Roteirizado por Toni Figueira
do original de Janete Clair
CAPÍTULO 115
PARTICIPAM DESTE CAPÍTULO:
DALVA
JOÃO
ENFERMEIRA
DR. BERNARDO
MARIA DE LARA
JOÃO
ENFERMEIRA
DR. BERNARDO
MARIA DE LARA
CENA 1 - RIO DE JANEIRO - CASA DE SAÚDE - QUARTO DE LARA - INT. - DIA.
Finalmente, tudo ficara acertado. Maria de Lara tentaria viver, sobrepujar Diana ou se submeter à personalidade bondosa, é certo, mas diferente de Márcia. Rafael conseguiu, a custo, convencer os homens e, no quarto branco da casa de saúde, a moça começava a seguir para a vida ou para a morte...
Logo, pela manhã, os médicos se reuniram junto ao leito da paciente. Com a cabeça inteiramente raspada, Lara dormia, dopada pelas injeções e comprimidos ministrados no pré-operatório. Estava insconsciente, quando as enfermeiras a colocaram na maca e partiram molemente em direção à sala de operações.
João entrou impaciente. Viu Dalva, que enxugava os olhos. A face vermelha. Os lábios ressequidos.
DALVA - Entre.
JOÃO - Como é que ela tá?
DALVA - Dopada. Deram-lhe várias injeções.
JOÃO - Já vai se operá?
DALVA - Uma operação no cérebro, é coisa muito séria. O neurocirurgião vai, primeiramente, fazer uma intervenção exploratória. Se tudo der certo...
JOÃO - Olha... manda cuidá bem dela. É uma vida muito preciosa que tá aí. É a mãe do meu filho... é a mulhé da minha vida...
CORTA PARA:
CENA 2 - RIO DE JANEIRO - CASA DE SAÚDE - QUARTO DE LARA - INT. - DIA.
JOÃO - Terminô, com a graça de Deus!
João Coragem olhou, automàticamente, para o relógio. Haviam transcorrido várias horas. O suor cobria o rosto do garimpeiro e suas mãos nervosas dilaceravam o resto do lenço que ainda se notava por entre os dedos. A enfermeira acabara de chegar.
DALVA - (correu pressurosa) Como foi tudo?
ENFERMEIRA - Tudo bem, parece. Sem acidentes.
DALVA - Podemos rezar e agradecer a Deus (disse, dirigindo-se a João) Estamos livres desse pesadelo.
ENFERMEIRA - Olha, ainda não! Deixem para agradecer a Deus depois que tudo passar...
JOÃO - ... isso num foi tudo, moça?
ENFERMEIRA - Não foi, João. Acho que o pior está pra vir. Não pensem que sou do contra, mas já vi cada reação depois de uma operação, de meter medo...
JOÃO - Puxa, moça! Assim você não anima ninguém...
ENFERMEIRA - Só estou avisando. Fiquem preparados.
O médico, Dr. Bernardo, especialista em cirurgia do cérebro, acabava de entrar no quarto. Logo atrás a maca deslizava com o corpo de Maria de Lara.
JOÃO - (tornou a perguntar, ainda agitado) Correu tudo bem, né, doutor?
DR. BERNARDO - Melhor não podia ser.
DALVA - É verdade que o pior está pra vir?
DR. BERNARDO - (meneou a cabeça, pensativo) É uma operação muito delicada e levará tempo até que possamos ter um resultado positivo.
JOÃO - Mas dissero... que ela vai ficá curada!
DR. BERNARDO - E por acaso estou afirmando o contrário?
JOÃO - O senhô disse que leva tempo...
DR. BERNARDO - E confirmo. Não espero que, ao recuperar os sentidos, ela seja uma nova mulher. Não se levantará do leito no dia seguinte, como numa operação comum. Vamos agora para uma fase muito trabalhosa. Será a readaptação à vida normal. Um período de aprendizado. De reconhecimento da vida, das coisas habituais. Ela iniciará a vida como se tivesse nascido hoje. (colocou as mãos nos ombros do rapaz) Volte amanhã, João. Não adianta você ficar aqui, agora. Ela não tomará conhecimento da presença de ninguém. Confie em mim. Tudo está correndo bem.
