sexta-feira, 22 de julho de 2011

IRMÃOS CORAGEM - CAPÍTULO 44


Roteirizado por Toni Figueira
do original de Janete Clair

CAPÍTULO 44

PARTICIPAM DESTE CAPÍTULO:
INDAIÁ
POTIRA
JOÃO
SEBASTIÃO
LOURENÇO
JUCA CIPÓ
CEMA
VIRGÍLIO
OTO
DUDA
JERÔNIMO
BRAZ CANOEIRO

CENA 1  -  COROADO  -  PRAÇA  -  EXT.  -  NOITE.

Coroado vibrava de alegria. Viera gente de todos os vilarejos da região e de todos os rincões do garimpo para assistir á posse de Jerônimo. A cidade estava em festas, com as biroscas iluminadas pelos candeeiros e a praça agitada pelas discussões dos grupos que optavam por esta ou aquela facção. Os partidários do coronel preferiam manter-se num ponto de mediação.

Indaiá surgiu, de repente, esbaforida, diante da sede da Associação. Viu, com um suspiro de alívio, a mestiça Potira tranquilamente sentada num dos bancos do jardim. A índia meditava, observando o movimento da cidadezinha. 


INDAIÁ  -  (aproximando-se)  Se alembra de mim, menina?
    
POTIRA  -  Lembro, dona. Como vai?

INDAIÁ  -  Estou procurando João. É urgente. Sabe por onde ele anda?

POTIRA  -  Tava por aqui, agorinha mesmo...  (passeou os olhos pela praça cheia de gente. Apontou, satisfeita)  Olha lá ele!

Indaiá correu em direção ao moço.

INDAIÁ  -  (tocando-lhe no ombro, com dedos nervosos)  João, preciso falar com ocê.

Um brilho de curiosidade surgiu nos olhos do rapaz.

INDAIÁ  -  Trago recado de Dona Lara, minha patroa.  Ela tá muito mal!

As mãos fortes do garimpeiro chegaram a magoar os braços da mestiça, ante a notícia desagradável.

JOÃO  -  Mal? Doente? De quê?

INDAIÁ  -  Depois explico. Agora, seu doutô Rafael, da cidade, mandou lhe buscá. E lhe pede pra mandá vê estes remédios, na farmácia, com urgência.

Entregou a receita a João e ambos saíram ligeiros á procura dos medicamentos.

Foguetes espocavam nos céus de Coroado. A praça regurgitava de gente. Potira, Sinhana, Jerônimo. Toda a família Coragem viera á cidade para assistir á posse do líder dos garimpeiros.

CORTA PARA:

CENA 2  -  CASA DO RANCHO CORAGEM  -  SALA  -  INT.  -  NOITE.

 
Apenas o velho Sebastião permanecera no longínquo rancho, imerso em pensamentos. Vez por outra o sono o dominava por minutos.

    
Os quatro homens entraram sem fazer barulho, passos macios, a deslizar por sobre o chão de barro da velha casa. Enquanto Juca perscrutava o ambiente, Lourenço e os outros “cabras” ingressavam nas dependências escuras do rancho. Apenas a luz mortiça de um lampião iluminava as feições cansadas do garimpeiro pai. Lourenço lançou a luz de uma lanterna sobre o rosto de Sebastião. O velho assustou-se.

SEBASTIÃO  -  O que é isto?

LOURENÇO  -  (com ironia)  Um pesadelo, velho.

Sebastião tentou levantar-se, contido pelas mãos grosseiras de Virgílio. O velho imobilizou-se como se tocado por mão de ferro.

SEBASTIÃO  -  (gritou com voz fraca)  Cema! Braz!

LOURENÇO  -  Não adianta.  Não tem ninguém aí. Juca tá de vigia.

VIRGÍLIO  -  (já alterado, sequioso de sangue)  Que faço com ele?
   
LOURENÇO  -  Nada, se ele disser logo onde João guarda o diamante.

Os homens com gestos bruscos levantaram o velho e o empurraram para fora do quarto.


LOURENÇO  -  Tá fazendo a gente perdê muito tempo, velho. Diga logo! Onde escondem o diamante de João?

SEBASTIÃO  -  -Podem me matar. De mim não arrancam palavra...

