Roteirizado por Toni Figueira
do original de Janete Clair
CAPÍTULO 7
PARTICIPAM DESTE CAPÍTULO:
DUDA
RITINHA
SINHANA
JOÃO DIANA
CEMA
RODRIGO
SEBASTIÃO
PEDRO BARROS
DR. MACIEL
DOMINGAS
LOURENÇO
JUCA CIPÓ
DUDA
RITINHA
SINHANA
JOÃO DIANA
CEMA
RODRIGO
SEBASTIÃO
PEDRO BARROS
DR. MACIEL
DOMINGAS
LOURENÇO
JUCA CIPÓ
CENA 1 - CASA DO RANCHO CORAGEM - INT. - DIA.
Duda procurava as malas e algumas roupas trazidas do Rio, para a estada no rancho da família. Entrou no quarto dos irmãos. Deparou com Ritinha, sentada ao fundo, dobrando algumas peças do seu vestuário.
DUDA - Oi... você está aí?
RITINHA - Tava te esperando, Duda.
DUDA - Pra que tava me esperando?
RITINHA - Pra te dizer o quanto lamento tudo o que está acontecendo com a gente. E pra lhe dizer também... que não quero te forçar a nada. Não quero que se case comigo obrigado. Mesmo porque não tem graça, não é? Você se casar sem gostar.
Eduardo se sentou na cama e forçou a moça a fazer o mesmo.
DUDA - Não. Não é esse o problema, Ritinha. O caso... é que não tenho condições de me casar nem com você... nem com ninguém. A minha vida é dura... é dura, viu? Uma vida sem parada. Hoje eu estou aqui, amanhã posso estar em São Paulo, Recife. Não é vida que a gente possa se dedicar a uma mulher. Não é a vida que mulher nenhuma deseje ter.
RITINHA - (abraçou-o com ternura) Duda. Se fosse só isso... eu te digo: estou disposta a enfrentar qualquer coisa. Disposta a me sacrificar por você, a passar a vida esperando por você... mas eu quero ser sua mulher. Mas o caso, Duda, eu sei... é que você não gosta de mim.
DUDA - Gostar, eu gosto, mas não é como você merece, Rita.
Rita de Cássia sentia que o sonho de sua vida poderia transformar-se em realidade. Bastava um pouco mais de estímulo para que tudo pudesse dar certo.
RITINHA - Se gosta um pouquinho, Duda, case comigo. Me leve com você... Eu não quero forçar, é claro. Mas gostaria tanto de partir com você. Desejo tanto ser sua mulher.
As feições de Eduardo traduziam o conflito que lhe ia n'alma.
DUDA - Eu sinto... mas não dá pé, Ritinha. Não tem jeito não.
Saiu apressadamente, com a mala segura pela mão. A velha Sinhana interveio, surgindo do fundo da casa.
SINHANA - Onde vai?
DUDA - Embora pro Rio, mãe. Aluguei um táxi que vai me levar de volta amanhã cedo.
SINHANA - Teu pai quer te dizer duas palavras.
DUDA - O que é, mãe?
SINHANA - Isso que você vai fazer, filho, não é próprio de gente de bem.
DUDA - Eu não quero ouvir mais nada.
SINHANA - Vem. O pai te espera.
CORTA PARA:
CENA 2 - ESTRADA Á MARGEM DO RIACHO - EXT. - FIM DE TARDE.
Já próximo á choupana de Braz Canoeiro, João e a desconhecida beijaram-se ardentemente sobre a cela do cavalo. A moça saltou, lépida e, correndo pela margem do riacho, arrancou uma planta, atirando-a ao rosto do rapaz. Ele, perseguindo-a, conseguiu alcançá-la e, derrubando-a. a abraçou.
JOÃO - Sabe, moça, nunca vi ninguém como você.
DIANA - Nunca viu mulher?
JOÃO - Mulher, já. Não do seu jeito.
DIANA - E o que é que tem meu jeito?
