Roteirizado por Toni Figueira
do original de Janete Clair
CAPÍTULO 111
PARTICIPAM DESTE CAPÍTULO:
DELEGADO FALCÃO
JOÃO
DALVA
ALBERTO
BRANCA
RODRIGO
JERÔNIMO
JACINTO EULÁLIO
GENTIL PALHARES
HERNANI
PEDRO BARROS
LAPORT
SINHANA
PADRE BENTO
JOÃO
DALVA
ALBERTO
BRANCA
RODRIGO
JERÔNIMO
JACINTO EULÁLIO
GENTIL PALHARES
HERNANI
PEDRO BARROS
LAPORT
SINHANA
PADRE BENTO
CENA 1 - COROADO - DELEGACIA - INT. - DIA.
Falcão entrou esbaforido na sala de espera da delegacia, como se tivesse acabado de assistir ao pouso de um disco voador. Os soldados voltaram-se, apreensivos, ante a explosão de comntentamento do delegado:
DELEGADO FALCÃO - Gente! João foi condenado!
Minutos depois o condenado, com as mãos algemadas, escoltado por quatro guardas armados, dava entrada na delegacia. Parou, por alguns segundos, e encarou o inimigo.
JOÃO - Satisfeito, hem?
DELEGADO FALCÃO - Eu... eu sinto muito... mas você vai ser meu hóspede... durante 20 anos. É claro que eu não duro no pôsto até lá... Mas, em compensação, prometo que vou fazer as melhorias necessárias no xadrez... pra não dizerem que sou um delegado vingativo. (sem fitar diretamente o rosto do rapaz, Falcão desejou-lhe felicidades) E... que Deus te ajude, João.
Os soldados conduziram-no para o interior da cela.
CORTA PARA:
CENA 2 - COROADO - DELEGACIA - INT. - DIA.
E horas mais tarde tiveram de abrir caminho para dar passagem à cunhada de Pedro Barros. Dalva aproximou-se da cela, fria, sem um sorriso sequer para os homens de Falcão. O delegado mexeu-se.
DELEGADO FALCÃO - Hoje eu faço uma excessão. A senhora pode falar com ele daqui mesmo.
João levantou-se da cama dura e mal forrada.
JOÃO - Dona Dalva! O que foi?
DALVA - (falou quase sem fitar os olhos do garimpeiro) Vim trazer a notícia do nascimento do seu filho.
Os olhos do rapaz encheram-se repentinamente de lágrimas e a emoção quase não o deixou falar. Estava engasgado.
JOÃO - Virge mãe! Meu filho... nasceu?
DALVA - Hoje, às 5 horas.
JOÃO - Deus do céu, que coisa mais boa, gente! É um menino?
DALVA - É. Um belo menino. Parabéns.
JOÃO - (agarrando as grades, emocionado, dirigiu-se aos guardas) Brigado! Ei, gente! Eu já sou pai! Tá me ouvindo, ô Falcão do inferno! Pode se mordê de inveja! Eu sou pai! (abriu os braços num gesto largo) Cês vão lá na venda e toma todo mundo um trago, por minha conta! Esqueço que ocês é tudo soldado e faço de ocês amigo! Eu quero, pelo menos por um momento, fazê as paz com todo mundo! Porque meu filho nasceu!
CORTA PARA:
CENA 3 - COROADO - DELEGACIA - SALA DE VISITAS - INT. - DIA.
Vestida de negro e com um lenço branco a enxugar o rosto, de instante em instante, Branca D’Ávila aguardava que os guardas trouxessem Alberto até a sala de visitas da delegacia. Viera a pedido do próprio filho.
ALBERTO - (após alguns minutos de conversa, indagou) A senhora não se decide?
BRANCA - Minha resposta você já sabe. Não movo uma palha para salvar João.
ALBERTO - (espalmou a mão num gesto significativo) Tá bem... pode deixá, mãe. A senhora vai me obrigar a dizer tudo. Confessa que matou meu pai?
Branca estremeceu ao lembrar-se do cadáver do marido, arroxeado, entumescido, em deterioração.
BRANCA - Não, eu não o matei, mas estou muito implicada neste caso. Terei que responder a processo como cúmplice.
