quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

O HOMEM QUE DEVE MORRER - Capítulo 120


Novela de Janete Clair

Adaptação de Toni Figueira

CAPÍTULO 120

último capítulo!

Participam deste capítulo

Cyro  -  Tarcísio Meira
Ester  -  Gloria Menezes
Orjana  -  Neusa Amaral
Ricardo  -  Edney Giovenazzi
Mestre Jonas  -  Gilberto Martinho
Vanda Vidal  -  Dina Sfat
Cesário  -  Carlos Eduardo Dolabella
Júlia  -  Ida Gomes
Prof. Zacarias
Bárbara  -  Zilka Salaberry
Miamoto


CENA 1  -  PORTO AZUL  -  CASA DE D. BÁRBARA  -  SALA  -  INTERIOR  -  NOITE

CESÁRIO TINHA ESCAPADO MAIS UMA VEZ. ORJANA, RICARDO E BÁRBARA VIVIAM HORAS DE FELICIDADE COM A PRESENÇA DE CYRO.

BÁRBARA  -  (abraçando-o em lágrimas) É maravilhoso ver você vivo e em liberdade...

CYRO  -  Eu tenho sentido muito a falta de vocês...

ORJANA BEIJOU-O, AMOROSAMENTE.

CORTA PARA:

CENA 2  -  PORTO AZUL  -  CASA DE ESTER  -  COZINHA  -  INTERIOR  -  NOITE

JÚLIA ADMIROU-SE COM A PRESENÇA DE CESÁRIO QUE FORÇARA A PORTA DOS FUNDOS, ANTES DE PENETRAR NA RESIDENCIA. APONTAVA UMA ARMA PARA A ESPOSA.

JÚLIA  -  Está fugindo de alguma coisa?

CESÁRIO  -  Tou, tou sim! A polícia vem aí pra me agarrar e eu vim buscar o dinheiro que minha mãe te entregou pra guardá!

JÚLIA  -  Ah, a policia está aí pra te agarrar?

CESÁRIO  - (encostando o cano do revólver na cabeça de Júlia) Me dá meu dinheiro ou eu te arrebento os miolos!

JÚLIA  -  (afastando o cano com a palma da mão) Calma... Eu vou dar o seu dinheiro...

ATRAVESSOU O QUARTO E RETIROU UMA MALETA DO ALTO DO GUARDA-ROUPA.

JÚLIA  -  Está tudo aí...

CESÁRIO ABRIU A MALA E CONSTATOU QUE ESTAVA ENTUPIDA DE NOTAS.

CESÁRIO  -  Tudinho?

OUVIU A SIRENE DO CARRO DA POLICIA.

CESÁRIO  -  São eles! Depressa!

A SIRENE APROXIMAVA-SE CADA VEZ MAIS.

CESÁRIO AGARROU A MALETA E PULOU A JANELA.

JÚLIA  -  Corra, delegado! (gritou, avisando o policial que acabava de bater à porta) O senhor o encontra, correndo, com o dinheiro, pela estrada!

O CARRO DA POLÍCIA DISPAROU NA DIREÇÃO REVELADA, LATERAL À RESIDENCIA DE ESTER. NUMA MANOBRA HÁBIL O MOTORISTA DOBROU A ESQUINA QUASE EM ÂNGULO RETO E PARTIU VELOZMENTE À CATA DO FUGITIVO.

CESÁRIO CORRIA DESESPERADO. E MAL TEVE TEMPO DE PRESSENTIR O PERIGO. VIU APENAS DUAS LUZES FORTES SURGINDO DENTRE A NÉVOA DA MADRUGADA E O  BANDIDO SE ENQUADROU NA ZONA DE OFUSCAÇÃO, INTEIRAMENTE NEUTRO PARA A VISÃO DOS MOTORISTAS.

O PESADO AUTOMÓVEL ALCANÇOU-O EM CHEIO, ATIRANDO-O CONTRA O ASFALTO ÚMIDO. UM MINUTO MAIS E CESÁRIO TERIA ENCONTRADO A PROTEÇÃO DE UM TERRENO BALDIO. AGORA ERA UM CORPO QUEBRADO, BANHADO DE SANGUE, CONFUNDINDO-SE COM MILHARES DE NOTAS QUE O VENTO LEVAVA PARA LONGE, SUJAS PELO SANGUE QUE ESCORRIA DE SEUS FERIMENTOS.

A VIATURA POLICIAL ESTACOU E O DELEGADO, ACOMPANHADO DE VÁRIOS SOLDADOS, APROXIMOU-SE DO PISTOLEIRO. MESMO SERIAMENTE FERIDO, CESÁRIO BERRAVA NO SILENCIO DA MADRUGADA QUE MORRIA.

