quarta-feira, 8 de junho de 2011

IRMÃOS CORAGEM - CAPÍTULO 29


Roteirizado por Toni Figueira
do original de Janete Clair 
CAPÍTULO 29
PARTICIPAM DESTE CAPÍTULO:
CEMA
JOÃO
JERÔNIMO
BRAZ
JUCA CIPÓ
PEDRO BARROS
DELEGADO FALCÃO
DIANA
GENTIL PALHARES

CENA  1  -  RANCHO CORAGEM  -  SALA  -  INT.  -  DIA.

A fala macia de Cema fez João voltar-se para a porta de entrada. Lá estavam ela e o marido.


CEMA  -  Braz precisa falá com ocê.

Alegre o rapaz tocou o ombro do irmão,  como a chamar-lhe a atenção para os conceitos inamistosos emitidos contra o negro. Braz permanecia quieto, calado.

JOÃO  -  Tá aí o home, mano! Olha o Braz aí!

Com duas passadas, Jerônimo achegou-se ao casal. Falou seco, sem meios termos, dirigindo-se a Braz.


JERÕNIMO  -  Por onde andô?

JOÃO  -  (encorajou, notando a timidez do outro)  Fala, Braz .

BRAZ  -  João... eu, eu num tenho nem cara de olhá procê.

JOÃO  -  Vamo lá. Que foi que o Pedro Barros te obrigô a fazê contra mim?

BRAZ  -  Não... até que ele não me judiô... não me obrigô. Me tratô muito bem... tentando me convencê a reclamá os direito da pedra, porque eu te ajudei a cavá a gruna. E me fez assiná um papel... em que dizia isso.

Cema atirou, com raiva, algumas notas de dinheiro sobre a mesa.


CEMA  -  E ele recebeu dinheiro pra te fazer isso, João!

Jerônimo apontou para o dinheiro e para a figura angustiada do negro.

JERÔNIMO  -  E você não chama isso de traição?

João pensou, enquanto manuseava as notas, espalhadas por sobre a mesa.

JOÃO  -  Quando muito... foi uma fraqueza, Braz... não foi traição. (bondosamente devolveu o dinheiro á mulher do amigo, fitando os olhos lacrimosos do negro).

JERÔNIMO  -  Essa não! (em atitude de revolta)  Essa não! Você é um santo! Vai pro céu quando morrê. Pode ficá certo que vai.
     

JOÃO  -  (pausadamente)  Então eu ia negá a sua parte, Braz? A parte de todo mundo que me ajudô a cavá a gruna? Então ocê acha que eu ia fugi com a pedra... pra não reparti o dinheiro dela, com ninguém? Nossa Senhora!  (andava nervosamente, de um lado para outro no centro da sala, gesticulando fartamente)  Vai sobrá dinheiro pra todo mundo. (virou-se para o irmão)   Faz a conta aí, Jerônimo. Quanto é que a gente vai ganhá? A mil cruzeiros o quilate...


JERÕNIMO  -  É muito dinheiro. O diamante tem 750 quilates, no mínimo... assim de olho. Num sei fazê conta muito bem, mas seu doutô Rodrigo, que é esperto nessas coisa, disse que é quase um bilhão de cruzeiros.

JOÃO  -  Virge Mãe!   Ninguém vai precisá brigá pra recebê a sua parte. Pega esse dinheiro e devolve pro Pedro Barros. Diz a ele que ocê num precisa de nada disso. Que todo mundo aqui vai ficá rico.

CENA  2  -  COROADO  -  CARTÓRIO  -  INT.  -  DIA.
     

Durante vários minutos, em companhia do Delegado Falcão, Pedro Barros examinou os livros de escritura do tabelionato de Coroado. A poeira ainda flutuava no ar provocada pela mexida incessante nos volumes arquivados nas velhas e corroídas prateleiras. Unhas, mãos e cara do coronel estavam envoltas numa fina camada de pó pardacento. De repente, Juca Cipó entrou. Excitadíssimo, como sempre.

JUCA CIPÓ  -  Eles saíro do banco... agora entraro na igreja. Acho que tavam com os bolso cheio da nota, meu patrão.

Barros fechou estrepitosamente o grande livro do cartório.

PEDRO BARROS  -  É, mas não vão ter dinheiro pra pagá. O “seu” Valmir, gerente do banco, deu um golpe errado.
   
DELEGADO FALCÃO  -  A que conclusão o senhor chegou, meu coronel?

PEDRO BARROS  -  A de que a escritura do Matão é falsa!

DELEGADO FALCÃO  -  Falsa? Mas... pelo que acabamos de ver... nos livros que o escrivão nos emprestou... a escritura é absolutamente verdadeira.
  
PEDRO BARROS  -  (raivoso)  Voce tá do lado deles ou do meu? Aquela pedra tem que vir pro meu bolso, Falcão. E vindo pra mim, vem pra você, também. Ou você já não quer mais ser meu genro?
   
DELEGADO FALCÃO  -  Eu... eu quero... é lógico, mas... seu co... coronel, nós temos que agir dentro da lei! Eu não po... posso fugir a isso... me desviar... nem um milímetro...

PEDRO BARROS  -  Pois eu tou exigindo que você cumpra a lei, ora essa!   Você manda interditá a mina e obriga João a entregá a pedra...

DELEGADO FALCÃO  -  A quem?

PEDRO BARROS  -  Á lei, ora bolas! A você, que representa ela!

O delegado voltou a insistir, batendo com a mão espalmada contra a capa preta do livro oficial.

DELEGADO FALCÃO  -  A escritura... é verdadeira, repito!
 
JUCA CIPÓ  -  (saltou, atrevido e frenético)  Se meu patrão tá dizeno que é falsa, tem que sê falsa!
   
PEDRO BARROS  -  O sujeito que vendeu as terra do Matão pra Sebastião Coragem tá morto há muitos anos. A gente pode prová que a assinatura dele não é verdadeira.

DELEGADO FALCÃO  -  Mas, eu não posso provar!

PEDRO BARROS  -  (ordenou, de cara amarrada)   Manda interditá a mina e depois a gente arranja as provas.

DELEGADO FALCÃO  -  Mas...

PEDRO BARROS  -  Obedece, Falcão. Ou pode dá por encerrado o seu noivado com a minha filha!

Juca pulava, dando palmadas nas coxas.

JUCA CIPÓ  -  É isso mesmo. Escreveu não leu, pau comeu! Dá duro nele, meu patrão!

O olhar do delegado refletia desespero e ódio.

PEDRO BARROS  -  Vai ou não vai obedecê á minha ordem?

Falcão pesava os prós e os contras, mas era carta vencida no jogo desleal de Pedro Barros.

CORTA PARA:

CENA 3  -  COROADO  -  IGREJA  -  EXT.  -  DIA.

Ao deixar a igrejinha, benzendo-se, ainda, Jerônimo deu de cara com o casal.


JERÔNIMO  -  É... ela tinha que voltar... assim, não é, João?

Lara girou o corpo com agilidade, fitando o moço.

DIANA  -  Vim só avisar vocês pra tomar cuidado. Os homens de Falcão vão atrás de vocês. Se preparem pra uma emboscada. Vão tirar o diamante.

CORTA PARA:

CENA 4  -  COROADO - TABERNA DE GENTIL PALHARES  -  INT.  -  DIA.

Entraram na taberna de Gentil Palhares. O bem-humorado homem recebeu-os com um sorriso e uma expressão de intranqüilidade. Ouvira a última parte do diálogo.


GENTIL PALHARES  -  Eu avisei. Eu avisei, João!

JOÃO  -  Mas, ninguém pode fazê isso. O diamante é meu! Eu achei!
   
DIANA  -  Estão dizendo que a escritura do local da mina é falsa...

JOÃO  -  É mentira!

JERÔNIMO  -  Eles tinha de se apegá a alguma coisa...  A gente tava esperano, não tava?
  
DIANA  -  Foge, João, antes que eles te agarrem...

Jerônimo, que estava á porta, avisou, olhando para as bandas da praça:

JERÔNIMO  -  É tarde, mano. Falcão vem aí, com os homes!

Sem que ninguém percebesse, Gentil, por baixo do balcão, passou ás mãos de Jerônimo um calibre 45.

GENTIL PALHARES  -  (disse baixinho)  Defende teu irmão.



Falcão comandava um grupo de dois homens e Juca Cipó. O delegado entrou, ameaçadoramente, segurando a coronha do revólver, preso no cinto. João ficou frente a frente com o enviado do coronel.

JOÃO  -  (sem receio)  O que o senhô qué?

DELEGADO FALCÃO  -  Não sei se você já sabe... mas a mina onde achou o diamante raro... não lhe pertence...

JOÃO  -  (fervendo de indignação)  É do meu pai e minha também!

