sexta-feira, 6 de julho de 2012

ASSIM NA TERRA COMO NO CÉU - Capítulo 69

Novela de Antonio Figueira
Inspirada na Obra de Dias Gomes
CAPÍTULO 69
Personagens deste capítulo:

VÍTOR
HELÔ
EMILIANO
D. MARIETA
RICARDINHO
MARIO MALUCO
BABI
OLIVEIRA RAMOS
JUIZ
 
CENA 1  -  APARTAMENTO DE RENATÃO  -  SALA  -  INT.  -  DIA.

SAMUCA  -  As notícias não são boas, velho! Tava vindo pra cá e encontrei o Mario Maluco na praia. Ele soube pelo pai, o delegado Fontoura, que Helô tá a um passo de ir pro xadrez!

RENATÃO  -  Ele disse isso, é?

SAMUCA  -  Disse que o velho dele comentou em casa que Helô pode ser presa de um momento para outro. Eu vim aqui duas vezes pra lhe dizer isso, mas não o encontrei.

RENATÃO  -  Essa semana quase toda estive em Niterói, Samuca. Minha filha esteve doente. Mas já ficou boa. Quanto a esse advogado, Celso Barroso, é um picareta. Tá querendo tirar Jurema da cadeia, tá certo. Mas para isso tá mexendo com meio mundo.

SAMUCA  -  Só espero que não volte a mexer naquela história das fotos!

TOCARAM A CAMPAINHA E KONSTANTÓPULUS FOI ATENDER. OLIVEIRA RAMOS ENTROU.

OLIVEIRA RAMOS  -  Como vai, Renatão? Você está só?

RENATÃO  -  Só, não. Estou com o nosso amigo Samuca.

OLIVEIRA NÃO ESTAVA MUITO EFUSIVO COM SAMUCA.

RENATÃO  -  Estou estranhando a sua visita. É uma honra que só tive uma vez em toda a minha vida.

OLIVEIRA RAMOS  -  Preciso muito falar com você.

SAMUCA  -  Bem... sinto que estou sendo demais. Com licença. Vou dar um rolé pela praia.

SAMUCA RETIROU-SE.

RENATÃO  -  Mas o que é que há?... Qual o problema?

OLIVEIRA RAMOS  -  (falou ansiosamente) Antes de mais nada, Renatão, você vai jurar, pela nossa amizade, que guardará segredo sobre o que eu vou lhe dizer.

RENATÃO  -  (riu) Ora, Oliveira, juro pelo que você quiser. Não confia em mim?

OLIVEIRA RAMOS  -  Claro. E decidi falar com você justamente porque confio em nossa amizade. Me dê sua mão. Isso vai valer por um juramento. Certo?

OLIVEIRA EXPÔS O PROBLEMA. POUCOS DEPOIS...

OLIVEIRA RAMOS  -  Posso contar com você?

RENATÃO  -  Mas porque tanto receio de essa história vir a público?

OLIVEIRA RAMOS  -  Por causa de Helô. Ela com certeza vai se voltar contra mim. Não vai me perdoar.

RENATÃO  -  É, vai ser difícil ela entender. Ela, principalmente,

OLIVEIRA RAMOS  -  E quanto a você?

RENATÃO  -  Já disse. Não tem problema. Pode contar comigo pro que for preciso. Eu já tava desconfiado...

RENATÃO DEU UM LEVE SORRISO. PERCEBEU QUE O MORDOMO TINHA ESCUTADO A CONVERSA, ATRÁS DA CORTINA. QUANDO OLIVEIRA SAIU, FOI PÉ ANTE PÉ E PEGOU-O EM FLAGRANTE. KONSTANTÓPULUS LEVOU UM SUSTO.

RENATÃO  -  Você sempre escutando o que não deve!

KONSTANTÓPULUS  -  Eu não escutei nada!

RENATÃO  -  Escutou sim!

KONSTANTÓPULUS  -  Eu estou é espantado... nunca pensei! O Dr. Oliveira Ramos!

CORTA PARA:

CENA  2  -  APARTAMENTO DE DANUSA  -  SALA  -  INT.  -  NOITE.

DOIS DIAS DEPOIS, RODOLFO AUGUSTO E MARIA REGINA SE CASARAM NO CIVIL COM GRANDE POMPA, DE ACORDO COM OS GOSTOS DA NOIVA E DE DANUSA. A RECEPÇÃO FOI EM CASA DE DANUSA, PRESENTES TODOS OS AMIGOS E CONHECIDOS, INCLUSIVE VÍTOR E HELÔ, OLIVEIRA RAMOS, RENATÃO, SAMUCA E ATÉ O DIRETOR DA “FOLHA DO RIO”, GOUVEIA NETO.

RENATÃO  -  (dirigiu-se a Danusa, enquanto apanhava uma bebida das mãos do garçom) Estou sentindo falta do Ricardinho... ele não está presente na festa?

DANUSA  -  Meu querido, Ricardinho quase não vem aqui... está quase morando no apartamento daquela atriz presidiária, a tal Jurema de Alencar! Acho que ele nem sabe do casamento do Gugu...

RODOLFO AUGUSTO  -  Falavam de mim?

DANUSA E RENATÃO VOLTARAM-SE AO MESMO TEMPO.

RENATÃO  -  Parabéns, Gugu, pela bela noiva.... e pela recepção impecável!

RODOLFO AUGUSTO  -  Meu caro Renatão, pode me parabenizar pela noiva, mas pela festa, os méritos são de Danusa. Foi ela que organizou tudo.

RODOLFO AUGUSTO PEDIU LICENÇA E PUXOU DANUSA A UM CANTO.

RODOLFO AUGUSTO  -  Darling, não sei se reparou, mas tem alguém aqui que não tira os olhos de você, e me pediu para serem apresentandos.

DANUSA  -  (olhou em volta, curiosa) Quem?

RODOLFO AUGUSTO  -  (pegou-a pelo braço) Venha comigo. Você vai gostar. Ele é viúvo e muito interessante.

DANUSA  -  Mas, Gugu...

RODOLFO AUGUSTO  -  (cortou) Não discuta! (e levou-a até Gouveia Neto, que os observava, com um copo de uísque na mão) Gouveia, esta é Danusa, minha amiga e dona da casa.

GOUVEIA NETO  -  Muito prazer, Danusa.

RODOLFO AUGUSTO  -  Danusa, este é Gouveia Neto, diretor da “Folha do Rio”.

GOUVEIA NETO E DANUSA FITARAM-SE NOS OLHOS, COM INDISFARÇÁVEL INTERESSE.

DANUSA  -  Muito prazer...