O capataz virava bicho, á medida que Sebastião se retesava e negava-se a dizer palavra.


Oto, o capanga manco de um pé, convidou com sadismo:


OTO  -  Vamo dá a lição nele!

CORTA PARA:

CENA 3  -  CASA DO RANCHO CORAGEM  -  EXT.  -  NOITE.


Lá fora Juca Cipó detinha Cema, após luta de alguns minutos. A esposa de Braz sofria o abraço asqueroso do jagunço lunático. Juca ria e se babava com o corpo provocante de Cema colado ao seu.

Lourenço surgiu á porta.


LOURENÇO  -  (ordenou, enérgico)  Ei, você aí! (evitava dizer nomes, protegidos que estavam pela escuridão da noite)  Larga de brinquedo! Traz essa mulher!

Juca Cipó forçava os seios da mulher de Braz e procurava, desesperado, levantar-lhe a saia. Cema resistia rasgando as carnes do bandido com dentes e unhas.

CORTA PARA:

CENA 4  -  COROADO  -  PRAÇA  -  EXT.  -  NOITE.

Na barraca de tiro ao alvo, Duda ensinava Ritinha a acertar na mosca. Viu Jerônimo, nostálgico, perambulando pela praça. Chamou-o com um assovio estridente.


DUDA  -  Se anime, Jerônimo. Que cara é essa?

JERÔNIMO  -  Sei não. Meu coração tá apertado, quereno me avisá de alguma coisa.

Duda forçou um sorriso sem graça, com o visível objetivo de animar o irmão.


DUDA  -   (de brincadeira, ironizando a tristeza do outro)  Você já viu coração falar?

JERÔNIMO  -  (afirmou, profético)  O meu tá dizeno: alguma coisa de ruim tá pra acontecer.

Braz se aproximou, sorridente, com uma espiga de milho assada trincada nos dentes. Jerônimo admirou-se com a presença do negro. Devia, a essa hora, estar vigilante nos arredores do rancho.


JERÔNIMO  -  (com energia)  Que é que tá fazeno aqui?

BRAZ CANOEIRO  -  Vim só dá uma espiada na festa.  Cema ficô lá, tomano conta do velho.

O pressentimento de Jerônimo tornava-se real. O rapaz empalideceu e o queixo tremeu-lhe, nervosamente.


JERÔNIMO  -  Cema... sozinha! E você deixou, home?

BRAZ CANOEIRO  -  Tem nada, não. A noite tá calma.
  
JERÕNIMO  -  (reprovou a atitude do negro)  Por quê fez isso, Braz?

Duda entrou na conversa, depois de acertar dois tiros no alvo da barraca.


DUDA  -  O que foi?

JERÔNIMO  -  Esse... esse doido sem responsabilidade deixou a mulhé dele sozinha tomano conta do pai.
   
DUDA  -  (sem atinar com o perigo)  O pai tá correndo perigo, gente?

JERÔNIMO  -  (sêcamente)     Todos nós tamo, Duda!  Você não sente... que uma ameaça parece que tá em cima da gente?
    
DUDA  -  Uai, sendo assim... que é que a gente tá fazendo aqui, se divertindo?

Jerônimo acompanhou seu raciocínio, locado por uma onda de apreensão.


JERÔNIMO  -  Vamo lá vê o pai, Duda. Vem comigo!

CORTA PARA:

CENA 5  -  CASA DO RANCHO CORAGEM  -  SALA  -  INT.  -  NOITE.


Juca entrou na grande sala do rancho, arrastando Cema, de olhar irado, vestes em frangalhos e os cabelos em completo desalinho. A mulher buscava reunir os trapos que restavam da blusa, envergonhada, com os seios á mostra, cheios e pontiagudos.


JUCA CIPÓ  -  Foi difícil domá ela.  Parece uma onça! Me lanhou todo, a fera! A gente se divertiu um bocado.

A jovem esposa do garimpeiro negro abraçou-se ao corpo do velho Sebastião, amedrontada.


CEMA  -  (apavorada, voz embargada)  Que fizero a ele? Que é que vocês qué, bandidos?

Lourenço, protegido pela total escuridão, direcionou o foco da lanterna mostrando, apenas, dois rostos surpresos e temerosos.

