terça-feira, 10 de janeiro de 2012

IRMÃOS CORAGEM - Capítulo 114


Roteirizado por Toni Figueira
do original de Janete Clair 

CAPÍTULO 114
PARTICIPAM DESTE CAPÍTULO:
MANUEL
LÁZARO
JERÔNIMO
POTIRA
RODRIGO
SINHANA
DR. MACIEL
JOÃO
BRAZ
ALBERTO
PEDRO BARROS
DALVA

CENA 1  -  CHOUPANA  -  SALA  -  INT.  -  DIA.

Manuel, o homem que fizera um depoimento falso, incriminando João Coragem quando do julgamento do garimpeiro, fôra procurar Jerônimo para lhe propor um negócio. Reconhecido pelo rapaz, surgira uma discussão entre eles e logo a briga se tornaria mais séria. Agora, Manuel gemia, ferido na virilha por uma bala. Era uma ferida feia, numa região perigosa. O sangue jorrava aos borbotões.


MANUEL  -  Não aguento... não aguento! Dói muito!

LÁZARO  -  (berrou)  Vê aí uma bebida forte, prêle aguentá...

JERÔNIMO  -  Leva ele daqui. Não quero vê a cara desse homem (advertiu, sem olhar para o outro, que se esvaía em sangue)  Eu trato da minha vida. Leva ele daqui.

MANUEL  -  (clamava, gemendo)  Me... bota... em riba de um... cavalo... eu sei aonde devo ir.

LÁZARO  -  (ameaçador)  Veja lá o que vai fazê, Maneco!

Os dois homens deixaram a sala. Manuel apoiado nos ombros fortes do jagunço.


POTIRA  -  Por minha causa tu tá passando tudo isso, Jeromo!

JERÔNIMO  -  Por tua causa, nada. Só que num quero ser salteador de estrada. Acho que ainda não cheguei nesse ponto.

POTIRA  -  Deus é grande! (exclamou, olhando para o céu)  A gente ainda vai vivê bem...

Os cascos do cavalo, deixando a galope o terreiro do esconderijo, estalaram na terra dura. Jerônimo olhou por entre duas ripas de madeira da parede. Manuel, encolhido como um jóquei, na reta final, deixava o casebre com um destino que só ele conhecia.


JERÔNIMO  -  Criminoso eu num sou.  Nunca matei ninguém. Nem a Lídia eu queria ferir. Graças a Deus ela não morreu...

Potira alisou-lhe a fronte e os cabelos empapados de suor.


POTIRA  -  Vamos sonhá, amô... ninguém pode roubá da gente esse direito.

JERÔNIMO  -  Num lugar onde a gente num é perseguido...

POTIRA  -  Será que existe?

JERÔNIMO  -  Existe... existe!

LÁZARO  -  Eu só quis ajudá... pros dois podê sumi pra longe... Por isso trouxe o cara sem reconhecê ele... (completou, tirando o chapéu da cabeça).

CORTA PARA:

CENA 2  -  CHOUPANA  -  SALA  -  INT.  -  DIA.

Durante horas Rodrigo vasculhou a região, mas, graças à informação de um e de outro alcançou o casebre, à tardinha. O sol ainda estava aceso na cumeeira dos céus.

A surpresa da índia foi imensa.


POTIRA  -  Como me achou aqui?

RODRIGO  -  Não foi muito difícil... Vamos conversar.

O ex-promotor foi até a janela e fechou-a. Sentou-se num banco de madeira.


POTIRA  -  Que é que vai fazê?

RODRIGO  -  Só vim pra te buscar.

POTIRA  -  Me buscar? Como... me buscar?

RODRIGO  -  Estou te dando uma chance de você deixar aquele patife! (tinha os olhos marejados. Era todo bondade).

POTIRA  -  Se explica!

RODRIGO  -  Não digo que vou viver com você... que vou te perdoar... mas, se te levar daqui, vai ser pra cuidar de sua regeneração. Estou dusposto a tudo... até a pôr uma pedra em cima de tudo o que você passou e olhar pelo seu futuro. Pode ser que mais tarde... eu consiga esquecer... e, quem sabe?

POTIRA  -  Você fala como se fosse dono de minha vida!

RODRIGO  -  Estou te estendendo a mão, índia! Quero te salvar!

POTIRA  -  Mas eu não estou te pedindo! Não tou perdida pra necessitá de salvação!

RODRIGO  -  Está! Está, sim! (falou, com a voz alterada. Sentia a insensatez da esposa)  Você não tem futuro, não tem nada, junto com Jerônimo. Os dias dele estão contados. Está muito complicado com a justiça. E o que vai ser de você, sua idiota?

POTIRA  -  Não interessa.  Se a policia pegar ele, eu espero ele sair da cadeia...

RODRIGO  -  Vai esperar... 10... 15 anos!

POTIRA  -  Espero, espero até uma vida inteira!

RODRIGO  -  Eu te quero tanto... que até já perdi a minha dignidade!

CORTA PARA:

CENA 3  -  CHOUPANA  -  QUARTO  -  INT.  -  NOITE.

Potira estava deitada, com o pensamento perdido nos acontecimentos de sua vida quando Jerônimo regressou. A noite ia alta e a chama da vela iluminava as paredes do barracão. Lázaro acompanhava o amigo.


POTIRA  -  Que foi?

JERÔNIMO  -  Vamos se mandá daqui! Anda, rápido!

Num salto a mestiça estava de pé.

LÁZARO  -  Não perde tempo. Pega o que pudé!

JERÔNIMO  -  Tão atrás de nós!

POTIRA  -  (com as mãos apertando o peito)  Mas o que foi que vocês fizero?

