sexta-feira, 13 de julho de 2012

ASSIM NA TERRA COMO NO CÉU - Capítulo 72

Novela de Antonio Figueira
Inspirada na Obra de Dias Gomes

CAPÍTULO 72
Personagens deste capítulo:

OLIVEIRA RAMOS
KONSTANTÓPULUS
SAMUCA
RENATÃO
DOM JOSÉ
JUREMA
VÍTOR
HELÔ
JOANINHA
DELEGADO FONTOURA
MARIO MALUCO
RODOLFO AUGUSTO
DANUSA

CENA 1  -  APARTAMENTO DE RENATÃO  -  SALA  -  INT.  -  NOITE.

MARIO MALUCO ACABARA DE LIGAR PARA CASA.

RENATÃO  -  Que foi que houve? Tá ocupado?

MARIO MALUCO  -  Não, o velho atendeu... deu logo aquele show. Eu queria avisar à velha que eu tou bem. Telefono amanhã, na hora que ele estiver de serviço.

RENATÃO  -  (com azedume) Mas o Mãozinha, hem? Entregou você!

MARIO MALUCO  -  Eu acho que ele fez isso pensando que o velho ia tremer na base. Não sabe que seu Delega é carne de pescoço!

RENATÃO  -  Quer mais um uísque?

MARIO MALUCO  -  Eu acho que se tomar mais um uísque agora... desmaio. Não comi nada hoje... não almocei, nem jantei...

RENATÃO  -  Por que não disse logo?! Konstantópulus! Prepara qualquer coisa pro Mariozinho comer (e notando o mau aspecto do rapaz) Não quer tomar um banho antes? Banho é bom. A água lava tudo. (e virando-se para o mordomo) Konstan, toalha, sabonete, escova, desodorante...

CORTA PARA:

CENA  2  -  HOTEL  PRAIA IPANEMA  -  SAGUÃO  -  INT.  -  DIA.

SAMUCA CHEGOU AO HOTEL E, APÓS SE INFORMAR NA RECEPÇÃO, DIRIGIU-SE AO SAGUÃO, ONDE DOM JOSÉ O AGUARDAVA.

SAMUCA  -  (ao avistá-lo) Dom José! Recebi seu recado e vim o mais depressa que pude.

DOM JOSÉ  -  Como vai, Senhor Samuca? Dom Carvajal me mandou ao Brasil solamente para saldar las deudas de Doña Consuelo. Isto é, la transación con el Banco Oliveira Ramos.

SAMUCA  -  Dom Carvajal é um homem de palavra. Cumpriu o que prometeu.

DOM JOSÉ  -  Sí, sí. Pero, todo lo más  -  palacete, automóvel, todos los bens, terán que ser devolvidos.

SAMUCA  -  (queixou-se, amargurado) Tanto sacrifício pra no fim acabar na lona!

DOM JOSÉ  -  (falou, pausadamente) Pero, en liberdade!

CORTA PARA:

CENA  3  -  APARTAMENTO DE RENATÃO  -  SALA  -  INT.  -  DIA.
         
RENATÃO SUPREENDEU-SE AO VER SAMUCA SURGIR NA SALA, CARRAGANDO UMA PEQUENA MALA.

RENATÃO  -  Ué... o que aconteceu? Vai embora?

SAMUCA  -  Vou, meu velho. Eu tinha uma vaga esperança que Dom Carvajal deixasse ao menos o carro comigo... mas não me restou nada. Portanto, só me resta voltar pra Pensão Primavera. Ainda bem que paguei aquela pendura, não paguei? Paguei em dobro!

RENATÃO  -  Tem certeza que pode se manter na pensão? Se quiser ficar aqui mais um tempo...

SAMUCA  -  Obrigado, meu amigo. É bom saber que posso contar com você. Tenho algum dinheiro, que Consuelo me deu logo que nos casamos. Vai dar pra pagar as contas por uns meses. E, morando na pensão, fica mais fácil me reaproximar de Joaninha. Ela e Maria Lúcia são amigas, estão sempre juntas, sabe como é...

RENATÃO  -  Eu sei, sei como é. (e abriu os braços) Vem cá, velho. Me dá um abraço!

ABRAÇARAM-SE.

SAMUCA  -  Ei, por que todo esse drama? Afinal, a pensão fica a três quadras daqui!

CORTA PARA:

CENA  4  -  APARTAMENTO DE HELÔ  -  SALA  -  INT.  -  DIA.

