segunda-feira, 11 de julho de 2011

IRMÃOS CORAGEM - CAPÍTULO 41


Roteirizado por Toni Figueira
do original de Janete Clair

CAPÍTULO 41


PARTICIPAM DESTE CAPÍTULO:

SINHANA
JOÃO
JERÔNIMO
POTIRA
DR. MACIEL
DOMINGAS
MARIA DE LARA
RITINHA
DUDA

CENA  1  -  CASA DO RANCHO CORAGEM  -  SALA  -  INT.  -  DIA.

Enlameados e com a pele curtida pelo sol,  João e Jerônimo entraram céleres pela porta a dentro. A voz firme de Sinhana obrigou-os a parar.


SINHANA  -  Recebero o recado no garimpo?  Pedro Barros mandou cê ir na casa do Doutô Maciel, pra se encontrá com sua mulhé...

No rosto do garimpeiro transpareceu a surpresa que lhe provocara a notícia.


JOÃO  -  Isso é verdade, mãe?

SINHANA  -  Verdade.  Os home sairo daqui agorica mesmo.

Os olhos dos irmãos fixaram-se no rosto de Sinhana á espera de mais novidades. Entreolharam-se, logo após, espantados.

JERÔNIMO  -  Que será que tá acontecendo? Essa mudança de repente...

Algo de perigoso devia haver por trás do gesto amigo do coronel. 


JOÃO  -  Uai... um hôme pode se arrependê dos seus erro. Pode ser que ele aprendeu ou tá começando a aprendê a lição que a gente tá dando nele.
 
JERÔNIMO  -  Hoje á tarde foi me propor um negócio sujo... de noite muda de idéia e deixa você ver sua mulher... sei não. Me parece esquisito! Cê toma cuidado, mano!
  
SINHANA  -  Eu quero ir com cê. Há mais de uma semana tenho tentado falar com Ritinha e o pai dela não me deixa nem me aproximar da casa dele.

Com expressão alegre, João Coragem dirigiu-se ao quarto. Com as mãos nas cadeiras, Sinhana balançava a cabeça, diante da transformação do filho.

JOÃO  -  Se apressa, mãe. Vamo! Cadê aquela camisa de sêda que eu comprei? E o perfume? Vou ter que ir bem arrumado... ver minha mulhé.

Jerônimo sorriu, discretamente, envolvido pelo contagiante entusiasmo do irmão.


JOÃO  -  (off)  Minha mulhé! Não tem inveja, Jerônimo? Cê não tem mulhé. Precisa arranjá uma, home!

CORTA PARA:

CENA 2  -  CASA DO RANCHO CORAGEM  - EXT.  -  DIA.

Enquanto lavava o rosto e o peito de fortes músculos, Jerônimo se dava conta de que alguém o observava. Era Potira.


POTIRA  -  O seu encelência já chegou? Por acaso já viu a Ritinha?

JERÔNIMO  -  (com rudeza)  Num enche, Potira.

POTIRA  -  Tá muito importante, num tá? É o chefão dos garimpeiro... só faltava mesmo, ela. Cê num vai vê ela, também?  Vai, vai contá a ela a tua prosa e dizê que é importante.
  
JERÔNIMO  -  (enfurecido)  Olha, se continua com isso, eu te encho a cara!

POTIRA  -  Encelência de araque!

A índia  correu, célere, para o interior da casa. Jerônimo, como uma fera raivosa, partira ao seu encontro.

JERÔNIMO  -  Índia dos diabos...

De longe continuava insultando o garimpeiro.

POTIRA  -  Num se envergonha? Cê num tem mulhé! Arranja uma, home! Arranja uma!

Por pouco o sabonete atirado com força pelo rapaz, não atingiu o peito da moça. Espatifou-se de encontro á pilastra atrás da qual ela se escondera, no último instante. Zombeteira, continuava a provocar o homem a quem amava.

POTIRA  -  Olha aí, seu bobo, num sou garimpeiro. Em mim cê num manda, encelência!

