quarta-feira, 22 de junho de 2011

IRMÃOS CORAGEM - CAPÍTULO 36


Roteirizado por Toni Figueira
do original de Janete Clair

CAPÍTULO 36

PARTICIPAM DESTE CAPÍTULO:

DUDA
RITINHA
JOÃO
PEDRO BARROS
JERÔNIMO
LOURENÇO
JUCA CIPÓ
BRAZ CANOEIRO
GARIMPEIROS
CAPANGAS DE PEDRO BARROS


CENA 1  -  RIO DE JANEIRO  -  APARTAMENTO DE DUDA  -  INT.  -   NOITE.

O som estridente da campainha violentou o silencio do apartamento. Ritinha levantou-se célere.


DUDA  -  Sou eu! Abre, bem!

Sem acender a luz, Ritinha correu á porta, cobrindo o busto com as mãos. Fazia calor no Rio.


RITINHA  -  Puxa! Você veio! Nem te esperava mais!

Duda abraçou a mulher, beijando-lhe ávido a boca e o pescoço.

DUDA  -  Ficava maluco se não te visse hoje, amor!

A moça aninhou-se nos braços do marido, o busto nu esmagado de encontro ao peito do esposo.

RITINHA  -  Parece um sonho que esteja aqui.

Duda afastou-a meio metro e admirou-lhe segundos o corpo despido. No assoalho as unhas brancas decoravam pés pequenos e mimosos que sustentavam pernas e coxas de carnes firmes e morenas. A discreta calota do ventre,  um pouco entumescida, anunciava a gravidez em início. Duda extasiava-se descobrindo belezas no corpo de Ritinha. Puxou-a para si, com o sangue ardendo...

DUDA  -  Não tá certo voce ficar aqui, assim...

CORTA PARA:

CENA 2  -  APARTAMENTO DE DUDA  -  BANHEIRO  -  INT.  -  NOITE.

Pulando sob as águas do chuveiro, Duda lamentava o tempo perdido, das viagens que o obrigavam a separar-se da mulher por tanto tempo. Friccionou o corpo cabeludo com a toalha de desenhos geométricos. Sentia o sangue ferver, apesar do banho frio e da brisa que penetrava pela portinhola aberta do banheiro. Enrolado na grossa toalha de banho, encaminhou-se para o quarto onde “ela” o estaria esperando.


CORTA PARA:

CENA 3  -  APARTAMENTO DE DUDA  -  QUARTO  -  INT.  -  NOITE.


DUDA  -  Olhe aqui  (deitando-se ao lado da mulher)  não deixe o apartamento, não tome conhecimento das ameaças de ninguém. A lei dá muito tempo pro inquilino. Me espera voltar dessa excursão.

Ritinha acenou que sim, olhando fundo nos olhos do marido.


DUDA  -  Preste bem atenção no que estou dizendo: não abra a porta pra ninguém.

RITINHA  -  Tá certo. Entendi tudo, mas agora fica quieto que eu tenho uma surpresa pra você.  (agarrou a mão do rapaz e colocou-a sobre a barriga e ordenou)  Fica quieto... daqui a pouco você vai ver uma coisa...

DUDA  -  O quê?

RITINHA  -  Ele pular.

DUDA  -  Já? Tá brincando!

Rita confirmou.

DUDA  -  Então... já está destinado. Vai ser jogador de futebol.

Sorriu satisfeito, pensando na cara de Fausto Paiva e nos companheiros da equipe abraçados, certamente, aos confortáveis travesseiros do hotel. Recordou-se do desentendimento havido na hora da partida.

DUDA  -  Desafiei o time todo... vou agüentar com as conseqüências desta viagem... só pra vir aqui... e sentir os pulinhos de meu filho! Amanhã vou contar pra turma! Vão se divertir ás pampas!

Chegou-se para junto da esposa e beijou-lhe o ombro. As luzes do quarto se apagaram, enquanto outras luzes clareavam-lhe a mente: amava Ritinha. Os corpos estreitaram-se ainda mais, paralelos, formando um imenso desenho negro na brancura imaculada do lençol. Os sonhos começavam com antecipação.

CORTA PARA:

CENA 4  -  FAZENDA DE PEDRO BARROS  -  CASA-GRANDE  -  SALA  -  INT.  -  DIA.

   
JOÃO  -  Me dissero que o sinhô queria falá comigo.