DELEGADO FALCÃO  -  Pois é... acontece que o sujeito que vendeu pro seu pai, passou uma escritura falsa.

JOÃO  -  A gente procura prová isso, seu Falcão.

DELEGADO FALCÃO  -  Tá certo... mas, até que prove, João, sou obrigado a lhe pedir pra me entregar o diamante...

João passeou os olhos pela sala. Á sua frente, Diogo Falcão, um capanga estrategicamente postado em cada lado e, á entrada, da porta, o lunático Juca Cipó.  

 
JERÔNIMO  -  Eles tão querendo te agarrá, João.

Houve um imperceptível movimento entre os bandos. João, Jerônimo e Braz entreolharam-se, num átimo.

DELEGADO FALCÃO  -  (procurando tranqüilizar o inimigo)  Absolutamente, ninguém faz nada contra ninguém. Estou só pedindo o que é de direito... que você me entregue a pedra... para que fique em meu poder... até que me prove, por lei, que a mina é de vocês.

A revolta de João nasceu com a explosão de um petardo: repentina, incontrolável, violenta.


JOÃO  -  (com firmeza e decisão)  Pois eu digo o contrário. A pedra fica comigo!

João permanecia imperturbável, pronto para tudo. Aguardou a reação.

DELEGADO FALCÃO  -  Desculpe, João, mas quem dita as ordens sou eu.
   
JOÃO  -  Se for provado que a mina não é nossa, eu entrego ela...
   
JERÔNIMO  -  (instigava o irmão)  Dá na cara deles, João! Senta a mão neles!
  
JUCA CIPÓ  -  (berrou, histérico)  Acaba logo com isso, Falcão!

JOÃO  -  Calma, gente, ninguém precisa brigá.

DELEGADO FALCÃO  -  De pleno acôrdo. (assentiu)  Você me entrega a pedra e eu deixo você seguir seu caminho em paz.
 
JERÔNIMO  -  (em defesa do irmão)  Acontece, seu Falcão, que ele não vai entregá!

DELEGADO FALCÃO  -  Desculpe... mas sou obrigado a usar da força...  (volveu os olhos para João)  Eu sei que você está com ela.

Os olhares dos Coragem cruzaram-se num choque de segundos. Jerônimo estava preocupado com a passividade do outro.

 
JERÔNIMO  -  Meu irmão... você não vai deixá que eles pegue o nosso diamante! Pra não brigá... ocê não vai permiti uma coisa desta...?
  
DELEGADO FALCÃO  -  Você é um sujeito sensato e não gosta de briga ou confusão. É claro que vai me obedecer sem criar problemas.
   
JOÃO  -  Olha. Seu delegado, pago pra num entrá numa briga, sou home de paz, mas quando entro, pago pra num saí. E tou pagando, agora, pra vê se há algum home aqui que tem coragem de me tirá o diamante. Eu juro! Ele tá em meu poder! Aqui! (bateu com a mão em cima do bolsinho suplementar)  Guardado comigo! Quero vê home pra me arrancá o diamante...

Falcão tentou dar um passo á frente, mas a arma de Jerônimo brilhou nas mãos do rapaz.

JERÔNIMO  -  Quero vê se existe alguém com corage! Quero vê! Nós vamo saí, e não vamo corrê, porque home num corre. Mas, vou avisá: não tenta, Falcão! Não tenta, que eu sei atirá muito bem e já tou com coceirinha no dedo.  (virou-se para o irmão)  João, vai até o carro. Eu te protejo!
  
JUCA CIPÓ  -  Eles vão fugi. Não deixa!

Jerônimo apontou o cano da 45 para o peito do jagunço. Lutou contra o desejo de premir o gatilho. Juca fez um gesto de defesa, com as mãos cruzadas sobre a cara horripilante. 

 
JERÔNIMO  -  Ninguém tenta impedi. Vai saí fogo. Braz, pro carro. João, depressa.

CORTA PARA:

CENA 5  -  COROADO  -  TABERNA DE GENTIL PALHARES  -  EXT.  -  DIA.


Jerônimo saiu de costas para a rua, observando os movimentos do bando de Pedro Barros.

 
JERÔNIMO  -   Se alguém se mexê, eu atiro! E pra matá!

O carro partiu levando os garimpeiros e deixando a frustração entre os homens encarregados de manter a lei e a decência em Coroado.

JUCA CIPÓ  -  Cê foi besta, seu delega! Devia ter reagido!
 
DELEGADO FALCÃO  -  Bem, meu dever é manter a ordem, não acha? Eu não queria um tiroteio aqui, na cidade.

JUCA CIPÓ  -  Mas, meu patrão disse...

DELEGADO FALCÃO  -  Eu sei bem o que seu patrão disse.  A gente pega o diamante... de algum jeito. E não vai demorar muito. Questão de tempo...


FIM DO CAPÍTULO 29
Ritinha (Regina Duarte) e Duda (Claudio Marzo)


E NO PRÓXIMO CAPÍTULO...

#  JOÃO FAZ UM BURACO NO SOLO, EM SEU QUARTO, PARA ESCONDER O DIAMANTE.

# DR. MACIEL, POR ORDEM JUDICIAL, RETORNA A COROADO.

#JOÃO É ATACADO NA CHOUPANA.


NÃO PERCA O CAPÍTULO 30 DE  
 

terça-feira, 7 de junho de 2011

IRMÃOS CORAGEM - CAPÍTULO 28


Roteirizado por Toni Figueira
do original de Janete Clair 
 
CAPÍTULO 28 

PARTICIPAM DESTE CAPÍTULO: 
DALVA
MARIA DE LARA
RODRIGO
JERÔNIMO
SINHANA
JOÃO
 

CENA 1  -  FAZENDA DE PEDRO BARROS - QUARTO DE LARA  -  INT. -  DIA

DALVA  -  (exaltada)  Esse João Coragem é parte de uma minoria de sub-gente. pobre, sem educação, rude!

MARIA DE LARA  -  (nervosa ante o ataque da tia ao jovem Coragem)  Quer saber, tia Dalva? Eu não admito as atitudes desleais tomadas pelo meu pai contra esse rapaz!

DALVA  -  Você defende esse ignorante com todas as forças! Isso é um absurdo!

MARIA DE LARA  -  Me deixe em paz, tia Dalva! Vá embora, me deixe em paz!

De repente a dor de cabeça. Como se um estilete estivesse cortando-lhe os miolos. Dor fina, penetrante. Lara ajoelhou-se e apertou a cabeça entre as mãos. Durante alguns segundos isolou-se do mundo. Ela e sua dor terrível. Levantou-se, pouco depois e se postou diante do espelho, ignorando a presença da tia. Ajeitou os cabelos e gargalhou, dançando alegremente pelo quarto. A tia observava, espantada, a transformação ocorrida na moça.

DALVA  -  Lara... você está bem?

MARIA DE LARA  -  (zombeteira)  Melhor do que nunca, coroa!
    
DALVA  -  (baixando o tom de voz)  Lara! Você nunca me falou assim!

MARIA DE LARA  -  É... eu nunca tive coragem de lhe dizer umas verdades. E tenho muita coisa a lhe dizer. Mas, fica pra depois. Agora estou muito apressada...

DALVA  -  Aonde você pensa que vai?

MARIA DE LARA  -  Aonde eu penso?  (tornou a gargalhar com zombaria)  Desguia, coroa. Veja se não me enche! Vai pro diabo!

Bateu a porta com força e desceu as escadas bamboleando o corpo em direção ao jardim.

CORTA PARA:

CENA 2  -  COROADO  -  CASA NA FLORESTA  -  INT.  -  DIA.

    
Sapatos e roupas atirados pelo chão e sobre a mesa tosca davam um aspecto de desleixo ás ruínas da casa abandonada da floresta.   Lara entrou saltitante. Abriu o velho baú e retirou as vestes desbotadas pelo tempo. Despiu-se e vestiu a saia rodada de cor berrante, já conhecida dos bares de Coroado. Rodou a bolsinha no indicador, deu uns retoque no cabelo abundante e saiu bamboleante, estrada a fora. Diana voltava a aparecer.

CENA  3  -  RANCHO CORAGEM  -  SALA  -  INT.  -  DIA.

Manhã cedo, com o sol recém-saído, Rodrigo já se encontrava na casa humilde dos irmãos Coragem, expondo a Jerônimo os últimos acontecimentos de Coroado.

RODRIGO  -   ... fugiu. O Dr. Maciel fugiu! Mas já providenciei gente pra sair á cata do homem. Pode crer... isso não vai impedir que eu peça prisão preventiva para Juca Cipó.

O jovem ensaboava o rosto, atento ás palavras do promotor. Ultimava a higiene matinal.

