quarta-feira, 27 de abril de 2011

IRMÃOS CORAGEM - CAPÍTULO 5


Roteirizado por Toni Figueira
do original de Janete Clair

CAPÍTULO 5

PARTICIPAM DESTE CAPÍTULO:

DELEGADO FALCÃO
PREFEITO JORGINHO
SINHANA
RITINHA
DUDA
JOÃO
RODRIGO
BRAZ CANOEIRO
DR. MACIEL
DOMINGAS
E O POVO DE COROADO

CENA 1 - COROADO - SALÃO DA PREFEITURA - INT. - NOITE.

O cheiro do churrasco, da carne assada na brasa, enchia o salão da prefeitura de Coroado, engalanado para o baile em homenagem a Eduardo Coragem. Barris de chope amontoavam-se a um canto e um conjunto regional animava a festa. Os pares dançavam no estilo roceiro das cidadezinhas do interior. Simplicidade em tudo. Nas cadeiras rústicas que envolviam o salão, matronas e solteironas comentavam a vida dos presentes. De repente o delegado Falcão correu para a porta. Duda chegava, seguido da comitiva que não o largava desde o instante em que pisara na cidade.


DELEGADO FALCÃO  -  (saudando)  Oh, mas aí está o rei da festa! – saudou o delegado.
 
PREFEITO JORGINHO  -  Seja bem-vindo! Esta é a nossa prefeitura, enfeitada pra receber o orgulho de nossa cidade.

Duda agradeceu, olhando detidamente as pessoas que se movimentavam no grande salão. Divisou Sinhana sentada numa das cadeiras de pista. Partiu em direção á mãe, rodeado de admiradores.
Ritinha procurava a oportunidade de falar com Eduardo. Mas agora, ao lado de Sinhana, procurava fugir á presença do jovem.


SINHANA  -  (retendo-a pela mão)  Fica aí, menina.

RITINHA  -  Não quero passar vergonha.
  
DUDA  -  (alcançando a mãe)    Olá, mãe... com quem a senhora veio?
  
SINHANA  -  (respondeu, perguntando)  Tu não se lembra aqui desta moça, Duda?

DUDA  -  Desculpe, não tou lembrado não.
 
SINHANA  -  (sem se dar por vencida)  Olha bem, Duda.  ( E virando-se para a moça)   Sorri para ele, menina. Eu acho que o sorriso dela ocê não pode ter se esquecido. Vai se lembrá de todo um passado... um passado que tá muito ligado a esse sorriso...

Duda fixou os olhos no rosto da jovem. Rebuscou a memória. Nada.

DUDA  -  Meu Deus, me perdoe, mas eu não sei quem é.

De repente Ritinha levantou a cabeça, olhou nos olhos de Duda e sorriu meigamente para ele.

DUDA  -  (empalidecendo)  Jesus! Ou estou ficando doido... ou essa é a... a Rita de Cássia! A Ritinha!

Ritinha sorriu-chorando, mesclando a alegria com as lágrimas da emoção que lhe tomava a alma. Duda a reconhecera. Num instante o rapaz abraçava a amiga de infância, levantando-a no colo, esquecendo-se por completo das pessoas que observavam a cena. Rita de Cássia ria mais. E chorava mais...

A festa varava a madrugada.


CORTA PARA:

CENA 2 - COROADO - DELEGACIA - INT. - NOITE.

As dependências rústicas da cadeia de Coroado traduziam a realidade da região. Pobreza em tudo. Até na vida sem diversões ou interesses. Coroado, zona rica em pedras preciosas, nada oferecia á sua população humilde. Ao longe ouvia-se o ruído do baile da prefeitura. Três homens conversavam. João Coragem, Rodrigo, o novo promotor, e o negro Braz Canoeiro.

  
RODRIGO  -  É este o homem?

JOÃO  -  É este, seu doutô promotor... trouxe aqui pro senhor vê... e mais o seu doutô delegado Diogo Falcão.

RODRIGO  -  Falcão está no baile, mas já mandei chamá-lo.

Rodrigo voltou-se para Braz Canoeiro, sentado no banco central da sala. O negro mostrou-lhe os ferimentos por todo o corpo.

