domingo, 17 de julho de 2011

IRMÃOS CORAGEM - CAPÍTULO 42


Roteirizado por Toni Figueira
do original de Janete Clair

CAPÍTULO 42

PARTICIPAM DESTE CAPÍTULO:
RITINHA
DUDA
DR. MACIEL 
DOMINGAS
JOÃO
ESTELA
MARIA DE LARA
PEDRO BARROS
JUCA CIPÓ
LOURENÇO

CENA 1  -  COROADO  -  CASA DO DR. MACIEL  -  QUARTO DE RITINHA  -  INT.  -  DIA.

Duda, sentado na cama, espreguiçava-se languidamente. Os olhos inchados do longo sono, abriam-se devagar, ambientando-se á escuridão. A porta abriu-se e Ritinha entrou.


RITINHA  -  (brincalhona) Que homem preguiçoso!

DUDA  -  Eu dormi, não foi?

RITINHA  -  Hum, hum! Cansaço da viagem.

DUDA  -  (levantou-se com esforço)  Se arruma, Rita. A gente vai ver o meu pessoal.

Com um gesto ligeiro, puxou a moça para si, abraçando-a com paixão. Suspendeu-lhe o queixo com a ponta dos dedos.

DUDA  -  Se disser que não estava com saudades de mim, apanha!

RITINHA  -  Precisa dizer, amor? Então, você não viu? Como eu te adorei esse tempo todo que tá aí, deitado como um paxá! Vim aqui umas cem vezes...

DUDA  -  Senti muita falta de você. E vim te buscar. Você vai comigo, quando eu for.
   
RITINHA  -  (suspirou) Não sei, Eduardo... eu tenho medo.

DUDA  -  Já decidi aquela situação toda. Aluguei outro apartamento pra gente.

RITINHA  -  Quando você volta?

DUDA  -  Vou só esperar meu irmão tomar posse aí, desse cargo... que ele dá tanta importância, mas que no fundo não é nada...
   
RITINHA  -  (aborrecida) Não diga isso! Jerônimo está com uma fama de justiceiro, de homem de fibra, rígido, que você nem imagina! Me disseram que a fama dele está correndo até pelos arredores de Coroado.

Eduardo afastou-a de si.

DUDA  -  Larga mão de falar dele, senão fico com ciúmes.
   
RITINHA  -  Mas Jerônimo é um grande sujeito!

DUDA  -  (zangado) João também é, pombas! Eu sou o maior jogador de futebol da atualidade! E você não fala de mim com esse orgulho!

Rindo gostosamente da reação enciumada do marido, Rita de Cássia abraçou-o mais fortemente, traçando com a unha um longo percurso sobre as costas nuas do rapaz. Duda sentiu um arrepio de prazer.

RITINHA  -  (encarando-o com meiguice) Pra mim você é o maior homem do mundo, Duda! E não precisava nem jogar futebol. Ciumento! Egoísta! Bobo!

CORTA PARA:

CENA 2  -  CASA DO DR. MACIEL  -  SALA  -  INT.  -  DIA.

Da sala, Maciel ouvia as gargalhadas.


DR. MACIEL  -  (iracundo) Oh, Domingas! Chama aí esses dois indecentes pra jantar!

DOMINGAS  -  Que é! Tá com inveja, tá?

O médico enchia um copo de bebida. A ama observava, enquanto estendia a toalha sobre a mesa.


DOMINGAS  -  Menti pra Ritinha que você não bebia mais.

DR. MACIEL  -  (grosseiro) Azar seu! Eu não falei nada.

O álcool queimou-lhe a garganta provocando-lhe uma exclamação. Comprimiu a face e abriu a boca, como á procura de ar.

DOMINGAS  -  Ao menos... pra tapear a coitadinha, não é?

DR. MACIEL  -  Ela está muito feliz da vida, não precisa de tapeação. Eu... eu é que não aguento nem olhar pra cara do filho daquela feiticeira.

Domingas baixou a voz, evitando que a pergunta fosse ouvida no quarto ao lado:


DOMINGAS  -  O caso... na polícia... como está?

DR. MACIEL  -  Eu não confessei a minha culpa, mas existe a acusação como uma faca sobre a minha cabeça. Vira e mexe, eu vou ter que ir lá... me submeter ás indagações do delegado. Um dia, eu eu perco a cabeça, confesso o que fiz... e estou perdido pro resto da minha vida.
    
DOMINGAS  -  (espantada) Então... você... matou ela mesmo?

DR. MACIEL  -  (Irritado, atirou o copo contra a parede)  Não amola, estúpida!

O choque do copo contra a parede misturou-se ás pancadas enérgicas na porta de entrada.


DR. MACIEL  -  (ordenou, furioso) Vá, vá ver quem é e não me enche!

O cumprimento de João Coragem multiplicou por mil a ira do homem.


JOÃO  -  Boa noite, seu doutô. Vim vê meu irmão que chegô hoje.

DR. MACIEL  -  Essa não... essa não. Já agüento um Coragem... por obrigação. Dois é demais...