JERÔNIMO  -  Pedro Barros já sabe disso?

RODRIGO  -  Não.  Estou fazendo as coisas em sigilo.

JERÔNIMO  -  Mas não é segredo que ele está tentando, por todos os meios, roubá do meu irmão os direito da pedra.

RODRIGO  -  Também sei disto. (sentando-se na beirada da cama)  Mas, com a prisão do Juca, ele vai acabar se esquecendo da pedra que João achou.

O jovem acabara de lavar o rosto e vestia as calças desbotadas da faina diária.

JERÔNIMO  -  Ele e o capacho do Falcão tão examinando no cartório os livro de escritura, pra vê se acha um jeito de interditá a mina da gente...

Rodrigo abriu o paletó e desabotoou a camisa.

RODRIGO  -  Aquele local pertence a vocês... não há o que temer. Andei vendo os papéis.

Um lampejo de tristeza velou os olhos do garimpeiro. Alguma revelação desagradável, talvez. Jerônimo baixou o olhar, antes de fazer novas considerações.

JERÕNIMO  -  Não sei como dizê pro João... que até o Braz Canoeiro traiu ele...

A notícia abalou o jovem promotor, obrigando-o a erguer-se como que impelido por uma mola.

RODRIGO  -  Traiu?

JERÔNIMO  -  Eu acho que traiu.  Braz se escondeu de mim. Se escondeu até de Cema, a mulhé dele. Tá com culpa na consciência, ora se tá!

CORTA PARA:

CENA 4  -  RANCHO CORAGEM  -  SALA  -  INT.  -  DIA.

Sentado no chão, João Coragem  observava os dedos ágeis de Sinhana a costurar-lhe a calça rota e remendada. Moveu os braços e retirou de sob o travesseiro um retrato de mulher. Fitou-o demoradamente, embevecido, desligado de tudo e de todos. Sinhana parou para admirar o alheamento do filho. Balançou a cabeça, desconsolada.

SINHANA  -  Nunca mais viu ela, filho?

João voltou a si, guardando a foto no bolso da camisa.

JOÃO  -     (entre alegre e surpreso)  Não... mas vou vê, mãe.   Comprá um terno bão... ir na capital vendê meu diamante... voltá pra Coroado cheio da nota... ir na casa do pai dela e dizê: eu já posso sê marido da sua filha.

SINHANA  -  (ar de malícia)   E ela vai querê?

JOÃO  -  (otimista)  Ela qué.  Ela gosta de mim. Num entendo bem o que acontece... e já nem quero entendê. Eu acho que ela fez aquelas coisa toda... virô outra mulhé... pra me namorá.

Sinhana atirou a calça sobre a cama e botou as duas mãos sobre os joelhos.


SINHANA  -  Então ela tem duas cara, filho?

JOÃO  -  Podia tê até três, mãe. Eu quero ela assim mesmo. Tou doido por ela, mãe. Tou  maluco!

A velha levantou-se e tornou a apanhar a calça que jogara sobre a cama e, virando-a pelo avesso, mostrou o bolsinho sobressalente que improvisara. Puxou-o com força, testando a resistência.

SINHANA  -  Olha aí, botei o diamante na bolsinha de couro e fiz um bolsinho a mais na tua calça, pra caber ela... Amarrei bem amarrado, com linha de barbante. Veja se tá  firme...

João experimentou puxar o pequeno bolso de couro do interior do bolso recém-costurado.

JOÃO  -  Firme, tá. Pra me roubá ela, tem que me matá.

Sinhana benzeu-se, ante as palavras azarentas do filho.

SINHANA  -  Deus Nosso Senhô não vai permiti, mas é preciso tê cuidado. Seu pai tá doente de medo. Anda sonhando com coisa ruim.

JOÃO  -  Que nada!  (confiante)  Eu confio na minha gente. Ninguém vai me fazê mal, nem me roubá a pedra.

Abraçou a mãe, beijando-lhe a testa.

SINHANA  -  Tenho muito medo, Jão...

JOÃO  -  A gente vai fazê bem pra todo mundo. Vai vê só. Vou pô máquina no garimpo, dá emprego pros home, fazê uma casa decente pra senhora. Vou fazê creche pra tudo quanto é criança... asilo pros velho, hospital... vou ajudá a prefeitura a calçá as rua de Coroado. Dá de comê aos pobre. Tratá dos animal sem dono. Vou fazê tanta coisa...

SINHANA  -  (lembrou, puxando-lhe as orelhas)  Pensa um pouco em ocê, também.

JOÃO  -  Num quero muita coisa. Já disse. Só um terno bão... pra pedi aquela mulhé em casamento.

Sinhana achou graça da ingenuidade do grandalhão.


SINHANA  -  Só terno bão não resorve, filho...

JOÃO  -  Vai, gordinha...  (em tom de brincadeira, batendo com a mão espalmada nas nádegas da velha)  Veste um vestido bunito pra gente ir junto na cidade. Vou ao banco recebê o empréstimo. E quero que a minha família vai bem bunita...

SINHANA  -  Visto o vestido do intêrro?
    
JOÃO  -  (franziu o nariz, repetidamente)  Num precisa ir tão chic, ô que! Um vestido decente, só!


Contente, Sinhana desapareceu pela porta do quarto.

CORTA PARA:

CENA 5  -  RANCHO CORAGEM  -  QUARTO DE JOÃO    -  INT.  -  DIA.

Jerônimo contava ao irmão a história do encontro com Lara, quando ele e Cema visitaram a fazenda de Pedro Barros á procura de Braz Canoeiro.

JERÔNIMO  -  E... tenho um recado dela!

JOÃO  -  Lara?

JERÔNIMO  -  É... naquele momento... o olhar era de Lara.  (depois de ligeira pausa, voltou a falar)  Não sei se eu devo dar...

JOÃO  -  Não sabe!  (quase gritava diante da hesitação do irmão)  Claro que tem de dar. O que foi que ela mandô me dizê? Anda, fala logo!


JERÔNIMO  -  (de má vontade)  Ela disse... que tá muito satisfeita por você tê achado o diamante...

Houve uma transformação repentina na face de João Coragem. O rosto másculo ameninou-se num sorriso infantil de contagiante alegria. Correu a pegar nas mãos de Jerônimo.

JOÃO  -  Ela disse isso? Ela disse? O que mais?
    
JERÔNIMO  -  Só.
    
JOÃO  -  (agitado pela novidade)  Onde ocê viu ela? Como foi?

JERÔNIMO  -  Tinha ido buscá Braz na casa do Barros. Fui lá disposto a tudo. Lara... tava no jardim.
   
JOÃO  -  Me diga... tava bunita? Mansa? Calma?
   
JERÔNIMO  -  Era Lara. Não Diana.

JOÃO  -  E o Braz?

JERÔNIMO  -  Tá se escondendo da gente, irmão... Braz traiu ocê!
    
JOÃO  -  O quê? Braz? Num credito! Braz é home bão. Honesto. É dos nosso. (assanhou a cabeleira cuidada do irmão)  Larga mão de tá só com pensamento ruim. Agora as coisa vão melhorá. Se alegra. Vamo na cidade tirá retrato de toda a família e pegá dinheiro no banco.

FIM DO CAPÍTULO 28 
Diana (Gloria Menezes)

... E NO PRÓXIMO CAPÍTULO

***PEDRO BARROS ORDENA AO DELEGADO FALCÃO QUE DIGA AOS CORAGEM QUE A ESCRITURA DE SUAS TERRAS É FALSA, QUE INTERDITE A MINA DE DIAMANTES E OBRIGUE JOÃO A ENTREGAR A PEDRA. CONSEGUIRÁ O CORONEL  SEU INTENTO?

***O DELEGADO FALCÃO, JUCA CIPÓ E OS CAPANGAS DE PEDRO BARROS ENFRENTAM OS IRMÃOS CORAGEM, DE ARMAS EM PUNHO, EXIGINDO A ENTREGA DO DIAMANTE. JOÃO E JERÔNIMO ESTÃO DISPOSTOS A TUDO PARA NÃO PERDER A PEDRA TÃO VALIOSA. QUEM VENCERÁ ESTA PARADA?

NÃO PERCA O CAPÍTULO 29 DE

segunda-feira, 6 de junho de 2011

IRMÃOS CORAGEM - CAPÍTULO 27


Roteirizado por Toni Figueira
do original de Janete Clair 

CAPÍTULO 27
PARTICIPAM DESTE CAPÍTULO:
BRAZ CANOEIRO
ANTONIO
JUCA CIPÓ
DUDA
RITINHA
HERNANI
REPÓRTER
JOÃO
SINHANA
LOURENÇO
JERÔNIMO
CEMA
MARIA DE LARA
CAPANGAS

CENA  1  -  GARIMPO DOS CORAGEM  -  EXT.  -  DIA.

