Roteirizado por Toni Figueira
do original de Janete Clair
CAPÍTULO 26
PARTICIPAM DESTE CAPÍTULO:
SINHANA
RODRIGO
JERÔNIMO
POTIRA
JOÃO
BRAZ CANOEIRO
PEDRO BARROS
ESTELA
MARIA DE LARA
DELEGADO FALCÃO
JUCA CIPÓ
CENA 1 - RANCHO CORAGEM - SALA - INT. - DIA.
SINHANA - Eu era empregada na casa dele. (recordava ela, e Rodrigo era todo atenção) Queria muito bem á finada Dona Alzira, que Deus a guarde... (fez o “pelo sinal” com gestos largos e demorados) Seu doutô era muito ciumento e a menina Ritinha tinha nascido, de pouco. Era assim... pequenininha, tinha menos de um ano. Ele era brigão. Num queria que a finada se vestisse bem, se pintasse, nada. E ela era uma moça muito bonita, mas fraquinha. Um dia ficô doente. Pra falá com justiça, ele levô ela pra tudo quanto foi canto, pra se tratá. Certa vez, quando ele vortô de um tratamento que foi fazê na capital de Belo Horizonte... ele veio meio doido. Diferente. Bruto. Revortado com Deus e o mundo. Ela me dizia: “Sinhana, eu num sei o que deu no meu marido. Tá com raiva do mundo. Nem olha minha cara”. Despois ela caiu de cama, de vez. Ficô mal. O gênio dele piorô. Ficou briguento e mau. (pensou um pouco antes de fazer a revelação final; Rodrigo nem piscava, anotando as partes principais da conversa) Eu num posso dizê que foi ele que matô... mas tava muito diferente. Ela sofria... sofria, tadinha, naquela cama, se desmilinguino. Um dia ele se embriagô. Bebeu muito. Deu uma injeção nela... que foi a conta. Ela só virô os olhos, aflita, pro meu lado... e morreu!
O suor escorria pelo corpo da velha. Rodrigo abraçou-a, enternecido. A velha limpou algumas lágrimas que, teimosamente, rolaram de seus olhos na evocação de um passado triste.
SINHANA - (continuou) Fiquei cismada, fiquei. Mas... nunca tive certeza e, também, nunca mais olhei prêle. Só tomei querência da menina... que agora é minha nora. Ele ficô com ódio de mim, até hoje...
Rodrigo soprou-lhe a testa, abundantemente molhada.
RODRIGO - Fique tranqüila. O que disse nada prova contra o Dr. Maciel. É apenas uma cisma da senhora... que pode ser injustificada. (deu-lhe um tapinha no braço roliço) Eu lhe garanto que não vou prejudicar o médico. (voltou-se para Jerônimo, quieto, imperturbável, a um canto da sala) Eu vou indo, amigo.
SINHANA - (reteve-o pelo braço) Só uma pergunta, seu doutô.
RODRIGO - Sim.
SINHANA - Ando, também, cismada com o senhô. Sou velha matreira, ladina. Eu sinto, seu doutô, que não é por simples... como é que o senhô disse pro meu João? Ah... vontade de ajudá o próximo que o senhô, moço bonito e prendado, se meteu nesta terra estranha e anda fazeno tudo isso... pra derrubá Pedro Barros.
RODRIGO - Então, um homem não pode lutar por aquilo que julga certo?
SINHANA - (com franqueza, estudando as reações do moço) Os home não são tão puro, seu doutô. Pelo menos o senhô não é .
RODRIGO - Talvez a senhora tenha razão. Eu não sou tão puro de sentimentos.
JERÔNIMO - Há uma outra razão?
RODRIGO - (movia as mãos nervosamente, balançou a cabeça em sinal de contrariedade) Desculpem, mas não tenho resposta. Pelo menos por enquanto.
Deixou a sala, visivelmente atormentado, com expressão de angústia.
CORTA PARA:
CENA 2 - RANCHO CORAGEM - EXT. - DIA.
Lá fora, Potira aguardava o promotor, com dois vestidos de corte moderno, seguros pelas pontas dos dedos. Fagueira, aproximou-se do rapaz.