ALBERTO - Eu quero saber o que foi que aconteceu na verdade com meu pai. Como foi que ele apareceu morto, enterrado, aqui, em Coroado.
BRANCA - (apertou as mãos, com nervosismo) Eu lhe dou um conselho. É melhor você não mexer nisso. Deixe as coisas como estão. Se disser uma palavra sobre isso, eu nunca mais quero olhar para você, como mãe.
Alberto revoltou-se. Era demais. Como se estivesse discutindo com uma pessoa estranha.
ALBERTO - A senhora nunca foi mãe! (virou-se para o guarda que permanecia vigilante, do lado externo da sala) Quero voltar pra cela.
Enquanto se afastava, ouvia as recomendações da mãe, inteiramente fora de si.
BRANCA - Escute, Alberto! Não vá fazer nenhuma loucura! Ninguém acreditará em você! Ninguém, ouviu?
CORTA PARA:
CENA 4 - COROADO - DELEGACIA - CELA DE JOÃO E ALBERTO - INT. - DIA.
Nem mesmo as ameaças da mãe impediram Alberto de tomar a decisão. Ele desejava revelar a verdade. Doía-lhe ver a situação do amigo, preso, condenado a 20 anos, por um crime que não cometera. Por um crime que apenas a mãe poderia esclarecer e se negava a fazê-lo. Agora se achava frente a frente com o promotor. João Coragem ao seu lado.
ALBERTO - Doutor Rodrigo, João... eu tenho uma confissão a fazer.
JOÃO - (interveio, segurando o braço do amigo) Desde onte ele tá com isso na cabeça.
ALBERTO - Tudo isso... não tem razão de ser. A condenação do João e tudo o mais... (um breve silencio cortou a conversa) Porque... meu pai... morreu duas vezes.
Era como se uma bomba tivesse caído no meio da sala. Rodrigo levantou-se. João empalideceu.
JOÃO - Tá variando, Alberto?
RODRIGO - (apertando os ombros do adolescente) O que você quer dizer com isso?
ALBERTO - O corpo que vimos há pouco... era do meu pai.. mas não era o mesmo que foi enterrado há mais de um ano atrás. Meu pai morreu... duas vezes, repito... e em nenhuma delas, foi João quem matou.
RODRIGO - (ainda incrédulo) Por que você está afirmando tudo isso?
ALBERTO - Porque eu vi meu pai vivo, estão me entendendo? Eu vi ele vivo, como seu irmão, Duda, viu!
JOÃO - (contrariado) Se tu viu... por que não me contou?
ALBERTO - Ponha-se no meu lugar. (emocionado) Você teria contado? Teria coragem de delatar seu próprio pai? Mesmo sabendo que ele era um bandido, um ladrão? E sua mãe... metida na história... você faria isso?
RODRIGO - (interveio, solene) Espera lá! Isso que está me dizendo é muito grave... e não faz sentido. Se você viu seu pai... como é que ele apareceu enterrado... há pouco tempo, quando exumamos o corpo?
ALBERTO - (explicou, com franqueza) Houve dois crimes... Da segunda vez era meu pai! Da primeira, não sei quem era! Minha mãe pode confirmar a história... ela e o sujeito que está casado com ela. Mas vai se negar, eu sei. Dr. Rodrigo... se quer fazer alguma coisa pelo João, chame aqui o delegado, eu repito tudo o que disse.
CORTA PARA:
CENA 5 - COROADO - PREFEITURA - INT. - DIA.
Nenhum dos homens deu atenção ao prefeito. Jerônimo ficara parado à porta da sala de reuniões, à espera de que lhe dissessem alguma coisa a respeito... Fôra ou não confirmado no cargo?
JERÔNIMO - Seu Anacleto...
O cidadão gordo, de olhos claros e cabelos crespos mal se deu ao trabalho de olhar furtivamente para o rapaz. O outro, Jacinto Eulálio, de barba negra e vestes amarrotadas, cedeu à pressão das mãos do ex-garimpeiro. Olhou-o com olhos de desafio.
JACINTO EULÁLIO - Sinto muito, meu caro...
Era tudo. Jerônimo baixou a cabeça, em atitude resignada. Lera bem claro nos gestos dos homens a decisão sobre o seu futuro.