JOÃO  -  Licença, seu doutô.

O garimpeiro ameaçou entrar na sala, mas mal dera um passo, a voz de Maciel estourou no ambiente.


DR. MACIEL -  Ponha-se daqui pra fora... está me ouvindo? Eu não quero saber de mais ninguém da sua raça aqui dentro da minha casa.

Duda e Ritinha, movidos pelos gritos, correram para a sala.


RITINHA  -  Papai! Meu Deus, o que é isso?

João, com o dedo em brasa, avermelhado pela cólera, anunciou a retirada.


JOÃO  -  Pode deixá, eu vou embora. Tinha vindo só pra vê meu irmão...

DUDA  -  Absolutamente! Se meu irmão não pode ficar aqui, eu também não posso. Veja as minhas coisas, Ritinha!

A moça estava aflita, quase sem ação, diante do incidente que envolvia o esposo, o cunhado e o pai.


RITINHA  -  Eduardo...

DUDA  -  Se você quer... você vem comigo. Aqui é que eu não posso ficar.

Louco de raiva, o médico bradava, gesticulando com os braços.


DR. MACIEL  -  Vão pro inferno! Vão todos pro inferno!

Ritinha correu ao quarto e retornou, minutos depois, com a pequena mala de viagem do marido. João e Duda, ignorando a presença de Maciel, abraçaram-se a poucos passos da porta de entrada da residência.


JOÃO  -  Sinto muito, irmão. Sinto muito ter sido a causa...
    
DUDA  -  (cortou) Já estava por aqui com esse velho viciado...
    
RITINHA  -  (com a mala na mão) Eduardo... você vai mesmo... você tem coragem... de me deixar de novo?

DUDA  -  Na casa do pai tem lugar pra gente. (voltando-se para o irmão) Não tem, João?

O mano confirmou.


Os três deixaram a casa a caminho do rancho dis Coragem. Maciel, embriagado, resmungou palavrões ininteligíveis e aos poucos foi caindo ao chão.
CORTA PARA:

CENA 3  -  FAZENDA DE PEDRO BARROS  -  CASA-GRANDE  -  QUARTO DE LARA  - INT.  -  DIA.

Lara penteava-se diante do espelho quando Estela entrou repentinamente no quarto.


MARIA DE LARA  -  (estremecendo) O que foi?

ESTELA  -  Lara... eu preciso te avisar... sobre tudo o que está acontecendo.

Estela segurou entre as suas as mãos da filha. Buscava palavras que lhe permitissem explicar as maquinações do marido, sem abalar os nervos já desgastados da jovem.

ESTELA  -  Seu pai... nunca pretendeu entregar você ao seu marido. Está preparando um golpe contra o João, no dia da festa do Divino.

Lara sentiu as pernas bambearem.


MARIA DE LARA  -  (atônita) Preparando... o que?
    
ESTELA  -  (incisiva) Um golpe! Um golpe, Lara!

Pedro Barros apareceu na porta, como um louco. Estivera ouvindo a delação da esposa e espumava de raiva.

PEDRO BARROS  -  Mentira! Invencionice da cabeça dela!

MARIA DE LARA  -  (incrédula)  Papai!

PEDRO BARROS  -  Tira essas coisa da cabeça, Estela! Ninguém tá preparando coisa nenhuma!
    
MARIA DE LARA  -  Agora eu entendo... o mistério da reunião de hoje á tarde.

PEDRO BARROS  -  Não é nada que ocêis tão pensando!  (acentuou, voltando-se para a filha) Eu te dou minha palavra como não é verdade...

Mentia. E Estela sabia disso. Via, de um lado a ingenuidade de Lara e do outro, a falsidade do marido. Tinha de forçar a verdade.

ESTELA  -  Pedro, ela não merece isso! Eu errei muito, eu sei, mas agora que existe uma esperança para ela... uma esperança de salvação, nós temos de ajudá-la...

O desespero tomou conta de Lara, revelando-se em gestos nervosos.


MARIA DE LARA  -  Eu confiei tanto... tanto no senhor, papai.

PEDRO BARROS  -  E vai continuar confiando, porque quando eu dou minha palavra, eu cumpro...

MARIA DE LARA  -  Não, o senhor não vai cumprir... e eu vou ter que avisar meu marido!

Era demais para os ouvidos do coronel, acostumado a não aceitar desobediência ás suas ordens. O caráter impiedoso do chefe do garimpo, grosseiro e brutal, transpareceu vívido nas palavras que dirigiu á filha.

PEDRO BARROS  -  (gritava) Ninguém avisa ninguém. É tudo mentira da sua mãe, mas você não sai deste quarto!

Pedro Barros deixou o quarto no instante em que Lara se debruçava sobre a cama, mãos pressionando fortemente as têmporas, em expressão de dor. A cabeça parecia partir-se em mil outras diferentes. Uma dor intensa, irresistível, estourava-lhe os miolos. Quando levantou a cabeça, as feições de Lara haviam desaparecido. E uma voz rouca, colérica, quebrou o silencio do ambiente.