RODRIGO  -  Então, meu amigo, o que foi isso?

BRAZ CANOEIRO  -  Quisero me mandá pro outro mundo, seu doutô.
  
JOÃO  -  (esclarecendo)  Dero purga nele e depois a sova brava. Veja aí, ta todo ferido.
  
RODRIGO  -  (espremendo os olhos, horrorizado) Uma desumanidade! É aquilo mesmo que eu lhe disse, João. Isto precisa ter um fim.

O delegado Falcão chegava, enraivecido, acompanhado pelo cabo do grupamento policial da cidade.

DELEGADO FALCÃO  -  Isto é um desafôro. Me arrancar do baile a uma hora destas, para tomar conhecimento de uma queixa!
  
RODRIGO  -  (severo)  Fui eu que lhe mandei chamar, Falcão.
  
DELEGADO FALCÃO  -  (mudando de atitude)  Seu Doutor Rodrigo César, eu... não sabia... tinham me falado num negro doente...

RODRIGO  -  Êste homem foi vítima de uma violência, Falcão. Quero que você registre a queixa.

Falcão mostrava-se indeciso, lembrando-se das ordens do coronel. Eram claras: “não registre a queixa, se quiser continuar mandando em Coroado”.

DELEGADO FALCÃO  -  Sim, é justo, mas não é este o garimpeiro que roubou um diamante de Pedro Barros? Tenho já a denúncia contra ele... o senhor devia era mandar prender ele, não defender, seu doutor...

RODRIGO  -  Mesmo que este homem fosse um ladrão, Pedro Barros não tem o direito de espancar ninguém. Exijo que você registre  a queixa e que abra inquérito para apurar a violência de que foi vítima este homem.

DELEGADO FALCÃO  -  (com ira nos olhos, preencheu o documento exigido pelo Promotor Rodrigo César)  Tá certo... vou fazer o que o senhor está mandando, seu doutor.

CENA 3  -  BEIRA DE UM RIACHO - EXT. - NOITE

O frescor da madrugada, o clarão da lua iluminando a vastidão dos campos, o cantar dos primeiros pássaros, serviam de pano de fundo para as recordações de Duda e Ritinha.
Ao longe, o marulho do riacho, eterno viajante dos caminhos do sertão. O casal passeava de mãos dadas. 


RITINHA  -  (apontando um trecho das águas)  Veja se se lembra deste lugar.

DUDA  -  Me lembro. A gente vinha nadar aqui todas as tardes.

RITINHA  -  Bandido! Um dia você escondeu a minha roupa. Tive de ir de maiô para casa, enrolada na toalha. O pai quase me matou de pancada.

No tronco de uma árvore, meio apagado pelo tempo, os dizeres la estavam, escritos á ponta de canivete.
“Duda e Ritinha. Amor para sempre”.

  
DUDA  -  (propondo) Vamos cair n’água, como antigamente?

Os risos do casal podiam ser ouvidos no silencio da madrugada. Os corpos se uniam no sentimento da saudade. E os lábios respondiam ás perguntas que não precisariam ser feitas.

CORTA PARA:

CENA 4 - MARGEM DO RIACHO - SEQUENCIA - EXT. - AMANHECER.


Duda e Ritinha estavam deitados á margem do riacho,  de mãos dadas. De repente a lembrança do tempo sacudiu a moça. Os raios de sol já se refletiam, dourados, sobre o leito do riacho.

RITINHA  -  Seu maluco! Sabe que horas são?

DUDA  -  Não, nem quero saber.

RITINHA  -  Acho que umas cinco e meia. O sol já ta nascendo.
  
DUDA  -  (olhando, espantado, para o céu)  O quê? Puxa, Ritinha, que coisa! Não dá vontade de pedir pra Deus parar a vida aqui?

RITINHA  -  Que dá, dá. Só assim você não fugia mais de mim.

Beijam-se novamente. Terna e demoradamente.
 
RITINHA  -  (murmurou ao ouvido do amado)  Queria nunca mais te deixar.

Uma nuvem de tristeza vedou o semblante da moça.


RITINHA  -  Sei que  vai ter que voltar pra sua vida no Rio, no Flamengo...