POTIRA - Seu doutô, brigada, viu?
RODRIGO - (ainda sério) De nada, Potira. É pra você ir se acostumando.
POTIRA - Acostumando!
RODRIGO - Vista aquele que mais gostar no domingo. Quero que você fique bem bonita...
POTIRA - Por quê?
RODRIGO - Porque eu não quero pedir a mão de uma moça desarrumada...
CORTA PARA:
CENA 3 - RANCHO CORAGEM - QUARTO - INT. - DIA.
Na semi-escuridão do quarto a silhueta do rapaz contrastava com a brancura da parede caiada. Jerônimo trocava de camisa, peito nu. Do pescoço o grande cordão de prata descia, e nele se destacava, balouçante, o medalhão com a efígie de Cristo.
Os braços da mulher envolveram-no de repente, e seus lábios tocaram, de leve, a pele sensível do pescoço.
POTIRA - Ele disse... que vai pedi a minha mão em casamento! Eu não gosto dele, Jerome. Gosto de ocê. Eu quero ocê!
Num átimo, Jerônimo lembrou-se do amigo e de suas pretensões. Do amor que o levava a abandonar seus deveres, se necessário, para compartilhar da vida humilde dos Coragem. Potira era tudo, significava vida e futuro para o promotor Rodrigo. Ao mesmo tempo, sentiu a enormidade da paixão, meramente carnal, que o atirava contra a mestiça. Atordoado, desvencilhou-se das mãos da moça e deixou o quarto a passos rápidos. Desesperada, a índia jogou-se ao chão, martelando com os punhos o barro duro e amarelado.
CORTA PARA:
CENA 4 - GARIMPO DOS CORAGEM - EXT. - DIA.
Há horas João Coragem trabalhava desesperadamente, isolado do mundo, dedos perdidos no lamaçal, mãos feridas pelo contato duro e pontiagudo das rochas. Apenas o barulho ritmado da picareta dava-lhe conta da presença próxima de Braz Canoeiro. O garimpo ensolarado contrastava com a escuridão da gruna. De repente, o raio de sol feriu um pontinho na parede arenosa da pequena gruna. João cavou mais fundo, com o martelete e a pequena pá de trabalho.
JOÃO - (um grito rouco escapou-lhe do peito, incontrolável) Braaaaaaz!
Com a pedra nas mãos, o rapaz surgiu á luz do sol.
JOÃO - Braaaaaz!
Jogou-se no chão, meio corpo na água, meio na terra.
JOÃO - Achei! Achei! A minha pedra! Achei!
Braz Canoeiro, com os olhos arregalados, fitava o carbono raro.
BRAZ CANOEIRO - João! João! Isto num existe! Nós dois tamo delirano! Isto num pode existi, João!
JOÃO - Sente ela... sente! Não é ilusão! É verdadeira, Braz! Minha pedra é verdadeira!
Como um louco, o garimpeiro saiu correndo pela estrada barrenta.
JOÃO - ( gritando para a natureza) Achei a pedra maior do mundo! Jerônimo! Pai! A gente tá rico! Cê vai sê presidente, mano... Duda, num precisa mais gastá teus pé, nos campo! Mãe, vou lhe vesti como uma rainha! Índia, cê vai tê o que quisé! Lara! Diana! Seja lá quem fô, ocê vai sê minha! Tá me ouvindo, Pedro Barros? Vou comprá tua filha! Vou comprá...
A voz se perdia na vstidão dos campos.
CORTA PARA:
CENA 5 - RANCHO CORAGEM - EXT. - DIA.
Esbaforido, quase arrastando-se de cansaço, o rapaz alcançou a porteira do rancho. Os gritos saíam-lhe engasgados da garganta. A família, assustada, via o rapaz entre risos e lágrimas aproximar-se com as mãos erguidas, o rosto sujo de barro e lama, roupa encharcada da água do pequeno rio.
JOÃO - Pai! Mãe! Jerônimo!
SINHANA - (espantada, limpando as mãos no avental) Que é isso?