JOÃO - Mas... eu pensei que, quando ela acordasse, a gente ficasse sabeno quem ela é!
DR. BERNARDO - Não. Não será assim, João.
João deixava o quarto e já se preparava para entrar no elevador, ante os olhares curiosos das enfermeiras.
DALVA - (dirigiu-se ao Dr. Bernardo) Coitado do João! Eu sei o que mais o apavora. Sei que ele está pensando que pode ser Diana a sua verdadeira personalidade ao reviver...
O médico não respondeu. Era de fato uma possibilidade. Restava esperar e ter fé em Deus.
CORTA PARA:
CENA 3 - RIO DE JANEIRO - RUAS - EXT. - DIA.
O garimpeiro vagou pela cidade grande, desalentado. Tudo tão diferente de sua pequena Coroado. De suas terras banhadas de sol. Do rio a correr suave. Da gruna escura e úmida. De sua vida. De sua gente. Viu a arquitetura majestosa do templo de Deus. Tão em desacôrdo com a simplicidade da igrejinha de Padre Bento. Automàticamente, as pernas o impeliram para a escadaria da igreja. Ao alto as figuras de Isaías e Daniel de um e outro lados.
CENA 4 - RIO DE JANEIRO - IGREJA - INT. - DIA.
João penetrou no templo, contrito. Pé ante pé aproximou-se do altar. Cristo abria-lhe os braços do alto da cruz. O rapaz ajoelhou-se ante a imagem do Salvador. E falou em voz grave, como se conversasse com o Filho de Deus.
JOÃO - Meu Deus do Céu, Nosso Senhô, Nosso Pai... tou eu aqui, de novo, na frente do Senhô, ajoelhado e fraco... e venho pedi perdão se ainda tenho algum pecado nas costa que tenho de pagá. Meu Pai, não me castiga mais! Acho que já fui castigado demais. Tou aqui e tou lhe pedindo mais humildade do que ainda tenho. Tou aqui e lhe prometo num pensá em mim. Na partilha do meu diamante. Se fui levado pela vaidade... se pensei mais em mim do que no sofrimento dos outro, me perdoa... mas o dinheiro do diamante vai sê pra beneficiá os outro, não a mim. Prometo, meu Pai, desde esse momento, usá a fortuna desse diamante pra uma causa justa e nobre. Prometo usá ele pra minorá sofrimento e dor. É tudo o que eu posso lhe prometê. Eu só quero, em troca, meu Pai, que o Senhô faz aquele diabo da Diana sumi da vida da minha mulhé. Eu quero que ela seja a mesma... mas não Diana. Se isso acontecê, eu juro, vou me sinti muito castigado. Acho que num mereço mais, meu Pai. Amém.
O rapaz baixou a cabeça e fez o sinal-da-cruz, com todo o respeito.
CORTA PARA:
CENA 5 - RIO DE JANEIRO - CASA DE SAÚDE - QUARTO DE LARA - INT. - DIA.
O dia nascera belo. Sol azul no infinito, uma leve brisa a acariciar o verde das matas. O rebuliço da cidade ao começar da manhã indicava um dia de atividades para a gente que procurava ganhar a vida, em troca do sacrifício, do trabalho, do suor. João, cedinho, batera à porta do quarto 321. Lara ali estava. Ela. Ou?
JOÃO - Como tá ela?
DALVA - Já voltou... isto é... passou o efeito da anestesia.
O rapaz aproximou-se da esposa, amedrontado. Ela o fitou, inerte. Os olhos vidrados.
JOÃO - Oi...
DALVA - Você vai presenciar sua primeira reação após a operação.
JOÃO - Olá, bem (falou, baixinho).
A mulher fixou o olhar no rapaz e em seguida procurou o rosto da tia. Dalva aproximou-se, angustiada.
DALVA - Este... é João!
MARIA DE LARA - (a voz lhe surgiu, rouca) João!
JOÃO - Ela não sabe quem eu sou?
DALVA - Espere, João (disse, segurando a mão forte que repousava na borda da cama) Meu bem... olhe bem para ele... veja se o reconhece.
