quarta-feira, 20 de julho de 2011

IRMÃOS CORAGEM - CAPÍTULO 43


Roteirizado por Toni Figueira
do original de Janete Clair

CAPÍTULO 43
 PARTICIPAM DESTE CAPÍTULO:
 DUDA
JOÃO
SINHANA
RITINHA
DR. MACIEL
DR. RAFAEL
JAGUNÇO
BEATO ZACARIAS
LOURENÇO
DALVA
INDAIÁ
MARIA DE LARA

CENA 1 - CASA DO RANCHO CORAGEM - INT. - DIA.

Duda via pela primeira vez o diamante achado pelo irmão.

DUDA - Caramba, João! É um pedrão! Como foi que você encontrou essa coisa de doido? O pai envelheceu na cata e nunca achou uma igual!

Sorrindo, feliz da vida, João Coragem contou pormenores da descoberta.

DUDA - (preocupado) E você guarda isto aí, enterrado? Até quando?

JOÃO - (decidido) Só até amanhã. Amanhã eu vou direto vendê e volto cheio da nota. Vamo eu e Jerônimo, um tomano conta do outro.

DUDA - Olha aí, eu acho que posso ir também, pra te dar mais garantia. Três dá mais certeza de segurança.

JOÃO - E os teu compromisso?

DUDA - Consegui uma semana de licença. Foi duro, mano! Mas, essa semana toda o meu time não jogou e como eu tou com um cartazão lá com os homens, eles me deixaram vir buscar minha mulher. Só volto no domingo, hoje é quinta, dá tempo de eu ir com vocês fazer o negócio do diamante. (tornou a insistir, preocupado) Alguém sabe que tá escondido aqui, neste chão?

JOÃO - Bem... o povo deve de sabê que eu nun ando com ele pra baixo e pra cima. E que a gente guarda em algum lugá. Mas ninguém sabe onde, né?

Sinhana apareceu pálida, na sala.

SINHANA - Eduardo, vem cá depressa!

Duda assustou-se com a fisionomia da velha. Algo acontecera de muito grave, a ponto de transtornar a mãe, sabidamente mulher de nervos fortes e emoções controladas.

DUDA - Que foi, mãe?

SINHANA - Tua mulher... me obrigou a dizê as coisa lá do pai dela... aí, eu peguei e disse... pensando em acalmá ela... mas ela saiu em disparada... dizendo que precisava falá com o pai. Vai trás dela, home! Veja se evita dela fazê uma besteira.

Correndo, Eduardo deixou a sala á procura da esposa. Ao cruzar a porta, derrubou no chão a velha ferradura enferrujada que servia de talismã “contra mau-olhado e doença ruim”, acreditava Sinhana.

DUDA - (gritava a altos brados) Ritinha! Ritinha!

CORTA PARA:

CENA 2 - COROADO - CASA DO DR. MACIEL - EXT. - DIA.

Eduardo, esbaforido, alcançou Ritinha no momento em que esta batia á porta da casa do pai.

DUDA - Ritinha, espera, se acalma primeiro! Depois você fala com seu pai.

RITINHA - (sem dar ouvidos ao marido) Não me atrapalha, Eduardo, eu preciso dizer tudo o que sinto a ele.

Maciel veio atender. Mais ou menos lúcido, mas visivelmente abatido pelas bebedeiras sucessivas.

DR. MACIEL - Que foi isso? Que barulho é esse? Eu estou descansando...

DUDA - Ritinha está muito nervosa.

RITINHA - Diga a ele por quê.

DUDA - Eu não digo nada. Digo sim, que é melhor a gente dar uma volta pela praça, pra ver a preparação da festa de hoje á noite...

Impaciente, o médico observava as reações da filha.

DR. MACIEL - Ela quer me dizer alguma coisa?

RITINHA - Quero sim. Quero dizer que já sei de tudo.

DR. MACIEL - (com a voz velada) Tudo... quê?

RITINHA - Sinhana me contou a verdade. Você se embriagou pra ter coragem de... pra ter coragem de fazer o que fez com a minha mãe.

DR. MACIEL - Eu não posso confirmar uma coisa dessas (com a voz rouca pela surpresa) Não é verdade.

