quinta-feira, 19 de julho de 2012

ASSIM NA TERRA COMO NO CÉU - Capítulo 74

Novela de Antonio Figueira
Inspirada na Obra de Dias Gomes
CAPÍTULO 74
penúltimo capítulo
 
Personagens deste capítulo:
 
VERINHA
MARCOS
NELSON MOTA
OLIVEIRA RAMOS
RENATÃO
RICARDINHO
MARIO MALUCO
HELÔ
SAMUCA
JOANINHA
RODOLFO AUGUSTO
VITOR
BABI
DELEGADO FONTOURA
DETETIVE JONAS
JUREMA

CENA 1  -  APARTAMENTO DE OLIVEIRA RAMOS  -  SALA  -  INT.  -  NOITE.

VERA E MARCOS, A UM CANTO DA SALA, COMEÇARAM A DANÇAR.

VERINHA  -  Ô festinha chata. Só dá coroa!

NELSON MOTA SE APROXIMOU COM UMA GAROTA.

NELSON MOTA  -  Olá!... Tudo legal, Verinha? Esta aqui é Glorinha, vai se lançar agora num CD sensacional.

VERINHA  -  Oi, Glorinha.

NELSON MOTA  -  Como é que tá isso aqui?

VERINHA  - Uma chatura!

NELSON MOTA  -  (sorriu) Eu só vim mesmo porque, como toda a cidade, tou querendo saber qual vai ser a próxima do Oliveira Ramos.

MARCOS  -  (entrou na conversa) O velho tá mantendo um suspense bacana!

NELSON MOTA  -  Eu acho que deve ser uma coroa... dessas que perderam a fé em Santo Antonio...

NO OUTRO LADO DA SALA, OLIVEIRA CONVERSAVA COM RENATÃO. OLHAVAM, ANSIOSOS, NA DIREÇÃO DA PORTA.

OLIVEIRA RAMOS  -  Ela está demorando. Combinamos que ela chegaria às onze e já é quase meia-noite!

RENATÃO  -  Tenha calma. Ela está chegando!

OLIVEIRA VOLTOU-SE E SEU ROSTO SE ABRIU NUM SORRISO.

OLIVEIRA RAMOS  -  É verdade!... Ela está chegando! Com licença...

OLIVEIRA FOI ATÉ A PORTA E ENTROU COM A NOIVA PELO BRAÇO. NO MEIO DA SALA, PAROU E APRESENTOU-A.

OLIVEIRA RAMOS  -  Meus amigos, tenho a satisfação de apresentar a todos... minha noiva!

CORTA PARA:

CENA  2  -  IPANEMA  -  RUA  -  EXT.  -  NOITE.

RICARDINHO E MARIO MALUCO SEGUIAM NAS MOTOS A TODA VELOCIDADE, PELAS RUAS DO BAIRRO, TENTANDO DESPISTAR A POLÍCIA.

O CAMINHÃO COM OS FARÓIS ACESOS SURGIU DE REPENTE NA RUA ESCURA. MÁRIO SE DESESPEROU.

MARIO MALUCO  -  (ainda pôde gritar) Cuidado, Ricardinho, cuidado!

A DERRAPADA VIOLENTÍSSIMA FOI SEGUIDA DE TREMENDA COLISÃO. O CORPO DE RICARDINHO VOOU PELOS ARES, INDO PARAR A ALGUNS METROS DA MOTO.

CORTA PARA:

CENA 3  -  APARTAMENTO DE OLIVEIRA RAMOS  -  SALA  -  INT.  -  NOITE.

NA FESTA, TODOS OUVIRAM O BARULHO ENSURDECEDOR E SE VOLTARAM, ASSUSTADOS. ALGUÉM CORREU PARA A JANELA.

CORTA PARA:

CENA  4  -  RUA  -  EXT.  -  NOITE.

A MOTO ESTAVA EM BAIXO DO CAMINHÃO, UMA RODA GIRANDO. O CORPO DE RICARDINHO ESTENDIDO NO CHÃO.

CORTA PARA:

CENA  5  -  APARTAMENTO DE OLIVEIRA RAMOS  -  SALA  -  INT.  -  NOITE.

OLIVEIRA RAMOS  -  Como ia dizendo (pigarreou, um pouco irritado porque o barulho desviara as atenções dos convidados) quero apresentar minha noiva: senhorita Babi de Luxemburgo Novais.