OLIVEIRA RAMOS FOI PESSOALMENTE À CASA DA FILHA. ESTAVA MUITO ANSIOSO. VÍTOR E HELÔ SENTARAM-SE DIANTE DO BANQUEIRO, CURIOSOS.

HELÔ  -  Estou curiosa, papai. Você nunca vem aqui...

OLIVEIRA RAMOS  -  Helô, você é minha única filha, e sabe o quanto sua opinião e aprovação são importantes para mim. Pois bem, eu... eu vou direto ao assunto: conheci uma moça e estamos namorando há um tempo...

HELÔ  -  Eu devia ter desconfiado... Você não tem jeito mesmo, papai. (refletiu) Mas espere... como podem namorar já a algum tempo, se eu nunca soube de nada?

OLIVEIRA RAMOS  -  I-isso não tem importancia agora. O que importa é que nos gostamos muito e resolvemos nos casar!

HELÔ  -  (fez um muxôxo) Vai começar tudo de novo! Quatro casamentos desfeitos e você não se cansa, meu pai?

VÍTOR  -  Amor, deixe seu pai falar...

OLIVEIRA RAMOS  -  Sábado vou dar uma festa em casa, para apresentar oficialmente à sociedade minha quinta esposa.

HELÔ  -  (balançou a cabeça, negativamente) Não acredito! Quem é a interesseira da vez?

OLIVEIRA RAMOS  -  Minha filha, falando assim você me ofende. Sou um coroa enxuto, ainda. Como pode achar que as mulheres se aproximam de mim apenas por interesse em meu dinheiro? Na sua opinião, não tenho nenhum atrativo?

HELÔ  -  Não é isso, papai. Você é que é muito precipitado. Deveria conhecer melhor as mulheres, antes de pensar em casamento. Com quatro casamentos nas costas, já devia ter aprendido!

OLIVEIRA RAMOS  -  Filha, não consigo viver só. Sinto falta de uma companhia, de uma mulher em casa.

HELÔ  -  Posso saber quem é ela? Eu conheço?

OLIVEIRA RAMOS  -  (hesitou) Não... você não conhece. Por isso vou dar essa festa. Quero apresentar minha noiva a você e  a todos. Posso contar com vocês?

HELÔ  -  (olhou para Vitor, indecisa) Não sei. Vamos pensar, papai.

OLIVEIRA RAMOS  -  Vou ficar muito feliz se vocês forem. Vítor, por favor, me ajude a convencer Helô.

VÍTOR  -  Vou tentar, Oliveira. Vou tentar.

OLIVEIRA RAMOS  -  (levantou-se) Bem, eu vou indo. Tenho algumas coisas pra resolver, ainda (beijou a filha) Até logo, querida. Chau, Vítor.

E SAIU,

HELÔ  -  (sozinha com Vítor, desabafou) Papai não tem jeito, não aprende mesmo! Preferia não ir a essa festa.

VÍTOR  -  Mas somos obrigados. Você sabe, detesto recepções.

HELÔ  -  (falou, decidida) Mas mudei de idéia. Nós vamos,  sim.  Vou  pra  me divertir. Vou me divertir muito. E também porque quero conhecer minha nova “mamãe” e dizer logo na cara o que penso dela!

A CAMPAINHA TOCOU. VÍTOR E HELÔ FITARAM-SE.

HELÔ  -  Meu pai voltou?

VÍTOR ABRIU A PORTA. NÃO ERA OLIVEIRA RAMOS. UM HOMEM DE MEIA IDADE APRESENTOU-SE, COM UMA FOLHA DE PAPEL NAS MÃOS.

HOMEM  -  Bom dia. Sou oficial de justiça. Trago uma intimação para Dona Heloísa Oliveira Ramos. Ela está em casa?

HELÔ APROXIMOU-SE.

HELÔ  -  Sou eu.

HOMEM  -  Assine aqui, por favor.

HELÔ ASSINOU O PAPEL E DEVOLVEU-O AO OFICIAL, QUE RETIROU-SE.

HELÔ  -  (lendo o documento) É.... uma intimação pra depor!

VÍTOR  -  (sério) Então é verdade mesmo... Eles vão começar tudo... E é depois de amanhã... Vamos estragar a festa do Oliveira... Temos que avisá-lo.

CORTA PARA:

CENA  5  -  APARTAMENTO DE JUREMA  -  SALA  -  INT.  -  DIA.

JUREMA ABRIU A PORTA E MARIO MALUCO ENTROU. JUREMA ABRIU OS BRAÇOS PARA ELE.

JUREMA  -  Tava louca pra te ver...

MARIO MALUCO  -  É que... eu ando meio enfurnado... Dei um azar... e o velho anda atrás de mim.