DUDA  -  Sim. Devo voltar daqui a uns dois ou três dias. Logo que terminar o prazo da minha licença...

RITINHA  -  E tudo vai ficar como antes. Juro que nunca mais, nunca mais vou ver o sol nascer, só pra não me lembrar de você.

DUDA  -  Diga o que quer que eu faça...

RITINHA  -  Quero que não me deixe, que me leve com você.

Duda segurou docemente o rosto de Ritinha, contornando com as mãos a curva da fronte, a forma do nariz, a linha dos lábios. Beijou-lhe os olhos. As faces. Até que seus lábios se colassem, parecendo a eles que a natureza era um carrossel a girar, a girar, a girar...
  
EDUARDO  -  Agora... não posso, Ritinha. Mas eu volto um dia qualquer pra te buscar.

CORTA PARA:

CENA 5  -  COROADO  -  CASA DO DR. MACIEL - EXT. - DIA.

Na porta da casa do Doutor Maciel havia uma agitação incomum para aquela hora. Domingas olhava as pessoas que passavam rumo ao trabalho. Maciel, mais ébrio que nunca, sentava-se numa enorme pedra na entrada da casa. Foi quando perceberam o casal que se aproximava. Domingas voltou-se, tensa, para o médico viciado. Eduardo falou primeiro.


DUDA  -  Eu... eu trouxe a Ritinha... A gente... andou passeando... recordando os tempos de criança...

RITINHA  -  A gente não sentiu passar as horas, pai.

Maciel não pôde controlar a cólera, aumentada com doses excessivas de cachaça.
DR. MACIEL  -  Seus... seus desavergonhados!

Ritinha tentou falar. Maciel não deu chance.

DR. MACIEL  -  Seu cachorro da cidade! Pensa que pode abusar das moças do interior? Pensa que pode vir, almofadinha... fazer aqui o que lhe der na telha?
  
DUDA  -  (enérgico) Doutor, o senhor está me ofendendo.

Maciel não tomou conhecimento da revolta do moço.

DR. MACIEL  -  Vai ter que pagar por isso. Vai ter que pagar, seu cachorro.

Ameaçador, suspendeu a bengala na direção do rapaz.


RITINHA  -  Pai, a gente não fez nada de mal.

DR. MACIEL  -  Se não fez, mesmo, vai ter que dar conta na polícia. Esses safados da cidade... pensam que a filha da gente é lixo.

RITINHA  -  O senhor está muito enganado. Passamos a noite conversando, brincando... sem maldade.
 
DR. MACIEL  -  (sem acreditar)  Vem dizer isso a mim? A mim?
  
DOMINGAS  -  Deixa a menina entrá, patrão. Pra acabá com o escândalo.

DR. MACIEL  -  Entrá, onde? Nesta casa? Ela que fique na rua. Na rua com este sujeitinho. Pra voltar a passar nesta porta, só depois de casar na polícia.
 
DUDA  -  (reagindo, colérico)  O senhor... o senhor está bêbado.

Maciel apontava o dedo para as serras que se viam no horizonte.

DR. MACIEL  -  Rua! Rua! Os dois. Rua!

Duda abraçou Ritinha e, juntos, saíram correndo ante os olhos escandalizados dos vizinhos e das pessoas que por ali passavam ás primeiras horas da manhã. Coroado saberia de tudo logo que a boca do povo começasse a espalhar a triste nova da filha do Dr. Maciel.

FIM DO CAPÍTULO 5
João (Tarcísio Meira) e Maria de Lara (Gloria Menezes)


E NO PRÓXIMO CAPÍTULO...

#  DUDA CHEGA COM RITINHA AO RANCHO CORAGEM E OUVEM DA FAMÍLIA A SENTENÇA - VAI TER QUE CASAR!

#  DIANA LEMOS É PRESA, ACUSADA DE ROUBAR O DINHEIRO DA IGREJA

# O CAPATAZ DE PEDRO BARROS VAI AO RANCHO CORAGEM AVISAR QUE A CIDADE EM PESO ESTÁ ESPERANDO O CASAMENTO DE DUDA E RITINHA!


NÃO PERCA O CAPÍTULO 6 DE

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