MARIA DE LARA - Não... não sei (respondeu, procurando reter a fisionomia que tinha à sua frente).
DALVA - E eu? Você sabe quem eu sou?
MARIA DE LARA - Também não...
DALVA - E... sabe quem é?
MARIA DE LARA - (aflita) Não sei... não sei quem sou.
JOÃO - (nervoso) Mas... o que é isso?
DALVA - (conciliadora) Calma, João! Também estou assustada e já mandei chamar o Dr. Bernardo.
MARIA DE LARA - (implorava, chorosa) Me ajudem... me digam... falem alguma coisa de mim... eu não sei de nada. Quem sou eu?
DALVA - (sentou-se à beira da cama e segurou as mãos da moça) Você é Lara, minha filha! Aquele é João, seu marido. Você é casada com ele... eu sou Dalva, sua tia.
MARIA DE LARA - (balbuciou, repetindo) Eu sou Lara... Lara... Dalva... João.
A porta se abriu e o Dr. Bernardo entrou, apressado, com o estetoscópio a balouçar no pescoço. João o levou para um canto, agressivo.
JOÃO - Que foi que fizero com minha mulhé? (perguntou, tenso, em voz baixa) Cês estragaro tudo! Pioraro tudo! Ela tá pió! Nem sabe quem é! Num me conhece!
DR. BERNARDO - (procurou acalmar o rapaz) Eu disse que você tinha que ficar preparado... Tudo o que você disser, agora, será prejudicial a ela. (e convidou) Vamos sair daqui. Eu me recuso a dar qualquer explicação a você, neste momento.
JOÃO - O senhô se recusa porque sua operação foi um fracasso. E o senhô sabe disso.
DR. BERNARDO - (usou de energia) Saia deste quarto, João Coragem. Você vai piorar muito as coisas.
JOÃO - Eu num saio. E vou levá o caso dela pra justiça. Cês tem que operá minha mulhé de novo e botá nela a memória que cês tiraro!
DR. BERNARDO - (já impaciente) Você está dizendo um amontoado de sandices...
JOÃO - (voltou para a mulher, deitada na cama de ferro) Eu... eu vou te tirá daqui. Sou teu marido e vou te tirá daqui. Você espera. Eu num me demoro.
Com gestos grosseiros o rapaz voltou-lhe as costas, deixando o quarto. Imediatamente o médico dirigiu-se a Dalva.
DR. BERNARDO - Este João Coragem é bem atrasado!
DALVA - É um homem rústico... Mas muito bom. Se o senhor conversar com ele, João entenderá.
DR. BERNARDO - Não creio que possa convencer um homem neste estado.
Com fisionomia grave, o médico afastou-se pelo corredor.
CORTA PARA:
CENA 6 - RIO DE JANEIRO - CASA DE SAÚDE - QUARTO DE LARA - INT. - DIA.
Um, dois, três... oito dias.
O quarto arejado, com vista para as montanhas, não dava impressão de recanto hospitalar. João permanecia horas ao lado da mulher. E nesse dia deu-lhe uma revista para ler. A porta girou e o operador entrou, para sua visita costumeira.
DR. BERNARDO - (segurou carinhosamente as mãos da paciente) Boas... Então... como estão as reações?
JOÃO - A mesma coisa (replicou, com ar tristonho. Cabisbaixo) Tamo aqui há uma semana, dizendo as coisas pra ela e ela num lembra de nada.
DR. BERNARDO - É assim mesmo, João.
Os dois se levantaram e andaram até o lado oposto à cama de Lara, próximo à janela que dava vista para os fundos da casa de saúde. Ao fundo as casas líricas de uma vila.
JOÃO - Faz 8 dias, doutor, e o senhô disse que em 3 dias ela ia se lembrá de alguma coisa. Confessa que tá tudo perdido, Doutor Bernardo!
Balançando a caneta entre o indicador e o médio, o cirurgião argumentou, procurando incutir na mente do jovem rústico as verdades da medicina.
DR. BERNARDO - Cada organismo reage de uma forma. A medicina não é matemática, meu caro... Entenda. Há leis rígidas nas ciências precisas. Na medicina tudo se passa de forma diferente.