Os garimpeiros conversavam animadamente. Braz ria trincando um naco de carne-seca, a farinha caindo-lhe pelo queixo.

BRAZ CANOEIRO  -  Num dianta, minha gente. Vai todo mundo morrê preso aí dentro. Daqui a pouco essa gruna vai desmoroná, porque a pedra que Deus mandô já foi encontrada...

O mulato Antonio verberou o pessimismo do negro.


ANTONIO  -  Cala essa boca e larga mão de agourá. Pode sê que a pedra grande deixou filhote...

BRAZ CANOEIRO  -  Ela é só no mundo.  (riu alegremente)   É pedra solteira!

A voz de Juca Cipó chamou-o á realidade.

JUCA CIPÓ  -  Braz! Braz!

O negro recuou, receoso.

JUCA CIPÓ  -  Tenha medo, não. Só meu patrão que deseja trocá duas palavrinha...

BRAZ CANOEIRO  -  Mas... eu não quero falá com seu patrão!

JUCA CIPÓ  -  Custa nada obedecê.

Outros dois asseclas agarraram o garimpeiro pelas costas. Mãos firmes. O negro estrebuchou. 

JUCA CIPÓ  -  (irônico)  É melhó ir por bem!

Manietado, o negro foi empurrado para a montada. Gritou para a esposa, que a tudo assistia, impotente.

BRAZ CANOEIRO  -  Avisa João! Avisa João!

CENA  2  -  RIO DE JANEIRO  -  APARTAMENTO DE DUDA  -  SALA  -  INT.  -  DIA.

RITINHA  -  (dirigindo-se ao marido, deitado no sofá)  Ele não tem nada que fazer aqui!

DUDA  -  Pensei que você tivesse mandado chamar.

RITINHA  -  Chamei não, Eduardo! Eu ia fazer uma coisa destas? Hoje chegou esta carta de Coroado, onde meu pai diz que está chegando ao Rio de Janeiro... Nunca me deu uma palavra de carinho e agora... chega essa notícia de repente... só pra me deixar preocupada...

DUDA  -  Você sabe que eu não gosto dele e ele também não gosta de mim. (acentuando as palavras)  Bom, podia ser pior. Agora é esperar por ele e ter paciência. Eu me dou muito mal com o velho, mas vamos ver como é que a gente se arruma. Como fico a maior parte do tempo fora, não vou ter lá grandes problemas...

Duda lia a carta que lhe chegara, também de Coroado. Da família. E matutava nas novidades. 

DUDA  -  (virou-se para a esposa)  Escuta esta... Olha o que é que o João diz nesta carta. (leu para a mulher ouvir)  “Pode largá de chutá a bola. Tamo rico. Achei o diamante maior do mundo...”

Ritinha achegou-se ao marido, afagando-lhe o peito.

RITINHA  -  Se for verdade... é a realização dos sonhos de João e Jerônimo.

DUDA  -  Uai... por que não pode ser verdade?


CENA 3  -  RIO DE JANEIRO  -  APARTAMENTO DE DUDA  -  SALA  -  INT.  -  DIA.


Hernani mostrava os jornais ao jogador e o destaque da manchete de ponta a ponta – DUDA NO CORÍNTIANS.

DUDA  -  É... esses caras da imprensa fazem uma fofoca desgraçada. Eu nem falei ainda com o diretor do Coríntians.

HERNANI  -  Onde há fumaça há fogo...

DUDA  -  Vamos esperar mais um pouco. Quem sabe se no fim o Flamengo dá o que eu pedi? Você viu que no último jogo a torcida só gritava o meu nome. E cartaz pesa pra burro!
   
HERNANI  -  (concordou)  Pode ser que a pressão da torcida faça o Flamengo entregar os pontos. Mas, se eu fosse você, topava logo a parada, não perdia tempo.

O dinheiro das luvas já dá para um bom pé-de-meia...

DUDA  -  Vida de jogador é assim, Hernani. Ás vezes o coração pede um time, mas a necessidade o leva para outro. A torcida não entende nem perdoa isso...

CORTA PARA:

CENA 4  -  RANCHO CORAGEM  -  SALA  -  INT.  -  DIA.

   
Com o lápis correndo pelo bloco de papel, o repórter anotava as declarações de João Coragem. A notícia correra célere por todo o Estado. Em Coroado fora achado o maior diamante do mundo.


REPÓRTER  -  Então... pràticamente,  o senhor está bilionário!

JOÃO  -  Eu sei lá, seu moço! Vai dá um dinheirão, isso eu sei que vai!

REPÓRTER  -  Pretende vender a pedra aqui mesmo, em Coroado?

JOÃO  -  Vou vendê na cidade grande. Já tenho plano pra viajá, levando a pedra.

REPÓRTER  -  Por que não vende aqui mesmo?

JOÃO  -  Porque aqui, a gente não pode fazê preço. Compradô só tem um... e eu num quero vendê pra ele.

REPÓRTER  -  (mudou de tom, preparando a pergunta)  Dizem que, quando uma pedra deste valor é encontrada, o comum é se fazer mistério em torno do achado.

Mas com o senhor aconteceu o contrário. É o que se diz na cidade.

JOÃO  -  (meio atrapalhado, corando excessivamente)   É... eu acho que eu e meu irmão... a gente exagerou... pela alegria... pela vontade que a gente tinha de encontrá. A gente num devia de tê feito aquilo, né?

REPÓRTER  -  Acha que sua segurança corre perigo... ou melhor, que alguém será capaz de  tentar roubar o diamante?
  
JOÃO  -  (coçou a cabeça, intrigado)  Tudo é possível, moço. Mas eu confio muito na minha gente... não vão fazê isso comigo, não.

O jornalista deu um passo e olhou pela janela e apontou para o exterior.

REPÓRTER  -  Se confia tanto... por que aquele moço ali, de tocaia, armado?

Jerônimo podia ser visto, atento, sentado sobre uma tora de madeira.

JOÃO  -  É meu irmão.  Ele ta ali porque nós temo inimigo forte. E ele tá preparano um golpe. A gente espera tudo. Mas tamo preparado.

O jornalista insistiu, descobrindo o filão da reportagem. Poderia estar ali a grande manchete.

REPÓRTER  -  Pode dizer o nome do seu inimigo?

JOÃO  -  Não. Eu num quero provocá ninguém. Tudo pode acontecê. Até dele mudá. A gente tá só prevenido.
  
REPÓRTER  -  Mas... uma foto sua com o diamante você permite, não? Bota a pedra bem na frente, pra destacar.

O modesto rapaz olhou para a família.


JOÃO  -  Num há mal deu chamá a índia, mãe, pai...

REPÓRTER  -  (sorridente)  Não.  Chama todo mundo. Vai sair a turma toda na primeira página.

CENA  5  -  FAZENDA DE PEDRO BARROS  -  CASA-GRANDE  -  EXT.  -  DIA.

Lourenço barrava a entrada de Cema e Jerônimo com rispidez, girando ameaçadoramente a arma na direção dos dois.


LOURENÇO  -  Calma, mocinho, calma! O que quer aqui?

JERÔNIMO  -  (decidido)  Onde está o Braz Canoeiro?

LOURENÇO  -  Deve está na casa dele.
  
CEMA  -  Se tivesse eu não tinha vindo aqui. Sou a mulhé dele e você bem sabe.
  
LOURENÇO  -  (remendou a mentira)  Foi posto em liberdade, agora mesmo.

JERÔNIMO  -  (com altivez)  Por que? Ele tava preso?

LOURENÇO  -  Preso... preso,  não. ( embaraçado)  Estava só sob os cuidados do meu patrão. Foi muito bem tratado, até. Posso garantir.

JERÔNIMO  -  Eu compreendo!  Braz tava com João quando ele achô o diamante. Com certeza ocês quer que Braz traia ele...

LOURENÇO  -  Não... nada disso.  Meu patrão queria convencê o negro a reclamá seus direito.

JERÔNIMO  -  Que direito?

LOURENÇO  -  Da pedra. Se Braz ajudou a cavá, também é dono dela!

CEMA  -  (com aspereza)  Quem achô foi João. E a mina é dele. Braz não tem direito a nada.
   
LOURENÇO  -  (insistiu, irônico)  Eu acho que o próprio Braz já num pensa assim...

O diálogo foi cortado pela voz macia de Maria de Lara. Ela ouvira o bastante para se inteirar de tudo. Dirigiu-se ao jovem Coragem.

MARIA DE LARA  -  Um momento... Diga ao seu irmão... que fiquei satisfeita em saber... que ele encontrou o diamante.

Dos olhos de Jerônimo pareciam saltar chispas de ódio. Sem responder á moça virou as costas e retirou-se apressado.