RODOLFO AUGUSTO  -  Bem, meus queridos, vou deixá-los conversando, pois tenho que dar atenção aos meus convidados. Danusa, trate bem do Gouveia!

RODOLFO AFASTOU-SE, ENQUANTO GOUVEIA E DANUSA ENGATAVAM ANIMADA CONVERSA.

EM OUTRO CANTO DA SALA, HELÔ E VITOR CONVERSAVAM.

HELÔ  -  A noiva é linda. O vestido está maravilhoso. Rodolfo Augusto arrasou. Realmente, é um grande artista. (T) Você não acha eles um casal meio esquisito?

VÍTOR  -  Não. Acho normal. Como diz aquela frase do Blaise Pascal: “O amor tem razões que a própria razão desconhece.”

HELÔ  -  (irônica) Amor? Sei...

MARIA REGINA CAMINHAVA ENTRE OS CONVIDADOS, SORRINDO,  DESLUMBRANTE. APANHOU DUAS TAÇAS DE CHAMPANHA E FOI AO ENCONTRO DO NOIVO.

MARIA REGINA  -  (segredou) Gugu, a festa tá um arraso! Tá cheia de paparazzos, colunistas, fotógrafos e socialites! Tou amando tudo!  Vamos brindar ao nosso sucesso!

RODOLFO AUGUSTO  -  (apanhou a taça) Aproveita, menina. Não era isso que você queria? Pois então, prepare-se: amanhã estaremos em todas as capas de revistas e jornais!

RODOLFO AUGUSTO E MARIA REGINA ERGUERAM AS TAÇAS, ENLAÇARAM OS BRAÇOS E BRINDARAM.

RENATÃO  -  (observando o casal, dirigiu-se a Samuca) Esse Rodolfo Augusto é uma figuraça!... Sabe que, mesmo sendo irmão daquela jararaca da Madame X, eu simpatizo muito com ele? Só não entendo o que vai fazer com esse mulherão, numa cama! Trocar receitas? Desenhar a coleção primavera/verão?

SAMUCA  -  (riu, divertido) Ou desenhar fantasias de carnaval! Velho, eu daria um braço pra assistir a primeira noite do casal! Bizarro!

MARIA REGINA CIRCULAVA PELO SALÃO, QUANDO PERCEBEU O BELO RAPAZ, PARADO PRÓXIMO A UMA COLUNA OLHANDO-A, FIXAMENTE. RECONHECEU-O DE IMEDIATO DAS REVISTAS DE MODA. APROXIMOU-SE.

MARIA REGINA  -  Oi. Você não é o Fernando Trevisan, fotógrafo da “Mulher de Hoje”?

FERNANDO  -  (sorriu e estendeu-lhe a mão) Sou eu mesmo. Prazer. Rodolfo Augusto me convidou para a recepção. Você não percebeu, mas já fiz algumas fotos suas.

MARIA REGINA  -  (insinuante) Confesso que percebi. Espero que tenha escolhido o meu melhor ângulo.

FERNANDO  -  Fique tranquila. Você é maravilhosa de qualquer ângulo. Estava aqui hipnotizado com sua beleza.

MARIA REGINA  -  (envaidecida) Nossa! Além de fotógrafo, já vi que é um garanhão irresistível...

FERNANDO  -  Que é isso... Nem devo. Afinal, você agora é uma mulher casada. Mas, de qualquer maneira, obrigado pelo “Irresistível”.

MARIA REGINA  -  É mesmo. Tou casada. Nossa... acho que vou demorar a me acostumar com isso...

FERNANDO  -  Mudando de assunto, aproveito a oportunidade para convidá-la pra posar pra umas fotos sobre um editorial de moda que estou fazendo. Topa?

OS OLHOS DE MARIA REGINA BRILHARAM.

MARIA REGINA  -  Mas é claro que eu topo! Escuta... por que não vamos pra um lugar mais calmo, pra você me explicar direitinho esse editorial?

O CASAL SE AFASTOU, DISCRETAMENTE, ENQUANTO, A ALGUNS METROS, DANUSA OS OBSERVAVA COM ENORME CURIOSIDADE.

DANUSA  -  Esses dois... hum... não sei não. Melhor ficar de olho!

CORTA PARA:

CENA  3  -  APARTAMENTO DE DANUSA  -  CORREDOR  -  INT.  -  NOITE.

MARIA REGINA E FERNANDO GANHARAM O CORREDOR E PARARAM NA PORTA DO BANHEIRO SOCIAL. SÚBITO, O FOTÓGRAFO A EMPURROU PARA DENTRO, ENTROU E FECHOU A PORTA. DANUSA SEGUIU-OS E VIU TUDO. MORDEU OS LÁBIOS, INDIGNADA.

DANUSA  -  Piriguete! Biscate!

EM SEGUIDA, VOLTOU PARA O SALÃO.

CORTA PARA:

CENA  4  -  APARTAMENTO DE DANUSA  -  SALÃO  -  INT.  -  NOITE.

RODOLFO AUGUSTO CONVERSAVA COM RENATÃO, QUANDO DANUSA CHEGOU E SEGUROU-O PELO BRAÇO, COM FIRMEZA.

DANUSA  -  Gugu, venha comigo, agora!

RODOLFO AUGUSTO  -  (surpreso) O que aconteceu, darling? Que cara é essa?

DANUSA  -  Você vai saber. Vem!

CORTA PARA:

CENA  5  -  APARTAMENTO DE DANUSA  -  CORREDOR  -  INT.  -  NOITE.

DANUSA ARRASTOU O COSTUREIRO PARA O CORREDOR E PAROU NA PORTA DO BANHEIRO.

DANUSA  -  (entregou-lhe uma chave) Abra!

RODOLFO AUGUSTO  -  Mas... é o toilette! Se está fechado, é porque tem alguém!

DANUSA  -  (impaciente) Não discuta. Abra!

RODOLFO AUGUSTO OBEDECEU. ABRIU A PORTA E DEPAROU COM MARIA REGINA E O FOTÓGRAFO AGARRADOS, BEIJANDO-SE ERÒTICAMENTE.

RODOLFO AUGUSTO  -  (gritou, surpreso) Jesus, me chicoteia!

MARIA REGINA E O RAPAZ VOLTARAM-SE, AO MESMO TEMPO, ATERRORIZADOS.

MARIA REGINA  -  Gugu!

DANUSA  -  Desavergonhados!

MARIA REGINA  -  Não é nada disso...

RODOLFO AUGUSTO  -  (respirou fundo e falou, tentando controlar-se) Eu devia estar surpreso, mas não estou! Por quê será, sua biscatezinha barata? E poupe-me dessa frase patética: “não é nada disso que você está pensando!” (dirigiu-se ao fotógrafo) Quanto a você, rapaz, saia daqui. Meu assunto é com ela!