JOÃO - Ocê tem cara de santa, mas... parece um demônio. Um demônio de tentação... de fogo...
O apelo era forte demais. Os braços de João Coragem envolviam o delicado corpo da moça. Seus lábios se uniram num desejo mútuo.
CORTA PARA:
CENA 3 - CHOUPANA DE BRAZ CANOEIRO - EXT. - NOITE.
Cema surgiu á porta da choupana, deparando com a cena amorosa. João percebeu a presença da mulher de Braz Canoeiro.
JOÃO - Vem cá, Cema. Eu trouxe essa moça pra ocê olhar pra ela. Olha bem pra cara dela. Veja se não é a mesma que roubou meu cavalo?
CEMA - Parecer, se parece muito. Só que a outra... não vi sorrir nenhuma só vez, Jão.
João pediu a Cema para hospedar a desconhecida por algum tempo no pobre casebre do garimpeiro.
CEMA - Pode, Jão. Tenho confiança em ocê.
JOÃO - O caso é que eu não tenho nela...
CEMA - Ocê fica á vontade. Amanhã... de manhãzinha eu tou de volta com meu Braz.
Cema saiu, trouxa á cabeça, deixando o rapaz no meio do terreiro, imerso em pensamentos. A voz da moça acordou-o das reflexões.
DIANA - Ei, João Coragem, vem ou não vem?
Amarrou o cavalo no tronco de uma árvore e, desajeitado, entrou apressadamente na choupana de Braz.
CORTA PARA:
CENA 4 - CHOUPANA DE BRAZ CANOEIRO - INT. - NOITE.
O diálogo foi breve.
DIANA - Eu quero ser sua. Você não me comprou? Sim... a fiança... não foi meu preço?
JOÃO - Não vê que isso não pode ser. Cê tem que ter alguém que cuide de sua vida. Não pode ter vindo de qualquer lugar.
DIANA - E vim.
JOÃO - De onde?
DIANA - De uma cidade que você não conhece. Longe daqui. Mas eu acho que isso agora não tem grande importância.
JOÃO - Não tem?
DIANA - Porquê eu agora sou sua.
João observou a moça, espantado com a ousadia de suas palavras.
DIANA - Ou... você não me quer?
JOÃO - Escute aqui... você é doida? Fugiu de algum manicômio?
Encarando o olhar do rapaz, a moça principiou um sorriso até alcançar a intensidade de uma gargalhada.
JOÃO - Eu nem sei o seu nome!
DIANA - Diana. Diana Lemos.
A noite avançava. O silencio quebrado apenas pelo tritinar dos grilos na beira do riacho.
Diana e João dormiam.
CENA 5 - RANCHO CORAGEM - SALA - INT. - DIA.
Duda e o pai, Sebastião, ouviam atentamente as ponderações do promotor, Dr. Rodrigo Cesar.
RODRIGO - Bem, Duda, sua recusa em casar com Ritinha poderá trazer sérias implicações para todos voces. Há luta aberta entre a família Coragem e o grupo do coronel Pedro Barros. Luta de morte. E com a atitude que voce tomou, não aceitando limpar o nome da moça, quem sofrerá as consequencias? Claro que a família. Voce estará longe, no Rio, cheio de glórias. (fez uma pausa e continuou) Pedro Barros está usando você para desmoralizar seus irmãos. Se você não se casar com essa moça, a cidade inteira vai ficar revoltada. Não só contra você, mas também contra sua família. Isso vai enfraquecer nossa luta, entende?
DUDA - Acho que estou começando a entender. Mas, que diabo, eu não fiz nada. Dou minha palavra. Isso tudo é injusto. Se o senhor está aqui pra fazer justiça, deve começar por me defender dessa calúnia.
RODRIGO - Entenda, Duda. Numa cidade pequena, como esta, seu procedimento é indefensável. Para o povo daqui, cheio de preconceitos, o simples fato dessa moça ter passado uma noite fora de casa é o suficiente para desonrá-la.