JOÃO - (com a pedra nas mãos em concha, delirava) Gente, veja isso! Diamante como este nunca existiu!
Jerônimo arrancou-a, grosseiramente.
JERÔNIMO - Nossa! Não é delírio, a pedra é verdadeira!
JOÃO - Tamo rico! Tamo milionário! Vou consertá o mundo!
Alucinado com a raridade da gema, Jerônimo saltou para o cavalo, esporeando-o brutalmente.
JERÔNIMO - Êiiiii! É a pedra mais bonita do mundo!
CORTA PARA:
CENA 6 - COROADO - RUAS DA CIDADE - EXT. - DIA.
O tropel dos cavalos chamou a atenção da cidadezinha. De longe o barulho de cascos e gritos despertou a sonolência da gente tranqüila de Coroado. Pedro Barros estancou diante da igrejinha, de onde Maria de Lara e Dalva saíam após a cerimônia religiosa.
JERÔNIMO - Achamos! Achamos! A pedra do mundo! Tamo rico! Tá ganha a eleição!
Relinchando, os cavalos suavizaram a marcha. Jerônimo mostrava aos curiosos a pedra da bamburra. Cadenciou o galope e parou em frente ao templo de Padre Bento.
JERÔNIMO - Tá ouvino, Pedro Barros! Seu dinheiro, agora, não vai servi de impedimento. Nós tamo rico! Tamo rico! (com a pedra presa entre o polegar e o indicador, suspensa sobre a cabeça, mostrava-a ao coronel) Achamos a pedra maior do mundo!
JOÃO - A pedra maior do mundo!
CENA 7 - FAZENDA DE PEDRO BARROS - CASA-GRANDE - EXT. - DIA.
Pedro Barros retornou, enfurecido, á casa-grande.
Estela esperava-o sentada no jardim.
ESTELA - É verdade o que estão dizendo? Que foi encontrada a pedra maior que se viu até hoje, por estes lados?
PEDRO BARROS - (de má vontade) Estão dizendo. Não sei se é verdade.
MARIA DE LARA - Nós vimos os irmãos Coragem gritarem pelas ruas!
ESTELA - Então... foram os Coragem que encontraram a pedra?
PEDRO BARROS - Ninguém tem certeza. Eles podem dizer o que quiserem. Eu não vi pedra nenhuma. Pode ser uma mentira!
MARIA DE LARA - Por que iriam mentir?
PEDRO BARROS - Tá na cara, não tá, minha filha? Pra me desafiá!
ESTELA - (ar irônico) Seria gozadíssimo que, justamente os Coragem, encontrassem essa pedra descomunal e que ficassem milionários da noite pro dia.
PEDRO BARROS - (carrancudo) Isso é o que eles pensam... que vão ficá milionários da noite pro dia...
MARIA DE LARA - Mas o que tem isso, papai? Se é de direito... se encontraram o tal diamante... eles vão ficar ricos.
ESTELA - (abraçando a filha pela cintura) Voce não compreende... se os Coragem se enchem de dinheiro, vão fazer frente ao seu pai. E ele pretende continuar sendo o dono de Coroado!
O Delegado Falcão chegava a cavalo.
DELEGADO FALCÃO - Viram o diamante nas mãos de João e Jerônimo?
PEDRO BARROS - Pode ser uma pedra falsa!
DELEGADO FALCÃO - Sei não... acho que é negócio pra valer ( movendo o palito entre os dentes) Aquela loucura deles... aquela alegria... não era normal.
Uma idéia perpassou pelo cérebro doentio do coronel.
PEDRO BARROS - Onde dizem que João achou?
DELEGADO FALCÃO - Na gruna do Matão...
PEDRO BARROS - (coçou a cabeça, desconsolado) Não é nas minhas terra... é nas terra deles. Preciso ver se as terra estão registrada no nome dele. Pode sê que não esteja... aí a coisa muda de figura. Não sendo dono, eles não tem direito ao que encontram...
JUCA CIPÓ - Muito bem pensado, meu patrão...
PEDRO BARROS - Tenho que fazê alguma coisa... diabo! Ele estava sozinho?
JUCA CIPÓ - Braz Canoeiro tava com ele...