CONSTRANGIDO, O RAPAZ RETIROU-SE, ESGUEIRANDO-SE PELAS PAREDES.

MARIA REGINA  -  Escuta, Gugu: não se esqueça do que nós combinamos: nosso casamento é de fachada. Somos apenas bons amigos!

RODOLFO AUGUSTO  -  Não, minha cara. Amigos se respeitam, e o que você fez aqui foi uma profunda duma sacanagem comigo! Vamos fazer o seguinte: não quero escândalo na minha festa nem na casa da minha amiga Danusa, portanto, vamos sair daqui discretamente, como se nada tivesse acontecido.

MARIA REGINA  -  (respirou aliviada) Ai, Gugu, eu sabia que você ia entender!...

DANUSA  -  (indignada) Gugu!

RODOLFO AUGUSTO  -  (fez um sinal) Esperem. Ainda não terminei. Como estava dizendo, não vou descer do salto! Odeio barracos. Portanto, vamos fazer o seguinte: aproveitando a presença do juiz, vou pedir agora mesmo a anulação dessa palhaçada! E, quanto a você, menina, vai sair desta casa, alegando dor de dente, dor de barriga ou o que achar mais de acordo com sua vulgaridade, e sumir pra sempre da minha vida, entendeu?

MARIA REGINA  -  (angustiada) Mas você não pode fazer...

RODOLFO AUGUSTO  - (cortou) Ou você faz o que estou mandando, ou sua carreira vai pro espaço! Sua reputação vai escorrer ladeira abaixo, junto com todos os seus sonhos de fama e riqueza! Entendeu?

DANUSA  -  (com firmeza) Isso mesmo, Gugu! Entendeu, piriguete?

MARIA REGINA  -  (baixou a cabeça, vencida) Entendi. Vou só trocar de roupa e...

DANUSA  -  (com desprezo) Na-na-ni-na-não! Na minha casa você não fica nem mais um minuto, sua desclassificada! Vai sair como está! Agora!

CORTA PARA:

CENA  6  -  APARTAMENTO DE DANUSA  -  SALA  -  INT.  -  NOITE.

VÍTOR E HELÔ ERAM SÓ CARINHOS UM COM O OUTRO. ERA VISÍVEL A FELICIDADE DO CASAL, ATÉ A ENTRADA DE RICARDINHO, DE REPENTE, NO APARTAMENTO DA MÃE. TRAJANDO CALÇA JEANS E JAQUETA DE COURO, DESTOAVA DOS CONVIDADOS. PAROU, NO MEIO DA SALA, OLHOU EM VOLTA, SURPRESO. AO VER O CASAL, APROXIMOU-SE.

RICARDINHO  -  (dirigiu-se a Helô) Ué, o que você tá fazendo com esse cara? Você não me disse que não queria olhar mais pra cara dele?

HELÔ EMPALIDECEU.

HELÔ  -  Ricardinho, por favor, vá embora. Olha o escândalo!

RICARDINHO  -  Ir embora? Você esquece que aqui é a casa da minha mãe?

VÍTOR  -  (adiantou-se) Olha aqui, rapaz...

RICARDINHO  -  (gritou) Olha aqui vocês! (e para Helô, com ironia) Lá no seu apartamento, naquela noite, depois que todo mundo foi embora e a gente ficou sozinho...

VÍTOR NÃO SE CONTEVE MAIS; AVANÇOU FORA DE SI PARA RICARDINHO E DEU-LHE UM TREMENDO MURRO, FAZENDO-O CAIR SOBRE A MESA DE DOCES, ESPARRAMANDO TUDO. DANUSA CORREU, TENTANDO EVITAR A REAÇÃO DO FILHO.

DANUSA  -  Parem com isso! Vocês tão loucos?!...

RICARDINHO, ESPUMANDO, EMPURROU A MÃE PARA O LADO.

RICARDINHO  -  Me deixa! Agora ele vai ver. Agora ele só sai daqui de ambulância ou de rabecão, porque eu vou acabar com ele!

RICARDINHO APANHOU UMA FACA SOBRE A MESA.

HOUVE UMA PAUSA DE SUSPENSE, RICARDINHO ESTUDAVA O MOMENTO DE DAR O BOTE. VÍTOR CONTINUAVA ATENTO. SÚBITO, RICARDINHO DEU UM BERRO E SE LANÇOU SOBRE VÍTOR, QUE CONSEGUIU LIVRAR O CORPO. RICARDINHO TROPEÇOU E CAIU. A FACA LHE ESCAPOU DAS MÃOS. IA ALCANÇÁ-LA DE NOVO, MAS RENATÃO COLOCOU O PÉ SOBRE A FACA.

RENATÃO   -  Lute como homem.

RICARDINHO LEVANTOU-SE, FURIOSO E ARREMETEU CONTRA VÍTOR. CONSEGUIU ACERTAR-LHE UM MURRO, MAS VÍTOR REVIDOU E ATIROU-O NOVAMENTE AO CHÃO. ELE FOI CAIR AOS PÉS DE DANUSA, QUE SE ABRAÇOU COM O FILHO. OLIVEIRA RAMOS SEGUROU VITOR E HELÔ PELO BRAÇO.

OLIVEIRA RAMOS  -  (arrastou-os para fora) Vamos embora daqui!
         
RICARDINHO CONTINUOU CAÍDO, DANUSA ABRAÇADA COM ELE. SÚBITO, ELE SE LEVANTOU, SAIU PORTA AFORA.

RODOLFO AUGUSTO  -  (que assistia a tudo, consternado) Droga! De que adiantou  tanto  sacrifício  pra  fazer o casamento mais  chique do ano?  Não tem  jeito,  o   espírito de  barraqueiras, lavadeiras e piriguetes paira  sobre esta festa! Mais um pouco e saímos na página policial dos jornais!

CORTA PARA:

CENA 7  -  APARTAMENTO DE DANUSA  -  FRENTE  -  EXT.  -  NOITE.

RICARDINHO, AINDA OFEGANTE, SAIU DO PRÉDIO, SUBIU NA MOTO E PARTIU EM DISPARADA. A POUCOS METROS À FRENTE, PASSOU AO LADO DE UMA JOVEM MULHER VESTIDA DE NOIVA, QUE PARECIA CAMINHAR SEM RUMO PELAS RUAS DE IPANEMA. ERA MARIA REGINA.

FIM DO CAPÍTULO 69

e no próximo capítulo...