CORTA PARA:
CENA 6 - COROADO - PENSÃO DO GENTIL PALHARES - INT. - DIA.
A notícia correra célere pela cidade e na pensão do Gentil, o dono transmitia a novidade em altos brados:
GENTIL PALHARES - Consumou-se o ato! Está tudo acabado! (todos os presentes voltaram-se para o dono da casa) Jerônimo foi afastado! Agora mesmo! Decidiram!
HERNANI - (fingindo tristeza) Pobre rapaz! Até que não merecia isso... Bem , eu também vou dar o fora daqui, mas volto... Ah, ia me esquecendo! (dirigiu-se ao taberneiro) Não deixaram uma encomenda pra mim, a mando do coronel?
GENTIL PALHARES - Ah, sim! (confirmou Gentil, abaixando-se para retirar da gaveta um pequeno envelope) Um dos capangas dele, veio entregar...
Hernani abriu o envelope e viu o cheque azulado, com a assinatura de Pedro Barros. Abriu e leu o conteúdo do bilhete. Era como se Pedro Barros estivesse falando:
PEDRO BARROS - (off) “Taí, seu sujeito à toa, o cheque com a quantia que me exigiu. Fica sabendo que é a primeira e última vez que faço isso. É pra você desaparecer da cidade. Dá o sumiço, antes que eu resolva te mandá pro inferno. É o que vai acontecê se voltá aqui, de novo”.
Hernani gargalhou, rasgou em pedacinhos o bilhete e beijou alucinadamente o pequeno papel retangular azul. Gentil e os hóspedes olharam assustados a estranha atitude do homem da cidade.
CORTA PARA:
CENA 7 - ARREDORES DE COROADO - CHOUPANA - INT. - NOITE.
A luz difusa do lampião jogava sombras trêmulas sobre a parede de barro da choupana. Na porta, Braz Canoeiro vigiava a escuridão da mata, silenciosa, sinistra. Sentada diante da mesa, rodeada pelo filho e pelos amigos de João Coragem, Branca procurava fugir às perguntas de Rodrigo.
BRANCA - Eu não sei o que vocês querem que eu diga! Não entendo a história que acabam de me contar, juro!
ALBERTO - (interveio, insistente) Mãe... mãe... diga a verdade... por mim.
BRANCA - Meu filho está louco! (gritou, buscando proteção nos olhos de Laport) Ninguém deve dar atenção às coisas que ele diz!
RODRIGO - Se a senhora acobertou a farsa do Lourenço D’Ávila... se for verdade o que Alberto afirma... a senhora é cúmplice...
BRANCA - Eu não tive culpa! (explodiu, deixando-se vencer pelo medo) Ele me obrigou a fazer tudo aquilo! Eu não queria, mas ele me forçou!
Como se obedecendo a um comando único, os homens se entreolharam, significativamente.
LAPORT - (correu em defesa da mulher) Branca... Branca, veja bem o que está fazendo!
A mulher deixou pender a cabeça, cansada.
RODRIGO - (a voz firme e impiedosa) A senhora confessa, então... que as afirmações de seu filho são verdadeiras...
BRANCA - Até certo ponto...
ALBERTO - Mãe... fala tudo... conta o que sabe e a senhora tá me ajudando, também.
BRANCA - (ergueu a cabeça, por onde escorriam grossas gôtas de suor) Não sei se estou te ajudando. Só sei que não aguento mais carregar o peso desta maldita farsa. Eu estou arrasada. Aconteça o que acontecer... eu quero me livrar disso. (estendeu as mãos para Laport, penalizado com a situação da mulher) Não me leve a mal... nós nada devemos... e agimos como se tivéssemos assassinado meu marido.
LAPORT - Faça o que quiser. Eu confio em você.
BRANCA - (voltando-se e encarando com ar de desafio o promotor) Estou pronta a responder ao que o senhor quiser!
Sinhana e o Padre Bento acabavam de chegar. A voz de Branca quebrava o silencio do ambiente e da própria natureza.