Duda fixou os olhos do pai. De Sinhana, que acabava de entrar. De Rodrigo, o jovem promotor. Lutava intimamente á procura de uma solução para tudo aquilo. Pediu licença e saiu da sala. Lá fora um carro o esperava para levá-lo até Coroado.
CORTA PARA:
CENA 6 - CASA DE BRAZ CANOEIRO - INT. - DIA.
A clarinada do galo no terreiro e o cocoricar de dezenas de outros, pelas redondezas, acordaram João, deitado na esteira esfiapada da casa de Braz Canoeiro. Abriu os olhos, como que admirado, não reconhecendo o lugar. De repente a lembrança chegou-lhe vívida. E ela? De relance procurou Diana na rêde. A rêde balançava, vazia.
JOÃO - Diana!
Correu até a porta. Apenas o bucolismo das árvores, das montanhas distantes. Voltou ao interior da casa. Diana não se achava em nenhum lugar.
CORTA PARA:
CENA 7 - CASA DE BRAZ CANOEIRO - SEQUENCIA. - EXT. - DIA.
JOÃO - (murmurou) Tentação do diabos...
Desorientado, João procurou o cavalo que havia amarrado, á noite, num tronco de árvore, no terreiro. O animal pastava tranqüilamente nos fundos da cabana. João desamarrou-o, selou-o e partiu em disparada. Diana não lhe saía do pensamento.
CORTA PARA:
CENA 8 - COROADO - CENTRO. - EXT. - DIA.
No centro de Coroado e nas estradas de acesso á cidadezinha, os capangas de Pedro Barros, armados de garruchas e rifles, esperavam o carro de Duda. A ordem era inflexível: se o rapaz conseguisse deixar a cidade, não ultrapassaria os limites de Coroado. O próprio Pedro Barros, acompanhado do Dr. Maciel, comandava as operações, das proximidades da Pensão do Gentil Palhares. Barros comentava com o médico:
PEDRO BARROS - Eu hoje decidi e vou ser padrinho de um casamento. O Padre está avisado. Desde ontem. A cerimônia é ás dez. Falei com o juiz, preparei tudo. Um casamento de urgência, o juiz ajeitou logo a papelada.
Maciel observava o carro parado diante da pensão.
DR. MACIEL - Eu sei que ele marcou viagem para as 8. O safado está pensando em fugir. E minha filha vai ficar... difamada.
CORTA PARA:
CENA 9 - PENSÃO DE GENTIL PALHARES - QUARTO - INT. - DIA.
No interior do quarto, Duda ouve baterem na porta. Era Domingas. A mãe-de-criação de Ritinha. Parecia assustada.
DOMINGAS - Eduardo, eu não quero que nada te aconteça. É por isto que tou aqui. Falo, porquê sei como é que a Ritinha vai ficar se você... quero dizer... se os home de Pedro Barros te agarrá. Tá tudo de tocaia pelas estrada de Coroado. Por qualquer lado que você for... eles vão te agarrá!
CORTA PARA:
CENA 10 - COROADO - RUA - EXT. - DIA.
Gentil Palhares colocava várias malas dentro do veículo, ante o olhar observador de Paula.
PEDRO BARROS - (apontando para a frente da pensão) Estão colocando as malas! Já vai sair o carro...
DR. MACIEL - Está fugindo!
PEDRO BARROS - Não vai longe, Doutor! Não vai longe!
CORTA PARA:
CENA 11 - COROADO - ESTRADA - EXT. - DIA.
Na estrada, os capangas, de tocaia, aguardavam a ordem do capataz.
LOURENÇO - Lá vem o carro.
JUCA CIPÓ - (vibrando) É esse mesmo. Se prepare!
Os dois sacaram do revólver, ao mesmo tempo e esperaram a aproximação do carro. Sob a mira das armas o chofer parou. Juca e Lourenço não queriam acreditar... Paula estava sozinha no interior do veículo.