*** Oliveira Ramos e Renatão ficam muito preocupados ao saber pelo  jornal que Mãozinha e Bola 2 foram presos!


*** Oliveira Ramos, decidido a livrar-se da ex-mulher Elisa, arma um plano para tirá-la de sua casa definitivamente! 

EMOÇÕES FINAIS! ÚLTIMOS CAPÍTULOS


NÃO PERCA O CAPÍTULO 70 DE

quarta-feira, 4 de julho de 2012

ASSIM NA TERRA COMO NO CÉU - Capítulo 68

Novela de Antonio Figueira
Inspirada na Obra de Dias Gomes

CAPÍTULO 68
Personagens deste capítulo:
 
VÍTOR
HELÔ
EMILIANO
D. MARIETA
RICARDINHO
MARIO MALUCO
BABI
OLIVEIRA RAMOS
JUIZ

CENA 1  -  PRÉDIO DO APARTAMENTO DE BABI  -  FRENTE  -  EXT.  -  NOITE.

ERA NOITE QUANDO MARIO MALUCO SE APROXIMOU NUMA MOTO, COM BABI NO BANCO DE TRÁS.

MARIO MALUCO  -  Pronto, a filhinha do papai tá em casa...

BABI SALTOU DA MOTO.

BABI  -  Eu não sou filhinha do papai, mas espero que você entenda.

MARIO MALUCO  -  Entendo sim. Você não tá na minha.

BABI  -  Não tou mesmo. Gosto de você, mas sei o que quero e você não sabe.

MARIO MALUCO  -  Que é que você quer? Casar, ter filho, criar cachorro?... Tu tá a fim de se amarrar em alguém?

BABI FEZ UMA PAUSA.

BABI  -  Estou.

MARIO MALUCO  -  Tem já o otário em vista?

BABI  -  Tenho. Você pode me chamar de careta, mas meu negócio é mesmo casar com véu e grinalda. Entendeu? Quero um homem que me dê casa, comida, automóvel. Andar de moto cansa muito. Além do mais, sua barba me espeta. Chau!

BABI ENTROU EM CASA. MARIOZINHO FICOU OLHANDO A MOÇA SE AFASTAR, CHATEADO. DEPOIS, SAIU EM DISPARADA.

NA PORTARIA DO PRÉDIO, BABI ABRIU A BOLSA, RETIROU UM CARTÃO E LEU.

BABI  -  Oliveira Ramos, banqueiro. Mas é... é o pai da Helô! (sorriu, maliciosa) Quem diria!

CORTA PARA:

CENA 2  -  APARTAMENTO DE JUREMA  -  SALA  -  INT.  -  NOITE.

MARIO MALUCO ENTROU NO APARTAMENTO E ENCONTROU RICARDINHO SENTADO NO SOFÁ, COM UMA CARTA NAS MÃOS.

RICARDINHO  -  (fitando a cara amarrada do amigo) Que cara é essa, brother? O que aconteceu?

MARIO MALUCO  -  A Babi me deu um fora, mano! Acabou tudo. Agora de vez.

RICARDINHO  -  Vocês tavam juntos, de novo? Eu nem sabia...

MARIO MALUCO  -  Encontrei ela na praia e soube que tinha terminado com Renatão. Aí convidei ela pra pegar um cinema. Depois do filme, fomos dar uma volta.... sabe como é... tentei ficar com ela... Aí ela veio com um papo broxante de casamento, filhos... Como é que pode? (viu a carta na mão de Ricardinho) O que é isso, brother? Carta de Jurema? Posso ler?

RICARDINHO ASSENTIU.

RICARDINHO  -  (entregou-lhe a carta) Lê. É uma carta triste, irmão.

MARIO MALUCO  -  (leu) “Há mais de um mês que você não vem me ver, e eu sei que não virá mais... Você é um ingrato. Ao menos por tudo o que eu lhe dei de amor, de renúncia, de sacrifício... ao menos pela injustiça que estou sofrendo...”


MARIO MALUCO ESTAVA EMOCIONADO CADA VEZ MAIS COM A CARTA. AS LÁGRIMAS COMEÇARAM A CORRER DE SEUS OLHOS.

MARIO MALUCO  -  (continuou)  “... pagando no fundo de um cárcere por um crime  que não cometi... e você sabe que eu não cometi...”

MARIOZINHO, DOMINADO POR UM CRISE DE NERVOS, COMEÇOU A SOLUÇAR NERVOSAMENTE. RICARDINHO TENTOU CONFORTÁ-LO.

RICARDINHO  -  Que é isso, brother!

MARIO MALUCO  -  Me deixa! Me deixa!

MARIO O EMPURROU E SAIU CORRENDO. RICARDINHO APANHOU A CARTA QUE O AMIGO DEIXARA CAIR E FICOU OLHANDO PARA O PAPEL, INTRIGADO.

CORTA PARA:

CENA 3  -  BANCO  -   SALA DE OLIVEIRA RAMOS  -  INT.  -  DIA.

UMA SEMANA SE PASSOU. OLIVEIRA RAMOS ESTAVA FALANDO AO TELEFONE, IRRITADO, E À MEDIDA QUE OUVIA, SUA FISIONOMIA IA FICANDO CADA VEZ MAIS CARREGADA.

OLIVEIRA RAMOS  -  Mas você acha que o juiz pode fazer isso? Prisão preventiva? Mas isso é um absurdo! Sim, sim, eu sei... Seria uma tragédia. Um momento, doutor...

MUDOU DE TELEFONE E DE TOM. AGORA FALAVA COM VOZ DE GALÃ DE NOVELA.

OLIVEIRA RAMOS  -  Alô?... É você? Estava esperando seu telefonema. Juro. Olha, eu estou atendendo um chato no outro telefone.   Desculpe   ter   feito  você  esperar.  Logo mais,  à  noite, quando eu for lhe buscar, pedirei perdão de joelhos. (e mudando novamente de voz) Dona Virgínia! Faça uma ligação para meu sítio em Teresópolis, imediatamente!

EMILIANO ACABAVA DE ENTRAR NA SALA E OUVIRA AS ÚLTIMAS PALAVRAS DE OLIVEIRA.

EMILIANO  -  Alguma notícia má, doutor?

OLIVEIRA RAMOS  -  Péssima! Meu advogado me telefonou. Corre no Forum o boato de que seria decretada a prisão preventiva de Helô!

EMILIANO  -  Que absurdo!...

OLIVEIRA RAMOS  -  Pois é. Vou pedir a eles que voltem para o Rio imediatamente!

CORTA PARA:

CENA  4  -  PRÉDIO DO APARTAMENTO DE HELÔ  -  CORREDOR  -  INT.  -  DIA

A PORTA DO ELEVADOR SE ABRIU E VÍTOR E HELÔ, RINDO, FELIZES, ARRASTAVAM MALAS E ALGUMAS SACOLAS PARA A PORTA DO APARTAMENTO.