JOÃO - Eu já entendi, doutor. E já sei o que vou fazê.
DR. BERNARDO - Eu já decidi também (falou, como advertência) Quando você estiver neste quarto, eu evitarei entrar...
JOÃO - (ameaçou) Isso não vai resolvê a sua situação!
Aborrecido com a irredutibilidade do rapaz, o Dr. Bernardo deixou o quarto, sem sequer cumprimentá-lo. João aproximou-se de Lara, que continuava folheando a revista, alheia a tudo. Ela parou e fitou-o demoradamente.
JOÃO - Que foi?
Ela apontou para uma foto na revista. Um bebê robusto, sorridente, na imagem em cores. João olhou apreensivo.
MARIA DE LARA - (ante o olhar atônito do marido) Meu filho... meu filho... este é meu filho!
JOÃO - Fala, bem...!
MARIA DE LARA - Não é ele... não é Antonio? Antonio não é meu filho?
JOÃO - (dando um murro no ar, gritou, ferindo os ouvidos da moça) Puxa... você se lembrô do nosso filho!
MARIA DE LARA - (insistiu) Não é Antonio?
JOÃO - É. É Antonio! Só que num é esse da revista... mas a gente tem um menino... e se você tá se lembrando dele... é sinal de que tá ficando curada.
MARIA DE LARA - Eu lembro, sim! Eu me lembro de quando tive meu filho... veja se não parece com esta criança... (mostrou, com o dedo sobre a foto, a figura do menino).
JOÃO - Parece, mas num é ele, bem! (com as mãos unidas e os olhos cerrados, rezou) Virge Mãe do Céu, graças! E eu que já tava duvidano. Dona Dalva tem de sabê disso, o doutô também. Fica aí... eu vou avisá... vou chamá todo mundo!
Saiu atordoado porta a fora. Lara ouvia-lhe a voz forte.
JOÃO - (off) Enfermeira! Enfermeira! Chama o doutô!
Voltou correndo.
MARIA DE LARA - (sorriu e sugeriu-lhe) Aperta a campainha...
Correspondendo à alegria da esposa, João premiu o pequeno botão branco.
JOÃO - (falou-lhe, feliz) Agora, sim... já começo a tê fé de novo... a acreditá de novo.
MARIA DE LARA - (pediu) Fale de Antonio.
JOÃO - Olha, é um meninão! É a minha cara, só tu vendo! Quando nasceu, parecia um pouco com ocê... mas cada vez que cresce, mais tá ficano a minha cara!
Um barulho na porta e Dalva entrou apressada, acompanhada pela enfermeira Beatriz.
DALVA - Você estava gritando no corredor!
JOÃO - Olha, gente (falou, levantando-se com um sorriso de felicidade a iluminar-lhe os olhos), tou arrependido de tudo aquilo que falei dos médico e da operação dela. Ela... já começô a se lembrá das coisa...
ENFERMEIRA - Já não era sem tempo.
DALVA - Que ótimo! E do que foi que ela se recordou em primeiro lugar?
MARIA DE LARA - (mostrou, radiante, a revista) Olhei para esta criança... e repentinamente me veio à memória a lembrança de meu filho!
ENFERMEIRA - O Dr. Bernardo precisa saber disso.
DALVA - Então, agora tudo vai correr bem (disse, abraçando a sobrinha).
MARIA DE LARA - (voltou a falar, como se assistisse a um filme em reprise) Imagine o que foi que me veio à mente... veja se isto aconteceu... recordo você numa prisão... (olhou para o marido) eu levei o menino para você ver. É a única cena que eu vejo bem clara... a sua emoção ao se encontrar com seu filho. Isto aconteceu?
JOÃO - Aconteceu... aconteceu (respondeu, com os olhos em lágrimas. Sorria, feliz).
MARIA DE LARA - (prosseguiu, cerrando fracamente os olhos) Mais embaralhado ainda... no fundo da minha mente... eu vejo a cena em que ele nasceu.