MARIA DE LARA  -  Quem vai me impedir, velho sujo?

Barros voltou-se, assustado. Estela tremia.


MARIA DE LARA  -  Quem vai me impedir, raposa matreira, miserável? Toque em mim pra ver o que lhe acontece. Vamos! Experimenta tentar me impedir de sair daqui!

O velho coronel parou, eletrizado, sem acreditar no que ouvia. Não era Lara. Não podia ser.


PEDRO BARROS  -  (olhos arregalados e voz mansa) Lara... eu sou seu pai... veja como fala comigo.

MARIA DE LARA  -  Eu não tenho pai.(atrevidamente, rodeou o corpo do coronel) Preferia ser a filha de um animal... não teria tanta vergonha. (apontou para a mãe que se encolhia a um canto do quarto) Ela... ela não tem toda a culpa. Você a tem! Você, que trama ás escondidas, que rouba, que mata, que traça planos de vingança. Ela não suportou e eu agora sei por quê. Porque você não presta! Você não vale nada!

Às últimas palavras, desapareceu, correndo pela porta. A surpresa de Pedro Barros paralisou-lhe a reação. Estava lívido. A voz não lhe saía do peito. Aos poucos, recompondo-se, berrou para dentro da casa.

PEDRO BARROS  -  Juca! Lourenço! Agarrem ela! Não deixem ela sair!

CORTA PARA:

CENA 4  -  FAZENDA DE PEDRO BARROS  -  CASA-GRANDE - SALA - INT. - DIA.


Ao pé da escada, Lara parou por alguns segundos. Lá estavam os dois homens em posição de ataque. Olhou-os com ódio.


MARIA DE LARA  -  Eu mato o primeiro que puser as mãos em mim! Saiam os dois da frente!

Os jagunços retesaram os músculos. Aproximaram-se da moça com decisão. Juca agarrou-lhe os braços. com firmeza.

MARIA DE LARA  -  Eu disse que te mato, jagunço de uma figa!

Lara esperneava, agressiva como uma gata louca. Os dentes brancos fecharam-se, de repente, e uma mancha vermelha surgiu na mão grosseira de Juca Cipó. Era sangue. O berro do jagunço ecoou pela sala.

JUCA CIPÓ  -  Ai, me mordeu! Cruiz credo! Parece que tá com o diabo no corpo!

Barros descia a escada.

JUCA CIPÓ  -  Patrãozinho, que é que a gente faz com ela?
    
PEDRO BARROS  -  (ordenou, seguro) Deixem ela! 

Fechou a porta com uma tranca pesada de madeira e, a passos lentos, encaminhou-se para a moça.


PEDRO BARROS  -  Não se envergonha... de fazer este papel?
    
MARIA DE LARA  -  (com ódio) Não adianta me prender. Eu vou sair e vou dizer ao João quem você é.

PEDRO BARROS  -  Se fizer isso... eu não te considero mais minha filha!

MARIA DE LARA  -  Mas, eu não sou sua filha. Já disse isso.

PEDRO BARROS  -  Eu posso te dar uma lição, Lara, por tuas palavras.

MARIA DE LARA  -  Dá! Dá uma lição! Manda me matar como faz com todo mundo que te atrapalha! Pensa que é muito ladino, pensa que enxerga muito longe. Não vê nem um palmo adiante do nariz. É cercado de falsidade, mas não enxerga, porque gosta de ser bajulado.

LOURENÇO  -  (afobado) Que é que a gente faz com ela, patrão?
    
PEDRO BARROS  -  Viajo amanhã cedo. Vocês, tratem de impedir que ela deixe esta casa até eu voltar com Estela. Por enquanto... cuidem de sua vida, que eu cuido dela. Fechem bem os portões do jardim e avisem os outros homens.

Lara esperneava contida pelos braços de Juca Cipó que a envolviam pela cintura.


PEDRO BARROS  -  Se você não amansa, eu te levo comigo pra te internar num sanatório em Belo Horizonte. Ou então chamo o beato Zacarias pra te tirá esse demônio do corpo!

Barros afastou-se e Juca libertou a moça.


MARIA DE LARA  -  (entre os dentes) Ele me paga!

Dirigindo-se para o sofá, a moça ligou a vitrola no último volume e com as pernas apoiadas no peitoril da janela, deitou-se, ante os olhos esbugalhados de Juca Cipó.

FIM DO CAPÍTULO 42

E NO PRÓXIMO CAPÍTULO...

*** SINHANA CONTA A RITINHA A VERDADE SOBRE A MORTE DA MÃE E A JOVEM, DESCONTROLADA, VAI TOMAR SATISFAÇÕES COM O PAI.

*** O DR. RAFAEL CHEGA Á FAZENDA DE PEDRO BARROS E ENCONTRA LARA EM ESTADO GRAVE, PRESTES A FAZER UM ABORTO!
NÃO PERCA O CAPÍTULO 43 DE

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