HELÔ  -  (pegou a chave e girou-a na fechadura) Finalmente, em casa! Como é bom estar de volta!

VÍTOR SEGUROU-LHE O BRAÇO, DETENDO-A.

VÍTOR  -  Espere! Estou me sentindo como que recomeçando nossa história (tomou-a nos braços, empurrou a porta com o pé e entrou) Agora sim, entramos com o pé direito. Eu te amo, Helô, e quero te fazer a mulher mais feliz do mundo!

HELÔ  -  (ainda em seus braços, sorriu, emocionada) Eu também te amo muito, meu amor.

BEIJARAM-SE, FELIZES. VÍTOR GIRAVA PELA SALA COM HELÔ NOS BRAÇOS.

CORTA PARA:

CENA 5  -  BANCO  -  SALA DE OLIVEIRA RAMOS  -  INT.  -  DIA.

NERVOSO, OLIVEIRA RAMOS POUSOU O FONE NO GANCHO E DIRIGIU-SE A EMILIANO, BATENDO NA MESA COM A MÃO ESPALMADA.

OLIVEIRA RAMOS  -  Estou há tres horas tentando falar com Vítor e Helô e eles não atendem o telefone!

EMILIANO  -  Devem ter saído pra dar umas voltas...

OLIVEIRA RAMOS  -  Não! Falei com o caseiro. Eles já voltaram pro Rio. Porque não atendem a droga do celular?

CORTA PARA:

CENA  6  -  APARTAMENTO DE HELÔ  -  BANHEIRO  -  INT.  -  DIA.

VÍTOR E HELÔ FAZIAM AMOR DEBAIXO DO CHUVEIRO. A ÁGUA MORNA DESLIZAVA SOBRE SEUS CORPOS NUS, DEIXANDO O BOX ENFUMAÇADO. ATRAVÉS DA PORTA DO QUARTO, O SOM DO CELULAR TOCANDO SOBRE A CAMA CHEGAVA ATÉ ELES, MAS PARECIAM NÃO OUVIR MAIS NADA ALÉM DOS SONS DO  AMOR QUE OS UNIA.

UM TEMPO DEPOIS...

VÍTOR  -  Amor... é o seu celular, tocando outra vez.

HELÔ  -  Deixa tocar...

VÍTOR  -  Tem certeza? E se for importante?

HELÔ  -  Nada é mais importante do que nós dois... 

...E BEIJARAM-SE NOVAMENTE, COM PAIXÃO.

CORTA PARA: 

CENA  7  -  APARTAMENTO DE HELÔ  -  QUARTO  -  INT.  -  DIA. 

VÍTOR SE ARRUMAVA DIANTE DO ESPELHO, QUANDO HELÔ ENTROU NO QUARTO, USANDO UM AVENTAL.

HELÔ  -  Amor, tou preparando uma comidinha bem gostosa pra.... (parou, surpresa) Ué... vai sair?

VÍTOR  -  (vestindo um blazer cinza) Vou, meu amor. Acabei de falar com seu Emiliano. Ele e seu pai estavam tentando desesperadamente falar com a gente!

HELÔ  -  Nossa, que cara séria! Aconteceu alguma coisa?

VÍTOR  -  (assentiu) Não quero te preocupar, mas temos que agir, antes que seja decretada a sua prisão preventiva!

HELÔ  -  (chocada) A... aonde você vai?

VÍTOR  -  Vou no apartamento do seu Emiliano. Quero saber mais detalhes dessa história.

CORTA PARA:

CENA  8  -  APARTAMENTO DE EMILIANO  -  SALA  -  INT.  -  DIA.

VÍTOR ESTAVA DIANTE DE EMILIANO E MARIETA, QUE CAMINHAVA PELA SALA, NERVOSA.

VÍTOR  -  Eu estou afirmando pra vocês, com certeza absoluta, que Helô é inocente! Essa é a mais pura verdade!

MARIETA  -  (revoltada) Eu não acredito! Você está tentando proteger sua mulher, isso sim!

EMILIANO  -  Marieta, por quê tanta revolta? Se o Vítor está dizendo...


MARIETA  -  (cortou) Vítor está completamente cego por esta mulher! Ninguém vai me convencer que ela está isenta de culpa na morte de minha filha! Ninguém! (e para Vítor) Você está enfeitiçado por ela! Ela faz de você o que quer! Está cego! Cego!

FURIOSA, MARIETA RETIROU-SE DA SALA E TRANCOU-SE NO QUARTO.

EMILIANO BALANÇOU A CABEÇA, CONSTERNADO.

EMILIANO  -  Você viu o comportamento dela? Vítor, sinto-me obrigado a falar com você sobre aquilo que estou pressentindo. Esta situação chegou a tal ponto que a minha dignidade de homem não pode mais admitir.

VÍTOR  -  (confuso) Do... do que o senhor está falando?

EMILIANO  -  Que Marieta está apaixonada por você, é isso!

VÍTOR  -  Mas que absurdo! D. Marieta... era a mãe da Nívea! É quase uma mãe pra mim, também!

CORTA PARA:

CENA  9  -  APARTAMENTO DE HELÔ  -  SALA  -  INT.  -  DIA.

UM TEMPO DEPOIS...

HELÔ  -  (fitou, ansiosa, o marido que acabava de chegar) E então? O que vamos fazer?

VÍTOR  -  Vamos ao Forum, falar com o juiz. Agora mesmo.

HELÔ  -  (falou, confiante) Está bem. Vamos.

CORTA PARA:

CENA 10  -  APARTAMENTO DE EMILIANO  -  QUARTO  -  INT.  -  DIA.

EMILIANO ABRIU A PORTA E ENTROU NO QUARTO. MARIETA ESTAVA ALI DESDE QUE VÍTOR FÔRA EMBORA.

EMILIANO  -  Marieta, vamos por essa história em pratos limpos! Cansei de fingir que não vejo o que está acontecendo diante de meus olhos!

MARIETA  -  (sem encará-lo) Não sei do que você está falando!

EMILIANO  -  Está bem, se você quer assim, vou ser mais claro: falo da sua paixão arrebatadora pelo Vítor!

MARIETA  -  (fitou-o, indignada) Você está louco! Como tem coragem de dizer um absurdo desses? Emiliano, você está me ofendendo profundamente! Vítor é quase um filho pra mim!

EMILIANO FITOU-A, POR LONGO TEMPO, DESCONFIADO.

CORTA PARA:

CENA  11  -  FORUM  -  SALA DO JUIZ  -  INT.  -  DIA.