BRANCA - ... é verdade... Lourenço armou toda aquela trama. Ele mesmo matou o amigo... era um tal de Virgílio... que tomou parte no roubo do diamante. (à medida que a mulher revelava os acontecimentos, João Coragem rememorava sua atitude firme, antes e depois, no júri, acusando-o de assassino, de responsável pela morte do marido. Era fria e cruel, pensava. Branca continuava, mais relaxada) Ele sozinho preparou tudo... o cadáver no rio... trocou as roupas do homem... desfigurou o rosto... tinham a mesma compleição física, não foi difícil o engano... Ele mandou que eu confirmasse tudo... a acusação contra João... tudo. Eu fiz as coisas que ele mandou.
ALBERTO - Por que a senhora fez isso, mamãe?
BRANCA - Ele tinha me abandonado por outra mulher. Eu era doida por ele. Quando voltou... fez muitas promessas e eu acreditei em tudo o que ele dizia. Fiquei cega... surda... e louca. Só sei que obedecia às ordens dele. Ele passou a ser Ernesto Bianchinni... a situação começou a se complicar... eu queria por um paradeiro naquilo... não conseguia. Foi quando tentei acabar com ele... aconteceu o desastre. Depois a ajuda daquela enfermeira... e do Gastão... tiraram ele do hospital... a enfermeira continuou cuidando dele. Uma tarde, quando cheguei no quarto, já numa casa que tínhamos alugado, num subúrbio de Belo Horizonte, ele não estava lá. Só encontrei o rôlo de gaze. Laport é quem sabe o resto...
Os rostos voltarem-se para o estrangeiro, que enrubesceu mais do que de costume.
LAPORT - Encontrei Lourenço em São Paulo... estava acompanhado de uma mulher bonita. Parecia apaixonado. Quando eu e Gastão lhe perguntamos sobre o diamante, ele disse que havia deixado com uma enfermeira, Iolanda, em Belo Horizonte.
BRANCA - A enfermeira foi procurada por eles e negou que tivesse ficado com a pedra.
RODRIGO - E esse Gastão, por onde anda?
LAPORT - Viajou. Depois, tornei a ver Bianchinni... ou Lourenço, com a mesma mulher... certa noite.
RODRIGO - E essa mulher, quem é?
Branca fez uma pausa, como se se concentrasse para revelar um segredo mortal. Fazia suspense.
BRANCA - Era a mãe... de Lara... A amante de Lourenço... Dona Estela!
Falcão entrou esbaforido na sala de espera da delegacia, como se tivesse acabado de assistir ao pouso de um disco voador. Os soldados voltaram-se, apreensivos, ante a explosão de comntentamento do delegado:
DELEGADO FALCÃO - Gente! João foi condenado!
Minutos depois o condenado, com as mãos algemadas, escoltado por quatro guardas armados, dava entrada na delegacia. Parou, por alguns segundos, e encarou o inimigo.
JOÃO - Satisfeito, hem?
DELEGADO FALCÃO - Eu... eu sinto muito... mas você vai ser meu hóspede... durante 20 anos. É claro que eu não duro no pôsto até lá... Mas, em compensação, prometo que vou fazer as melhorias necessárias no xadrez... pra não dizerem que sou um delegado vingativo. (sem fitar diretamente o rosto do rapaz, Falcão desejou-lhe felicidades) E... que Deus te ajude, João.
Os soldados conduziram-no para o interior da cela.
CORTA PARA:
CENA 2 - COROADO - DELEGACIA - INT. - DIA.
E horas mais tarde tiveram de abrir caminho para dar passagem à cunhada de Pedro Barros. Dalva aproximou-se da cela, fria, sem um sorriso sequer para os homens de Falcão. O delegado mexeu-se.
DELEGADO FALCÃO - Hoje eu faço uma excessão. A senhora pode falar com ele daqui mesmo.
João levantou-se da cama dura e mal forrada.
JOÃO - Dona Dalva! O que foi?
DALVA - (falou quase sem fitar os olhos do garimpeiro) Vim trazer a notícia do nascimento do seu filho.
Os olhos do rapaz encheram-se repentinamente de lágrimas e a emoção quase não o deixou falar. Estava engasgado.
JOÃO - Virge mãe! Meu filho... nasceu?
DALVA - Hoje, às 5 horas.
JOÃO - Deus do céu, que coisa mais boa, gente! É um menino?