João Coragem protestara contra a presença no rancho dos capangas do coronel, mas aquiescera em comparecer á fazenda, para se entrevistar com Pedro Barros. O convite, de certa forma, o surpreendeu, já que o duelo de interesses levara as duas famílias a uma luta de morte. Lourenço lhe garantira que nada lhe aconteceria de mal. Pedro Barros desejava apenas esclarecer alguns ângulos, ainda obscuros, de seu romance com a moça Diana. Apesar dos protestos de Jerônimo, João partiu para a fazenda, acompanhado pelos asseclas do coronel. Agora, encaravam-se, frente a frente. João, meio desconfiado; Pedro Barros tentando aparentar uma calma que não possuía.

PEDRO BARROS  -  (ríspido)  Entre!

João aceitou o convite. O coronel indicou o sofá.
  
PEDRO BARROS  -  Ouvi dizer, João, que você ta querendo se casar com minha filha. E que já tem até casamento marcado pra amanhã. Certo?

JOÃO  -  Deve de tê ouvido dizê, também, que não fiz isso contra a vontade dela. Não ia arrumá papel de casamento se não estivesse de acordo.

PEDRO BARROS  -  (cenho franzido)  Pode ter sonhado que ela estava de acordo.

JOÃO  -  Vamo deixá de muita prosa. O senhô tá sabendo, como eu sei, que a gente precisa se casá de qualquer jeito. Não é o sinhô que prega moral nessa cidade? Não é o salvador das honra? Pois salva agora a de sua própria filha.

PEDRO BARROS  -  Andou falando com o médico da cidade?

JOÃO  -  Andei. E tou ciente de tudo...

Pedro Barros procurara conter a ira e não elevar a voz. O assunto tinha de ser tratado em bases pacíficas.


PEDRO BARROS   -  Sabe que eu podia até te matar pelo que fez?

Breve silencio pairou sobre a sala. Barros acendia o cachimbo, chupando furiosamente o cano de ébano.

PEDRO BARROS  -  Voce me pegou no pulo dessa vez, João. Mas não vou te ceder minha filha de mão beijada.

JOÃO  -  Tou disposta até a aceitar a condição.

PEDRO BARROS  -  A condição se resume em dois pontos: vocês casam,  mas Maria de Lara terá de permanecer na fazenda até que você possua  meios de lhe dar o conforto por ela gozado. E ainda lhe facilito as coisa, pra alcançá seu objetivo: quero comprá sua pedra.

Estava claro o intuito do coronel, a trama chantagista que elaborara para ficar de posse da cobiçada pedra.

PEDRO BARROS  -  Pra isso mandei trazer ela. Quero ver a preciosidade. Dizem que é uma pedra do outro mundo. Pois eu quero ver, para crer.
   
JOÃO  -  (enfurecido com a ambição do outro)  Então... o senhor não me chamou aqui pra salvar a honra de sua filha... me chamou pra fazê negócio.
  
PEDRO BARROS  -  (com cinismo) A gente pode unir as duas coisas. Quero ver o diamante!

Alguma coisa, um sexto-sentido, avisava o rapaz que era chegado o momento. Tudo se decidiria a partir do instante em que o valioso diamante passasse ás mãos do coronel: a paz ou a guerra definitiva. Lentamente, como se retirasse do poço toneladas  de minério, João puxou do bolso a preciosidade. Colocou-a cuidadosamente sobre a mesa, os olhos perscrutando o ambiente.

PEDRO BARROS  -  Deixa a pedra aí, home! Ta com medo que eu te roube ela?

Pedro Barros abriu a pequena bolsa de couro e seus olhos pareceram saltar das órbitas.


PEDRO BARROS  -  Deus de misericórdia!

A exclamação do coronel atraíram á sala os capangas de Lourenço e Juca Cipó. Um a um aproximaram-se, rodeando covardemente o garimpeiro. Barros permanecia extasiado.

JOÃO  -  (cutucando as costas do coronel)  O que é isso? O que é que eles tão fazendo aqui?

PEDRO BARROS  -  Calma, João... a gente ta realizando um negócio. Tenho que tomar as precauções habituais.

A cilada fora preparada com requintes pelo coronel. Não havia saída para o outro e, mesmo que tentasse qualquer reação, a pedra jamais lhe voltaria ás mãos. Os homens, mal encarados, prestavam atenção a todos os movimentos do rapaz. Lourenço se adiantou e se postou ao lado de Pedro Barros.

LOURENÇO  -  (empalideceu)  Virge mãe!

PEDRO BARROS  -  Cala a boca, Lourenço! Você não entende muito disso!