CESÁRIO  -  Me soltem! Ladrões! Vocês querem me roubar o meu dinheiro! Meu dinheiro! Meu dinheiro! Ladrões! Ladrões!

JÚLIA APROXIMOU-SE, SORRINDO, ENQUANTO OS POLICIAIS JOGAVAM O HOMEM NO INTERIOR DO CARRO E PARTIAM RUMO AO HOSPITAL. HAVIA UM AR DE TRIUNFO NO ROSTO FELIZ DE JÚLIA.

UM AR DE MULHER VINGADA.

CORTA PARA:

CENA 3 -  PORTO AZUL  -  CASA DE D. BÁRBARA  -  SALA  -  INTERIOR  -  DIA

DEZENAS DE AMIGOS PROCURARAM LOGO CEDO A RESIDENCIA DE CYRO VALDEZ PARA FELICITÁ-LO. MESTRE JONAS SUGERIU UM BRINDE À PAZ QUE VOLTARA.

MIAMOTO ENTROU, ESBAFORIDO.

MIAMOTO  -  Dr. Cyro! Dr. Cyro! Vem depressa!

CYRO  -  O que foi, Miamoto?

O JAPONÊS NÃO SABIA SE FALAVA EM SUA LINGUA OU EM PORTUGUÊS. ESTAVA VISIVELMENTE AGITADO.

MIAMOTO  -  Dona Ester... ela ir embora! Ir fugir! Non quer ver senhor!

CYRO  -  Para onde, Miamoto?

MIAMOTO  -  Para Son Paulo, no? Paraná, no? Muito lugar!

CYRO VESTIU APRESSADAMENTE O PALETÓ E PULOU NO CARRO.

VANDA  -  Isso não podia acontecer!

BABY  -  (levantou uma taça de champanha, feliz, ao ver o amigo partir) Um brinde a um final feliz!

VANDA  -  (vociferou, desconsolada) Amigo-da-onça!

RICARDO  -  (aproximou-se) Quero te dar uma palavrinha, Vanda...

VANDA  -  (fez um muxoxo) Já sei! Já sei de tudo! Olhe... eu vou dar no pé e não é por sua causa, não. Nem por medo de suas ameaças. Vou sumir porque acho que não há outra solução... pra mim. Não pense que estou ligando! Nem um pouco! (a voz começava a embargar-se e as lágrimas a embaçarem-lhe os olhos. Mas Vanda continuou firme) Comigo é assim: comeu não leu, pau comeu! Chuto pro alto! Que me importa? Ele não gosta de mim! Preferiu a Esterzinha! Pomba! Que vá pro inferno, ou pro céu, com ela! Já me enchi... não tenho queda pra Amélia! Bem. Tchau, gente! Tchau, Mestre Jonas! O senhor foi o cara mais legal que eu já conheci em toda a minha vida... ele também, viu? Mas... não tem culpa... se não gosta... de mim. Isso é assim mesmo. Tchau!

CORTA PARA:

CENA  4  -  PORTO AZUL  -  PRAIA  -  EXTERIOR  -  DIA

CYRO TINHA CHEGADO A TEMPO. ESTER SE DIRIGIA PARA A PRAIA. UM ÚLTIMO ADEUS AO MAR, ÀS AREIAS, A UM PESADELO... OU A UM SONHO QUE FINDAVA PARA SEMPRE. A MULHER MAL TEVE TEMPO DE VIRAR-SE PARA VER QUEM A AGARRAVA COM TAMANHA FORÇA. SENTIU OS LÁBIOS QUENTES E ANSIOSOS QUE BUSCAVAM OS SEUS. AS DUAS MALETAS CAÍRAM NA AREIA BRANCA, DIANTE DO MAR.

ESTER  -  (afastando-se do marido) Você não merece!

CYRO  -  Por que está zangada?

ESTER  -  Onde está Vanda? Não acompanhou você?

CYRO  -  Como você é ciumenta! Ester, compreenda. Eu não posso chutar Vanda como um traste... um utensílio que não se usa mais e só atrapalha! Ela merece o respeito humano! Respeito por tudo o que ela é e representou na minha vida!

ESTER  -  Então... confessa! Ela representou alguma coisa!

CYRO  -  Muita coisa, Ester! Você sabe disso! Mas eu não pude amá-la. Se a amasse, não estaria aqui, pedindo a você para voltar pra mim... porque é a você que eu amo... é você a única mulher da minha vida! (beijou-lhe o rosto, as mãos, o pescoço) Ester, Ester... é a você que eu amo! Só a você!

CORTA PARA:
ELENCO

CENA  5  -  FLORIANÓPOLIS  -  CENTRO DE ESTUDOS ESPACIAIS  -  INTERIOR  -  DIA

O PROFESSOR ZACARIAS TINHA REUNIDO OS ESPECIALISTAS NO CENTRO DE ESTUDOS.

