sexta-feira, 29 de julho de 2011

IRMÃOS CORAGEM - CAPÍTULO 45


Roteirizado por Toni Figueira
do original de Janete Clair

CAPÍTULO 45
 PARTICIPAM DESTE CAPÍTULO:
CEMA
DUDA
JOÃO
DR. RAFAEL
MARIA DE LARA
DALVA
RITINHA
SINHANA
JERÔNIMO


CENA 1  -  CASA DO RANCHO CORAGEM  -  EXT.  -  NOITE.

Durante alguns segundos Cema permaneceu paralisada, não acreditando naquilo que vira. Aos poucos recuperou-se do choque e, como se visse um fantasma, saiu em disparada ao encontro dos cavaleiros.


CEMA  -  Socorro! Socorro! Seu Bastião tá morreno!

Os rapazes saltaram lépidos das montarias. Cema falou, aflita, quase sem respirar, apontando para o interior da casa.

CEMA  -  Foi um assalto. Os home tão fugino, mas seu Bastião tá morreno!

DUDA  -  Vai ver o pai.  Me dê a sua arma, irmão. Vou atrás dos bandidos. (voltou-se para a mulher)  Por onde eles foram?

CEMA  -  Ainda falta um! Ali! Ali tá ele, Duda!

O vulto oculto pelas sombras procurava, nervosamente, montar no cavalo.


DUDA  -  (ameaçou)  Pare! Pare ou eu atiro!

Incontinenti o homem esporeou o animal e partiu a galope, o cavalo relinchando.

O estampido do tiro ecoou no silencio da noite, confundindo-se com o grito de dor do bandido. A bala atingiu-lhe o braço á altura do bíceps, obrigando-o a uma parada momentânea. Eduardo aproveitou para atirar-se contra o desconhecido. A luta foi rápida. Com um pontapé lançado do alto da sela, o homem jogou o rapaz ao solo, ao mesmo tempo em que apontava o revólver contra ele, detonando-o.

CAPANGA  -  Não adianta, mocinho... não adianta... Fique aí ou acabo com você! Dou-lhe outro tiro.

Com o rosto sujo de terra e a perna ferida pelo tiro, Eduardo arrastou-se até a casa, ouvindo o bater das ferraduras do cavalo a perder-se na distancia. A perna doía-lhe como seiscentos diabos...

CORTA PARA:

CENA 2  -  FAZENDA DE PEDRO BARROS  -  CASA-GRANDE  -  QUARTO DE LARA   -  INT.  NOITE.


João Coragem mal respirava quando,subindo dois a dois os degraus da escada, entrou no quarto de Lara. Dr. Rafael, de mangas arregaçadas e com o rosto banhado de suor, concluía o trabalho. Lara, muito pálida, descansava com os olhos cerrados.

JOÃO  -  (em voz baixa)  Como tá ela, douto?

DR. RAFAEL  -  Tudo já passou...

JOÃO  -  Passou? O que o senhô quer dizê?

Aproximou-se do leito, indeciso.

JOÃO  -  (olhou para o médico)  É... Lara?

O médico fez que sim com a cabeça. João beijou suavemente a testa da esposa. Ela abriu os olhos com doçura.

MARIA DE LARA  -  João... João... você demorou!

JOÃO  -  Agora, tá tudo bem. Tou aqui...

João  notou o leve tremor que sacudiu o corpo da esposa e as manchas de sangue que marcavam o lençol alvo e a camisola de dormir.

MARIA DE LARA  -   (quase sem forças, gemendo fracamente ao movimentar o corpo)  Que foi que lhe fizeram, João?

JOÃO  -  A mim, nada. Você é que me preocupa!

MARIA DE LARA  -  Eu? Mas... eu estou bem.
   
JOÃO  -  (os olhos embaçados)  O nosso filho... já soube?
   
MARIA DE LARA  -  Que tem o nosso filho?

O rapaz percebeu a indiscrição e o leve movimento de mãos do Dr. Rafael.


JOÃO  -  Nada. Tou só perguntano... tá... tá tudo bem?
 
MARIA DE LARA  -  Está... não é mesmo, doutor?

Abrindo o pacote de remédios, o médico deu um passo á frente, segurando as mãos da paciente.


DR. RAFAEL  -  Claro! Está tudo bem. (dirigindo-se ao rapaz)  Não a deixe falar muito. Ainda está fraca.

Indaiá ajudava Lara a erguer-se um pouco para ingerir o comprimido que o médico lhe dava.


MARIA DE LARA  -  (apreensiva)  Por que fiquei... neste estado de fraqueza?
   
JOÃO  -  Acho que você... fez algum esforço. Foi isso.

A moça virou o rosto, visivelmente atormentada.