VÍTOR E HELÔ ESTAVAM SENTADOS DIANTE DO JUIZ, QUE OUVIU ATENTAMENTE O RELATO DOS FATOS OCORRIDOS EM TERESÓPOLIS, COM A HIPNOSE DA JOVEM.

JUIZ  -  Achei muito interessante o que vocês me contaram, principalmente a amnésia que ela sofreu depois do crime. Mas, no meu entender, nada disso altera substancialmente os depoimentos que vocês prestaram.

VÍTOR  -  Como não altera? Nós antes não tínhamos a convicção que agora temos.

JUIZ  -  Essa convicção é pessoal de cada um de nós. A senhora pelo seu novo relato, disse que deixou Nívea por volta de uma hora. Mas chegou em casa por volta de duas. Que fez nesse meio tempo? Não acha que é muito tempo para ir do Castelinho à sua casa?

HELÔ  -  Eu devo ter rodado de carro por aí...

JUIZ  -  É uma explicação, mas não um álibi. Alguém viu?

HELÔ  -  Não. Estava sozinha.

JUIZ  -  Então, ficamos na mesma.

VÍTOR  -  Nós viemos procurá-lo espontaneamente para explicar tudo isso e também  porque nos disseram que o senhor estaria para decretar a prisão preventiva de minha mulher...

JUIZ  -  (atalhou) Eu, não. O advogado, Dr. Celso Barroso, solicitou essa medida ao Desembargador relator do processo, realmente. Como os senhores sabem, o pedido de revisão será julgado por uma Câmara Criminal, que é constituída de desembargadores. Eles é que poderão, ou não, pedir a prisão de Dona Heloísa.

HELÔ  -  Quer dizer, então... que eu posso ser presa?

JUIZ  -  (assentiu) Sinto muito. A qualquer momento.

FIM DO CAPÍTULO 68
Babi (Sandra Bréa)

e no próximo capítulo...

*** A "chapa vai esquentar" na festa de casamento de Rodolfo Augusto e Maria Regina, com direito a traições, barracos e um novo confronto entre Vítor e Ricardinho, que está disposto a ir até as últimas consequencias!

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domingo, 1 de julho de 2012

ASSIM NA TERRA COMO NO CÉU - Capítulo 67

Novela de Toni Figueira
Inspirada na Obra de Dias Gomes

CAPÍTULO 67

Personagens deste capítulo:

VÍTOR
HELÔ
DR. LEIVAS
TIA COLÓ
RENATÃO
CARLINHA
DANUSA
RODOLFO AUGUSTO
MARIO MALUCO
BABI
OLIVEIRA RAMOS
EMANUEL
CELSO BARROSO
JUIZ
KONSTANTÓPULUS

CENA  1  -  TERESÓPOLIS  -  CASA DO SÍTIO  -  SALA  -  INT.  -  DIA.

Continuação Imediata da Última Cena do Capítulo Anterior.  

DR. LEIVAS  -  Quer dizer que você saiu do Castelinho entre meia-noite e meia-noite e meia. Nívea saiu com você?

HELÔ HESITOU UM POUCO.

HELÔ  -  Sim, ela saiu comigo. Nós andamos até o meu carro, que estava estacionado perto, no lado da praia. Ficamos lá, paradas, um tempo, conversando.

DR. LEIVAS  -  Quanto tempo? Muito tempo?

HELÔ  -  Não sei. Quinze... vinte minutos...

DR. LEIVAS  -  No local em que Nívea caiu? Foi ali que vocês ficaram?

HELÔ PAROU DE FALAR. VÍTOR E O DR. LEIVAS OLHARAM-SE, SIGNIFICATIVAMENTE. VÍTOR PARECIA OUVIR O SOM DAS BATIDAS DESCOMPASSADAS DO PRÓPRIO CORAÇÃO.

HELÔ  -  Foi... perto... Discutimos. Ela disse que não tinha raiva de mim. Apenas tinha os seus problemas. Não, não era Vítor. Mas nem tudo estava certo. Havia muita gente egoísta, ela me disse. Pensei que Nívea estivesse se referindo a mim e revidei, dizendo que agora ela só pensava em si mesma, no seu padreco, no seu casamento. Os outros que se danassem! Então, eu entrei no carro e liguei o motor. Ela me perguntou se não ia levá-la em casa. Respondi que não. Nívea ficou aflita. Era tarde. Tinha medo de ir sozinha. Pediu-me uma carona. Mandei que fosse a pé.

DR. LEIVAS  -  Nívea ficou lá, sozinha? E você não voltou a vê-la naquela noite?

HELÔ  -  Não.

VÍTOR SENTIU UM TREMENDO ALÍVIO. ESTAVA EMOCIONADO.

DR. LEIVAS  -  Muito bem, Helô, agora você vai acordar e lembrar-se de tudo. Entendeu bem? Você vai lembrar de tudo  que contou. Atenção, Helô: acorde!

O MÉDICO BATEU PALMAS E HELÔ SAIU DO TRANSE HIPNÓTICO. OLHOU EM VOLTA, NO PRIMEIRO MOMENTO DE ESTUPEFAÇÃO. VÍTOR ESTAVA SORRINDO. ELA SE RECORDAVA DE TUDO.

HELÔ  -  Vítor! Eu me lembro!...

CORREU PARA O MARIDO. ABRAÇARAM-SE, EMOCIONADOS.

HELÔ  -  Lembro de tudo!... Não fui eu!... Está tudo claro na minha cabeça.

VÍTOR  -  Parece que deu tudo certo, doutor...

DR. LEIVAS  -  Parece que sim. Está explicada a amnésia. O 

sentimento de culpa por ter se recusado a levar Nívea em casa.

Quando soube da morte da amiga, o inconsciente tratou de apagar 

todas as lembranças daquela noite. Como uma defesa.


CORTA PARA:

CENA 2  -  NITERÓI  -  CASA DA TIA COLÓ  -  SALA  -  INT.  -  DIA.

TIA COLÓ ABRIU A PORTA E DEPAROU COM RENATÃO, QUE ENTROU, AFLITO.

TIA COLÓ  -  Renatinho, meu querido!

RENATÃO  -  Como vai, minha tia? Vim o mais depressa que pude. Como está Carlinha? Onde está minha filha?

TIA COLÓ  -  Calma, Natinho. Ela, agora, está melhor. Vem. Ela tá de cama, no quarto.

O PLAYBOY SEGUIU A VELHA SENHORA PELO CORREDOR, ATÉ O QUARTO DA FILHA.

CORTA PARA:

CENA  3  -  NITERÓI  -  CASA DA TIA COLÓ  -  QUARTO DE CARLINHA  -  INT.  -  DIA.

