que... essa busca... não... vai adiantá nada...
PAULUS ACENOU PARA OS SOLDADOS E FICOU NA ESCUTA.
CESÁRIO - Dr. Paulus... mande os... home... pará.
PAULUS - Que é? Não fique aí parado, como um
estafermo...
CESÁRIO - É que... eu queria lhe dizer... uma coisa.
PAULUS - Fale!
CESÁRIO - O senhor está procurando o Dr. Cyro?
PAULUS - Parece evidente, não? Por quê? Você sabe onde
ele está?
CESÁRIO OLHOU EM TORNO, PELA JANELA E VIU VÁRIOS SOLDADOS DE
CARABINA APONTADA PARA O INTERIOR DA SALA.
CESÁRIO - Aquele home... que tava aqui... o dono desta
casa...
PAULUS - Está lá fora. O que é que você quer me dizer?
CESÁRIO - Vim dar aqui, ferido. Tava muito doente. Me
recolhero na estrada e me trouxero pra cá. Foi ele que me tratou.
PAULUS - E por isso você está muito agradecido. Até
regenerado, hem, Cesário? Garanto que se arrependeu de todos os erros!
CESÁRIO - A morte de Júlia me deixou quase doido, Dr.
Paulus. Aqui, pelo menos, não tenho mais visto ela... e tou fazendo tudo pra
tirá aquela lembrança da minha cabeça...
PAULUS SORRIU, IRÔNICO, DANDO UM TAPINHA NAS COSTAS DO
BANDIDO.
PAULUS - Dr. Cyro, com certeza afastou o fantasma de
Júlia!
CESÁRIO - É... ela não voltou mais...
O ADVOGADO RESPIROU FUNDO, ANTES DE RELATAR A VERDADE.
PAULUS - Claro que não voltou, seu estúpido! E nem vai
voltar! Júlia apareceu em Porto Azul, bem viva, e está em companhia de Ester,
novamente!
CESÁRIO DEBATEU-SE NUMA CRISE DE CHÔRO. MINUTOS DEPOIS,
LIMPANDO O ROSTO COM O PUNHO DA CAMISA, VOLTOU A DIRIGIR-SE AO ADVOGADO.
CESÁRIO - No duro?
PAULUS - Estou dizendo!
CESÁRIO - Então... aquilo tudo...
PAULUS - Ela queria levar você à loucura!
CESÁRIO - E quase conseguiu!
PAULUS - Em compensação você não está livre. Ela o
acusou de tentativa de assassinato e o delegado instaurou processo contra você.
É botar o pé em Porto Azul e cair na cadeia. Acusação séria, meu caro. Cadeia
por muitos anos...
CESÁRIO - Desgraçada! Desgraçada!
DE FORA UMA VOZ BERROU, AVISANDO AO ADVOGADO.
VOZ - (off) Não há ninguém aqui!
PAULUS - (voltou-se para o foragido) Escuta. Você sabe
onde o Dr. Cyro está?
CESÁRIO - Sei. Sei onde ele está. Mas imponho uma
condição. A de ir lá buscá ele sozinho. Quero o seu apoio e o de seu Otto para
qualquer coisa que queiram fazer contra mim. Qualquer coisa, entendeu? Não me
siga... não mande ninguém atrás de mim. Deixe eu agir à minha moda... e eu lhe
entrego o Dr. Cyro Valdez... numa bandeja!
FIM DO CAPÍTULO 108
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