FIM DO CAPÍTULO 27  
Duda (Claudio Marzo) e Ritinha (Regina Duarte)
... E NO PRÓXIMO CAPÍTULO:

--->JERÔNIMO VAI Á FAZENDA DE PEDRO BARROS EM BUSCA DE BRAZ CANOEIRO E DESCONFIA QUE JOÃO FOI TRAÍDO PELO GARIMPEIRO.

--->JERÔNIMO DIZ A RODRIGO QUE PEDRO BARROS ESTÁ TENTANDO, DE TODAS AS MANEIRAS, ROUBAR OS DIREITOS DE SEU IRMÃO Á PEDRA ENCONTRADA NO GARIMPO.

--->JOÃO FAZ PLANOS PARA O FUTURO E VAI Á CIDADE COM A FAMÍLIA TIRAR FOTOGRAFIA E FAZER EMPRÉSTIMO NO BANCO.



NÃO PERCA O CAPÍTULO 28 DE


quarta-feira, 1 de junho de 2011

IRMÃOS CORAGEM - CAPÍTULO 26


Roteirizado por Toni Figueira
do original de Janete Clair 
CAPÍTULO 26
PARTICIPAM DESTE CAPÍTULO:
SINHANA
RODRIGO
JERÔNIMO
POTIRA
JOÃO
BRAZ CANOEIRO
PEDRO BARROS
ESTELA
MARIA DE LARA
DELEGADO FALCÃO
JUCA CIPÓ

CENA 1  -  RANCHO CORAGEM  -  SALA  -  INT.  -  DIA.

SINHANA  -  Eu era empregada na casa dele. (recordava ela, e Rodrigo era todo atenção)   Queria muito bem á finada Dona Alzira, que Deus a guarde...  (fez o “pelo sinal” com gestos largos e demorados)  Seu doutô era muito ciumento e a menina Ritinha tinha nascido, de pouco. Era assim... pequenininha, tinha menos de um ano. Ele era brigão. Num queria que a finada se vestisse bem, se pintasse, nada. E ela era uma moça muito bonita, mas fraquinha. Um dia ficô doente. Pra falá com justiça, ele levô ela pra tudo quanto foi canto, pra se tratá. Certa vez, quando ele vortô de um tratamento que foi fazê na capital de Belo Horizonte... ele veio meio doido. Diferente. Bruto. Revortado com Deus e o mundo. Ela me dizia: “Sinhana, eu num sei o que deu no meu marido. Tá com raiva do mundo. Nem olha minha cara”. Despois ela caiu de cama, de vez. Ficô mal. O gênio dele piorô. Ficou briguento e mau. (pensou um pouco antes de fazer a revelação final; Rodrigo nem piscava, anotando as partes principais da conversa)  Eu num posso dizê que foi ele que matô... mas tava muito diferente. Ela sofria... sofria, tadinha, naquela cama, se desmilinguino. Um dia ele se embriagô. Bebeu muito. Deu uma injeção nela... que foi a conta. Ela só virô os olhos, aflita, pro meu lado... e morreu!

O suor escorria pelo corpo da velha. Rodrigo abraçou-a, enternecido. A velha limpou algumas lágrimas que, teimosamente, rolaram de seus olhos na evocação de um passado triste.

SINHANA  -  (continuou)  Fiquei cismada, fiquei. Mas... nunca tive certeza e, também, nunca mais olhei prêle. Só tomei querência da menina... que agora é minha nora. Ele ficô com ódio de mim, até hoje...

Rodrigo soprou-lhe a testa, abundantemente molhada.

RODRIGO  -  Fique tranqüila. O que disse nada prova contra o Dr. Maciel. É apenas uma cisma da senhora... que pode ser injustificada. (deu-lhe um tapinha no braço roliço)  Eu lhe garanto que não vou prejudicar o médico. (voltou-se para Jerônimo, quieto, imperturbável, a um canto da sala)   Eu vou indo, amigo.
   
SINHANA  -  (reteve-o pelo braço)  Só uma pergunta, seu doutô.

RODRIGO  -  Sim.

SINHANA  -  Ando, também, cismada com o senhô. Sou velha matreira, ladina. Eu sinto, seu doutô, que não é por simples... como é que o senhô disse pro meu João? Ah... vontade de ajudá o próximo que o senhô, moço bonito e prendado, se meteu nesta terra estranha e anda fazeno tudo isso... pra derrubá Pedro Barros.
   
RODRIGO  -  Então, um homem não pode lutar por aquilo que julga certo?

SINHANA  -   (com franqueza, estudando as reações do moço)  Os home não são tão puro, seu doutô. Pelo menos o senhô não é .

RODRIGO  -  Talvez a senhora tenha razão.  Eu não sou tão puro de sentimentos.

JERÔNIMO  -  Há uma outra razão?
   
RODRIGO  -  (movia as mãos nervosamente, balançou a cabeça em sinal de contrariedade)  Desculpem, mas não tenho resposta. Pelo menos por enquanto.

Deixou a sala, visivelmente atormentado, com expressão de angústia.

CORTA PARA:

CENA 2  -  RANCHO CORAGEM  -  EXT.  -  DIA.

Lá fora, Potira aguardava o promotor, com dois vestidos de corte moderno, seguros pelas pontas dos dedos. Fagueira, aproximou-se do rapaz.


POTIRA  -  Seu doutô, brigada, viu?
   
RODRIGO  -  (ainda sério)  De nada, Potira. É pra você ir se acostumando.

POTIRA  -  Acostumando!

RODRIGO  -  Vista aquele que mais gostar no domingo. Quero que você fique bem bonita...

POTIRA  -  Por quê?

RODRIGO  -  Porque eu não quero pedir a mão de uma moça desarrumada...

CORTA PARA:

CENA 3  -  RANCHO CORAGEM  -  QUARTO  -  INT.  -  DIA.

Na semi-escuridão do quarto a silhueta do rapaz contrastava com a brancura da parede caiada. Jerônimo trocava de camisa, peito nu. Do pescoço o grande cordão de prata descia, e nele se destacava, balouçante, o medalhão com a efígie de Cristo.

Os braços da mulher envolveram-no de repente, e seus lábios tocaram, de leve, a pele sensível do pescoço.


POTIRA  -  Ele disse... que vai pedi a minha mão em casamento! Eu não gosto dele, Jerome. Gosto de ocê. Eu quero ocê!

Num átimo, Jerônimo lembrou-se do amigo e de suas pretensões. Do amor que o levava a abandonar seus deveres, se necessário, para compartilhar da vida humilde dos Coragem. Potira era tudo, significava vida e futuro para o promotor Rodrigo. Ao mesmo tempo, sentiu a enormidade da paixão, meramente carnal, que o atirava contra a mestiça. Atordoado, desvencilhou-se das mãos da moça e deixou o quarto a passos rápidos. Desesperada, a índia jogou-se ao chão, martelando com os punhos o barro duro e amarelado.

CORTA PARA:

CENA 4  -  GARIMPO  DOS CORAGEM  -  EXT.  -  DIA.

 
Há horas João Coragem trabalhava desesperadamente, isolado do mundo, dedos perdidos no lamaçal, mãos feridas pelo contato duro e pontiagudo das rochas. Apenas o barulho ritmado da picareta dava-lhe conta da presença próxima de Braz Canoeiro. O garimpo ensolarado contrastava com a escuridão da gruna. De repente, o raio de sol feriu um pontinho na parede arenosa  da pequena gruna. João cavou mais fundo, com o martelete e a pequena pá de trabalho.


JOÃO  -   (um grito rouco escapou-lhe do peito, incontrolável)  Braaaaaaz!

Com a pedra nas mãos, o rapaz surgiu á luz do sol.

JOÃO  -  Braaaaaz!

Jogou-se no chão, meio corpo na água, meio na terra.

JOÃO  -  Achei! Achei! A minha pedra! Achei!

Braz Canoeiro, com os olhos arregalados, fitava o carbono raro.

BRAZ CANOEIRO  -  João! João! Isto num existe! Nós dois tamo delirano! Isto num pode existi, João!

JOÃO  -  Sente ela... sente! Não é ilusão! É verdadeira, Braz! Minha pedra é verdadeira!

Como um louco, o garimpeiro saiu correndo pela estrada barrenta.


JOÃO  -  ( gritando para a natureza)     Achei a pedra maior do mundo! Jerônimo! Pai! A gente tá rico! Cê vai sê presidente, mano... Duda, num precisa mais gastá teus pé, nos campo! Mãe, vou lhe vesti como uma rainha! Índia, cê vai tê o que quisé! Lara! Diana! Seja lá quem fô, ocê vai sê minha! Tá me ouvindo, Pedro Barros? Vou comprá tua filha! Vou comprá...