PEDRO BARROS - (ordenou, taxativo) Peguem o negro. Tragam ele aqui!
JUCA CIPÓ - (correndo para a estrebaria) É pra já!
SINHANA - Eu era empregada na casa dele. (recordava ela, e Rodrigo era todo atenção) Queria muito bem á finada Dona Alzira, que Deus a guarde... (fez o “pelo sinal” com gestos largos e demorados) Seu doutô era muito ciumento e a menina Ritinha tinha nascido, de pouco. Era assim... pequenininha, tinha menos de um ano. Ele era brigão. Num queria que a finada se vestisse bem, se pintasse, nada. E ela era uma moça muito bonita, mas fraquinha. Um dia ficô doente. Pra falá com justiça, ele levô ela pra tudo quanto foi canto, pra se tratá. Certa vez, quando ele vortô de um tratamento que foi fazê na capital de Belo Horizonte... ele veio meio doido. Diferente. Bruto. Revortado com Deus e o mundo. Ela me dizia: “Sinhana, eu num sei o que deu no meu marido. Tá com raiva do mundo. Nem olha minha cara”. Despois ela caiu de cama, de vez. Ficô mal. O gênio dele piorô. Ficou briguento e mau. (pensou um pouco antes de fazer a revelação final; Rodrigo nem piscava, anotando as partes principais da conversa) Eu num posso dizê que foi ele que matô... mas tava muito diferente. Ela sofria... sofria, tadinha, naquela cama, se desmilinguino. Um dia ele se embriagô. Bebeu muito. Deu uma injeção nela... que foi a conta. Ela só virô os olhos, aflita, pro meu lado... e morreu!
O suor escorria pelo corpo da velha. Rodrigo abraçou-a, enternecido. A velha limpou algumas lágrimas que, teimosamente, rolaram de seus olhos na evocação de um passado triste.
SINHANA - (continuou) Fiquei cismada, fiquei. Mas... nunca tive certeza e, também, nunca mais olhei prêle. Só tomei querência da menina... que agora é minha nora. Ele ficô com ódio de mim, até hoje...
Rodrigo soprou-lhe a testa, abundantemente molhada.
RODRIGO - Fique tranqüila. O que disse nada prova contra o Dr. Maciel. É apenas uma cisma da senhora... que pode ser injustificada. (deu-lhe um tapinha no braço roliço) Eu lhe garanto que não vou prejudicar o médico. (voltou-se para Jerônimo, quieto, imperturbável, a um canto da sala) Eu vou indo, amigo.
SINHANA - (reteve-o pelo braço) Só uma pergunta, seu doutô.
RODRIGO - Sim.
SINHANA - Ando, também, cismada com o senhô. Sou velha matreira, ladina. Eu sinto, seu doutô, que não é por simples... como é que o senhô disse pro meu João? Ah... vontade de ajudá o próximo que o senhô, moço bonito e prendado, se meteu nesta terra estranha e anda fazeno tudo isso... pra derrubá Pedro Barros.
RODRIGO - Então, um homem não pode lutar por aquilo que julga certo?
SINHANA - (com franqueza, estudando as reações do moço) Os home não são tão puro, seu doutô. Pelo menos o senhô não é .
RODRIGO - Talvez a senhora tenha razão. Eu não sou tão puro de sentimentos.
JERÔNIMO - Há uma outra razão?
RODRIGO - (movia as mãos nervosamente, balançou a cabeça em sinal de contrariedade) Desculpem, mas não tenho resposta. Pelo menos por enquanto.
Deixou a sala, visivelmente atormentado, com expressão de angústia.
CORTA PARA:
CENA 2 - RANCHO CORAGEM - EXT. - DIA.
Lá fora, Potira aguardava o promotor, com dois vestidos de corte moderno, seguros pelas pontas dos dedos. Fagueira, aproximou-se do rapaz.
POTIRA - Seu doutô, brigada, viu?
RODRIGO - (ainda sério) De nada, Potira. É pra você ir se acostumando.
POTIRA - Acostumando!
RODRIGO - Vista aquele que mais gostar no domingo. Quero que você fique bem bonita...