HELÔ  -  (deu um grito) Mas é a Babi! Nossa mãe, como é que eu podia imaginar! Oliveira não tem jeito, mesmo!

MARCOS  -  Babi! Não é possível!

SAMUCA  -  (para Joaninha) Caramba, com Oliveira não tem esse negócio de carro usado, não, é só do último tipo!

JOANINHA  -  (furiosa) Esse velho não se enxerga? Só casa com menininhas!

NELSON MOTA  -  Faz ele muito bem. Quem pode comprar tem o direito de comprar bem.

VERINHA  -  (preocupada com o desastre) Eu acho que foi aqui perto, não foi?

MARCOS  -  Também acho. Pelo barulho...

RODOLFO AUGUSTO  -  (aproximando-se) Vocês ouviram? Parece que foi um acidente feio!...

VERINHA  -  (arrastando o namorado pelo braço) Vamos ver?

MARCOS  -  Vamos...

SAÍRAM OS DOIS, APRESSADOS.

CORTA PARA:

CENA  6  -  RUA  -  EXT.  -  NOITE.

RICARDINHO ESTAVA ESTENDIDO NO CHÃO, AINDA DESACORDADO. MARIO SE DEBRUÇOU SOBRE ELE, TENTANDO REANIMÁ-LO. RICARDINHO PARECIA MUITO FERIDO. O SANGUE CORRIA DE SUA CABEÇA.

MARIO MALUCO  -  Mano! Acorda!... Bróder!

RICARDINHO ABRIU OS OLHOS UM POUCO. ESTAVA AGONIZANTE. O OUTRO TENTOU ERGUÊ-LO. RICARDINHO GEMEU. O CHOFER DO CAMINHÃO SE APROXIMOU E OLHOU APAVORADO.

MARIO MALUCO  -  (gritou) A culpa foi sua! Entrou na contramão!

O CHOFER SE APAVOROU E SAIU CORRENDO.

MARIO MALUCO  -  (gritou) Não fuja! Covarde! Covarde! Pega! Pega! (voltou-se para Ricardinho) Mano, me responde! Tá me ouvindo?

CORTA PARA:

CENA  7  -  APARTAMENTO DE OLIVEIRA RAMOS  -  SALA  -  INT.  -  NOITE.

OLIVEIRA APRESENTOU BABI A HELÔ.

OLIVEIRA RAMOS  -  Bem... eu acho que vocês já se conhecem...

BABI  -  Como vai, Helô?

A FILHA DO BANQUEIRO SORRIU COM AR DE TROÇA. DEU UMA GARGALHADA.

HELÔ  -  Ora, quem é que não conhece? Ela já teve o nome no rabo de um avião, por uma semana inteira, pra toda Ipanema ver...

BABI SORRIU COM RAIVA.

CORTA PARA:

CENA  8  -  RUA  -  EXT.  -  NOITE.

LÁ FORA, MARIOZINHO, ATARANTADO, FAZIA SINAIS PARA OS CARROS QUE PASSAVAM. VERA E MARCOS ATRAVESSARAM A RUA CORRENDO EM DIREÇÃO AO LOCAL DO DESASTRE. SÚBITO, ELA RECONHECEU O IRMÃO.

VERINHA  -  Mariozinho!

MARCOS  -  (gritou, em meio ao barulho dos carros que passavam) Que houve?!

MARIO MALUCO, DESESPERADO, APONTOU O COMPANHEIRO.

MARIO MALUCO  -  Ricardinho! Ele tá morrendo! É preciso levar pro Miguel Couto!

VERINHA  -  (mais assustada ainda) Nossa!...

MARCOS  -  Eu vou telefonar, chamar uma ambulância! Tou sem celular... Verinha, tá com o seu aí?

VERINHA  -  Não, deixei em casa...

MARCOS  -  Então vou ligar da casa do seu Oliveira!

CORTA PARA:

CENA  9  -  APARTAMENTO DE OLIVEIRA RAMOS  -  SALA  -  INT.  -  NOITE.

SUSI APROXIMOU-SE DO CASAL DE NOIVOS.

OLIVEIRA RAMOS  -  Susi você também já conhece!

BABI  -  Oi, Susi...

A QUARTA ESPOSA DO BANQUEIRO OLHOU PARA BABI E SORRIU, COM IRONIA.

SUSI  -  Olha, se você quiser, eu posso lhe dar umas dicas, transmitir minha experiencia...

BABI  -  Obrigada, querida, mas algo me diz que minha experiencia com Oliveira vai ser única e inesquecível (e para o noivo)  Você não acha, amor?