LOURENÇO - Desculpe, moça. A gente pensava... que o jogador de futebol estivesse aí.
JUCA CIPÓ - E agora?
LOURENÇO - Bem... se a moça vai sozinha, a gente não tem nada com isso. Podemos deixar ela seguir viagem.
CORTA PARA:
CENA 12 - COROADO - RUA - EXT. - DIA.
Lourenço saiu á procura de Pedro Barros em Coroado.
PEDRO BARROS - E então?
LOURENÇO - Nada do homem. Nem sombra.
DR. MACIEL - (gritando) Mas o carro... ele saiu daqui de carro...
LOURENÇO - No carro a gente só achou a moça...
CORTA PARA:
CENA 13 - COROADO - CASA DO DR. MACIEL - QUARTO DE RITINHA - INT - DIA.
Domingas olhava preocupada para o velho relógio de parede. As horas se aproximavam. O casamento estava marcado para as 10. João Coragem trouxera Ritinha e agora voltara ao rancho para buscar a família.
DR. MACIEL - (impaciente) Que diabo tem essa menina que não qué falar comigo?
RITINHA - Quem fez o que o senhor fez com minha mãe... que era uma santa mulher... tem mesmo coragem pra tudo.
DR. MACIEL - (espumando) O que eu fiz?
RITINHA - O senhor... tem a alma de um demônio. E eu não quero nunca mais olhar a sua cara!
Rita ameaçou sair do quarto. Maciel segurou-a, fora de si.
DR. MACIEL - Vem cá... me explica essa coisa direito. Quem foi que lhe disse... isso... do que eu fiz contra sua mãe? Eu não matei ela, está me ouvindo? Eu não matei...
RITINHA - Eu não disse isso. Mas se o senhor mesmo afirma é porque matou!
DR. MACIEL - Já sei. Foi aquela velha feiticeira. Sinhana. Foi ela que andou enchendo a sua cabeça.
RITINHA - Me deixe! Estamos em cima da hora. Temos um encontro marcado... pra passar por mais uma vergonha... na Igreja do Padre Bento.
Duda procurava as malas e algumas roupas trazidas do Rio, para a estada no rancho da família. Entrou no quarto dos irmãos. Deparou com Ritinha, sentada ao fundo, dobrando algumas peças do seu vestuário.
DUDA - Oi... você está aí?
RITINHA - Tava te esperando, Duda.
DUDA - Pra que tava me esperando?
RITINHA - Pra te dizer o quanto lamento tudo o que está acontecendo com a gente. E pra lhe dizer também... que não quero te forçar a nada. Não quero que se case comigo obrigado. Mesmo porque não tem graça, não é? Você se casar sem gostar.
Eduardo se sentou na cama e forçou a moça a fazer o mesmo.
DUDA - Não. Não é esse o problema, Ritinha. O caso... é que não tenho condições de me casar nem com você... nem com ninguém. A minha vida é dura... é dura, viu? Uma vida sem parada. Hoje eu estou aqui, amanhã posso estar em São Paulo, Recife. Não é vida que a gente possa se dedicar a uma mulher. Não é a vida que mulher nenhuma deseje ter.
RITINHA - (abraçou-o com ternura) Duda. Se fosse só isso... eu te digo: estou disposta a enfrentar qualquer coisa. Disposta a me sacrificar por você, a passar a vida esperando por você... mas eu quero ser sua mulher. Mas o caso, Duda, eu sei... é que você não gosta de mim.
DUDA - Gostar, eu gosto, mas não é como você merece, Rita.
Rita de Cássia sentia que o sonho de sua vida poderia transformar-se em realidade. Bastava um pouco mais de estímulo para que tudo pudesse dar certo.
RITINHA - Se gosta um pouquinho, Duda, case comigo. Me leve com você... Eu não quero forçar, é claro. Mas gostaria tanto de partir com você. Desejo tanto ser sua mulher.
As feições de Eduardo traduziam o conflito que lhe ia n'alma.