A gargalhada de Jerônimo pôs fim ao conflito amoroso. Era puro ciúme e criancice e, qualquer atitude séria, só poderia intensificar a ira ingênua da moça.

CORTA PARA:

CENA 3  -  COROADO  -  CASA DO DR. MACIEL  -  SALA  -  INT.  -  NOITE.

Dr. Maciel andava de uma para o outro lado da sala, mãos ás costas, falando nervosamente.


DR. MACIEL  -  Que idéia bêsta foi essa de Pedro Barros combinar encontro da filha e João na minha casa!

Domingas explicou que o recado lhe fôra dado por Juca Cipó, a mando do coronel.

DR. MACIEL  -  Negar eu não posso. Tenho de aceitar o pedido dele... ou melhor, é uma ordem, não um pedido. Mas não vou ficar aqui pra ver a cara daquele safado. E ele é bem capaz de vir com aquela feiticeira da mãe dele...

Minutos depois Maria de Lara surgia. Modestamente vestida, como era de seu hábito. Parecia feliz.


DR. MACIEL  -  Entre, Dona Lara, entre. Esta casa é sua. Eu vou sair, mas minha filha e Domingas estão aí para atendê-la. Fique á vontade. Tenho que sair para atender um paciente...

Lara cumprimentou, cortêsmente, Domingas e Rita.


MARIA DE LARA  -  (surpresa)  Não chegou ninguém... ainda?

DOMINGAS  -  (tranquilizou-a)  Não, mas pode ficar sossegada. Ele não vai deixar de vir.

Ritinha dirigiu-se á recém-chegada em atitude amistosa:


RITINHA  -  É Lara? Que prazer! Queria muito conhecer você!

CORTA PARA :

CENA  4  -  COROADO  -  CASA DO DR. MACIEL  -  SALA  -  INT.  -  NOITE.

João Coragem entrou, apreensivo, olhando cuidadosamente o ambiente. Viu Lara e Ritinha. Domingas lhe abriu a porta, sorridente. Dirigiu-se para as moças.


JOÃO  -   ...noite procêis!

Lara apertou-lhe as mãos, trêmula.

MARIA DE LARA  -  Como vai, João?

JOÃO  -  Tou bem. Satisfeito com este encontro. Que foi que deu no seu pai?

MARIA DE LARA  -  Acho que ele se apiedou de mim. Tenho sofrido muito.

João não acreditava no que ouvia.


JOÃO  -  (atônito)  Por minha causa?

MARIA DE LARA  -  Por tudo. Eu me sinto bem com você. Você me transmite uma confiança que não tenho em ninguém. Uma segurança de que eu preciso como do ar que respiro.

O jovem apertou carinhosamente a mão que a moça lhe entregava. Beijou-a, com amor, e sentou-se a seu lado. Tudo lhe parecia irreal – as palavras de Lara, os gestos amorosos, a confidência sincera que esta lhe fizera.

JOÃO  -  É esquisito a gente tá conversano como dois namorado, com arreceio.

Ela sorriu ante as palavras ingênuas e erradas do marido. Rude, inculto, mas bom e honesto.


MARIA DE LARA  -  Foi ele mesmo quem mandou saber a  data certa para o cumprimento do trato. Quer que você lhe diga quando vai poder me levar pra casa...

JOÃO  -  (incrédulo)  Ele mesmo?

MARIA DE LARA  -  É. Para isso planejou este encontro.

O rapaz pensou, espalmando a mão sobre a fronte.

JOÃO  -  Bem... no dia trinta meu irmão vai tomá posse no cargo. No dia seguinte, logo cedo, eu penso em viajá pra cidade de Franca. É onde eu vou vendê meu diamante. Já entrei em contato com o comprador. Já tá todo mundo me esperano e vão me pagá um preço justo.  (virando-se para a esposa)  Quer ir comigo, Lara?

MARIA DE LARA  -  Eu te espero, João...

JOÃO  -   ... e quando eu voltá, cheio da nota... aí tudo vai depender do seu pai.