LOURENÇO  -  (firme e decidido) Só a pedra do João, que tá escondida nesta casa. Onde está?

CEMA  -  Eu não sei e se soubesse, não diria!

JUCA CIPÓ  -  (histérico, levantava o dedo na direção do idoso chefe de família)  O velho sabe! O velho sabe! Sabe sim!

LOURENÇO  -   ... e vai dizer agora, se não quer que a mulher morra.

O capataz apontou o revólver para o ar e num trajeto curto, deixou-o com a mira na testa da bela mulher.

    
CEMA  -  (sem perder a coragem)  Pode deixá! Não diz, seu Bastião! Eu não tenho medo!

SEBASTIÃO  -  (murmurou, junto ao ouvido da mulher)  Eles te matam, Cema!

LOURENÇO  -  Eu vou dá um tempo. Vou contá até três!

JUCA CIPÓ  -  Acaba logo com isso! Vem gente aí!
    
OTO  -  (da porta, onde permanecia de vigília, avisou)  Ou muito me engano ou tou ouvindo um tropel de cavalo...
    
LOURENÇO  -  Um...

JUCA CIPÓ  -  (esfregando as mãos, nervosamente)  Como é? Diz ou não diz?

O tropel aumentava.


LOURENÇO  -  Dois...
    
OTO  -  (gritou, embaraçado)  Não tou enganado. Vem gente por aí.
    
CEMA  -  Num diz, seu Bastião. Num diz!
   
LOURENÇO  -  Se acabô o tempo.
    
VIRGÍLIO  -  (com requintes de sadismo, estimulou)  Atira, atira nela!
   
SEBASTIÃO  -  (temeroso, acedeu)  Eu digo! Eu digo, mas acende o lume, pra mim vê as cara de ocês.

LOURENÇO  -  Não dá tempo pra isso.  Diz logo. Anda, velho!

Com os dedos em gancho o ancião apontou para o quarto.


SEBASTIÃO  -  Ali... onde os menino dorme.

Rápidos os homens deslizaram para o cômodo do lado. Ao longe o rumor do tropel aumentava de intensidade. Lourenço empurrou o velho até o quarto, dobrando-o com uma chave-de-braço. O velho gemia. Cema em desespero, tentava ganhar tempo.

CEMA  -  Num diz, seu Bastião. Não conta! Não conta!

O tropel tornava-se mais claro.


CORTA PARA:

CENA  6  -  CASA DO RANCHO CORAGEM  -  QUARTO  -  INT.  -  NOITE.

Lourenço forçou o velho mais fortemente.

Sebastião mostrou o lugar exato onde João escondera a pedra.


SEBASTIÃO  -  É aqui!   No chão... enterrado.
    
LOURENÇO  -  (gritava para os asseclas)  Cuidado! Se ele mentiu, acertem nele antes dos cavalo chegá por aqui.

Com as mãos em atividade, os homens retiraram a pedra que ocultava o local, depois de afastarem rudemente o velho garimpeiro, derrubando-o sobre o chão de barro.
    
OTO  -  (gritou da porta de entrada)  Mais depressa! Já estão mais perto!

Removida a terra, surgiu diante dos olhos ávidos dos assaltantes a bolsinha de couro de João Coragem. Lourenço examinou-a, ràpidamente.

LOURENÇO  -  É ela... Vamos indo. (deu as ordens)  Ocês seguem na frente... eu me encontro com ocês mais adiante.  Pra despistá os home que vêm aí. Cada um segue um caminho.

Deixaram o rancho correndo, escapulindo pelas laterais escuras da estrada.

FIM DO CAPÍTULO 44
Ritinha e Sinhana
E NO PRÓXIMO CAPÍTULO...

*** GRANDES EMOÇÕES NA VIDA DOS IRMÃOS CORAGEM: OS CAPANGAS DE PEDRO BARROS INVADEM O RANCHO , PARA ROUBAR O DIAMANTE, AGRIDEM CEMA E DEIXAM O VELHO SEBASTIÃO Á BEIRA DA MORTE.

*** NA PERSEGUIÇÃO AOS BANDIDOS, DUDA LEVA UM TIRO NA PERNA!
NÃO PERCA O CAPÍTULO 45 DE

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