DUDA - Eu sinto... mas não dá pé, Ritinha. Não tem jeito não.
Saiu apressadamente, com a mala segura pela mão. A velha Sinhana interveio, surgindo do fundo da casa.
SINHANA - Onde vai?
DUDA - Embora pro Rio, mãe. Aluguei um táxi que vai me levar de volta amanhã cedo.
SINHANA - Teu pai quer te dizer duas palavras.
DUDA - O que é, mãe?
SINHANA - Isso que você vai fazer, filho, não é próprio de gente de bem.
DUDA - Eu não quero ouvir mais nada.
SINHANA - Vem. O pai te espera.
CORTA PARA:
CENA 2 - ESTRADA Á MARGEM DO RIACHO - EXT. - FIM DE TARDE.
Já próximo á choupana de Braz Canoeiro, João e a desconhecida beijaram-se ardentemente sobre a cela do cavalo. A moça saltou, lépida e, correndo pela margem do riacho, arrancou uma planta, atirando-a ao rosto do rapaz. Ele, perseguindo-a, conseguiu alcançá-la e, derrubando-a. a abraçou.
JOÃO - Sabe, moça, nunca vi ninguém como você.
DIANA - Nunca viu mulher?
JOÃO - Mulher, já. Não do seu jeito.
DIANA - E o que é que tem meu jeito?
JOÃO - Ocê tem cara de santa, mas... parece um demônio. Um demônio de tentação... de fogo...
O apelo era forte demais. Os braços de João Coragem envolviam o delicado corpo da moça. Seus lábios se uniram num desejo mútuo.
CORTA PARA:
CENA 3 - CHOUPANA DE BRAZ CANOEIRO - EXT. - NOITE.
Cema surgiu á porta da choupana, deparando com a cena amorosa. João percebeu a presença da mulher de Braz Canoeiro.
JOÃO - Vem cá, Cema. Eu trouxe essa moça pra ocê olhar pra ela. Olha bem pra cara dela. Veja se não é a mesma que roubou meu cavalo?
CEMA - Parecer, se parece muito. Só que a outra... não vi sorrir nenhuma só vez, Jão.
João pediu a Cema para hospedar a desconhecida por algum tempo no pobre casebre do garimpeiro.
CEMA - Pode, Jão. Tenho confiança em ocê.
JOÃO - O caso é que eu não tenho nela...
CEMA - Ocê fica á vontade. Amanhã... de manhãzinha eu tou de volta com meu Braz.
Cema saiu, trouxa á cabeça, deixando o rapaz no meio do terreiro, imerso em pensamentos. A voz da moça acordou-o das reflexões.
DIANA - Ei, João Coragem, vem ou não vem?
Amarrou o cavalo no tronco de uma árvore e, desajeitado, entrou apressadamente na choupana de Braz.
CORTA PARA:
CENA 4 - CHOUPANA DE BRAZ CANOEIRO - INT. - NOITE.
O diálogo foi breve.
DIANA - Eu quero ser sua. Você não me comprou? Sim... a fiança... não foi meu preço?
JOÃO - Não vê que isso não pode ser. Cê tem que ter alguém que cuide de sua vida. Não pode ter vindo de qualquer lugar.
DIANA - E vim.
JOÃO - De onde?
DIANA - De uma cidade que você não conhece. Longe daqui. Mas eu acho que isso agora não tem grande importância.
JOÃO - Não tem?
DIANA - Porquê eu agora sou sua.
João observou a moça, espantado com a ousadia de suas palavras.
DIANA - Ou... você não me quer?
JOÃO - Escute aqui... você é doida? Fugiu de algum manicômio?
Encarando o olhar do rapaz, a moça principiou um sorriso até alcançar a intensidade de uma gargalhada.
JOÃO - Eu nem sei o seu nome!
DIANA - Diana. Diana Lemos.
A noite avançava. O silencio quebrado apenas pelo tritinar dos grilos na beira do riacho.
