quarta-feira, 4 de julho de 2012

ASSIM NA TERRA COMO NO CÉU - Capítulo 68

Novela de Antonio Figueira
Inspirada na Obra de Dias Gomes

CAPÍTULO 68
Personagens deste capítulo:
 
VÍTOR
HELÔ
EMILIANO
D. MARIETA
RICARDINHO
MARIO MALUCO
BABI
OLIVEIRA RAMOS
JUIZ

CENA 1  -  PRÉDIO DO APARTAMENTO DE BABI  -  FRENTE  -  EXT.  -  NOITE.

ERA NOITE QUANDO MARIO MALUCO SE APROXIMOU NUMA MOTO, COM BABI NO BANCO DE TRÁS.

MARIO MALUCO  -  Pronto, a filhinha do papai tá em casa...

BABI SALTOU DA MOTO.

BABI  -  Eu não sou filhinha do papai, mas espero que você entenda.

MARIO MALUCO  -  Entendo sim. Você não tá na minha.

BABI  -  Não tou mesmo. Gosto de você, mas sei o que quero e você não sabe.

MARIO MALUCO  -  Que é que você quer? Casar, ter filho, criar cachorro?... Tu tá a fim de se amarrar em alguém?

BABI FEZ UMA PAUSA.

BABI  -  Estou.

MARIO MALUCO  -  Tem já o otário em vista?

BABI  -  Tenho. Você pode me chamar de careta, mas meu negócio é mesmo casar com véu e grinalda. Entendeu? Quero um homem que me dê casa, comida, automóvel. Andar de moto cansa muito. Além do mais, sua barba me espeta. Chau!

BABI ENTROU EM CASA. MARIOZINHO FICOU OLHANDO A MOÇA SE AFASTAR, CHATEADO. DEPOIS, SAIU EM DISPARADA.

NA PORTARIA DO PRÉDIO, BABI ABRIU A BOLSA, RETIROU UM CARTÃO E LEU.

BABI  -  Oliveira Ramos, banqueiro. Mas é... é o pai da Helô! (sorriu, maliciosa) Quem diria!

CORTA PARA:

CENA 2  -  APARTAMENTO DE JUREMA  -  SALA  -  INT.  -  NOITE.

MARIO MALUCO ENTROU NO APARTAMENTO E ENCONTROU RICARDINHO SENTADO NO SOFÁ, COM UMA CARTA NAS MÃOS.

RICARDINHO  -  (fitando a cara amarrada do amigo) Que cara é essa, brother? O que aconteceu?

MARIO MALUCO  -  A Babi me deu um fora, mano! Acabou tudo. Agora de vez.

RICARDINHO  -  Vocês tavam juntos, de novo? Eu nem sabia...

MARIO MALUCO  -  Encontrei ela na praia e soube que tinha terminado com Renatão. Aí convidei ela pra pegar um cinema. Depois do filme, fomos dar uma volta.... sabe como é... tentei ficar com ela... Aí ela veio com um papo broxante de casamento, filhos... Como é que pode? (viu a carta na mão de Ricardinho) O que é isso, brother? Carta de Jurema? Posso ler?

RICARDINHO ASSENTIU.

RICARDINHO  -  (entregou-lhe a carta) Lê. É uma carta triste, irmão.

MARIO MALUCO  -  (leu) “Há mais de um mês que você não vem me ver, e eu sei que não virá mais... Você é um ingrato. Ao menos por tudo o que eu lhe dei de amor, de renúncia, de sacrifício... ao menos pela injustiça que estou sofrendo...”


MARIO MALUCO ESTAVA EMOCIONADO CADA VEZ MAIS COM A CARTA. AS LÁGRIMAS COMEÇARAM A CORRER DE SEUS OLHOS.

MARIO MALUCO  -  (continuou)  “... pagando no fundo de um cárcere por um crime  que não cometi... e você sabe que eu não cometi...”

MARIOZINHO, DOMINADO POR UM CRISE DE NERVOS, COMEÇOU A SOLUÇAR NERVOSAMENTE. RICARDINHO TENTOU CONFORTÁ-LO.

RICARDINHO  -  Que é isso, brother!

MARIO MALUCO  -  Me deixa! Me deixa!

MARIO O EMPURROU E SAIU CORRENDO. RICARDINHO APANHOU A CARTA QUE O AMIGO DEIXARA CAIR E FICOU OLHANDO PARA O PAPEL, INTRIGADO.

CORTA PARA:

CENA 3  -  BANCO  -   SALA DE OLIVEIRA RAMOS  -  INT.  -  DIA.

UMA SEMANA SE PASSOU. OLIVEIRA RAMOS ESTAVA FALANDO AO TELEFONE, IRRITADO, E À MEDIDA QUE OUVIA, SUA FISIONOMIA IA FICANDO CADA VEZ MAIS CARREGADA.

OLIVEIRA RAMOS  -  Mas você acha que o juiz pode fazer isso? Prisão preventiva? Mas isso é um absurdo! Sim, sim, eu sei... Seria uma tragédia. Um momento, doutor...