Finalmente, tudo ficara acertado. Maria de Lara tentaria viver, sobrepujar Diana ou se submeter à personalidade bondosa, é certo, mas diferente de Márcia. Rafael conseguiu, a custo, convencer os homens e, no quarto branco da casa de saúde, a moça começava a seguir para a vida ou para a morte...
Logo, pela manhã, os médicos se reuniram junto ao leito da paciente. Com a cabeça inteiramente raspada, Lara dormia, dopada pelas injeções e comprimidos ministrados no pré-operatório. Estava insconsciente, quando as enfermeiras a colocaram na maca e partiram molemente em direção à sala de operações.
João entrou impaciente. Viu Dalva, que enxugava os olhos. A face vermelha. Os lábios ressequidos.
DALVA - Entre.
JOÃO - Como é que ela tá?
DALVA - Dopada. Deram-lhe várias injeções.
JOÃO - Já vai se operá?
DALVA - Uma operação no cérebro, é coisa muito séria. O neurocirurgião vai, primeiramente, fazer uma intervenção exploratória. Se tudo der certo...
JOÃO - Olha... manda cuidá bem dela. É uma vida muito preciosa que tá aí. É a mãe do meu filho... é a mulhé da minha vida...
CORTA PARA:
CENA 2 - RIO DE JANEIRO - CASA DE SAÚDE - QUARTO DE LARA - INT. - DIA.
JOÃO - Terminô, com a graça de Deus!
João Coragem olhou, automàticamente, para o relógio. Haviam transcorrido várias horas. O suor cobria o rosto do garimpeiro e suas mãos nervosas dilaceravam o resto do lenço que ainda se notava por entre os dedos. A enfermeira acabara de chegar.
DALVA - (correu pressurosa) Como foi tudo?
ENFERMEIRA - Tudo bem, parece. Sem acidentes.
DALVA - Podemos rezar e agradecer a Deus (disse, dirigindo-se a João) Estamos livres desse pesadelo.
ENFERMEIRA - Olha, ainda não! Deixem para agradecer a Deus depois que tudo passar...
JOÃO - ... isso num foi tudo, moça?
ENFERMEIRA - Não foi, João. Acho que o pior está pra vir. Não pensem que sou do contra, mas já vi cada reação depois de uma operação, de meter medo...
JOÃO - Puxa, moça! Assim você não anima ninguém...
ENFERMEIRA - Só estou avisando. Fiquem preparados.
O médico, Dr. Bernardo, especialista em cirurgia do cérebro, acabava de entrar no quarto. Logo atrás a maca deslizava com o corpo de Maria de Lara.
JOÃO - (tornou a perguntar, ainda agitado) Correu tudo bem, né, doutor?
DR. BERNARDO - Melhor não podia ser.
DALVA - É verdade que o pior está pra vir?
DR. BERNARDO - (meneou a cabeça, pensativo) É uma operação muito delicada e levará tempo até que possamos ter um resultado positivo.
JOÃO - Mas dissero... que ela vai ficá curada!
DR. BERNARDO - E por acaso estou afirmando o contrário?
JOÃO - O senhô disse que leva tempo...
DR. BERNARDO - E confirmo. Não espero que, ao recuperar os sentidos, ela seja uma nova mulher. Não se levantará do leito no dia seguinte, como numa operação comum. Vamos agora para uma fase muito trabalhosa. Será a readaptação à vida normal. Um período de aprendizado. De reconhecimento da vida, das coisas habituais. Ela iniciará a vida como se tivesse nascido hoje. (colocou as mãos nos ombros do rapaz) Volte amanhã, João. Não adianta você ficar aqui, agora. Ela não tomará conhecimento da presença de ninguém. Confie em mim. Tudo está correndo bem.
JOÃO - Mas... eu pensei que, quando ela acordasse, a gente ficasse sabeno quem ela é!
DR. BERNARDO - Não. Não será assim, João.
João deixava o quarto e já se preparava para entrar no elevador, ante os olhares curiosos das enfermeiras.
DALVA - (dirigiu-se ao Dr. Bernardo) Coitado do João! Eu sei o que mais o apavora. Sei que ele está pensando que pode ser Diana a sua verdadeira personalidade ao reviver...