POTIRA - Por quê?
RODRIGO - Porque eu não quero pedir a mão de uma moça desarrumada...
CORTA PARA:
CENA 3 - RANCHO CORAGEM - QUARTO - INT. - DIA.
Na semi-escuridão do quarto a silhueta do rapaz contrastava com a brancura da parede caiada. Jerônimo trocava de camisa, peito nu. Do pescoço o grande cordão de prata descia, e nele se destacava, balouçante, o medalhão com a efígie de Cristo.
Os braços da mulher envolveram-no de repente, e seus lábios tocaram, de leve, a pele sensível do pescoço.
POTIRA - Ele disse... que vai pedi a minha mão em casamento! Eu não gosto dele, Jerome. Gosto de ocê. Eu quero ocê!
Num átimo, Jerônimo lembrou-se do amigo e de suas pretensões. Do amor que o levava a abandonar seus deveres, se necessário, para compartilhar da vida humilde dos Coragem. Potira era tudo, significava vida e futuro para o promotor Rodrigo. Ao mesmo tempo, sentiu a enormidade da paixão, meramente carnal, que o atirava contra a mestiça. Atordoado, desvencilhou-se das mãos da moça e deixou o quarto a passos rápidos. Desesperada, a índia jogou-se ao chão, martelando com os punhos o barro duro e amarelado.
CORTA PARA:
CENA 4 - GARIMPO DOS CORAGEM - EXT. - DIA.
Há horas João Coragem trabalhava desesperadamente, isolado do mundo, dedos perdidos no lamaçal, mãos feridas pelo contato duro e pontiagudo das rochas. Apenas o barulho ritmado da picareta dava-lhe conta da presença próxima de Braz Canoeiro. O garimpo ensolarado contrastava com a escuridão da gruna. De repente, o raio de sol feriu um pontinho na parede arenosa da pequena gruna. João cavou mais fundo, com o martelete e a pequena pá de trabalho.
JOÃO - (um grito rouco escapou-lhe do peito, incontrolável) Braaaaaaz!
Com a pedra nas mãos, o rapaz surgiu á luz do sol.
JOÃO - Braaaaaz!
Jogou-se no chão, meio corpo na água, meio na terra.
JOÃO - Achei! Achei! A minha pedra! Achei!
Braz Canoeiro, com os olhos arregalados, fitava o carbono raro.
BRAZ CANOEIRO - João! João! Isto num existe! Nós dois tamo delirano! Isto num pode existi, João!
JOÃO - Sente ela... sente! Não é ilusão! É verdadeira, Braz! Minha pedra é verdadeira!
Como um louco, o garimpeiro saiu correndo pela estrada barrenta.
JOÃO - ( gritando para a natureza) Achei a pedra maior do mundo! Jerônimo! Pai! A gente tá rico! Cê vai sê presidente, mano... Duda, num precisa mais gastá teus pé, nos campo! Mãe, vou lhe vesti como uma rainha! Índia, cê vai tê o que quisé! Lara! Diana! Seja lá quem fô, ocê vai sê minha! Tá me ouvindo, Pedro Barros? Vou comprá tua filha! Vou comprá...
A voz se perdia na vstidão dos campos.
CORTA PARA:
CENA 5 - RANCHO CORAGEM - EXT. - DIA.
Esbaforido, quase arrastando-se de cansaço, o rapaz alcançou a porteira do rancho. Os gritos saíam-lhe engasgados da garganta. A família, assustada, via o rapaz entre risos e lágrimas aproximar-se com as mãos erguidas, o rosto sujo de barro e lama, roupa encharcada da água do pequeno rio.
JOÃO - Pai! Mãe! Jerônimo!
SINHANA - (espantada, limpando as mãos no avental) Que é isso?
JOÃO - (com a pedra nas mãos em concha, delirava) Gente, veja isso! Diamante como este nunca existiu!
Jerônimo arrancou-a, grosseiramente.
JERÔNIMO - Nossa! Não é delírio, a pedra é verdadeira!
JOÃO - Tamo rico! Tamo milionário! Vou consertá o mundo!