A voz se perdia na vstidão dos campos.

CORTA PARA:

CENA 5  -  RANCHO CORAGEM  -  EXT.  -  DIA.

Esbaforido, quase arrastando-se de cansaço, o rapaz alcançou a porteira do rancho. Os gritos saíam-lhe engasgados da garganta. A família, assustada, via o rapaz entre risos e lágrimas aproximar-se com as mãos erguidas, o rosto sujo de barro e lama, roupa encharcada da água do pequeno rio.


JOÃO  -  Pai! Mãe! Jerônimo!

SINHANA  -   (espantada, limpando as mãos no avental)  Que é isso?

JOÃO  -  (com a pedra nas mãos em concha, delirava)  Gente, veja isso! Diamante como este nunca existiu!

Jerônimo arrancou-a, grosseiramente.

JERÔNIMO  -  Nossa! Não é delírio, a pedra é verdadeira!

JOÃO  -  Tamo rico! Tamo milionário! Vou consertá o mundo!

Alucinado com a raridade da gema, Jerônimo saltou para o cavalo, esporeando-o brutalmente.

JERÔNIMO  -  Êiiiii! É a pedra mais bonita do mundo!

CORTA PARA:

CENA 6  -  COROADO  -  RUAS DA CIDADE  -  EXT.  -  DIA.


O tropel dos cavalos chamou a atenção da cidadezinha. De longe o barulho de cascos e gritos despertou a sonolência da gente tranqüila de Coroado. Pedro Barros estancou diante da igrejinha, de onde Maria de Lara e Dalva saíam após a cerimônia religiosa.


JERÔNIMO  -  Achamos! Achamos! A pedra do mundo! Tamo rico! Tá ganha a eleição!

Relinchando, os cavalos suavizaram a marcha. Jerônimo mostrava aos curiosos a pedra da bamburra. Cadenciou o galope e parou em frente ao templo de Padre Bento.

JERÔNIMO  -  Tá ouvino, Pedro Barros! Seu dinheiro, agora, não vai servi de impedimento. Nós tamo rico! Tamo rico!  (com a pedra presa entre o polegar e o indicador, suspensa sobre a cabeça,  mostrava-a ao coronel)  Achamos a pedra maior do mundo!
   
JOÃO  -  A pedra maior do mundo!

CENA  7  -  FAZENDA DE PEDRO BARROS  -  CASA-GRANDE   -  EXT.  -  DIA.

Pedro Barros retornou, enfurecido, á casa-grande.

Estela esperava-o sentada no jardim.


ESTELA  -  É verdade o que estão dizendo? Que foi encontrada a pedra maior que se viu até hoje, por estes lados?

PEDRO BARROS  -  (de má vontade)  Estão dizendo. Não sei se é verdade.
  
MARIA DE LARA  -  Nós vimos os irmãos Coragem gritarem pelas ruas!

ESTELA  -  Então... foram os Coragem que encontraram a pedra?

PEDRO BARROS  -  Ninguém tem certeza.  Eles podem dizer o que quiserem. Eu não vi pedra nenhuma. Pode ser uma mentira!

MARIA DE LARA  -   Por que iriam mentir?

PEDRO BARROS  -  Tá na cara, não tá, minha filha? Pra me desafiá!
  
ESTELA  -  (ar irônico)  Seria gozadíssimo que, justamente os Coragem, encontrassem essa pedra descomunal e que ficassem milionários da noite pro dia.
   
PEDRO BARROS  -  (carrancudo)  Isso é o que eles pensam... que vão ficá milionários da noite pro dia...

MARIA DE LARA  -  Mas o que tem isso, papai? Se é de direito... se encontraram o tal diamante... eles vão ficar ricos.
   
ESTELA  -  (abraçando a filha pela cintura)  Voce não compreende... se os Coragem se enchem de dinheiro, vão fazer frente ao seu pai. E ele pretende continuar sendo o dono de Coroado!

O Delegado Falcão chegava a cavalo.

DELEGADO FALCÃO  -  Viram o diamante nas mãos de João e Jerônimo?
   
PEDRO BARROS  -  Pode ser uma pedra falsa!

DELEGADO FALCÃO  -  Sei não... acho que é negócio pra valer ( movendo o palito entre os dentes)  Aquela loucura deles... aquela alegria... não era normal.

Uma idéia perpassou pelo cérebro doentio do coronel.

PEDRO BARROS  -  Onde dizem que João achou?

DELEGADO FALCÃO  -  Na gruna do Matão...
  
PEDRO BARROS  -  (coçou a cabeça, desconsolado)  Não é nas minhas terra... é nas terra deles. Preciso ver se as terra estão registrada no nome dele. Pode sê que não esteja... aí a coisa muda de figura. Não sendo dono, eles não tem direito ao que encontram...

JUCA CIPÓ  -  Muito bem pensado, meu patrão...

PEDRO BARROS  -  Tenho que fazê alguma coisa... diabo! Ele estava sozinho?

JUCA CIPÓ  -  Braz Canoeiro tava com ele...
  
PEDRO BARROS  -  (ordenou, taxativo)  Peguem o negro. Tragam ele aqui!

JUCA CIPÓ  -  (correndo para a estrebaria)  É pra já!

FIM DO CAPÍTULO 26 
João encontra o maior diamante do mundo!

E NO PRÓXIMO CAPÍTULO...

 * NO RIO DE JANEIRO, DUDA RECEBE TELEGRAMA DE JOÃO DIZENDO QUE ESTÃO RICOS!

 * A NOTÍCIA DE QUE JOÃO CORAGEM ACHOU O MAIOR DIAMANTE DO MUNDO ESPALHOU-SE E A IMPRENSA CHEGOU AO RANCHO CORAGEM PARA ENTREVISTAR A FAMÍLIA DO NOVO BILIONÁRIO DE COROADO.



NÃO PERCA O CAPÍTULO 27 DE

IRMÃOS CORAGEM - CAPÍTULO 25


Roteirizado por Toni Figueira
do original de Janete Clair 
CAPÍTULO 25

PARTICIPAM DESTE CAPÍTULO:

JERÔNIMO
JOÃO
SINHANA
PEDRO BARROS
MARIA DE LARA
OTO
RODRIGO
DR. MACIEL


CENA 1  -  CASA DO RANCHO CORAGEM  -  SALA  -  INT.  -  DIA.

JERÔNIMO  -  (irônico e insatisfeito, olhando ora para a mãe, ora para João Coragem)  Tá na cara! Ela agora tá do lado do pai. Garanto que ocê tá do lado dele também! Vai... vai atrás dela! Vai pedir a benção pro Pedro Barros!  (circundou a grande mesa de madeira e avizinhou-se do irmão)   Aquela mulhé te virô a cabeça. Te afrouxô, João! Te acovardô! Tá vendo? O que eles queria era isso! Foi tudo preparado. Ela deu bola pro meu irmão... pra ele ficá contra mim!

JOÃO  -  Num é nada disso!  (e voltando-se para Sinhana)  Mãe, manda esse tonto calá a boca!

A velha interpôs-se afastando Jerônimo das proximidades de João.


SINHANA  -  Deus perdoe ocês... Deus perdoe! Tão ficano doido... sem respeito de irmão. Isso não se faz.  (apertou, com força, o pulso do filho)  É a mania de grandeza que tá te dominano, Jerome. Isso não agrada a Deus.

CENA 2  -  FAZENDA DE PEDRO BARROS  -  CASA-GRANDE  -  EXT.  -  DIA.

Pedro Barros entreabriu o colete e enfrentou o garimpeiro.


PEDRO BARROS  -  Veio aqui... pra vê minha filha?

João vestia um traje simples, calça de brim, camisa de gola larga e botinas amareladas, de bico muito largo.

JOÃO  -  Podia dizê que vim... não tava mentino... também podia sê um motivo... mas não o único.

Maria de Lara aproximava-se, a passos lentos e calculados, quase deslizando por sobre a grama do jardim. O pai avistou-a.

PEDRO BARROS  -  Vai pra dentro, Lara. Não te chamei aqui.

A moça parou por instantes, permanecendo atenta ao diálogo. João voltou-se e dirigiu-lhe a palavra.

JOÃO  -  Tou veno que a dona tá quase boa, com a graça de Deus.

Era o fio da meada. O filão que Pedro Barros esperava para dinamitar a conversa.

PEDRO BARROS  -  Não foi você que mandô atirá nela?
  
MARIA DE LARA  -  (gritou, histérica)  Papai!
   
JOÃO  -  O senhô tá dizeno isso da boca pra fora. Sabe muito bem que eu não fiz uma coisa desta!
   
PEDRO BARROS  -  (cada vez mais irritado)  Eu não sei de nada. Alguém tentou matá minha filha e eu não tenho outro inimigo que não seja você e toda sua raça!