MUDOU DE TELEFONE E DE TOM. AGORA FALAVA COM VOZ DE GALÃ DE NOVELA.

OLIVEIRA RAMOS  -  Alô?... É você? Estava esperando seu telefonema. Juro. Olha, eu estou atendendo um chato no outro telefone.   Desculpe   ter   feito  você  esperar.  Logo mais,  à  noite, quando eu for lhe buscar, pedirei perdão de joelhos. (e mudando novamente de voz) Dona Virgínia! Faça uma ligação para meu sítio em Teresópolis, imediatamente!

EMILIANO ACABAVA DE ENTRAR NA SALA E OUVIRA AS ÚLTIMAS PALAVRAS DE OLIVEIRA.

EMILIANO  -  Alguma notícia má, doutor?

OLIVEIRA RAMOS  -  Péssima! Meu advogado me telefonou. Corre no Forum o boato de que seria decretada a prisão preventiva de Helô!

EMILIANO  -  Que absurdo!...

OLIVEIRA RAMOS  -  Pois é. Vou pedir a eles que voltem para o Rio imediatamente!

CORTA PARA:

CENA  4  -  PRÉDIO DO APARTAMENTO DE HELÔ  -  CORREDOR  -  INT.  -  DIA

A PORTA DO ELEVADOR SE ABRIU E VÍTOR E HELÔ, RINDO, FELIZES, ARRASTAVAM MALAS E ALGUMAS SACOLAS PARA A PORTA DO APARTAMENTO.

HELÔ  -  (pegou a chave e girou-a na fechadura) Finalmente, em casa! Como é bom estar de volta!

VÍTOR SEGUROU-LHE O BRAÇO, DETENDO-A.

VÍTOR  -  Espere! Estou me sentindo como que recomeçando nossa história (tomou-a nos braços, empurrou a porta com o pé e entrou) Agora sim, entramos com o pé direito. Eu te amo, Helô, e quero te fazer a mulher mais feliz do mundo!

HELÔ  -  (ainda em seus braços, sorriu, emocionada) Eu também te amo muito, meu amor.

BEIJARAM-SE, FELIZES. VÍTOR GIRAVA PELA SALA COM HELÔ NOS BRAÇOS.

CORTA PARA:

CENA 5  -  BANCO  -  SALA DE OLIVEIRA RAMOS  -  INT.  -  DIA.

NERVOSO, OLIVEIRA RAMOS POUSOU O FONE NO GANCHO E DIRIGIU-SE A EMILIANO, BATENDO NA MESA COM A MÃO ESPALMADA.

OLIVEIRA RAMOS  -  Estou há tres horas tentando falar com Vítor e Helô e eles não atendem o telefone!

EMILIANO  -  Devem ter saído pra dar umas voltas...

OLIVEIRA RAMOS  -  Não! Falei com o caseiro. Eles já voltaram pro Rio. Porque não atendem a droga do celular?

CORTA PARA:

CENA  6  -  APARTAMENTO DE HELÔ  -  BANHEIRO  -  INT.  -  DIA.

VÍTOR E HELÔ FAZIAM AMOR DEBAIXO DO CHUVEIRO. A ÁGUA MORNA DESLIZAVA SOBRE SEUS CORPOS NUS, DEIXANDO O BOX ENFUMAÇADO. ATRAVÉS DA PORTA DO QUARTO, O SOM DO CELULAR TOCANDO SOBRE A CAMA CHEGAVA ATÉ ELES, MAS PARECIAM NÃO OUVIR MAIS NADA ALÉM DOS SONS DO  AMOR QUE OS UNIA.

UM TEMPO DEPOIS...

VÍTOR  -  Amor... é o seu celular, tocando outra vez.

HELÔ  -  Deixa tocar...

VÍTOR  -  Tem certeza? E se for importante?

HELÔ  -  Nada é mais importante do que nós dois... 

...E BEIJARAM-SE NOVAMENTE, COM PAIXÃO.

CORTA PARA: 

CENA  7  -  APARTAMENTO DE HELÔ  -  QUARTO  -  INT.  -  DIA. 

VÍTOR SE ARRUMAVA DIANTE DO ESPELHO, QUANDO HELÔ ENTROU NO QUARTO, USANDO UM AVENTAL.

HELÔ  -  Amor, tou preparando uma comidinha bem gostosa pra.... (parou, surpresa) Ué... vai sair?

VÍTOR  -  (vestindo um blazer cinza) Vou, meu amor. Acabei de falar com seu Emiliano. Ele e seu pai estavam tentando desesperadamente falar com a gente!

HELÔ  -  Nossa, que cara séria! Aconteceu alguma coisa?

VÍTOR  -  (assentiu) Não quero te preocupar, mas temos que agir, antes que seja decretada a sua prisão preventiva!

HELÔ  -  (chocada) A... aonde você vai?

VÍTOR  -  Vou no apartamento do seu Emiliano. Quero saber mais detalhes dessa história.

CORTA PARA:

CENA  8  -  APARTAMENTO DE EMILIANO  -  SALA  -  INT.  -  DIA.

VÍTOR ESTAVA DIANTE DE EMILIANO E MARIETA, QUE CAMINHAVA PELA SALA, NERVOSA.