DALVA - É. Um belo menino. Parabéns.
JOÃO - (agarrando as grades, emocionado, dirigiu-se aos guardas) Brigado! Ei, gente! Eu já sou pai! Tá me ouvindo, ô Falcão do inferno! Pode se mordê de inveja! Eu sou pai! (abriu os braços num gesto largo) Cês vão lá na venda e toma todo mundo um trago, por minha conta! Esqueço que ocês é tudo soldado e faço de ocês amigo! Eu quero, pelo menos por um momento, fazê as paz com todo mundo! Porque meu filho nasceu!
CORTA PARA:
CENA 3 - COROADO - DELEGACIA - SALA DE VISITAS - INT. - DIA.
Vestida de negro e com um lenço branco a enxugar o rosto, de instante em instante, Branca D’Ávila aguardava que os guardas trouxessem Alberto até a sala de visitas da delegacia. Viera a pedido do próprio filho.
ALBERTO - (após alguns minutos de conversa, indagou) A senhora não se decide?
BRANCA - Minha resposta você já sabe. Não movo uma palha para salvar João.
ALBERTO - (espalmou a mão num gesto significativo) Tá bem... pode deixá, mãe. A senhora vai me obrigar a dizer tudo. Confessa que matou meu pai?
Branca estremeceu ao lembrar-se do cadáver do marido, arroxeado, entumescido, em deterioração.
BRANCA - Não, eu não o matei, mas estou muito implicada neste caso. Terei que responder a processo como cúmplice.
ALBERTO - Eu quero saber o que foi que aconteceu na verdade com meu pai. Como foi que ele apareceu morto, enterrado, aqui, em Coroado.
BRANCA - (apertou as mãos, com nervosismo) Eu lhe dou um conselho. É melhor você não mexer nisso. Deixe as coisas como estão. Se disser uma palavra sobre isso, eu nunca mais quero olhar para você, como mãe.
Alberto revoltou-se. Era demais. Como se estivesse discutindo com uma pessoa estranha.
ALBERTO - A senhora nunca foi mãe! (virou-se para o guarda que permanecia vigilante, do lado externo da sala) Quero voltar pra cela.
Enquanto se afastava, ouvia as recomendações da mãe, inteiramente fora de si.
BRANCA - Escute, Alberto! Não vá fazer nenhuma loucura! Ninguém acreditará em você! Ninguém, ouviu?
CORTA PARA:
CENA 4 - COROADO - DELEGACIA - CELA DE JOÃO E ALBERTO - INT. - DIA.
Nem mesmo as ameaças da mãe impediram Alberto de tomar a decisão. Ele desejava revelar a verdade. Doía-lhe ver a situação do amigo, preso, condenado a 20 anos, por um crime que não cometera. Por um crime que apenas a mãe poderia esclarecer e se negava a fazê-lo. Agora se achava frente a frente com o promotor. João Coragem ao seu lado.
ALBERTO - Doutor Rodrigo, João... eu tenho uma confissão a fazer.
JOÃO - (interveio, segurando o braço do amigo) Desde onte ele tá com isso na cabeça.
ALBERTO - Tudo isso... não tem razão de ser. A condenação do João e tudo o mais... (um breve silencio cortou a conversa) Porque... meu pai... morreu duas vezes.
Era como se uma bomba tivesse caído no meio da sala. Rodrigo levantou-se. João empalideceu.
JOÃO - Tá variando, Alberto?
RODRIGO - (apertando os ombros do adolescente) O que você quer dizer com isso?
ALBERTO - O corpo que vimos há pouco... era do meu pai.. mas não era o mesmo que foi enterrado há mais de um ano atrás. Meu pai morreu... duas vezes, repito... e em nenhuma delas, foi João quem matou.
RODRIGO - (ainda incrédulo) Por que você está afirmando tudo isso?
ALBERTO - Porque eu vi meu pai vivo, estão me entendendo? Eu vi ele vivo, como seu irmão, Duda, viu!
JOÃO - (contrariado) Se tu viu... por que não me contou?
ALBERTO - Ponha-se no meu lugar. (emocionado) Você teria contado? Teria coragem de delatar seu próprio pai? Mesmo sabendo que ele era um bandido, um ladrão? E sua mãe... metida na história... você faria isso?