MARIA DE LARA  -  Eu... ou ela?

JOÃO  -  (com mau pressentimento)  Não sei... não sei o que foi que houve.

MARIA DE LARA  -  Só sei que estava muito aflita... para avisar você, João... de que estava correndo perigo. É tudo o que me lembro. Depois veio a escuridão...
   
JOÃO  -  Por quê?

MARIA DE LARA  -  Porque havia uma ameaça... minha mãe me avisou... que meu pai não pretendia cumprir a palavra... não sei bem o que era... só sei que falaram num golpe que estavam preparando para você...

Depois de aplicar uma injeção na veia de Lara, o Dr. Rafael fez sentir que ela fazia um esforço demasiado com possíveis conseqüências desagradáveis para o futuro. João despediu-se de Lara, beijando-a na testa. A moça agarrou, frenèticamente, os ombros do marido.

MARIA DE LARA  -  Eu precisava de você... era você que faltava na minha vida... pra me dar essa sensação de apoio, de segurança... Acho que o Dr. Rafael tem razão. Você é uma espécie... de tratamento... para o meu mal. Junto de você... eu não tenho medo... de nada.

Cerrou os olhos, maciamente, enquanto João Coragem, muito sério, descia para a sala de visitas, no compartimento térreo da casa-grande.

CORTA PARA:


CENA 3  -  FAZENDA DE PEDRO BARROS -  CASA-GRANDE - SALA - INT.  - NOITE.

Rafael aguardava João  em companhia de Dalva. O médico fumava um cigarro, observando a evolução da fumaça e as variadas formas que assumia. Era como que uma personalidade multiforme. A voz de João ligou-o novamente á realidade.


JOÃO  -  (para a tia da esposa)  Foi Lourenço... ou foi a senhora?

DALVA  -  Não admito a mais leve acusação...

JOÃO  -  (cortou, com frieza)  A empregada disse...

DALVA  -  Não importa o que tenha dito. No momento eu fiquei desnorteada. Ela estava fora de si.  Não pensei que fossem chegar a extremos.

JOÃO  -  Doutor... e o meu filho?

O médico meneou a cabeça, fitando desoladamente os olhos do rapaz.


DR. RAFAEL  -  Ela perdeu a criança, João.

Um silencio irritante sucedeu ás palavras francas do Dr. Rafael. João controlava o ódio que o impelia a procurar o capataz e dar-lhe o castigo merecido.

JOÃO  -  (a Dalva)  Onde anda Lourenço?

DALVA  -  Não sei. Saíram todos daqui... não sei aonde foram.

JOÃO  -  Eu vou acabá com a vida de muita gente. Vou procurá Lourenço e matá-lo como quem esmaga um verme...  (lutava para conter as lágrimas que lhe banhavam os olhos)  Eu... eu tava tão contente, doutor! Casado com ela... a criança que vinha... era até uma esperança de que ela ia se curá... o senhor mesmo disse, doutô! E de repente...  (fez uma pausa, com as mãos postas diante do rosto, afugentou algumas gotas teimosas que insistiam em deslizar por sobre sua face)  ... e de repente, tudo vai por água abaixo... por culpa de um desgraçado... um desgraçado que, a troco de nada... por pura maldade... manda fazê o que fizero com minha mulhé. Doutô... é de enlouquecer qualquer um. (gritava, em desespêro) É de enlouquecer, doutô!

Em largas passadas cruzou a sala para olhar o campo que se estendia á sua frente.

JOÃO  -  Olha... avisa ao pai dela que eu volto pra pegar ele... e venho disposto a tudo. Ai daquele que tentá se atravessá no meu caminho!

Rafael e Dalva ouviram o desabafo do rapaz, sem nada comentar.

CORTA PARA:

CENA  4  -  CASA DO RANCHO CORAGEM  -  SALA    -  INT.  -  NOITE.


CEMA  -  Duda levô um tiro, mas num tá mal.

Ritinha,  que havia retornado ao rancho, acompanhando Sinhana e Potira, quase desfaleceu com o impacto da notícia. Apoiou-se á parede calada aguardando a verdade pior.

CEMA  -  Num tá mal, tou dizendo. Acho que é coisa á toa. Tou te avisano procê não ficá nesse desespero.

Ritinha, com esforço, conseguiu soerguer-se.

CORTA PARA:

CENA  5  -  CASA DO RANCHO CORAGEM  -  QUARTO  -  INT.  -  NOITE.


Sentado na cama com a perna esticada sobre o colchão, Duda contraía os músculos da face, numa careta de dor. A seu lado, Jerônimo tentava estancar o sangue, aplicando um torniquete com ligaduras improvisadas de sua própria camisa.

SINHANA  -  Deixa. Faço isso. Vão buscá mais água fervida. Depressa! Corre, índia!