O médico não respondeu. Era de fato uma possibilidade. Restava esperar e ter fé em Deus.
CORTA PARA:
CENA 3 - RIO DE JANEIRO - RUAS - EXT. - DIA.
O garimpeiro vagou pela cidade grande, desalentado. Tudo tão diferente de sua pequena Coroado. De suas terras banhadas de sol. Do rio a correr suave. Da gruna escura e úmida. De sua vida. De sua gente. Viu a arquitetura majestosa do templo de Deus. Tão em desacôrdo com a simplicidade da igrejinha de Padre Bento. Automàticamente, as pernas o impeliram para a escadaria da igreja. Ao alto as figuras de Isaías e Daniel de um e outro lados.
CENA 4 - RIO DE JANEIRO - IGREJA - INT. - DIA.
João penetrou no templo, contrito. Pé ante pé aproximou-se do altar. Cristo abria-lhe os braços do alto da cruz. O rapaz ajoelhou-se ante a imagem do Salvador. E falou em voz grave, como se conversasse com o Filho de Deus.
JOÃO - Meu Deus do Céu, Nosso Senhô, Nosso Pai... tou eu aqui, de novo, na frente do Senhô, ajoelhado e fraco... e venho pedi perdão se ainda tenho algum pecado nas costa que tenho de pagá. Meu Pai, não me castiga mais! Acho que já fui castigado demais. Tou aqui e tou lhe pedindo mais humildade do que ainda tenho. Tou aqui e lhe prometo num pensá em mim. Na partilha do meu diamante. Se fui levado pela vaidade... se pensei mais em mim do que no sofrimento dos outro, me perdoa... mas o dinheiro do diamante vai sê pra beneficiá os outro, não a mim. Prometo, meu Pai, desde esse momento, usá a fortuna desse diamante pra uma causa justa e nobre. Prometo usá ele pra minorá sofrimento e dor. É tudo o que eu posso lhe prometê. Eu só quero, em troca, meu Pai, que o Senhô faz aquele diabo da Diana sumi da vida da minha mulhé. Eu quero que ela seja a mesma... mas não Diana. Se isso acontecê, eu juro, vou me sinti muito castigado. Acho que num mereço mais, meu Pai. Amém.
O rapaz baixou a cabeça e fez o sinal-da-cruz, com todo o respeito.
CORTA PARA:
CENA 5 - RIO DE JANEIRO - CASA DE SAÚDE - QUARTO DE LARA - INT. - DIA.
O dia nascera belo. Sol azul no infinito, uma leve brisa a acariciar o verde das matas. O rebuliço da cidade ao começar da manhã indicava um dia de atividades para a gente que procurava ganhar a vida, em troca do sacrifício, do trabalho, do suor. João, cedinho, batera à porta do quarto 321. Lara ali estava. Ela. Ou?
JOÃO - Como tá ela?
DALVA - Já voltou... isto é... passou o efeito da anestesia.
O rapaz aproximou-se da esposa, amedrontado. Ela o fitou, inerte. Os olhos vidrados.
JOÃO - Oi...
DALVA - Você vai presenciar sua primeira reação após a operação.
JOÃO - Olá, bem (falou, baixinho).
A mulher fixou o olhar no rapaz e em seguida procurou o rosto da tia. Dalva aproximou-se, angustiada.
DALVA - Este... é João!
MARIA DE LARA - (a voz lhe surgiu, rouca) João!
JOÃO - Ela não sabe quem eu sou?
DALVA - Espere, João (disse, segurando a mão forte que repousava na borda da cama) Meu bem... olhe bem para ele... veja se o reconhece.
MARIA DE LARA - Não... não sei (respondeu, procurando reter a fisionomia que tinha à sua frente).
DALVA - E eu? Você sabe quem eu sou?
MARIA DE LARA - Também não...
DALVA - E... sabe quem é?
MARIA DE LARA - (aflita) Não sei... não sei quem sou.
JOÃO - (nervoso) Mas... o que é isso?
DALVA - (conciliadora) Calma, João! Também estou assustada e já mandei chamar o Dr. Bernardo.