Alucinado com a raridade da gema, Jerônimo saltou para o cavalo, esporeando-o brutalmente.
JERÔNIMO - Êiiiii! É a pedra mais bonita do mundo!
CORTA PARA:
CENA 6 - COROADO - RUAS DA CIDADE - EXT. - DIA.
O tropel dos cavalos chamou a atenção da cidadezinha. De longe o barulho de cascos e gritos despertou a sonolência da gente tranqüila de Coroado. Pedro Barros estancou diante da igrejinha, de onde Maria de Lara e Dalva saíam após a cerimônia religiosa.
JERÔNIMO - Achamos! Achamos! A pedra do mundo! Tamo rico! Tá ganha a eleição!
Relinchando, os cavalos suavizaram a marcha. Jerônimo mostrava aos curiosos a pedra da bamburra. Cadenciou o galope e parou em frente ao templo de Padre Bento.
JERÔNIMO - Tá ouvino, Pedro Barros! Seu dinheiro, agora, não vai servi de impedimento. Nós tamo rico! Tamo rico! (com a pedra presa entre o polegar e o indicador, suspensa sobre a cabeça, mostrava-a ao coronel) Achamos a pedra maior do mundo!
JOÃO - A pedra maior do mundo!
CENA 7 - FAZENDA DE PEDRO BARROS - CASA-GRANDE - EXT. - DIA.
Pedro Barros retornou, enfurecido, á casa-grande.
Estela esperava-o sentada no jardim.
ESTELA - É verdade o que estão dizendo? Que foi encontrada a pedra maior que se viu até hoje, por estes lados?
PEDRO BARROS - (de má vontade) Estão dizendo. Não sei se é verdade.
MARIA DE LARA - Nós vimos os irmãos Coragem gritarem pelas ruas!
ESTELA - Então... foram os Coragem que encontraram a pedra?
PEDRO BARROS - Ninguém tem certeza. Eles podem dizer o que quiserem. Eu não vi pedra nenhuma. Pode ser uma mentira!
MARIA DE LARA - Por que iriam mentir?
PEDRO BARROS - Tá na cara, não tá, minha filha? Pra me desafiá!
ESTELA - (ar irônico) Seria gozadíssimo que, justamente os Coragem, encontrassem essa pedra descomunal e que ficassem milionários da noite pro dia.
PEDRO BARROS - (carrancudo) Isso é o que eles pensam... que vão ficá milionários da noite pro dia...
MARIA DE LARA - Mas o que tem isso, papai? Se é de direito... se encontraram o tal diamante... eles vão ficar ricos.
ESTELA - (abraçando a filha pela cintura) Voce não compreende... se os Coragem se enchem de dinheiro, vão fazer frente ao seu pai. E ele pretende continuar sendo o dono de Coroado!
O Delegado Falcão chegava a cavalo.
DELEGADO FALCÃO - Viram o diamante nas mãos de João e Jerônimo?
PEDRO BARROS - Pode ser uma pedra falsa!
DELEGADO FALCÃO - Sei não... acho que é negócio pra valer ( movendo o palito entre os dentes) Aquela loucura deles... aquela alegria... não era normal.
Uma idéia perpassou pelo cérebro doentio do coronel.
PEDRO BARROS - Onde dizem que João achou?
DELEGADO FALCÃO - Na gruna do Matão...
PEDRO BARROS - (coçou a cabeça, desconsolado) Não é nas minhas terra... é nas terra deles. Preciso ver se as terra estão registrada no nome dele. Pode sê que não esteja... aí a coisa muda de figura. Não sendo dono, eles não tem direito ao que encontram...
JUCA CIPÓ - Muito bem pensado, meu patrão...
PEDRO BARROS - Tenho que fazê alguma coisa... diabo! Ele estava sozinho?
JUCA CIPÓ - Braz Canoeiro tava com ele...
PEDRO BARROS - (ordenou, taxativo) Peguem o negro. Tragam ele aqui!
JUCA CIPÓ - (correndo para a estrebaria) É pra já!
FIM DO CAPÍTULO 26
João encontra o maior diamante do mundo! |
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