RODRIGO - (interveio, solene) Espera lá! Isso que está me dizendo é muito grave... e não faz sentido. Se você viu seu pai... como é que ele apareceu enterrado... há pouco tempo, quando exumamos o corpo?
ALBERTO - (explicou, com franqueza) Houve dois crimes... Da segunda vez era meu pai! Da primeira, não sei quem era! Minha mãe pode confirmar a história... ela e o sujeito que está casado com ela. Mas vai se negar, eu sei. Dr. Rodrigo... se quer fazer alguma coisa pelo João, chame aqui o delegado, eu repito tudo o que disse.
CORTA PARA:
CENA 5 - COROADO - PREFEITURA - INT. - DIA.
Nenhum dos homens deu atenção ao prefeito. Jerônimo ficara parado à porta da sala de reuniões, à espera de que lhe dissessem alguma coisa a respeito... Fôra ou não confirmado no cargo?
JERÔNIMO - Seu Anacleto...
O cidadão gordo, de olhos claros e cabelos crespos mal se deu ao trabalho de olhar furtivamente para o rapaz. O outro, Jacinto Eulálio, de barba negra e vestes amarrotadas, cedeu à pressão das mãos do ex-garimpeiro. Olhou-o com olhos de desafio.
JACINTO EULÁLIO - Sinto muito, meu caro...
Era tudo. Jerônimo baixou a cabeça, em atitude resignada. Lera bem claro nos gestos dos homens a decisão sobre o seu futuro.
CORTA PARA:
CENA 6 - COROADO - PENSÃO DO GENTIL PALHARES - INT. - DIA.
A notícia correra célere pela cidade e na pensão do Gentil, o dono transmitia a novidade em altos brados:
GENTIL PALHARES - Consumou-se o ato! Está tudo acabado! (todos os presentes voltaram-se para o dono da casa) Jerônimo foi afastado! Agora mesmo! Decidiram!
HERNANI - (fingindo tristeza) Pobre rapaz! Até que não merecia isso... Bem , eu também vou dar o fora daqui, mas volto... Ah, ia me esquecendo! (dirigiu-se ao taberneiro) Não deixaram uma encomenda pra mim, a mando do coronel?
GENTIL PALHARES - Ah, sim! (confirmou Gentil, abaixando-se para retirar da gaveta um pequeno envelope) Um dos capangas dele, veio entregar...
Hernani abriu o envelope e viu o cheque azulado, com a assinatura de Pedro Barros. Abriu e leu o conteúdo do bilhete. Era como se Pedro Barros estivesse falando:
PEDRO BARROS - (off) “Taí, seu sujeito à toa, o cheque com a quantia que me exigiu. Fica sabendo que é a primeira e última vez que faço isso. É pra você desaparecer da cidade. Dá o sumiço, antes que eu resolva te mandá pro inferno. É o que vai acontecê se voltá aqui, de novo”.
Hernani gargalhou, rasgou em pedacinhos o bilhete e beijou alucinadamente o pequeno papel retangular azul. Gentil e os hóspedes olharam assustados a estranha atitude do homem da cidade.
CORTA PARA:
CENA 7 - ARREDORES DE COROADO - CHOUPANA - INT. - NOITE.
A luz difusa do lampião jogava sombras trêmulas sobre a parede de barro da choupana. Na porta, Braz Canoeiro vigiava a escuridão da mata, silenciosa, sinistra. Sentada diante da mesa, rodeada pelo filho e pelos amigos de João Coragem, Branca procurava fugir às perguntas de Rodrigo.
BRANCA - Eu não sei o que vocês querem que eu diga! Não entendo a história que acabam de me contar, juro!
ALBERTO - (interveio, insistente) Mãe... mãe... diga a verdade... por mim.
BRANCA - Meu filho está louco! (gritou, buscando proteção nos olhos de Laport) Ninguém deve dar atenção às coisas que ele diz!
RODRIGO - Se a senhora acobertou a farsa do Lourenço D’Ávila... se for verdade o que Alberto afirma... a senhora é cúmplice...
BRANCA - Eu não tive culpa! (explodiu, deixando-se vencer pelo medo) Ele me obrigou a fazer tudo aquilo! Eu não queria, mas ele me forçou!