PROF. ZACARIAS  -  Esperávamos apenas a sua presença, Dr. Cyro, para iniciar a sessão. Tenha a bondade, por favor. Sente-se aqui. Temos em mãos o resultado da análise do meteorito achado no mar, nas proximidades de Porto Azul. Aqui está.

UM ESTRANHO HOMEM, COM VESTES ESPACIAIS ACOMODOU-SE NO FUNDO DA SALA. RICARDO VIU-O E SE PERTURBOU.

PROF. ZACARIAS  -  (prosseguiu) A composição do meteorito coincide com a da pedra oferecida ao falecido André pelo homem do espaço. Ambas vieram do mesmo mundo. Houve realmente manifestação extraterrestre nos raios que atingiram Dona Orjana quando estava grávida do Dr. Cyro Valdez. Sobre isso ele tem alguma coisa a dizer.

FEZ-SE SILENCIO, ANTES DE CYRO VALDEZ FALAR.

CYRO  -  Não creio que haja mais nada a dizer. Tudo já foi dito pelos meus atos e minha conduta. O homem não vale pelo poder que tem nas mãos, e sim pelo bem que é capaz de fazer. É possível que existam outros mundos habitados por seres superiores que devem ter eliminado os preconceitos e as guerras, os ódios e a exploração de seus semelhantes. Os homens valem pelo amor que conseguem dar...

OS OLHOS DE CYRO ILUMINARAM-SE E CRUZARAM COM OS DO SER QUE PERMANECIA DE PÉ, NO EXTREMO DA SALA.

CORTA PARA:

CENA 6  -  PORTO AZUL  -  PRAIA  -  ESTERIOR  -  DIA

O MAR BEIJAVA A AREIA, A BRANCA E PURA AREIA DE PORTO AZUL. MAIS AO LONGE, NO HORIZONTE, A LUA EMERGIA DO OCEANO, VERMELHA. CYRO E ESTER PARARAM DE CORRER.

ESTER  -  O homem desapareceu...

CYRO  -  Não faz mal.

DEITOU-A NA PRAIA DESERTA E BEIJOU-A SOFREGAMENTE.

CYRO  -  Vamos ficar aqui, assim...

A MANHÃ SE INSINUAVA POR ENTRE AS NUVENS ARROXEADAS, QUANDO A ESTRANHA VISÃO PERTURBOU A MULHER. DORMIA? SONHAVA? VIU NITIDAMENTE QUANDO CYRO VALDEZ SE ENCAMINHOU PARA O SER ESPACIAL. AMBOS SE APROXIMARAM EM PASSADAS LENTAS. ESTER ESTENDEU OS BRAÇOS PARA O MARIDO QUE SE AFASTAVA COM O HOMEM DO DESCONHECIDO. CYRO OUVIU OS GRITOS DA MULHER E SE VOLTOU. CYRO E O HOMEM SE DESPEDIRAM, NUM ABRAÇO DERRADEIRO. ESTER ABRIU OS OLHOS E DEPAROU COM O MARIDO AO SEU LADO. ERA DIA.

CYRO  -  Já amanheceu, vamos embora?

ESTER  -  Tive um sonho... ou não foi um sonho? Aquele homem apareceu... e você o seguiu. Ele ia levando você embora... e você ia me deixar...

CYRO  -  Realmente eu fui falar com ele. Um estrangeiro que queria que eu fosse para outro lugar... para fazer o mesmo que fiz aqui... quero dizer: curas... e mensagens de fé.

ESTER  -  No meu sonho ele impôs uma condição para você ficar...

CYRO  -  Qual?

ESTER  -  Você permaneceria na Terra, mas perderia seus poderes. Seria um homem comum.

CYRO SORRIU E A CARREGOU NO COLO.

ESTER  -  Isso é verdade?

CYRO  -  Você tem o direito de imaginar o que quiser...

ESTER  -  Então me diga: nosso filho será homem ou mulher?

CYRO  -  Não tenho mais poderes. Não posso adivinhar. Agora sou um homem comum. Apenas um médico. Preferi ficar na Terra, assim... tudo por amor à minha mulher. Sabe? Eu vou aceitar o cargo de Diretor do Hospital de Porto Azul. Acho que ainda serei um bom médico.... um bom marido... um bom pai!

MUITO AO LONGE, O ESTRANHO, BANHADO PELA LUZ DO SOL, APRECIAVA A CENA. DE REPENTE VOLTOU-SE PARA O CÉU, ABRIU OS BRAÇOS E DESAPARECEU. CYRO ERGUEU OS OLHOS PARA O INFINITO E PERMANECEU ESTÁTICO, POR ALGUNS SEGUNDOS. REALIDADE OU SONHO? OS CAMINHOS POR ONDE PASSAVA CONTINUARIAM FECHADOS AOS HOMENS COMUNS.

FIM

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