RENATÃO ENTROU NO QUARTO E CORREU PARA ABRAÇAR A FILHA, QUE ESTAVA DEITADA NA CAMA, ASSITINDO A UM DESENHO NA TV.

CARLINHA  -  Papai!

RENATÃO  -  Filha! Que susto você me deu! (e para Tia Coló) O que aconteceu, tia?

TIA COLÓ  -  Ela teve uma infecção intestinal. Passou o dia na casa de uma amiguinha da escola e deve ter comido alguma coisa que fez mal. Teve muita febre e diarréia. Mas agora já está se recuperando,   não   é,  meu  bem?  (falou,  acariciando  a  testa  da menina) Chamamos o Doutor Josué e ele receitou antibiótico, soro caseiro e bastante líquido.

CARLINHA  -  (fez uma careta) O remédio é muito ruim, papai! Eca!

TIA COLÓ  -  Mesmo assim, tem que tomar todos os remédios como uma menina obediente, pra ficar boa mais depressa!

RENATÃO  -  Tia Coló tem razão, meu amor. Tem que se cuidar, pra sair logo dessa cama.

CARLINHA  -  Eu já tou melhor, papai. Nem tenho mais febre...

RENATÃO  -  Que bom, minha vida, que bom! (voltou-se para a tia) Tia, obrigado por me avisar. Sabe, eu me sinto meio culpado por vir aqui apenas uma vez por semana. Eu gostaria de vir mais, de ser um pai mais presente...

TIA COLÓ  -  Eu sei, Natinho, mas você faz o que pode. Também, levando a vida que você leva, cheia de perigos...

RENATÃO  -  Isso é verdade, tia. Semana passada, por exemplo, passei por uma situação bem complicada: tive que saltar de pára-quedas de um avião, pra escapar de um terrorista russo que queria acabar comigo!

TIA COLÓ  -  (horrorizada) Meu Deus! E caiu onde, Natinho?

RENATÃO  -  No piscinão de Ramos! Isso!

TIA COLÓ  -  Nossa! Graças a Deus! Imagina se tivesse caído no Lixão de Gramacho ou nas águas poluídas da Baía de Guanabara! Ah, eu rezo tanto por você, meu filho! Peço todo dia pra São Judas Tadeu e todos os meus santinhos te protegerem!

RENATÃO  -  Obrigado, Tia Coló. O que seria de mim sem as suas orações!

CORTA PARA:

CENA  4  -  APARTAMENTO DE DANUSA  -  SALA  -  INT.  -  DIA.

RODOLFO AUGUSTO ERA COSTUREIRO E AMIGO DE DANUSA, POR ISSO ESTAVAM SEMPRE JUNTOS, EM MEIO A FOFOCAS E FRIVOLICES DA ALTA SOCIEDADE CARIOCA. NAQUELA TARDE, A MÃE DE RICARDINHO ESTRANHOU O AR DISTANTE E UMA RUGA DE PREOCUPAÇÃO NO CENHO DO AMIGO.

DANUSA  -  Gugu, não adianta disfarçar. Você está preocupado com seu casamento, não é verdade?

RODOLFO AUGUSTO  -  Você me conhece há muitos anos, darling.  Por mais que tentasse, não conseguiria mentir pra você. Eu... eu estou preocupado, sim.

DANUSA  - (segredou) Confesso que até agora não entendi o motivo deste casamento! Apesar de achar Maria Regina uma menina linda... posso ser sincera?

RODOLFO AUGUSTO  -  Claro, Danusa. Deve!

DANUSA  -  Mesmo achando Maria Regina uma menina linda, charmosa... pra mim, ela não passa de uma piriguete, de uma alpinista social, louca pra se tornar famosa a qualquer preço! E você, meu caro, é apenas uma escada pra ela conseguir o que quer! Pronto, falei!

RODOLFO AUGUSTO FITOU-A, SEM ESBOÇAR REAÇÃO.

DANUSA  - (continuou) Gugu, você não é bobo. Você é um homem inteligente, experiente... Não entendo como entrou nesta situação. Se me disser que está apaixonado, não vou acreditar! Afinal, você nunca foi chegado a essa fruta!

RODOLFO AUGUSTO  -  Está bem... Não vou mentir pra você. Eu queria voltar a ser notícia. Sabe, estava me sentindo um pouco esquecido pela mídia... me sentia inseguro, é isso. Foi por isso que tive a idéia de casar com Maria Regina. Seria bom pra mim e pra ela, entende? Bem... é lógico que, muito melhor, pra ela.

DANUSA  -  Mas isso é uma loucura! Ninguém vai acreditar nessa 

história absurda! Todo mundo sabe que você é gay! Acorda, bicha!

RODOLFO AUGUSTO  -  (arregalou os olhos, assustado) Danusa! Você nunca falou assim comigo!

DANUSA  -  É pra ver se você cai na real, meu amigo.

RODOLFO AUGUSTO  -  Além do mais... como todo mundo pode saber, se eu não contei pra ninguém?

DANUSA  -  (irônica) E você acha que precisa? Basta olhar pra você, Gugu!

RODOLFO AUGUSTO  -  (constrangido) Nossa! Não sabia que dava tanta pinta!...

DANUSA  -  (assentiu com a cabeça) Dá, sim, mas e daí? Que importancia tem isso, diante da carreira maravilhosa que você construiu por todos esse anos, no mundo da moda? Que importancia tem isso, diante da grife Rodolfo Augusto, que, hoje, é referencia em todo o país? Quantas mulheres, de todas as classes sociais, matariam pra ter um vestido seu? Quem se importa, darling, se você gosta de homem, de mulher ou de ET? Quer saber? Na sua profissão isso é até um charme, um tchan a mais, que nós, mulheres, adoramos!

RODOLFO AUGUSTO  -  Sendo assim, fico mais tranquilo...

DANUSA  -  Mas, voltando ao início da nossa conversa, qual o motivo da preocupação?

RODOLFO AUGUSTO  -  (roeu as unhas, pensativo) É que... ainda não escolhi o modelito que vou usar no casamento! Tenho que estar deslumbrante! Se possível, mais que a noiva!

RODOLFO AUGUSTO E DANUSA GARGALHARAM.

DANUSA  -  E então, já decidiu se a recepção vai ser mesmo aqui na minha casa?

RODOLFO AUGUSTO  -  Claro, já está decidido! Já mandamos entregar os convites com seu endereço! Sua casa é maravilhosa, com este salão imenso... é o lugar perfeito!

DANUSA  -  (entusiasmada) Pois bem, vamos fazer uma festa pra sociedade carioca passar dias e dias comentando! Enfim, vai ser inesquecível!

LEVANTARAM-SE E CAMINHARAM PELA SALA, PLANEJANDO CADA DETALHE.