Como se obedecendo a um comando único, os homens se entreolharam, significativamente.
LAPORT - (correu em defesa da mulher) Branca... Branca, veja bem o que está fazendo!
A mulher deixou pender a cabeça, cansada.
RODRIGO - (a voz firme e impiedosa) A senhora confessa, então... que as afirmações de seu filho são verdadeiras...
BRANCA - Até certo ponto...
ALBERTO - Mãe... fala tudo... conta o que sabe e a senhora tá me ajudando, também.
BRANCA - (ergueu a cabeça, por onde escorriam grossas gôtas de suor) Não sei se estou te ajudando. Só sei que não aguento mais carregar o peso desta maldita farsa. Eu estou arrasada. Aconteça o que acontecer... eu quero me livrar disso. (estendeu as mãos para Laport, penalizado com a situação da mulher) Não me leve a mal... nós nada devemos... e agimos como se tivéssemos assassinado meu marido.
LAPORT - Faça o que quiser. Eu confio em você.
BRANCA - (voltando-se e encarando com ar de desafio o promotor) Estou pronta a responder ao que o senhor quiser!
Sinhana e o Padre Bento acabavam de chegar. A voz de Branca quebrava o silencio do ambiente e da própria natureza.
BRANCA - ... é verdade... Lourenço armou toda aquela trama. Ele mesmo matou o amigo... era um tal de Virgílio... que tomou parte no roubo do diamante. (à medida que a mulher revelava os acontecimentos, João Coragem rememorava sua atitude firme, antes e depois, no júri, acusando-o de assassino, de responsável pela morte do marido. Era fria e cruel, pensava. Branca continuava, mais relaxada) Ele sozinho preparou tudo... o cadáver no rio... trocou as roupas do homem... desfigurou o rosto... tinham a mesma compleição física, não foi difícil o engano... Ele mandou que eu confirmasse tudo... a acusação contra João... tudo. Eu fiz as coisas que ele mandou.
ALBERTO - Por que a senhora fez isso, mamãe?
BRANCA - Ele tinha me abandonado por outra mulher. Eu era doida por ele. Quando voltou... fez muitas promessas e eu acreditei em tudo o que ele dizia. Fiquei cega... surda... e louca. Só sei que obedecia às ordens dele. Ele passou a ser Ernesto Bianchinni... a situação começou a se complicar... eu queria por um paradeiro naquilo... não conseguia. Foi quando tentei acabar com ele... aconteceu o desastre. Depois a ajuda daquela enfermeira... e do Gastão... tiraram ele do hospital... a enfermeira continuou cuidando dele. Uma tarde, quando cheguei no quarto, já numa casa que tínhamos alugado, num subúrbio de Belo Horizonte, ele não estava lá. Só encontrei o rôlo de gaze. Laport é quem sabe o resto...
Os rostos voltarem-se para o estrangeiro, que enrubesceu mais do que de costume.
LAPORT - Encontrei Lourenço em São Paulo... estava acompanhado de uma mulher bonita. Parecia apaixonado. Quando eu e Gastão lhe perguntamos sobre o diamante, ele disse que havia deixado com uma enfermeira, Iolanda, em Belo Horizonte.
BRANCA - A enfermeira foi procurada por eles e negou que tivesse ficado com a pedra.
RODRIGO - E esse Gastão, por onde anda?
LAPORT - Viajou. Depois, tornei a ver Bianchinni... ou Lourenço, com a mesma mulher... certa noite.
RODRIGO - E essa mulher, quem é?
Branca fez uma pausa, como se se concentrasse para revelar um segredo mortal. Fazia suspense.
BRANCA - Era a mãe... de Lara... A amante de Lourenço... Dona Estela!
FIM DO CAPÍTULO 111
e no próximo capítulo...
e no próximo capítulo...
*** Rodrigo leva Branca á presença do Delegado Falcão, para contar-lhe toda a verdade sobre a morte de Lourenço.
*** Lídia, cega de ciúmes, aponta uma arma para Jerônimo. Os dois lutam e ouve-se um tiro: Lídia é atingida, deixando o ex-prefeito desesperado!
NÃO PERCA O CAPÍTULO 112 DE
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