OLIVEIRA RAMOS  -  Concordo plenamente, minha querida. 

BABI  -  Com licença!


E AFASTARAM-SE, DEIXANDO SUSI COM UM SORRISO AMARELO.

MARCOS ENTROU CORRENDO PELA SALA DA RECEPÇÃO E FOI DIRETO PARA O TELEFONE.

OLIVEIRA CONTINUAVA AS APRESENTAÇÕES.

OLIVEIRA RAMOS  -  Matilde, minha terceira esposa...

A MULHER SORRIU PELO CANTO DA BOCA, COM CERTO SARCASMO.

OLIVEIRA RAMOS  -  Solange, que foi a segunda...

ESTA OLHOU PARA BABI COM SUPERIORIDADE.

BABI  -  Não sei porque você trocou tanto de mulher, Oliveira. São todas encantadoras,,,

OLIVEIRA RAMOS  -  Minha querida, eu estou sempre em busca da perfeição...

MARCOS  -  (ao telefone) Alô! É do Miguel Couto? É pra mandar uma ambulância urgente! Houve um desastre... Tome nota do local...

VÍTOR E HELÔ SE APERCEBERAM DE ALGO ANORMAL. FORAM NA DIREÇÃO DE MARCOS.

MARCOS  -  (ao telefone) Tomou nota? Depressa, por favor! É muito grave!

VÍTOR  -  Que aconteceu?

MARCOS  -  Ricardinho... sofreu um acidente, aqui perto! Está morrendo!

HELÔ E VÍTOR SE OLHARAM, CHOCADOS.

CORTA PARA;

CENA  10  -  RUA  -  EXT.  -  NOITE.

MARIO ESTAVA DEBRUÇADO SOBRE O CORPO DE RICARDINHO, QUE JÁ RECUPERARA OS SENTIDOS.

MARIO MALUCO  -  Mano!... Tá me ouvindo?

RICARDINHO  -  Oi, bróder...

MARIO TINHA OS OLHOS MOLHADOS.

MARIO MALUCO  -  Pera aí... a ambulância já vem vindo...

RICARDINHO  -  Me pegaram... de jeito...

RICARDINHO TENTOU MOVER-SE E NÃO CONSEGUIU. FEZ UMA CARETA DE DOR.

MARIO MALUCO  -  Não faça força... espere chegar a ambulância... Marcos foi chamar!...

MARCOS SE APROXIMOU, JUNTO COM VÍTOR E HELÔ.

MARCOS  -  Já chamei! Devem estar vindo aí!

VÍTOR  -  (já ao lado de Mario) Como é que foi?

MARIO MALUCO  -  O caminhão... apareceu de repente... eu ainda gritei...

NESSE INSTANTE, RICARDINHO ABRIU NOVAMENTE OS OLHOS. VIU VÍTOR E SORRIU.

RICARDINHO  -  O bicão de sacristia...

O SORRISO SE TRANSFORMOU NUM ESGAR E ELE DESMAIOU. MARIO OLHOU PARA OS OUTROS, ATARANTADO, SEM SABER O QUE FAZER. VÍTOR SE AJOELHOU JUNTO AO CORPO, TOMOU O PULSO E ESCUTOU O CORAÇÃO.

VÍTOR  -  Não, ele não morreu... desmaiou apenas.

O CARRO DA POLÍCIA CHEGOU NESSE INSTANTE. FONTOURA SALTOU APAVORADO. CORREU PARA O LOCAL DO ACIDENTE. JONAS AO SEU LADO.

FONTOURA  -  Meu filho! Foi ele!... Mariozinho!...

O RAPAZ VOLTOU-SE. ESTAVA DEBRUÇADO SOBRE O CORPO DE RICARDINHO. FONTOURA RESPIROU ALIVIADO.

FONTOURA  -  Pensei que tinha sido você!... Tinha que acontecer isso! Eu sabia! E o chofer do caminhão? Onde está?

MARIO MALUCO  -  Fugiu!

FONTOURA PASSOU A AGIR COMO POLICIAL.

FONTOURA  -  (gritou para o detetive) Jonas, tome providências. Esse chofer não deve ir longe.

CORTA PARA:

CENA  11  -  APARTAMENTO DE OLIVEIRA RAMOS  -  SALA  -  INT.  -  NOITE.

RENATÃO  -  Isso! Uma valsa pro Oliveira dançar!