MARIA DE LARA - (implorava, chorosa) Me ajudem... me digam... falem alguma coisa de mim... eu não sei de nada. Quem sou eu?
DALVA - (sentou-se à beira da cama e segurou as mãos da moça) Você é Lara, minha filha! Aquele é João, seu marido. Você é casada com ele... eu sou Dalva, sua tia.
MARIA DE LARA - (balbuciou, repetindo) Eu sou Lara... Lara... Dalva... João.
A porta se abriu e o Dr. Bernardo entrou, apressado, com o estetoscópio a balouçar no pescoço. João o levou para um canto, agressivo.
JOÃO - Que foi que fizero com minha mulhé? (perguntou, tenso, em voz baixa) Cês estragaro tudo! Pioraro tudo! Ela tá pió! Nem sabe quem é! Num me conhece!
DR. BERNARDO - (procurou acalmar o rapaz) Eu disse que você tinha que ficar preparado... Tudo o que você disser, agora, será prejudicial a ela. (e convidou) Vamos sair daqui. Eu me recuso a dar qualquer explicação a você, neste momento.
JOÃO - O senhô se recusa porque sua operação foi um fracasso. E o senhô sabe disso.
DR. BERNARDO - (usou de energia) Saia deste quarto, João Coragem. Você vai piorar muito as coisas.
JOÃO - Eu num saio. E vou levá o caso dela pra justiça. Cês tem que operá minha mulhé de novo e botá nela a memória que cês tiraro!
DR. BERNARDO - (já impaciente) Você está dizendo um amontoado de sandices...
JOÃO - (voltou para a mulher, deitada na cama de ferro) Eu... eu vou te tirá daqui. Sou teu marido e vou te tirá daqui. Você espera. Eu num me demoro.
Com gestos grosseiros o rapaz voltou-lhe as costas, deixando o quarto. Imediatamente o médico dirigiu-se a Dalva.
DR. BERNARDO - Este João Coragem é bem atrasado!
DALVA - É um homem rústico... Mas muito bom. Se o senhor conversar com ele, João entenderá.
DR. BERNARDO - Não creio que possa convencer um homem neste estado.
Com fisionomia grave, o médico afastou-se pelo corredor.
CORTA PARA:
CENA 6 - RIO DE JANEIRO - CASA DE SAÚDE - QUARTO DE LARA - INT. - DIA.
Um, dois, três... oito dias.
O quarto arejado, com vista para as montanhas, não dava impressão de recanto hospitalar. João permanecia horas ao lado da mulher. E nesse dia deu-lhe uma revista para ler. A porta girou e o operador entrou, para sua visita costumeira.
DR. BERNARDO - (segurou carinhosamente as mãos da paciente) Boas... Então... como estão as reações?
JOÃO - A mesma coisa (replicou, com ar tristonho. Cabisbaixo) Tamo aqui há uma semana, dizendo as coisas pra ela e ela num lembra de nada.
DR. BERNARDO - É assim mesmo, João.
Os dois se levantaram e andaram até o lado oposto à cama de Lara, próximo à janela que dava vista para os fundos da casa de saúde. Ao fundo as casas líricas de uma vila.
JOÃO - Faz 8 dias, doutor, e o senhô disse que em 3 dias ela ia se lembrá de alguma coisa. Confessa que tá tudo perdido, Doutor Bernardo!
Balançando a caneta entre o indicador e o médio, o cirurgião argumentou, procurando incutir na mente do jovem rústico as verdades da medicina.
DR. BERNARDO - Cada organismo reage de uma forma. A medicina não é matemática, meu caro... Entenda. Há leis rígidas nas ciências precisas. Na medicina tudo se passa de forma diferente.
JOÃO - Eu já entendi, doutor. E já sei o que vou fazê.
DR. BERNARDO - Eu já decidi também (falou, como advertência) Quando você estiver neste quarto, eu evitarei entrar...
JOÃO - (ameaçou) Isso não vai resolvê a sua situação!
Aborrecido com a irredutibilidade do rapaz, o Dr. Bernardo deixou o quarto, sem sequer cumprimentá-lo. João aproximou-se de Lara, que continuava folheando a revista, alheia a tudo. Ela parou e fitou-o demoradamente.