Lara investiu contra o pai, sentindo-se envergonhada diante da inverdade e das acusações mentirosas assacadas contra o jovem garimpeiro.

MARIA DE LARA  -  Papai... o seu João tá dizendo que seria incapaz...
   
PEDRO BARROS  -  (corta)  Voce não se mêta! Não te chamei aqui. Vai pra dentro!

Antes que a moça se decidisse pelo acato ás ordens do pai, João entregou-lhe uma pequenina pedra faiscante.

JOÃO  -  Pra senhora. De presente.

PEDRO BARROS  -  (dando um tapa na mão da moça)  Ela não precisa disso...

O diamante caiu no chão, a alguns metros dali. Lara apanhou-o e saiu correndo para o interior da casa.
JOÃO  -  (encarou o velho milionário)  Minha visita... era só pra dizê pro senhô... que o que tá fazeno com os garimpeiro não vai lhe ajudá em nada.

PEDRO BARROS  -  Sei o que tou fazendo!

JOÃO  -  Aumentou o preço da compra do diamante e tá forneceno mantimento de graça. Será que acha que é suficiente pra dá um cargo honesto pra um assassino?

O velho enfureceu-se e, com o rosto avermelhado, atirou um dedo escuro de nicotina diante da cara do rapaz.

PEDRO BARROS  -  Cuidado com o que diz, João! Juca é um puro!

O moço sorriu da definição do coronel: “Um puro”!

JOÃO  -  Vim lhe dizê... que aquele malfeitô, o seu jagunço... não vai conseguir o que qué.

PEDRO BARROS  -  É um desafio, João?

JOÃO  -  É. É um desafio. Dou a minha palavra que não vai!

As bochechas de Pedro Barros inflamaram-se com a ira que o consumia. Controlou-se, antes de retrucar á ameaça do inimigo.

PEDRO BARROS  -  Eu aceito. A gente vai vê!

João virou as costas, partindo a passos rápidos.


PEDRO BARROS  -  (gritou para o jagunço vigia)  Olha aqui, Oto... se voce deixá este sujeito passá desse portão novamente... está despedido.

CORTA PARA:

CENA 3  -  RANCHO CORAGEM  -  SALA  -  INT. - DIA.

Jerônimo e Rodrigo estavam atentos ás reações de Sinhana. O promotor perguntava-lhe sobre a vida de Maciel.


RODRIGO  -  Basta que responda como foi que Maciel matou a mulher.

SINHANA  -  Eu não disse que ele matou.

RODRIGO  -  Eu não estou querendo prejudicar o médico. Não é ele que eu pretendo pôr na cadeia. É outro... muito mais poderoso.
  
SINHANA  -  O que eu sei não dá pra pô ninguém na cadeia.
   
JERÔNIMO  -  (estimulou-a)  Então diz, mãe... o que sabe?

A velha ensimesmou-se, acreditando na conveniência ou não de revelar o pouco que conhecia da história do médico. Um pouco que se transformaria em muito, uma vez levado ao conhecimento da Justiça.

JERÔNIMO  -  (insistia, humilde)  Diz, mãe! Diz!

Rodrigo assistia atento á cena.


CENA 4  -  FAZENDA DE PEDRO BARROS  -  CASA-GRANDE  -  SALA  -  INT.  -  DIA.

Maciel descia as escadas. Barros foi ao seu encontro. Como sempre, o médico cheirava fortemente a álcool.

PEDRO BARROS  -  Que foi que houve com ela, desta vez?

DR. MACIEL  -  ... o ferimento no ombro, que se abriu de novo.

PEDRO BARROS  -  (apreensivo)  É grave?

DR. MACIEL  -  Não. Do ferimento ela vai ficar boa. Entretanto... o mal da sua filha... não é bem esse.

Maciel acabou de descer e, cabisbaixo, deu alguns passos pela sala.

PEDRO BARROS  -  (voltou a insistir)  O que é, doutô? Me diga logo!

DR. MACIEL  -  Já disse e repito... seu mal é mais da alma.

PEDRO BARROS  -  Por que diz isso?

DR. MACIEL  -  Porque eu sei... ela sofre por um problema interior. Eu não sou assim tão burro... que não perceba... quando um paciente tem problema dessa natureza!

Segurou a garrafa e desarrolhou-a com os dentes. Encheu um cálice e bebeu. Com uma careta depositou a taça sobre o balcão do bar.

DR. MACIEL   -  Meu coronel... prepare-se para um susto!  (Barros empertigou-se, esperando pelo pior)  Ela... abriu aquele ferimento... com suas próprias mãos!

A notícia teve o mesmo efeito que uma notícia de morte. Pedro Barros estremeceu. Procurou o refúgio no sofá. As pernas tremiam-lhe assustadoramente. Maciel, temendo pela saúde do amigo, deu-lhe a beber uma dose forte de aguardente. Aos poucos a cor retornou á face esmaecida do velho chefe. Barros resistira.

CAPÍTULO 25 
Potira (Lucia Alves), Jerônimo (Claudio Cavalcanti) e Diana (Gloria Menezes)
E NO PRÓXIMO CAPÍTULO...

*  O PROMOTOR RODRIGO DIZ A POTIRA QUE VAI PEDI-LA EM CASAMENTO.

* PEDRO BARROS FICA TRANSTORNADO QUANDO O DR. MACIEL REVELA QUE LARA
ABRIU SEU FERIMENTO COM AS PRÓPRIAS MÃOS!


NÃO PERCA O CAPÍTULO 26 DE

IRMÃOS CORAGEM - CAPÍTULO 24


Roteirizado por Toni Figueira
do original de Janete Clair 
CAPÍTULO 24 

PARTICIPAM DESTE CAPÍTULO:
DELEGADO FALCÃO
PEDRO BARROS
DALVA
JUCA CIPÓ
DR. MACIEL
ESTELA
LOURENÇO
MARIA DE LARA

CENA 1  -  FAZENDA DE PEDRO BARROS  -  CASA - GRANDE  -  SALA  -  INT.  -  NOITE.

Visivelmente nervoso, Diogo Falcão entrou na casa-grande levando Lara ao colo.

PEDRO BARROS  -  (berrou para os criados)  Mande chamar o doutor! Dalva! Estela!

Dalva surgiu no tôpo da escada, olhos esbugalhados ante a cena – Lara sendo colocada, desmaiada e suja de sangue, sobre a poltrona larga da sala principal.

PEDRO BARROS  -   Vem cá, Dalva! Faz alguma coisa!

A tia empalideceu ao ver de perto as condições da sobrinha.

DALVA  -  Meu Deus, que foi isso, Pedro?

PEDRO BARROS  -  Aqueles malditos! Atiraro pra me acertá!  Pegou na minha filha...

DALVA  -  (mal se sustinha de pé)  Atiraram nela? Está morta?

DELEGADO FALCÃO  -  Não, morta não está.

A senhora levantou a blusa manchada e observou o ferimento. O sangue ainda corria muito lentamente.

DALVA  -  Deus do céu, como pode ter acontecido isto?

PEDRO BARROS  -  O tiro foi pra mim, já disse!   Pra mim!
 
JUCA CIPÓ  -  (indiscreto)  Eu disse que esse negoço num ia dá certo, num disse? Avisei, num avisei?

PEDRO BARROS  -  (ordenou, enérgico)  Cala a boca!  Você não sabe o que tá dizeno...

Mas Dalva já havia percebido tudo...

DALVA  -  O que não ia dar certo?  O que vocês tramaram?

JUCA CIPÓ  -  É o tiro que eu não quis dá no meu patrão.

DALVA  -  (com severidade)  Como? Expliquem-se!

Diogo Falcão procurou desviar a conversa. Sabia da fragilidade do jagunço.


DELEGADO FALCÃO  -  Não... não é nada. Não acha melhor a gente levar ela lá pro quarto, enquanto o doutor não vem?

PEDRO BARROS  -  É, melhor... Vai, leva ela, Falcão.

O delegado tornou a levantar a moça desfalecida, passando um braço por sob as costas e outro á altura das juntas do joelho.

Barros repreendeu o jagunço, logo após o grupo ter deixado a sala.


PEDRO BARROS  -  Veja lá o que diz, seu idiota!

JUCA CIPÓ  -  Será que foi... o Lourenço?

PEDRO BARROS  -  Claro que foi! Aquele... cachorro! Aquele desgraçado! Estava tudo acertado... pro tiro não pegá em ninguém. E foi pegá logo em quem... na minha filha! Eu mato aquele miserável!

O Doutor Maciel acabava de entrar, trôpego, claramente “tocado” pela cachaça.

DR. MACIEL  -  Eu já estava dormindo. Que foi isso? Que aconteceu com a senhorita Lara?
  