Ritinha, transtornada pelos acontecimentos, viu Duda por entre o vão formado pelos corpos de Sinhana e Jerônimo. Correu até ele.

RITINHA  -  Eduardo! Eduardo! Que foi que fizeram com você?

Abraçou-se ao rapaz, alisando-lhe a testa suada.


DUDA  -  Calma, Ritinha! Isto não é nada!

A jovem olhou para a perna ensangüentada do marido, razão de seu êxito na vida.


RITINHA  -  Foi na perna, Eduardo? Na perna!
  
DUDA  -  Eu acho que isso não tem importância.
  
JERÔNIMO  -  Mandei o Braz chamar o Dr. Maciel.

A velha lembrou-se do marido, até àquele instante esquecido de todos. Ninguém se lembrara da presença do chefe da família, exceto Sinhana.

SINHANA  -  Seu pai, como é que tá?

JERÕNIMO  -  Num tá bom, não, mãe. Quando cheguei tava passano mal, mas dei aquele remédio pro coração e agora parece que acalmô.

SINHANA  -  Diabo de home frôxo!

JERÔNIMO  -  (sentido)  Ele é doente!

SINHANA  -  E João?

JERÔNIMO  -  Deve de tá pajeando a mulhé dele na casa do sogro (olhando demoradamente para os presentes, o rapaz revelou a verdade do atentado) Olha só pra aquilo! (mostrou o buraco no chão, recentemente escavado)  Levaro o diamante dele!
  
SINHANA  -  Se Deus destinô o diamante pro João, ninguém fica com ele.

JERÕNIMO  -  Se João num estivesse com a mulhé dele, nada disso teria acontecido... (retornando à perna do irmão e ajeitando o travesseiro de fronha bordada. Duda gemia fracamente, trincando os dentes)  João é um fraco, mãe. Aquela mulhé desgraçô com ele... desgraçô com todos nós...

Os olhares voltaram-se repentinamente para a porta do quarto. João Coragem acabava de chegar, camisa aberta ao peito, de onde, por entre os cabelos negros, a imagem dourada de Cristo rebrilhava á luz baça do candeeiro.

JOÃO  -  Que foi que houve?

O garimpeiro, espantado, verificou de imediato a situação do irmão deitado na cama, com a perna apoiada no colo de Ritinha.
  
DUDA  -  Temos más notícias, irmão...

Jerônimo tornou a apontar para o local onde a pedra estivera guardada.

JERÕNIMO  -  Olha!

Os olhos do garimpeiro esbugalharam-se e a voz como o som cavo de um trombone rachado, saiu-lhe do peito, abafada pela exclamação:

JOÃO  -  Meu... diamante!

JERÕNIMO  -  (cabisbaixo)  Foi roubado...   Olha pro teu irmão. Foi ferido a bala. Fala com Cema. Foi judiada pelos home. Fala com pai. O coitado nem pode. Tá ruim do coração.
   
JOÃO  -  Mas... como? Como, Santo Deus! Como pode ter acontecido isto?

JERÕNIMO  -  Pergunta ao teu sogro! Pergunta a tua mulhé! Foram os home de Pedro Barros...
   
JOÃO  -  Não tanto pelo diamante... sim, também por ele... mas, muito mais por você, meu irmão...

João  dirigiu-se até a beira da cama onde Duda permanecia deitado. Afagou-lhe a cabeça, os cabelos desgrenhados. O suor molhou-lhe os dedos, empapou-lhe a palma da mão. Duda sorriu, meio desligado.

DUDA  -  Isto talvez não seja nada, João. Eu tentei evitar que o sujeito fugisse com a sua pedra... agarrei-me a ele... e o bandido me impediu, atirando...

RITINHA  -  (nervosa)  ... foi na perna dele, João! Logo na perna dele!

JOÃO  -  (para Sinhana)  É grave, mãe?

SINHANA  -  Num sei, filho. Só um médico pode dizê... Já mandaro chamá Dr. Maciel, mas tá demorano como diabo...

Ritinha levantou-se, colocando a perna do esposo sobre almofadas trazidas por Potira.


RITINHA  -  Eu vou buscar papai!

FIM DO CAPÍTULO  45
Lázaro e João


E NO PRÓXIMO CAPÍTULO...

*** JOÃO E JERÔNIMO DUSCUTEM.

*** DR. MACIEL SE NEGA A CUIDAR DE DUDA, E JOÃO E JERÔNIMO VÃO Á CASA DELE, DISPOSTOS A TUDO PARA QUE O MÉDICO SOCORRA O IRMÃO BALEADO.


NÃO PERCA O CAPÍTULO 46 DE

Nenhum comentário:

Postar um comentário