Diana e João dormiam.
CENA 5 - RANCHO CORAGEM - SALA - INT. - DIA.
Duda e o pai, Sebastião, ouviam atentamente as ponderações do promotor, Dr. Rodrigo Cesar.
RODRIGO - Bem, Duda, sua recusa em casar com Ritinha poderá trazer sérias implicações para todos voces. Há luta aberta entre a família Coragem e o grupo do coronel Pedro Barros. Luta de morte. E com a atitude que voce tomou, não aceitando limpar o nome da moça, quem sofrerá as consequencias? Claro que a família. Voce estará longe, no Rio, cheio de glórias. (fez uma pausa e continuou) Pedro Barros está usando você para desmoralizar seus irmãos. Se você não se casar com essa moça, a cidade inteira vai ficar revoltada. Não só contra você, mas também contra sua família. Isso vai enfraquecer nossa luta, entende?
DUDA - Acho que estou começando a entender. Mas, que diabo, eu não fiz nada. Dou minha palavra. Isso tudo é injusto. Se o senhor está aqui pra fazer justiça, deve começar por me defender dessa calúnia.
RODRIGO - Entenda, Duda. Numa cidade pequena, como esta, seu procedimento é indefensável. Para o povo daqui, cheio de preconceitos, o simples fato dessa moça ter passado uma noite fora de casa é o suficiente para desonrá-la.
Duda fixou os olhos do pai. De Sinhana, que acabava de entrar. De Rodrigo, o jovem promotor. Lutava intimamente á procura de uma solução para tudo aquilo. Pediu licença e saiu da sala. Lá fora um carro o esperava para levá-lo até Coroado.
CORTA PARA:
CENA 6 - CASA DE BRAZ CANOEIRO - INT. - DIA.
A clarinada do galo no terreiro e o cocoricar de dezenas de outros, pelas redondezas, acordaram João, deitado na esteira esfiapada da casa de Braz Canoeiro. Abriu os olhos, como que admirado, não reconhecendo o lugar. De repente a lembrança chegou-lhe vívida. E ela? De relance procurou Diana na rêde. A rêde balançava, vazia.
JOÃO - Diana!
Correu até a porta. Apenas o bucolismo das árvores, das montanhas distantes. Voltou ao interior da casa. Diana não se achava em nenhum lugar.
CORTA PARA:
CENA 7 - CASA DE BRAZ CANOEIRO - SEQUENCIA. - EXT. - DIA.
JOÃO - (murmurou) Tentação do diabos...
Desorientado, João procurou o cavalo que havia amarrado, á noite, num tronco de árvore, no terreiro. O animal pastava tranqüilamente nos fundos da cabana. João desamarrou-o, selou-o e partiu em disparada. Diana não lhe saía do pensamento.
CORTA PARA:
CENA 8 - COROADO - CENTRO. - EXT. - DIA.
No centro de Coroado e nas estradas de acesso á cidadezinha, os capangas de Pedro Barros, armados de garruchas e rifles, esperavam o carro de Duda. A ordem era inflexível: se o rapaz conseguisse deixar a cidade, não ultrapassaria os limites de Coroado. O próprio Pedro Barros, acompanhado do Dr. Maciel, comandava as operações, das proximidades da Pensão do Gentil Palhares. Barros comentava com o médico:
PEDRO BARROS - Eu hoje decidi e vou ser padrinho de um casamento. O Padre está avisado. Desde ontem. A cerimônia é ás dez. Falei com o juiz, preparei tudo. Um casamento de urgência, o juiz ajeitou logo a papelada.
Maciel observava o carro parado diante da pensão.
DR. MACIEL - Eu sei que ele marcou viagem para as 8. O safado está pensando em fugir. E minha filha vai ficar... difamada.
CORTA PARA:
CENA 9 - PENSÃO DE GENTIL PALHARES - QUARTO - INT. - DIA.