O BANQUEIRO ESTAVA ENCABULADO.

BABI  -  Eu não sei dançar valsa...

OLIVEIRA RAMOS  -  (se animou) Pode deixar, minha querida, eu te ensino!

SAIU DANÇANDO COM ELA, ENQUANTO RENATÃO BATIA PALMAS.

RENATÃO  -  (aproximou-se de Susi e fez uma mesura) Me dá o prazer?

SUSI OLHOU-O UM POUCO RESSENTIDA, MAS ACABOU SORRINDO E ACEITANDO. LOGO VÁRIOS CASAIS SE JUNTARAM A ELES, RODOPIANDO PELO SALÃO.

CORTA PARA:

CENA  12  -  RUA  -  EXT.  -  NOITE.

FONTOURA SE APROXIMOU DE RICARDINHO. AJOELHOU-SE E EXAMINOU-O, SEM TOCAR NELE. DEPOIS LEVANTOU-SE CAUTELOSAMENTE.

FONTOURA  -  Eu acho que a ambulância não vai chegar a tempo... Seria melhor um padre...

O DELEGADO OLHOU PARA VÍTOR. HELÔ TAMBÉM.

FONTOURA  -  Se o senhor ainda pudesse dar a extrema-unção, eu lhe pediria.

VÍTOR  -  Eu posso.

HELÔ  -  (se surpreendeu) Pode mesmo?

VÍTOR  -  Sim. É um direito que não me foi tirado, o de ministrar esse sacramento.

FONTOURA  -  Então eu acho que o senhor devia fazer isso... por ele.

MARIO MALUCO -  Não! Ele não ia querer! Ele não gostava de você!

NO OUTRO LADO DA RUA PAROU UM TAXI E JUREMA SAIU CORRENDO DE DENTRO DELE.

JUREMA  -  Ricardinho!

ELA TENTOU CHEGAR JUNTO DO CORPO, PORÉM MARCOS E VERA NÃO DEIXARAM.

VERINHA  -  Você não pode ver!

JUREMA ESTACOU DE SÚBITO. COMPREENDEU, PORÉM NÃO GRITOU. SUA VOZ SAIU MANSA, COMO SE ESTIVESSE DOPADA.

JUREMA  -  Por quê?!... Ele... está morto?!

VERINHA  -  Não... ainda não...

O DELEGADO APROXIMOU-SE DO FILHO.

FONTOURA  -  Eu acho que você não tem o direito de impedir que o padre dê a extrema-unção! Ninguém tem esse direito.

HELÔ  -  (interveio) Ninguém perguntou a Vítor se ele quer fazer isso! Ele pode ter suas razões.

JUREMA  -  (compreendeu a situação) Como?... Ele vai dar a extrema-unção?... Então...

VÍTOR  -  (hesitou) Como homem, eu teria mesmo muitas razões para me recusar.

JUREMA  -  Não! (gritou) Você não pode recusar!... Se ele está morrendo... você não pode recusar!...

VÍTOR  -  Não. Como sacerdote, eu não posso recusar.

VÍTOR AJOELHOU-SE JUNTO AO CORPO. MARIO AFASTOU-SE UM POUCO, CHORANDO COPIOSAMENTE. O PADRE IA COMEÇAR A CERIMÔNIA, QUANDO RICARDINHO ABRIU OS OLHOS, RECUPERANDO OS SENTIDOS.

VÍTOR FEZ COM O POLEGAR O SINAL DA CRUZ SOBRE OS OLHOS, OUVIDOS, NARIZ, BOCA E MÃOS.

VÍTOR  -  Por esta santa unção, e sua piíssima misericórdia, perdoe-te o Senhor tudo o que pecaste pelos olhos, ouvidos, nariz, boca e mãos. Amém.

RICARDINHO  -  Padreco... eu queria dizer... umas coisas...

VÍTOR  -  Quer confessar?

RICARDINHO  -  Confessar... tudo?... Tenho uma pá de pecados... ia virar a noite... É só... de Nívea... que eu quero falar...

VÍTOR  -  De Nívea... fale, então.

FIM DO CAPÍTULO 74

Mario Maluco, Verinha e Ricardinho
(Osmar Prado, Djenane Machado e Carlos Vereza)

e no último capítulo...


*** A grande revelação: quem é o assassin o de Nívea Louzada!


*** O final de cada personagem e o desfecho da história.

NÃO PERCA O ÚLTIMO CAPÍTULO DE

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