VÍTOR  -  Eu estou afirmando pra vocês, com certeza absoluta, que Helô é inocente! Essa é a mais pura verdade!

MARIETA  -  (revoltada) Eu não acredito! Você está tentando proteger sua mulher, isso sim!

EMILIANO  -  Marieta, por quê tanta revolta? Se o Vítor está dizendo...


MARIETA  -  (cortou) Vítor está completamente cego por esta mulher! Ninguém vai me convencer que ela está isenta de culpa na morte de minha filha! Ninguém! (e para Vítor) Você está enfeitiçado por ela! Ela faz de você o que quer! Está cego! Cego!

FURIOSA, MARIETA RETIROU-SE DA SALA E TRANCOU-SE NO QUARTO.

EMILIANO BALANÇOU A CABEÇA, CONSTERNADO.

EMILIANO  -  Você viu o comportamento dela? Vítor, sinto-me obrigado a falar com você sobre aquilo que estou pressentindo. Esta situação chegou a tal ponto que a minha dignidade de homem não pode mais admitir.

VÍTOR  -  (confuso) Do... do que o senhor está falando?

EMILIANO  -  Que Marieta está apaixonada por você, é isso!

VÍTOR  -  Mas que absurdo! D. Marieta... era a mãe da Nívea! É quase uma mãe pra mim, também!

CORTA PARA:

CENA  9  -  APARTAMENTO DE HELÔ  -  SALA  -  INT.  -  DIA.

UM TEMPO DEPOIS...

HELÔ  -  (fitou, ansiosa, o marido que acabava de chegar) E então? O que vamos fazer?

VÍTOR  -  Vamos ao Forum, falar com o juiz. Agora mesmo.

HELÔ  -  (falou, confiante) Está bem. Vamos.

CORTA PARA:

CENA 10  -  APARTAMENTO DE EMILIANO  -  QUARTO  -  INT.  -  DIA.

EMILIANO ABRIU A PORTA E ENTROU NO QUARTO. MARIETA ESTAVA ALI DESDE QUE VÍTOR FÔRA EMBORA.

EMILIANO  -  Marieta, vamos por essa história em pratos limpos! Cansei de fingir que não vejo o que está acontecendo diante de meus olhos!

MARIETA  -  (sem encará-lo) Não sei do que você está falando!

EMILIANO  -  Está bem, se você quer assim, vou ser mais claro: falo da sua paixão arrebatadora pelo Vítor!

MARIETA  -  (fitou-o, indignada) Você está louco! Como tem coragem de dizer um absurdo desses? Emiliano, você está me ofendendo profundamente! Vítor é quase um filho pra mim!

EMILIANO FITOU-A, POR LONGO TEMPO, DESCONFIADO.

CORTA PARA:

CENA  11  -  FORUM  -  SALA DO JUIZ  -  INT.  -  DIA.

VÍTOR E HELÔ ESTAVAM SENTADOS DIANTE DO JUIZ, QUE OUVIU ATENTAMENTE O RELATO DOS FATOS OCORRIDOS EM TERESÓPOLIS, COM A HIPNOSE DA JOVEM.

JUIZ  -  Achei muito interessante o que vocês me contaram, principalmente a amnésia que ela sofreu depois do crime. Mas, no meu entender, nada disso altera substancialmente os depoimentos que vocês prestaram.

VÍTOR  -  Como não altera? Nós antes não tínhamos a convicção que agora temos.

JUIZ  -  Essa convicção é pessoal de cada um de nós. A senhora pelo seu novo relato, disse que deixou Nívea por volta de uma hora. Mas chegou em casa por volta de duas. Que fez nesse meio tempo? Não acha que é muito tempo para ir do Castelinho à sua casa?

HELÔ  -  Eu devo ter rodado de carro por aí...

JUIZ  -  É uma explicação, mas não um álibi. Alguém viu?

HELÔ  -  Não. Estava sozinha.

JUIZ  -  Então, ficamos na mesma.

VÍTOR  -  Nós viemos procurá-lo espontaneamente para explicar tudo isso e também  porque nos disseram que o senhor estaria para decretar a prisão preventiva de minha mulher...

JUIZ  -  (atalhou) Eu, não. O advogado, Dr. Celso Barroso, solicitou essa medida ao Desembargador relator do processo, realmente. Como os senhores sabem, o pedido de revisão será julgado por uma Câmara Criminal, que é constituída de desembargadores. Eles é que poderão, ou não, pedir a prisão de Dona Heloísa.

HELÔ  -  Quer dizer, então... que eu posso ser presa?

JUIZ  -  (assentiu) Sinto muito. A qualquer momento.

FIM DO CAPÍTULO 68
Babi (Sandra Bréa)

e no próximo capítulo...

*** A "chapa vai esquentar" na festa de casamento de Rodolfo Augusto e Maria Regina, com direito a traições, barracos e um novo confronto entre Vítor e Ricardinho, que está disposto a ir até as últimas consequencias!

ÚLTIMOS CAPÍTULOS!

NÃO PERCA O CAPÍTULO 69 DE





 

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