PEDRO BARROS  -  Um tiro... acertaram nela. Salva ela, doutor... e o senhor não se arrepende.

CENA 2  -  FAZENDA DE PEDRO BARROS  -  CASA-GRANDE  -  SALA  -  INT.  - NOITE.

Estela olhava Lourenço, que parecia inquieto.


ESTELA  -  Você quer me dizer alguma coisa?

LOURENÇO  -  Quero! Quero!

ESTELA  -  Diga!

LOURENÇO  -  Acho que fiz besteira!

ESTELA  -  Você esteve lá... no local combinado... etc. etc.?

LOURENÇO  -  Estive... estive lá. Subi numa árvore, bem distante... e esperei... esperei que o Coronel Barros chegasse.

ESTELA  -  E ele chegou?

LOURENÇO  -  Chegou... direitinho como esperava... como a gente tinha combinado. Primeiro... falou o João, depois o Jerônimo... seu promotor disse umas palavras... depois Lara.

Estela assombrou-se com a revelação.

ESTELA  -  Lara? Minha filha se meteu entre essa gente?

LOURENÇO  -  Pois é... também pra mim foi uma surpresa. Mas aquele era o momento certo pra forjá o atentado...

A mulher fitava aborrecida o empregado do marido.

ESTELA  -  Não diga mais nada. Já sei tudo o que quer me dizer. Você atirou... e errou o tiro, como estava combinado. Só para fazer o bonzinho do meu marido ficar de vítima. Ah, meu Deus, que farsa! E você se prestou a ela. Ao menos... se tivesse acertado!
  
LOURENÇO  -  (exaltou-se)  Mas... eu acertei!
 
ESTELA  -    (zombeteira)  Não diga!

LOURENÇO  -  E não foi nele!

ESTELA  -  Quem foi? Se acertou no Juca, eu lhe dou os parabéns...

O capataz procurou forças para revelar toda a verdade.

LOURENÇO  -  Foi nela... na sua filha... em Lara!
 
ESTELA  -  (estremeceu)  Quê?

LOURENÇO  -  Ocê ouviu...


Com os punhos cerrados, a mulher bateu no peito e no rosto do amante, num desespero incontrolável.

ESTELA  -  Bandido! Bandido! Por que fez isso! Por quê? Por quê?


Lourenço se desculpava, enquanto retinha o braço da amante entre suas mãos rijas e poderosas.

LOURENÇO  -  Não foi por querer, Estela! Não foi por querer! Eu não queria acertá em ninguém. Era só o susto!

CORTA PARA:

CENA 3  -  FAZENDA DE PEDRO BARROS  -  CASA-GRANDE  -  ESCRITÓRIO  -  INT.  -  DIA

Pedro Barros esbofeteava violentamente o capataz. Juca Cipó e um dos capangas agüentavam Lourenço, agarrando-o por trás e o coronel aplicava-lhe o corretivo...

PEDRO BARROS  -  Isto é pela falta de pontaria! (resfolegando, ordenou)  Agora, amarrem ele e lemvem pro galpão!   Vai ficá lá até eu sabê dos resultados do exame do Doutô Maciel. Se ela morrê... você também será um homem morto...

CENA 4  -  FAZENDA DE PEDRO BARROS  -  QUARTO DE LARA  -  INT.  -  DIA.

Maciel acabara de fazer o curativo na ferida. Estela parou, a poucos passos da cama.


ESTELA  -  É grave?

DR. MACIEL  -  Não... felizmente, não. O tiro pegou de raspão.  Foi uma hemorragia sem conseqüência. Apenas um desmaio, muito natural.
   
ESTELA  -  (aflita, meio desconfiada)    Tem certeza... de que a bala não se alojou aí?
   
DR. MACIEL  -   Invocando a cunhada)  Dona Dalva sabe que não.
   
DALVA  -  Que pergunta, Estela!  Então o doutor ia se enganar?

Lara gemia fracamente e Estela sentou-se ao seu lado, na beira da cama.

ESTELA  -  Minha filhinha, minha queridinha! O que está sentindo?

Lara recobrou os sentidos, ainda zonza. O quarto parecia-lhe uma montanha russa. Tudo a girar... a girar...

MARIA DE LARA  -  O que foi... que me aconteceu?

ESTELA  -  Atiraram em você, por engano. O tiro era para seu pai, minha querida!

Maciel pigarreou, significativamente.


DALVA  -  (com azedume)  Francamente, eu não estou entendendo esta história. Então vocês sabiam que iam tentar matar o Pedro?

ESTELA  -  Pois não sabíamos? Era um atentado forjado, para jogar a culpa sobre os nossos adversários  (esclareceu, ante os olhares pasmados dos presentes).

MARIA DE LARA  -  (pôs a mão sobre a boca, horrorizada)  Não é possível!

DALVA  -  Isto é um disparate, Estela!

ESTELA  -  Disparate, é? Pergunte ao Pedro! Foi ele quem arranjou esta embrulhada...

Lara balançou a cabeça, desalentada, como se falasse consigo mesma.

MARIA DE LARA  -  Papai havia prometido. Fez juramento de terminar... com essa espécie de coisas. Por que faltou com a palavra?  (fez menção de levantar-se)

DR. MACIEL  -  Não faça isso... não  levante ainda, ou corre perigo de nova hemorragia.

MARIA DE LARA  -  (resignada, dirigiu-se á mãe)   Quero falar com papai. Pode chamá-lo?

Maciel deixava o quarto. Barros entrava. Encontraram-se na porta.

PEDRO BARROS  -  E então?

DR. MACIEL  -  Tudo bem, meu amigo, tudo bem. Desta ela não se vai. Mas, não é bom facilitar com novos atentados. Vou passar uma receita lá embaixo.

Maciel desceu as escadas em direção á sala de visitas.

Pedro Barros aproximou-se da cama da filha.


PEDRO BARROS  -  Lara... como tá passando?

MARIA DE LARA  -  Do ferimento estou melhor, papai. Mas, desolada com o que o senhor tramou. (depois de uma pausa, prosseguiu)   Falhou com a sua palavra. Disse que ia terminar com atentados, mentiras, violências... mas o que aconteceu comigo foi um atentado forjado...

PEDRO BARROS  -  (voltou-se contra a esposa)   Será possível, Estela? Você já me pôs contra nossa filha!

A mulher enfrentou a carranca do marido.

ESTELA  -  Disse a verdade! Você pode me desmentir?

MARIA DE LARA  -  (angustiada, com as mãos unidas )   Por quê, papai?

O coronel pareceu aceitar as recriminações. Baixou os olhos, quase que se penitenciando do erro que cometera.

PEDRO BARROS  -  Deus me castigou, minha filha. E foi um castigo duro! Tudo, porque faltei com a promessa que fiz a você.
  
MARIA DE LARA  -  (sentida, mas não decididamente contra o pai)  Enquanto não provar a si próprio que pode mudar, Deus não vai ajudá-lo.  (pausa)  Por que me caluniaram, pai?

Barros modificou a expressão do rosto. De tranqüilo para angustiado. A máscara do coronel denotavam as múltiplas emoções que lhe iam n’alma. Percorreu o quarto com passadas lentas, o toc-toc do sapatão quebrando o breve silencio reinante no ambiente.

PEDRO BARROS  -  (com decisão)  Se aproveitaram de uma sujeita que anda por aí fazendo besteira e que se parece com você. Já mandei caçar essa tipa. Mando buscá ela no inferno! Vou mostrá a esses patifes que há muita diferença entre você e essa sujeitinha.
  
MARIA DE LARA  -  (aprovou com um sorriso)    Isso... tente encontrar essa mulher... faça tudo o que lhe for possível, eu... eu preciso vê-la. Creio que ela é, realmente, a causa de tudo que tem me acontecido.


FIM DO CAPÍTULO   24 
Domingas (Ana Ariel), Braz (Milton Gonçalves), Padre Bento (Macedo Netto) e Ritinha (Regina Duarte)
    
E NO PRÓXIMO CAPÍTULO...

* JOÃO VAI Á FAZENDO DE PEDRO BARROS E O DESAFIA, DEIXANDO-O FORA DE SI.
* O PROMOTOR RODRIGO, DESCONFIADO, PEDE A SINHANA QUE REVELE TUDO O QUE SABE SOBRE A MORTE DA ESPÔSA DO DR. MACIEL.

* RODRIGO AVISA A POTIRA QUE VAI PEDI-LA EM CASAMENTO.

* PEDRO BARROS FICA TRANSTORNADO QUANDO O DR. MACIEL REVELA QUE LARA ABRIU SEU FERIMENTO COM AS PRÓPRIAS MÃOS!


NÃO PERCA O CAPÍTULO 25 DE