RITINHA - (sem pena) Mas eu não quero nunca mais olhar para a sua cara... porquê para mim você é um assassino. (descontrolada, gritou na cara do pai) Assassino! Assassino!

CORTA PARA:

CENA 3 - FAZENDA DE PEDRO BARROS - PORTEIRA - EXT. - NOITE.

Dois riscos de luzes paralelas rodeados por um halo amarelado, cortaram como raios a escuridão que envolvia a fazenda de Pedro Barros. Diante da grande porteira o carro estacionou fazendo ouvir o ruído cadenciado da máquina a trabalhar. O motorista pressionou duas vezes o aro da buzina. Um vulto surgiu na escuridão e se encaminhou para o veículo.

JAGUNÇO - Quem é?

O motorista colocou a cabeça para fora por entre o quadrado da janela estreita.

DR. RAFAEL - (autoritário) Sou o médico da filha do Senhor Barros. Me deixe passar logo. Estou com pressa.

JAGUNÇO - (grosseiro) Ninguém aqui chamou médico.

No foco de luz a figura do jagunço destacava-se como um boneco num quadro de fundo negro. O cano longo da espingarda fazia mira no quadrado da janelinha.

DR. RAFAEL - Venho de fora, ninguém me chamou. Qual é o problema? Estou proibido de entrar?

JAGUNÇO - Não... não me disseram que o médico não podia entrar. (abriu a porteira num gesto rápido) Pode passar, doutor.

CORTA PARA:

CENA 4 - FAZENDA DE PEDRO BARROS - GALPÃO - INT. - NOITE.

O beato Zacarias acabara de vergastar as costas nuas de Maria de Lara, deixando marcas arroxeadas da chibata “que tirava o demônio do corpo”. Entre orações balbuciadas e tiradas cênicas com a cruz de Cristo, o beato castigara o “espírito mau” que dominava a moça. Sangue coagulado e pedaços de pele lanhada eram tudo o que restava das costas macias da filha de Pedro Barros. Lourenço ria disfarçadamente, encostado a uma viga de madeira do galpão, gozando o espetáculo medieval. Contrito, o beato Zacarias invocava a divindade, levantando as mãos para os céus. Lara caiu ao solo.

BEATO ZACARIAS - Padre Nosso, que estais no céu...

CORTA PARA:

CENA 5 - FAZENDA DE PEDRO BARROS - CASA-GRANDE - QUARTO DE LARA - INT. - NOITE.

O movimento na casa grande era incomum ante a gravidade do estado da filha do coronel. Levada ás pressas para o quarto, Lara era assistida por Dalva e Indaiá, que lhe aplicavam compressas de salmoura sobre a pele rasgada. Continuava inerte, sem sentidos; o barulho de um motor despertou as atenções da casa.

CORTA PARA:

CENA 6 - FAZENDA DE PEDRO BARROS - CASA-GRANDE - EXT. - NOITE

LOURENÇO - (gritou) Um carro desconhecido...

Os freios rangeram e a figura do Dr. Rafael surgiu do interior do carro.

DALVA - Deus é grande. Chegou quem devia.

A exclamação de Dalva irritou o capataz da fazenda. Lourenço correu apressado para a porta.

LOURENÇO - Oto não devia ter deixado entrar este tipo.

Rafael encaminhou-se para a confortável residência, depois de retirar do banco traseiro a pequena mala de viagem. Notou a presença de Lourenço e Indaiá.

DR. RAFAEL - Que está acontecendo aqui? Um sujeito no portão quase não me deixa entrar.

INDAIÁ - Coisas muito estranhas, doutor. Caso de polícia...

DR. RAFAEL - (apreensivo) E Lara?

INDAIÁ - Está muito mal. (apontou para o capataz que permanecia mudo) Este sujeito aí tentou matar a pobre.

DR. RAFAEL - (contraiu os músculos da face) Tentou matar!

LOURENÇO - Doutor, esta mulher não sabe o que está dizendo, não é nada disso. O senhor não precisava ter vindo. Nada está acontecendo...

DR. RAFAEL - Quero ver Lara, agora!

O médico afastou com rispidez o jagunço e adentrou a residência.