No interior do quarto, Duda ouve baterem na porta. Era Domingas. A mãe-de-criação de Ritinha. Parecia assustada.
DOMINGAS - Eduardo, eu não quero que nada te aconteça. É por isto que tou aqui. Falo, porquê sei como é que a Ritinha vai ficar se você... quero dizer... se os home de Pedro Barros te agarrá. Tá tudo de tocaia pelas estrada de Coroado. Por qualquer lado que você for... eles vão te agarrá!
CORTA PARA:
CENA 10 - COROADO - RUA - EXT. - DIA.
Gentil Palhares colocava várias malas dentro do veículo, ante o olhar observador de Paula.
PEDRO BARROS - (apontando para a frente da pensão) Estão colocando as malas! Já vai sair o carro...
DR. MACIEL - Está fugindo!
PEDRO BARROS - Não vai longe, Doutor! Não vai longe!
CORTA PARA:
CENA 11 - COROADO - ESTRADA - EXT. - DIA.
Na estrada, os capangas, de tocaia, aguardavam a ordem do capataz.
LOURENÇO - Lá vem o carro.
JUCA CIPÓ - (vibrando) É esse mesmo. Se prepare!
Os dois sacaram do revólver, ao mesmo tempo e esperaram a aproximação do carro. Sob a mira das armas o chofer parou. Juca e Lourenço não queriam acreditar... Paula estava sozinha no interior do veículo.
LOURENÇO - Desculpe, moça. A gente pensava... que o jogador de futebol estivesse aí.
JUCA CIPÓ - E agora?
LOURENÇO - Bem... se a moça vai sozinha, a gente não tem nada com isso. Podemos deixar ela seguir viagem.
CORTA PARA:
CENA 12 - COROADO - RUA - EXT. - DIA.
Lourenço saiu á procura de Pedro Barros em Coroado.
PEDRO BARROS - E então?
LOURENÇO - Nada do homem. Nem sombra.
DR. MACIEL - (gritando) Mas o carro... ele saiu daqui de carro...
LOURENÇO - No carro a gente só achou a moça...
CORTA PARA:
CENA 13 - COROADO - CASA DO DR. MACIEL - QUARTO DE RITINHA - INT - DIA.
Domingas olhava preocupada para o velho relógio de parede. As horas se aproximavam. O casamento estava marcado para as 10. João Coragem trouxera Ritinha e agora voltara ao rancho para buscar a família.
DR. MACIEL - (impaciente) Que diabo tem essa menina que não qué falar comigo?
RITINHA - Quem fez o que o senhor fez com minha mãe... que era uma santa mulher... tem mesmo coragem pra tudo.
DR. MACIEL - (espumando) O que eu fiz?
RITINHA - O senhor... tem a alma de um demônio. E eu não quero nunca mais olhar a sua cara!
Rita ameaçou sair do quarto. Maciel segurou-a, fora de si.
DR. MACIEL - Vem cá... me explica essa coisa direito. Quem foi que lhe disse... isso... do que eu fiz contra sua mãe? Eu não matei ela, está me ouvindo? Eu não matei...
RITINHA - Eu não disse isso. Mas se o senhor mesmo afirma é porque matou!
DR. MACIEL - Já sei. Foi aquela velha feiticeira. Sinhana. Foi ela que andou enchendo a sua cabeça.
RITINHA - Me deixe! Estamos em cima da hora. Temos um encontro marcado... pra passar por mais uma vergonha... na Igreja do Padre Bento.
FIM DO CAPÍTULO 7
E NO PRÓXIMO CAPÍTULO...
# NA IGREJA, JOÃO ENCONTRA LARA E A ACUSA DE TER ROUBADO A CAIXA DA SANTA.
# RITINHA FICA HUMILHADA AO OUVIR DUDA DIZER QUE CASOU CONTRA SUA VONTADE. OS DOIS DISCUTEM E A MOÇA DECIDE IR EMBORA.
NÃO PERCA O CAPÍTULO 8 DE...