Examinou a pedra por alguns instantes, movendo-a entre os dedos. Foi á janela e, contra a luz do sol, observou a radiação, os efeitos de luz. Barros engendrava a jogada na base do blefe...

PEDRO BARROS  -  Ela só tem aparência. Não é pura. Conheço isso longe. Chama “engana-trouxa”...

JOÃO  -  Então, me dá ela.

PEDRO BARROS  -  Mas espera. Ainda assim... eu faço negócio com você... mas visando ao bem-estar da minha filha... Eu te dou por ela... e por muito favor... só pra você fazer uma casa decente... deixe ver...  (encostou dois dedos na fronte, em atitude pensativa)... cinqüenta milhões de cruzeiros. Velhos.

João revoltou-se com a exploração.

JOÃO  -  Absurdo. Eu não quero vender nada. Me dê...

PEDRO BARROS  -  Vou lhe fazer um favor...

JOÃO  -  (decidido)  Eu não quero.

PEDRO BARROS  -  Desculpe... mas vai ser obrigado!

João Coragem sondou o ambiente. Estava cercado e sem chance de readquirir a pedra. A voz de Jerônimo, firme e clara, fez com que todos os olhares se voltassem para a porta.

JERÔNIMO  -  Acho que chegamos em boa hora!

Atrás do Presidente da Associação do Garimpeiros, Braz, Antonio e uma dezena de outros companheiros armados e prontos para a ação. O grupo entrou lentamente na sala do coronel. Barros espumava de cólera. 

JERÔNIMO  -  A gente veio... tomá parte no negócio. (e firme para o coronel)  Entrega a pedra pra ele.

O cano do revólver distava dois metros do coração de Barros. Um excelente alvo.
   
JERÔNIMO  -  (insistiu mais uma vez)  Vamo, dê o diamante ao mano.

Barros hesitava, entre perplexo e raivoso. As duas facções se entreolhavam, com ódio.

PEDRO BARROS  -  Então, Jerônimo, você se fez chefe dos homens... pra formar uma quadrilha?
   
JUCA CIPÓ  -  (cínico)  Viraro bandoleiro, meu patrão.

JERÔNIMO  -  Bandoleiro é aquele que rouba. A gente só defende os direito. No nosso caso, quem é o bandoleiro são os do seu lado.

João balançou a cabeça para a direita, num gesto típico de irritação.

JOÃO  -  Anda. A minha pedra.
  
BRAZ CANOEIRO  -  (gritou do fundo, com a voz emocionada)  A gente ta disposto a tudo.

De má vontade e sem outro recurso, Pedro Barros entregou o diamante ao verdadeiro dono. Havia ódio na máscara facial do coronel.

PEDRO BARROS  -  Agora dêem o fora!

João colocou as duas mãos espalmadas acima do peito, em sinal de calma.

JOÃO  -  Ainda não. Falta o principal. Quero saber se amanhã ta tudo certo pro casamento.

PEDRO BARROS  -  Voce sabe qual a minha condição.

JOÃO  -  Pois eu repito que aceito. A moça só vai viver comigo quando eu tiver conforto de riqueza pra lhe dá. Muito bem. Isso não vai demorá pra acontecê. (voltou-se para os amigos) Irmão, minha gente, cês tão ouvindo. Pedro Barros deu uma condição e eu aceitei. Me caso com a filha dele, mas ela só vem pra mim quando eu  tiver dinheiro...
  
JERÔNIMO  -  (enérgico)  Ele vai ter que cumprir a palavra.

BRAZ CANOEIRO  -  (com ânsia de vingança)  A gente obriga ele a cumprir!

Protegido pelos companheiros, João Coragem deixou a sala da casa-grande.


FIM DO CAPÍTULO  36
Sinhana (Zilka), João (Tarcísio) e Dr. Maciel (Enio Santos)

E NO PRÓXIMO CAPÍTULO...

*** PAULA CHEGA AO APARTAMENTO DE RITINHA COM MALAS E BAGAGENS, DIZENDO QUE VEIO PARA FICAR. RITINHA DECIDE CHAMAR A POLÍCIA E É DESAFIADA PELA AMANTE DO MARIDO.

*** PADRE BENTO COMUNICA A JOÃO QUE O CASAMENTO SERÁ REALIZADO NA FAZENDA DE PEDRO BARROS.

*** O DELEGADO FALCÃO NÃO SE CONFORMA COM O CASAMENTO DE JOÃO E LARA.


NÃO PERCA O CAPÍTULO 37 DE



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