domingo, 24 de abril de 2011

IRMÃOS CORAGEM - CAPÍTULO 4


Roteirizado por Toni Figueira
do original de Janete Clair

CAPÍTULO 4

PARTICIPAM DESTE CAPÍTULO:

DUDA                                                         PEDRO BARROS
JERÔNIMO                                                RITINHA
JOÃO                                                          DOMINGAS
SINHANA                                                  LOURENÇO
MARIA DE LARA                                      SEBASTIÃO
JUCA CIPÓ                                                POTIRA


CENA 1 - RANCHO DOS CORAGEM - INT. - NOITE.

Na casa do rancho Coragem a família reunida jantava em companhia de Duda. João não havia chegado do encontro que tivera com os negociantes estrangeiros. A graciosidade de Potira chamara a atenção do moço. Os olhos de Duda acompanhavam os movimentos da jovem.


DUDA  -  Essa índia ficou uma beleza!

Jerônimo, sem que ninguém notasse, voltou os olhos para Potira. O amor que nascera entre os dois, apesar das negativas do rapaz, era coisa que só motivo de sangue poderia impedir. A própria Sinhana sentira isso e tentava cortar as ilusões de ambos antes que as coisas piorassem... Ela, também, secretamente, acreditava que a bela índia fosse filha do marido. O amor de ambos nascera como o próprio mato da região e crescia a cada instante.

O velho Bastião ouvia Duda contar a história de sua vida na cidade grande.


DUDA  -  Lá também a gente tem de se defender como pode. Duas vezes fui parar no Juizado de Menores. Duas vezes fui preso. Passei fome, pai. Quando saí daqui não tinha profissão, nem nada. Mal sabia ler,  se lembra?

SEBASTIÃO  -  E dispois, como é que ocê chegou a ser jogador, mesmo?

DUDA  -  Ah, isso foi depois de uns dois ou três meses. Morrendo de fome, dormindo em praças, fugindo dos guardas, um dia fui jogar uma pelada num campo de subúrbio. Um cara lá me viu e perguntou se eu queria ir treinar no Flamengo. Eu fui e me botaram no juvenil. Daí a coisa foi fácil.
 
SINHANA  -  E esse tal de Flamengo... é time bão?

DUDA  -  O maior time do mundo, mãe!

Duda passou a mostrar fotos de sua presença nos estádios.

DUDA  -  Esta ao lado de Pelé... aqui com Garrincha... este é o Rubens.

Uma voz encheu de calor o recinto da sala.


JOÃO  -  E este aqui é Duda e João...

Todos os olhos se voltaram para João Coragem, que acabara de chegar, braços abertos, sorriso largo. Os dois irmãos se abraçaram, demoradamente.

JOÃO  -  Veja só, tá um home o safado! E famoso. Aquele gato pingado... tá famoso! Jogador de futebol, veja só.
  
SEBASTIÃO  -  (aproximando-se dos filhos)  Vamo todos tomá um gole. Hoje é dia de alegria na casa de Sebastião Coragem. Vamo beber em honra a esse tal de doutô Flamengo!

CENA 2  -  FAZENDA DE PEDRO BARROS - CASA-GRANDE - EXT. - NOITE.

Na fazenda de Pedro Barros Maria de Lara acabava de desmontar do cavalo. Cabelos alvoroçados, rosto corado.


JUCA CIPÓ  -  (dirigindo-se á moça)  Dona Maria de Lara. Tá todo mundo desde onte... feito doido procurando pela senhora. Até o delegado Falcão tá no seu encalço.
 
MARIA DE LARA  -  (evitando olhar a cara do assassino)  Mande entregar este cavalo ao dono. É um tal de João e é garimpeiro.
  
JUCA CIPÓ  -  (com raiva)  Será o João Coragem?

Lara já tinha entrado em casa. A pergunta do capanga de Pedro Barros se perdeu no silencio da madrugada.

CORTA PARA:

CENA  3  -  FAZENDA DE PEDRO BARROS  -  PORTEIRA -  EXT. DIA.


O sol já enchia de luz o verde dos campos quando um cavaleiro se aproximou do portão da fazenda. Era João Coragem. Das imediações do curral, onde orientava o trabalho de ordenha, Lourenço divisou o jovem e partiu, receoso, em sua direção.

LOURENÇO  -  Que quer aqui, João?

JOÃO  -  Queria dar duas palavrinhas com seu coronel Pedro Barros.

LOURENÇO  -  Veio comprar briga?

JOÃO  -  Não, vim em missão de paz.
  
LOURENÇO  -  (abrindo a porteira, desconfiado)  Tá bem, entra...

JOÃO  -  Aproveito, também, pra sabê se... se meu cavalo alazão tá por aqui. Se a moça que me roubou ele, mora aqui. Uma moça bonita, fina... que não tem cara de ladrona.

CENA 4 - FAZENDA DE PEDRO BARROS - CASA-GRANDE - SEQUENCIA - EXT.  - DIA.

Do alto da escada, Lara e Pedro Barros assistiam á chegada do irmão Coragem. Lara tentou descer em direção ao homem que lhe prestara  auxílio na estrada deserta. Pedro Barros segurou-a fortemente, por detrás.


PEDRO BARROS  -  Vá pro seu quarto, menina.
  
MARIA DE LARA  -  (desafiadora)  Quero falar com o moço, e não é o senhor quem vai me impedir.

PEDRO BARROS   -  (apertando mais o braço da filha)  Num quero você metida com essa gente.

MARIA DE LARA  -  Por quê? Tem medo que eu descubra o que o senhor faz com eles?