CORTA PARA:

CENA  5  -  PRAIA DE IPANEMA  -  EXT.  -  DIA.

MARIO MALUCO APROVEITAVA O BELO DIA DE SOL JOGANDO VOLLEY COM AMIGOS DA PRAIA. TERMINADA A PARTIDA, DESPEDIU-SE DO GRUPO E SEGUIU CAMINHANDO PELA AREIA, QUANDO VIU O CORPO ESCULTURAL DA MORENA, BRONZEANDO-SE, DEITADA NUMA CADEIRA, SOB UM GUARDA-SOL.

MARIO MALUCO  -  Babi!

A JOVEM ERGUEU-SE.

BABI  -  Oi, Mario. Tudo bem?

MARIO MALUCO  -  (sentou-se na areia, ao seu lado) Agora melhor. Que surpresa te encontrar aqui... Faz um tempinho que a gente não se vê... Você sumiu, depois que começou a namorar o Renatão...

BABI  -  É... eu sou assim. Quanto tou namorando, até gosto de sair com os amigos, mas na companhia do meu namorado. Ao contrário da maioria das pessoas, levo meus relacionamentos muito a sério.

MARIO MALUCO  -  E... cadê ele? O Renatão?

BABI  -  (deu de ombros) Não sei.

MARIO MALUCO  -  Como assim? Não vai me dizer que...

BABI  -  É isso mesmo. Terminamos.

MARIO MALUCO  -  (mal disfarçou o contentamento) Nossa! Que bom... Quer dizer... que chato! Que pena...

BABI  -  (cortou) Não seja cínico, Mario! Eu sei que você tá adorando a novidade!

MARIO MALUCO  -  (admitiu) Tou. Tou sim. Acho o Renatão um cara bacana, mas...

BABI  -  (com firmeza) Vamos mudar de assunto? Se começar a falar do Renatão, eu vou-me embora agora!

MARIO MALUCO  -  Tá bem, foi mal, desculpe. (e, sedutor) Que tal um cineminha mais tarde?

BABI  -  Quem sabe.... talvez. Vou pensar.

CORTA PARA:

CENA  6  -  TERESÓPOLIS  -  CASA DO SÍTIO DE OLIVEIRA RAMOS  -  SALA  -  INT.  -  DIA.

O DR. LEIVAS SE PREPARAVA PARA RETORNAR AO RIO. O CASEIRO DEPOSITOU A PEQUENA MALA NO PORTA-MALAS DO AUTOMÓVEL, SOB OS OLHARES DE VÍTOR, HELÔ E DO MÉDICO.

DR. LEIVAS  -  Que é que vocês pretendem fazer agora?

VÍTOR  -  Ainda não decidimos. Não receiamos mais nada. Sei que o depoimento de algúem feito sob estado de hipnose não tem nenhum valor legal, mas o que ontem ficou esclarecido é importante pra nós. Porque nós acreditamos. Agora eu sei que ela é inocente. E ela também sabe. O resto é secundário.

CORTA PARA:

CENA  7  -  PRAIA DE IPANEMA  -  CALÇADÃO  -  EXT.  -  DIA.

MEIA HORA APÓS ENCONTRAR MÁRIO MALUCO NA PRAIA, BABI RECOLHEU SEUS PERTENCES E VOLTAVA PARA CASA, CAMINHANDO, DISTRAÍDA, PELO CALÇADÃO, EM MEIO Á PEQUENA MULTIDÃO QUE CIRCULAVA PELA ORLA NAQUELE FIM DE TARDE.

O CARRO DE OLIVEIRA RAMOS SEGUIA, EM MEIO AO TRÂNSITO LENTO PELA VIEIRA SOUTO. SENTADO NO BANCO TRASEIRO DO AUTOMÓVEL, O BANQUEIRO OBSERVAVA O MOVIMENTO, DISTRAÍDAMENTE. DE REPENTE, DIVISOU A BELA JOVEM PARADA JUNTO AO SINAL, AGUARDANDO A VEZ DE ATRAVESSAR A RUA.

OLIVEIRA RAMOS  -  (dirigiu-se ao motorista) Emanuel! Está vendo aquela moça, parada no sinal?

O MOTORISTA ASSENTIU, ACOMPANHANDO A INDICAÇÃO DO PATRÃO.

EMANUEL  -  Aquela bonitona, com uma bolsa vermelha na mão?

OLIVEIRA RAMOS  -  Ela mesma! Depressa, antes que o sinal abra! Vá até ela e entregue meu cartão!  Rápido!

RÀPIDAMENTE O MOTORISTA SALTOU, CORREU ATÉ A MOÇA,  ENTREGOU-LHE O CARTÃO E VOLTOU PARA O CARRO. NUMA FRAÇÃO DE SEGUNDOS, BABI LEVANTOU OS OLHOS, SURPRESA, E VIU OLIVEIRA RAMOS ACENAR, COM UM SORRISO, DA JANELA DO AUTOMÓVEL QUE PARTIA.

OLIVEIRA RAMOS  -  Linda! Que pedaço de mau caminho !

BABI  -  (sorriu, pega de surpresa) Não acredito! Ele me chamou de "pedaço de mau caminho"?! Mas olha só que velho safado!...

CORTA PARA:

CENA  8  -  FORUM  -  SALA DO JUIZ  -  INT.  -  DIA.

O ADVOGADO DE JUREMA ESTAVA DIANTE DO JUIZ, QUE LIA ALGO NUM PAPEL.

JUIZ  -  O senhor esteve na casa dela?

DR. CELSO  -  Estive. Não está lá, e ninguém informa onde se encontra. Tudo indica que ela pretende se evadir. Talvez deixar o país. Verifiquei que o marido, Vítor Mariano, também desapareceu.

JUIZ  -  Vou mandar averiguar imediatamente.

DR. CELSO  -  No interesse da justiça, se Vossa Excelencia me permite, acho que se impunha a prisão preventiva.

JUIZ  -  O senhor sabe que tal medida não é de minha competência, mas do Desembargador relator do processo.

DR. CELSO  -  Eu sei. Encaminhei a ele uma solicitação nesse sentido. No que depender de mim, Heloísa Oliveira Ramos será detida o mais breve possível!


FIM DO CAPÍTULO 67

E NO PRÓXIMO CAPÍTULO...

*** Vítor e Helô retornam ao Rio, sem imaginar que Helô pode estar com a prisão preventiva decretada!

*** Marieta faz uma cena de ciúmes diante de Vítor, e Emiliano confessa ao ex-padre que sua mulher é apaixonada por ele!

*** Vítor e Helô tomam uma decisão - procurar o juiz!

NÃO PERCA O CAPÍTULO 68 DE