Lourenço olhou o relógio e, consultando o tempo, falou para os capangas:

LOURENÇO - Virgílio! Oto! Chicão! Onde estão vocês? Está na hora! Os cavalos estão prontos, mãos á obra, minha gente! Chegou a nossa hora! Juca, vamo!

O tropel perdia-se no silencio da noite.

CORTA PARA:

CENA 7 - FAZENDA DE PEDRO BARROS - QUARTO DE LARA - INT. - NOITE.

O Dr. Rafael penetrou no quarto de Lara e, de imediato, constatou a gravidade da situação. O flagelo fôra demasiado violento. Dalva correu a abraçá-lo.

DALVA - Bendito seja Deus!

Em poucas palavras pôs o médico a par dos acontecimentos e da presença do beato Zacarias.

DR. RAFAEL - (recriminou) E a senhora permitiu que fizessem uma coisa dessas?

DALVA - Eu fiquei desesperada, doutor! Cheguei a um ponto em que acreditaria no próprio demônio se aparecesse aqui, dizendo que a tiraria daquele estado...

DR. RAFAEL - (se benzia, admirado) Que estupidez! Que atraso!

Retirou o paletó, atirando-o sobre a cama. “Pulsação irregular. Pressão 11,3 x 4”. O estetoscópio subia e descia acompanhando o ritmo acelerado do peito da moça. O pequeno cone metálico de audição, assentado sobre o baixo ventre, registrava irregularidade no ritmo cardíaco. O médico balançou a cabeça, desconsoladamente.

DALVA - (ansiosa) Nada se pode fazer, doutor?

DR. RAFAEL - Acredito que não.

DALVA - O senhor fala de Lara ou... ou da criança?

Rafael levantou-se. Visivelmente irritado.

DR. RAFAEL - Da criança, evidentemente! (voltou-se para Indaiá, em voz baixa) Prepare água fervente, toalhas, algodão e álcool puro e uma bacia.

A criada deixou o quarto correndo, enquanto o médico se preparava para atender a paciente. Dirigiu-se a Dalva, sem a fixar diretamente.

DR. RAFAEL - Não sou especialista neste assunto, mas creio que neste caso não há muito o que fazer. Seria um crime esperar que viesse um ginecologista... não haveria tempo.

Pacientemente, virou Lara de bruços.

DR. RAFAEL - Limpe as feridas das costas. O resto é comigo.

A moça gemeu ao ser tocada pela tia. Os ferimentos tinham assumido um aspecto azul-arroxeado, com profundos sulcos de bordas ensangüentadas.

DALVA - Como foi... que o senhor veio?

DR. RAFAEL - Dona Estela passou pelo hospital hoje de manhã. Parecia aflita. Percebi que o marido a havia forçado a viajar...

DALVA - De fato. Estela não queria viajar.

A criada retornou com a bacia e o material pedido pelo médico. A água fervente levantava leve fumaça, amornando o ambiente.

DR. RAFAEL - O marido de Lara... onde está?

DALVA - (com má vontade) Não sei.

DR. RAFAEL - Vá chamá-lo (dirigindo-se á criada) Quero-o aqui. Imediatamente.

Dalva ensaiou uma negativa, procurando impedir a presença de João Coragem naquela casa.

DALVA - Doutor... isto é contra a vontade de Pedro!

DR. RAFAEL - Muita coisa aconteceu aqui contra a vontade de muita gente. Eu o quero aqui. Repito. Imediatamente. (rabiscou algumas notas sobre um papel de receita) E mande ele trazer estes remédios, com urgência.

Indaiá deixou apressadamente o quarto. O médico deu início, sem demora, á délivrance forçada. Lara gemia. Dalva suava e o Dr. Rafael, atento, trabalhava em silencio.

FIM DO CAPÍTULO 43
Lara amarrada e chicoteada pelo Beato Zacarias

E NO PRÓXIMO CAPÍTULO...

*** INDAIÁ PROCURA JOÃO EM COROADO E O AVISA DE QUE LARA ESTÁ PASSANDO MAL.

*** OS CAPANGAS DE PEDRO BARROS INVADEM O RANCHO DOS CORAGEM E RENDEM CEMA E O VELHO SEBASTIÃO EM BUSCA DO DIAMANTE!

NÃO PERCA O CAPÍTULO 44 DE

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