Roteirizado por Toni Figueira
do original de Janete Clair
CAPÍTULO 34
PARTICIPAM DESTE CAPÍTULO:
DUDA
RITINHA
NECO
FAUSTO PAIVA
PEDRO BARROS
DR. RAFAEL
ESTELA
DALVA
CENA 1 - SÃO PAULO - VISTA PANORÂMICA E GRANDE HOTEL - EXT. E INT. - NOITE
O jogo terminara. Duda se retirou apressado para o confortável apartamento do hotel. Vista do alto, São Paulo lembrava um gigantesco anúncio luminoso. As luzes da cidade enchiam de meios-tons os céus garoentos, onde o ruído dos aviões quebrava o silencio da noite. Deitado na cama de lençóis alvos e frios, Eduardo esticou o braço e colou o fone ao ouvido.
DUDA - Telefonista? Aqui é o Duda, do Flamengo. Pedi uma ligação para depois do jogo, se lembra? Ahan... pode completar.
O ruído da ligação interestadual se fez ouvir. Alguém falava do outro lado.
DUDA - Alô, Ritinha? Amor, sou eu!
Duda encolheu as pernas e abraçou o travesseiro. Ouvia a voz da esposa a centenas de quilômetros.
RITINHA - Puxa, bem, estava aflita pra você ligar! Gostei do seu jogo, hoje! Ouvi inteirinho!
EDUARDO - Não fale em futebol agora. Quero saber de você.
RITINHA - Bem... as coisas estão correndo normalmente... mas você não imagina o que aconteceu... Estou sendo intimada a deixar nosso apartamento!
Eduardo se sentou na cama, num movimento automático. A notícia o atordoara.
DUDA - Intimada... ora essa! Por quê?
RITINHA - Paula comprou ele, Eduardo! Comprou com o dinheiro que você deu a ela!
DUDA - Paula! Mas não é possível, Ritinha!
RITINHA - Agora, está me forçando a mudar. Eu disse que não saio até você chegar; ela disse que vou ser despejada. Que é que eu faço?
Levantou-se da cama, peito nu, a sunga branca contrastando com a pele queimada dos muitos sóis dos estádios.
DUDA - Voce... você me espera, ouviu? Não saia, não ligue pra ameaça... não dê confiança a coisa alguma. Não faça nada até eu voltar. Me entendeu? Olha, Rita, vamos fazer uma coisa... eu vou pegar um avião hoje mesmo e vou aí pra falar com você... (olhou o relógio de pulso perdido entre os pelos negros. Eram 11:30 da noite).
A voz meiga de Ritinha se insinuava do bocal do aparelho.
RITINHA - Vem mesmo, você pode?
DUDA - Se puder ou não, eu vou. Me espera, ta?
Neco ouvira o diálogo, sentado com as pernas em cima do sofá.
NECO - Que foi que houve?
Em poucas palavras, Duda pôs o companheiro a par dos acontecimentos.
NECO - Pense bem no que vai fazer... Amanhã a gente tem que estar em Porto Alegre.
DUDA - Vou ao Rio hoje e volto amanhã. Dane-se! Eu vou depois. Vocês me esperam lá. Avisa ao Fausto o que aconteceu. Quando ele estrilar, já estou longe. Assim, não vai me impedir de ver minha mulher...
Neco lembrou-lhe a dureza do técnico e a violência de que era capaz, quando contrariado em suas ordens.
NECO - Isto é indisciplina. Você vai ser multado.
DUDA - Multado, punido, que me importa?
Acabou de vestir a roupa e, com a maleta de viagem a tiracolo, abandonou o quarto em direção ao elevador. Apertou o botão de descida. A porta correu e a figura de Fausto Paiva surgiu, enchendo o quadrilátero de aço. Duda sentiu fugirem-lhe as pernas.
FAUSTO PAIVA - (vociferou, feroz) Ia sair, Duda?
CORTA PARA
CENA 2 - FAZENDA DE PEDRO BARROS - CASA-GRANDE - SALA - INT. - DIA
Depois dos acontecimentos da casa abandonada, o Dr. Rafael já não tinha dúvidas quanto ao diagnóstico do caso de Maria de Lara. Impressionava-o o problema da gravidez e a maneira de revelar á família o tipo de relações que a filha do coronel vinha mantendo com João Coragem, quando investida da personalidade demoníaca de Diana Lemos. Era visível a apreensão do médico diante da família reunida. Barros, cachimbando nervoso e com certa irritação, deu início á conversa.
PEDRO BARROS - É sobre minha filha?
DR. RAFAEL - Sim. Mas é preciso que todos estejam preparados. O problema envolve, também, o senhor João Coragem...
PEDRO BARROS - (tremeu imperceptívelmente) Que história é essa? Que é que minha filha tem a ver com esse homem?