PEDRO BARROS  -  Depois a gente conversa. Anda. Vá pro seu quarto, se não quer me fazer perder a paciência.

MARIA DE LARA  -  Vai fazer comigo... o mesmo que fez com Braz Canoeiro?

PEDRO BARROS  -  Obedece e não amola!

CENA 5 - FAZENDA DE PEDRO BARROS - CASA-GRANDE - INT. - SEQUENCIA - DIA.

Barros empurrou a filha até a porta de seu quarto enquanto João e Lourenço penetravam na sala da casa grande. A figura estranha do coronel destacava-se na moldura da escadaria. Charuto na boca, Barros descia lentamente, tentando aparentar uma calma que, na verdade, não possuía.

Lourenço se aproximou do chefe e cochichou ao seu ouvido, deixando em seguida a sala. João, impassível, assistia á cena.


PEDRO BARROS  -  Que é que você quer, João?

JOÃO  -  Bom dia, meu coronel, como está passando?

PEDRO BARROS  -  Bem, muito bem, com a graça de Deus. Vá dizendo logo o que tem a me dizer.

O coronel sentou-se a um canto da sala. João permaneceu de pé.

JOÃO  -  Vim pra conversá feito gente... pra pôr o senhor em dia com os acontecimentos de Coroado. Tem acontecido tanta coisa ruim em seu nome, que eu acho que o senhor deve de ignorar pelo menos a metade.

PEDRO BARROS  -  Que é que você quer dizer com esse palavreado todo?

JOÃO  -  Que tou aqui pra ver se desperto dentro do senhor... êsse sentimento de caridade... pela pessoa humana. Porque o que tá acontecendo aqui, é coisa que revolta até mesmo um santo. É barbaridade. É desumanidade. E eu não acredito que meu coronel esteja de acordo.
 
PEDRO BARROS  -  (mostrando-se inocente)  Eu... eu não sei que acontecimentos são esses. Não sei do que você está falando.
 
JOÃO  -  (decidido)  Tou falando das maldades que fizeram com o pobre do Braz Canoeiro.

PEDRO BARROS  -  (gritando)  É um ladrão de diamantes!

JOÃO  -  Tou aqui pra lhe jurá... pra lhe dá minha palavra de honra, de como Braz Canoeiro tá inocente.

PEDRO BARROS  -  Não se meta naquilo que não é da sua conta. Me deixe trabalhar em paz.

João sentia a ira aumentar a cada palavra do coronel. Suas feições estavam transtornadas. Face dura. 

PEDRO BARROS  -  Não posso fazer nada pelo Braz Canoeiro. Não sei o que você quer que se faça por um ladrão.

JOÃO  -  Vim apelá... pra seu sentimento de justiça... o home ta muito ferido... com a surra que seus home dero nele. Ta necessitando de socorro médico. A gente aqui em Coroado num tem recurso, nenhum hospital. Mas na cidade mais próxima, tem. Vim lhe pedir pro senhor mandá levar o pobre home pra lá.
  
PEDRO BARROS  -  (impiedoso)   Ora, eu não tenho essa obrigação. Se está muito condoído da sorte dele, leve você. Eu não vou socorrer ladrão de diamante.

João deu alguns passos pela sala.

JOÃO  -  (secamente)  Não vou lhe tomar mais tempo, seu coronel. Só queria lhe dizê que... vou ser obrigado a pedir auxílio pras autoridades... pra poder internar o Braz num hospital. E, pedindo auxílio... vou ter de dar queixa do castigo que dero nele. Isso pode não ser bão pro senhor.
  
PEDRO BARROS --  (levantou-se, colérico)    -Pois dê a queixa! Faça o que quiser. Eu não tenho medo de nada. Quero que você e o Braz vão pro inferno! E fique sabendo que, nesta terra, quem faz a lei sou eu!

João deu as costas e saiu rápido da sala.

CENA 6 - COROADO - CASA DO DR. MACIEL - SALA - INT. - DIA.

Na cidade de Coroado só se falava no baile em homenagem ao Duda. A cidadezinha se vestia de alegria com a presença do filho famoso. Na casa de Maciel, o médico do lugar, eternamente embriagado, Ritinha e Domingas conversavam.


RITINHA  -  Não diga que estou engordando, que eu te esgano! Eu vou ao baile do Duda. Também se o bandido não me reconhecer, nunca mais olho pra cara dele. Risco ele da minha vida.
  
DOMINGAS  -  (aconselhando)  É melhó riscá desde já, Rita. Olha, tão dizendo umas coisa por aí.  Chegô uma mulher da cidade, no mesmo trem que ele. Se hospedô na pensão do Gentil Palhares, uma mulher meio da misteriosa... tão dizendo que é mulhé dele. E mais, que tem jeito de mulhé-dama...

RITINHA  -  (recriminando)  Domingas!  Duda não é casado. Se fosse, Sinhana, mãe dele, não ia saber?

DOMINGAS  -  Uai... pra ter mulher, não precisa sê casado...

FIM DO CAPÍTULO  4
João Coragem (Tarcísio Meira)

E NO PRÓXIMO CAPÍTULO...

# O PROMOTOR RODRIGO EXIGE QUE O DELEGADO FALCÃO TOME PROVIDÊNCIAS NO CASO DO ESPANCAMENTO DE BRAZ CANOEIRO


# DUDA E RITINHA PASSAM A NOITE JUNTOS, RELEMBRANDO OS TEMPOS DE INFÂNCIA.


# DR. MACIEL EXPULSA A FILHA RITINHA DE CASA


NÃO PERCA O CAPÍTULO 5 DE 

Nenhum comentário:

Postar um comentário