JOÃO - Que foi?
Ela apontou para uma foto na revista. Um bebê robusto, sorridente, na imagem em cores. João olhou apreensivo.
MARIA DE LARA - (ante o olhar atônito do marido) Meu filho... meu filho... este é meu filho!
JOÃO - Fala, bem...!
MARIA DE LARA - Não é ele... não é Antonio? Antonio não é meu filho?
JOÃO - (dando um murro no ar, gritou, ferindo os ouvidos da moça) Puxa... você se lembrô do nosso filho!
MARIA DE LARA - (insistiu) Não é Antonio?
JOÃO - É. É Antonio! Só que num é esse da revista... mas a gente tem um menino... e se você tá se lembrando dele... é sinal de que tá ficando curada.
MARIA DE LARA - Eu lembro, sim! Eu me lembro de quando tive meu filho... veja se não parece com esta criança... (mostrou, com o dedo sobre a foto, a figura do menino).
JOÃO - Parece, mas num é ele, bem! (com as mãos unidas e os olhos cerrados, rezou) Virge Mãe do Céu, graças! E eu que já tava duvidano. Dona Dalva tem de sabê disso, o doutô também. Fica aí... eu vou avisá... vou chamá todo mundo!
Saiu atordoado porta a fora. Lara ouvia-lhe a voz forte.
JOÃO - (off) Enfermeira! Enfermeira! Chama o doutô!
Voltou correndo.
MARIA DE LARA - (sorriu e sugeriu-lhe) Aperta a campainha...
Correspondendo à alegria da esposa, João premiu o pequeno botão branco.
JOÃO - (falou-lhe, feliz) Agora, sim... já começo a tê fé de novo... a acreditá de novo.
MARIA DE LARA - (pediu) Fale de Antonio.
JOÃO - Olha, é um meninão! É a minha cara, só tu vendo! Quando nasceu, parecia um pouco com ocê... mas cada vez que cresce, mais tá ficano a minha cara!
Um barulho na porta e Dalva entrou apressada, acompanhada pela enfermeira Beatriz.
DALVA - Você estava gritando no corredor!
JOÃO - Olha, gente (falou, levantando-se com um sorriso de felicidade a iluminar-lhe os olhos), tou arrependido de tudo aquilo que falei dos médico e da operação dela. Ela... já começô a se lembrá das coisa...
ENFERMEIRA - Já não era sem tempo.
DALVA - Que ótimo! E do que foi que ela se recordou em primeiro lugar?
MARIA DE LARA - (mostrou, radiante, a revista) Olhei para esta criança... e repentinamente me veio à memória a lembrança de meu filho!
ENFERMEIRA - O Dr. Bernardo precisa saber disso.
DALVA - Então, agora tudo vai correr bem (disse, abraçando a sobrinha).
MARIA DE LARA - (voltou a falar, como se assistisse a um filme em reprise) Imagine o que foi que me veio à mente... veja se isto aconteceu... recordo você numa prisão... (olhou para o marido) eu levei o menino para você ver. É a única cena que eu vejo bem clara... a sua emoção ao se encontrar com seu filho. Isto aconteceu?
JOÃO - Aconteceu... aconteceu (respondeu, com os olhos em lágrimas. Sorria, feliz).
MARIA DE LARA - (prosseguiu, cerrando fracamente os olhos) Mais embaralhado ainda... no fundo da minha mente... eu vejo a cena em que ele nasceu.
FIM DO CAPÍTULO 115
e no próximo capítulo...
NÃO PERCA O CAPÍTULO 116 DE
EMOÇÕES FINAIS! ÚLTIMOS CAPÍTULOS!
e vem aí...
estréia dia 01 de fevereiro
e no próximo capítulo...
*** No hospital, Lara recorda-se do filho e pede a João que vá a Coroado e traga-o para ela.
*** Pedro Barros tenta matar Falcão.
*** Falcão recebe voz de prisão do novo delegado de Coroado!
EMOÇÕES FINAIS! ÚLTIMOS CAPÍTULOS!
e vem aí...
estréia dia 01 de fevereiro
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