DR. RAFAEL - Estou falando de Diana Lemos. É Diana que tem um caso muito sério com esse rapaz.
Pedro Barros se ajeitou no sofá, soltou uma baforada, visivelmente contrariado.
PEDRO BARROS - Mas Diana Lemos não é minha filha!
Estela e Dalva se entreolharam significativamente.
DR. RAFAEL - Apelo para sua compreensão, senhor Barros, e vou lhe falar em termos científicos, dentro das concepções médicas da psiquiatria: Diana e Lara são uma só pessoa...
As contrações faciais de Pedro Barros preocuparam o interlocutor. O sangue fugiu-lhe do rosto. Ficou lívido. Estela segurou-lhe a mão e tentou falar. O coronel, num gesto grosseiro, empurrou-a e fixou duramente os olhos do especialista.
PEDRO BARROS - O senhor diz uma bobagem destas e quer que eu compreenda?
ESTELA - Pedro, tenha calma e procure entender a realidade.
O médico fez uma breve pausa, enquanto abria uma caderneta de capa de couro negro. Fez algumas anotações a lápis, meditando nas palavras exatas que devia dirigir á família Barros.
DR. RAFAEL - (ergueu os olhos e falou, glacial) É, de fato, um caso difícil de entender. O que pude concluir, até agora, é que se trata de um caso raro, mas não inédito na história da medicina. Num certo ponto do passado, quando Lara era menina, talvez, sua personalidade se desdobrou em duas outras diferentes.
Barros cortou grosseira e deseducadamente as palavras do médico.
PEDRO BARROS - Que besteira! É o senhor quem tá precisando de tratamento pra cabeça!
DR. RAFAEL - (prosseguiu, sem se importar com a ignorãncia do coronel) Na realidade o que aconteceu com ela é que se transformou em duas mulheres diferentes, de temperamentos e caráter opostos. A moça que vive santamente nesta casa, religiosa e recatada, é uma destas mulheres. A outra, que, segundo me disseram, roubou a caixa da igreja e mantém um romance com o garimpeiro, que não tem freios na língua, briga, desafia, é agressiva, impulsiva... nessas ocasiões, é a que diz se chamar Diana Lemos e sempre tenta sair...
PEDRO BARROS - (perguntou, aéreo) Sair de onde?
DR. RAFAEL - Do corpo de sua filha.
PEDRO BARROS - (benzendo-se) Isso... isso é bruxaria!
DR. RAFAEL - O que, antes de mais nada, quero que compreendam, é que não se trata de fingimento dela, mas de um distúrbio mental que realmente existe. Ela não finge, nem tenta enganar... simplesmente não pode evitar o que acontece.
Estela conhecia a verdade, desde a última aventura de dois dias, quando Lara se transformara na presença dela.
ESTELA - (apreensiva) Isso... é loucura, doutor?
DR. RAFAEL - (tranquilizou-a) Não, não quer dizer que ela seja uma psicopata, compreendem?
PEDRO BARROS - Não compreendo e não aceito!
ESTELA - E o que queria nos dizer a respeito de João Coragem?
A esta indagação, o psiquiatra percebeu a transformação ambiente. Como se uma carga de eletricidade houvesse percorrido a sala de ponta a ponta. Olhou automáticamente para o rico garimpeiro. As feições de Barros se enrijeceram.
DR. RAFAEL - (disse abruptamente) Diana Lemos está de casamento marcado com ele no próximo dia 7. Padre Bento sabe disto.
O choque fora maior do que o médico supusera.
PEDRO BARROS - (esbravejou, alucinado) Isto é um disparate!
DR. RAFAEL - É a realidade. É um casamento necessário. As conseqüências de um romance desta natureza são sérias.
Fora de si, Pedro Barros partiu para agredir o psiquiatra. Estela e Dalva colocaram=se á sua frente, impedindo a consumação da violência. Rafael se mantinha impassível, frio.
PEDRO BARROS - (berrava a altos brados) Não aceito isso! Não aceito! Eu mato este sujeito! Eu mato ele! É tudo invenção!
FIM DO CAPÍTULO 34
Rodrigo (José Augusto Branco) e Jerônimo (Claudio Calvalcanti) |
E NO PRÓXIMO CAPÍTULO...
*** DR. RAFAEL REVELA A MARIA DE LARA QUE ESTÁ GRÁVIDA E QUE JOÃO CORAGEM ESTÁ DE CASAMENTO MARCADO COM DIANA!
*** DUDA E O TÉCNICO FAUSTO PAIVA DISCUTEM POR CONTA DA DECISÃO DO JOGADOR DE IR PARA O RIO VER A MULHER.
NÃO PERCA O CAPÍTULO 35 DE
Nenhum comentário:
Postar um comentário