MARIA DE LARA  -  Depois disso eu quero ir logo viver com você. Não importa para onde você me leve, João. Não me deixe esperar muito. Eu lhe peço...

CORTA PARA:

CENA  5  -  COROADO  -  CASA DO DR. MACIEL  -  EXT.  -  DIA.


Os freios rangeram na estrada poeirenta, dianta da casa do Dr. Maciel. Duda estacionou o carro e se lançou, apressado, para o interior da residencia.  Durante a viagem refletira longamente, e a conclusão era uma só: tinha de levar Ritinha de volta e reorganizar sua vida, fugir aos excessos de outros tempos, arrancar Paula de sua existência e dedicar as horas disponíveis ao carinho e amor que sua esposa tão lealmente procurava dar-lhe. Amava Ritinha, esta era a verdade. E nem mesmo as homenagens que o Flamengo lhe prestaria e todo o dinheiro acenado com a propaganda comercial foram obstáculos á decisão de voltar a Coroado. Agora, frente a frente com a mulher, usaria de franqueza. Não poderia viver distante dela por mais tempo.

CORTA PARA:


CENA  6  -  CASA DO DR. MACIEL  -  SALA  -  INT.  -  DIA.

Domingas estava só.


DOMINGAS  -  Ela deve estar no cemitério, Duda. Vai todos os dias visitar a campa da mãe e colocar flores sobre o túmulo.

Duda saiu, apressado.

CORTA PARA:

CENA 7  -  COROADO  -  CEMITÉRIO  -  EXT.  -  DIA.


E realmente Ritinha lá se encontrava ao lado de Jerônimo. A possante buzina do automóvel chamou a atenção dos dois e a voz de Eduardo, brincalhona, deixou a moça paralisada.


DUDA  -  Tá querendo paquerar minha mulher, mano?

A camisa vermelha, com finas listras pretas, destacava-se no fundo claro do carro-esporte. Jerônimo sorriu, acenando para o irmão.

JERÔNIMO  -  Falando do diabo e... o diabo aparece.

A porta se abriu e Duda correu em direção á esposa. Não havia palavras, apenas o longo beijo poderia expressar o imenso amor que envolvia ambos. Jerônimo assistia a tudo, imperturbável.

JERÔNIMO  -  É. Eu acho que preciso arranjá uma mulhé!

CORTA PARA:

CENA 8  -  CASA DO RANCHO CORAGEM  -  SALA  -  INT.  -  DIA.


JOÃO  -  Mas é verdade, mano? O Duda está na terra?

A notícia dada por Jerônimo deixou a família estupefata. Ninguém acreditava que o jovem estivesse de volta a Coroado. Sinhana, com um toque de despeito, voltou-se para o filho.

SINHANA  -  E por que o sem-vergonha não veio vê a gente?

JERÔNIMO  -  Primeiro a mulhé, mãe.
 
SINHANA  -  (sorriu, sem graça)  É... filho depois que arranja mulhé... se esquece até da mãe. Fica que nem filho de chocadeira.

Sentindo a tristeza da mãe, Jerônimo deu um passo e abraçou-a amorosamente.

JERÔNIMO  -  Tão veno só que velha ciumenta!

Os risos acabaram por contagiar Sinhana e o vozeirão do filho pôs fim á sua contrariedade repentina.

JOÃO  -  Vamo, vamo buscá o Duda senão a mãe tem um troço!

FIM DO CAPÍTULO 41
Sinhana

E NO PRÓXIMO CAPÍTULO...

JOÃO VAI Á CASA DO DR. MACIEL VER O IRMÃO E É EXPULSO PELO MÉDICO BÊBADO, PROVOCANDO A REVOLTA DE DUDA E RITINHA!

ESTELA ADVERTE LARA DE QUE O PAI ESTÁ PREPARANDO UM GOLPE CONTRA JOÃO.

DIANA DESAFIA PEDRO BARROS, E LHE DIZ TODAS AS VERDADES QUE LARA NÃO TERIA CORAGEM FALAR!

NÃO PERCA O CAPÍTULO 42 DE
    

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