JERÔNIMO  -  A polícia desta cidade foi avisada!

Os três deixaram o casebre envolvidos pelo silencio e pelo negrume da noite sertaneja.
   
CORTA PARA:

CENA 4  -  COROADO  -  CASA DE REUNIÃO  -  INT.  -  NOITE.

Sinhana, sempre Sinhana. A mãe valente. Decidida. A mãe Coragem, na acepção do termo. Naquela noite, com o filho a conversar com os seus homens de confiança, a velha, com o diamante guardado nas vestes interiores, sofreu o atentado. Gritou, como reação final, ainda tonta, quando as mãos do bandido procuravam, nervosamente, a pedra.


SINHANA  -  João! João!

O assaltante desapareceu por entre o matagal escuro.

O garimpeiro correu, acompanhado de Braz, Alberto e o médico Maciel.


JOÃO  -  Mãe!

SINHANA  -  Tou tonta... tonta!

DR. MACIEL  -  Que foi, Sinhana?

SINHANA  -  Me atacaro. Me sentaro um troço na cabeça!

DR. MACIEL  -  Virge! Um galo enorme!

SINHANA  -  Ah, mas eu sou dura, viu?

JOÃO  -  Tentaro tirá o diamante?

SINHANA  -  Tá aqui, filho! O disgramado num teve tempo!

A velha segurou a enorme pedra, protegida por um saco de couro marrom.

Braz e Alberto partiram na direção do matagal, para uma busca nas imediações. 


SINHANA  -  Num deu pra vê a cara... mas era um baita dum home.

CENA  5  -  COROADO  -  CASA DE REUNIÃO  -  INT.  -  NOITE.

Na sala da casa de reunião, João pediu ao médico:


JOÃO  -  Vê logo esse ferimento na cabeça dela, doutor!

Maciel começava a fazer o curativo.


DR. MACIEL  -  É coisa de nada... Acho que ela não deve ficar com essa responsabilidade... O melhor é você fazer logo negócio com essa pedra. Você se livra de uma preocupação muito grande. (Sinhana gemia, quando o médico apertava um pouco mais a região atingida)  É muito perigoso, João!

JOÃO  -  O senhor tem razão. Mas, antes disso, vou pegá o safado que tá aqui, junto da minha gente, trabalhando pros meus inimigo...

BRAZ  -  Não achamo ninguém.

ALBERTO  -  Nem vivalma!!

Sinhana zangou-se com a incredulidade que as palavras do negro provocaram nos presentes.


SINHANA  -  Oh, gente, então sou doida? Vejam o galo na minha cabeça! Isso daí é imaginação? (deu um tapa forte nas mãos do médico)  Pára com isso!

DR. MACIEL  -  Tenho que dar um ponto, Sinhana!

CORTA PARA:

CENA 6  -  FAZENDA DE PEDRO BARROS  -  CASA-GRANDE-  SALA  -  INT.  -  DIA.

A admiração do Dr. Rafael não tinha limites. Parecia-lhe inadmissível que o ex-delegado estivesse dominando a vontade do velho “dono” de Coroado, influindo, inclusive, na vida de sua filha. O médico buscara o apoio de Pedro Barros, seu consentimento para internar e operar Lara, mas Falcão dera o contra. E justificara: “Nada de operação, eu prefiro Diana viva!” O coronel aceitara a decisão, pois para ele, tudo o que fosse contra João Coragem lhe servia, plenamente.

O telefone tilintou e o coronel atendeu.


PEDRO BARROS  -  Alô!

JOÃO  -  (reconheceu de imediato a voz arrogante)  Afinal, seu coronel, o que é que o senhô tá querendo que eu faça? Já não fiz tudo o que o senhô queria? Por que não diz onde tá minha mulhé? Como esperá? Esperá o quê? Olha, eu cansei. Sabe o que vou fazer, agora? (esperou alguns segundos pela resposta do velho)  Vou saí daqui, da pensão do Gentil, onde tou, e vou na delegacia, dá parte dessa tramóia.

PEDRO BARROS  -  (vociferou, do outro lado da linha)  Eu te aconselho a não meter a polícia nisso! Bem sabe que não sou só eu que tou metido na história. Falcão, também. Principalmente ele! E ele faz ameaça. A vida da minha filha corre perigo e se a gente avisar a polícia...

Barros desligou e virou-se para Dalva, que ouvia atentamente o diálogo.


DALVA  -  Que foi que você resolveu com João?

PEDRO BARROS  -  Custou... mas ele me deu o dia de hoje. Quer ir à polícia, mas eu o convenci. Se até amanhã não tiver notícia, eu dou o direito dele fazer o que quiser... Resta esperar que Falcão apareça aqui, hoje. Aí, eu vou chegar às vias de fato com ele. Ou ele me diz onde tá minha filha... ou morre, o desgraçado!

DALVA  -  Um homem que tem feito o que ele faz, só matando! (aprovou, com um gesto de ira)  Só matando!


FIM DO CAPÍTULO  114
Rodrigo (José Augusto Branco)
e no próximo capítulo... 
*** Lara é operada no Rio de Janeiro. João está aflito, aguardando o resultado, temendo que a personalidade de Diana reviva para sempre no corpo de sua mulher.

*** Lara acorda e todos aguardam, apreensivos,  para ver se quem está ali é Lara, Diana ou Márcia!  

 NÃO PERCA O CAPÍTULO 115 DE
 EMOÇÕES FINAIS! ÚLTIMOS CAPÍTULOS!

E VEM AÍ...
ESCRITA A PARTIR DA IDÉIA ORIGINAL DA NOVELA DE DIAS GOMES
POR TONI FIGUEIRA

ESTRÉIA DIA 01 DE FEVEREIRO! 

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