JUREMA  -  Ricardinho me disse.

MARIO MALUCO  -  Ele não tá aqui? Pensei de encontrá-lo aqui...

MARIO FICOU MEIO CONSTRANGIDO.

JUREMA  -  Mas você pode ficar... se a barra tá pesada.

MARIO MALUCO  -  Tá... pesadíssima. O velho botou uma pá de tiras atrás de mim... Não tá mole... Posso mesmo ficar aqui?

JUREMA  -  Pode. Não tem problema. Se os tiras voltarem, eu escondo você!

MARIO OLHOU PARA ELA FIXAMENTE. JUREMA SORRIU.

MARIO MALUCO  -  Sabe que tu é uma garota muito bacana? Palavra! Como você não existe. Mas não existe mesmo. Ás vezes, quando eu imaginava você lá na cadeia... me dava vontade de chorar. Uma vez eu chorei. Quando li aquela carta...

JUREMA  -  (ficou preocupada) Você leu?...

MARIO MALUCO  -  Ricardinho não tem segredo pra mim. Ele é meu irmão. Você também... é minha irmã. O que você me pedir pra fazer, eu faço. Faço mesmo.

JUREMA  -  (emocionada) Muito obrigada, Mariozinho. É muito bom a gente saber que tem alguém que gosta da gente... assim, desse jeito.

SORRIRAM, UM PARA O OUTRO. NA MAIOR PUREZA.

CORTA PARA:

CENA  6  -  BANCO OLIVEIRA RAMOS  -  SALA DE OLIVEIRA  -  INT.  -  DIA.

O BANQUEIRO FICOU SURPRESO COM A CHEGADA REPENTINA DE VÍTOR.

OLIVEIRA RAMOS  -  (surpreso) Vítor! Aconteceu alguma coisa?

VÍTOR  -  (falou com gravidade) Aconteceu, Oliveira. Achei melhor vir pessoalmente. Aconteceu o que mais temíamos: Helô recebeu uma intimação  pra depor. E no dia da sua festa. Acho melhor suspender a recepção.

OLIVEIRA RAMOS  -  (minimizou) Mas não é só um depoimento? Então não há nada de mais. A recepção será mantida.

VÍTOR OLHOU-O, DESCONFIADO.

VÍTOR  -  Eu gostaria de ter a sua segurança... mas confesso que estou muito preocupado...

OLIVEIRA RAMOS  -  Vai dar tudo certo, você vai ver.

CORTA PARA:

CENA  7  -  PENSÃO PRIMAVERA  -  QUARTO DE SAMUCA  -  INT.  -  DIA.   

SAMUCA ESTAVA DEITADO NA CAMA, PENSATIVO, QUANDO BATERAM NA PORTA.

SAMUCA  -  (gritou) Entre! A porta tá aberta.

JOANINHA SURGIU NA PORTA. SAMUCA LEVANTOU-SE, DE UM SALTO.

JOANINHA  -  Oi, Samuca.

SAMUCA  -  (surpreso) Joaninha! Que bom ver você...

JOANINHA  -  Maria Lúcia me disse que você voltou pra pensão. Não acreditei. Vim ver se é verdade.

SAMUCA  -  (constrangido) Como você vê, estou de volta... do mesmo jeito que saí...

JOANINHA  -  Quer dizer, então... que a falecida não deixou nada pra você?

SAMUCA  -  (confirmou) Nada. Tenho apenas um dinheirinho pra me manter por uns meses, e nada mais. Mas, Joaninha, quer saber de uma coisa? Eu tou feliz. Por incrível que pareça, eu tou feliz. Fui recebido por todos de braços abertos, tou me sentindo em casa... e tem coisas que... (emocionou-se) tem coisas que não tem preço. Uma dessas coisas... é ver você bater na porta do meu quarto e entrar... como nos velhos tempos!

JOANINHA  -  Ai, Samuca, pára senão vou chorar...

SAMUCA TOMOU-LHE AS MÃOS E BEIJOU-AS.

SAMUCA  -  (falou com sinceridade) Eu te amo, Joaninha.

JOANINHA  -  Você é um tonto, mas eu também te amo. Muito!

CORTA PARA:

CENA  8  -  DELEGACIA  -  SALA DO DELEGADO FONTOURA  -  INT.  -  DIA.

DOIS DIAS SE PASSARAM. HELÔ, AGORA, ESTAVA DIANTE DO DELEGADO FONTOURA, COM UM ESCRIVÃO PRESENTE.

DELEGADO FONTOURA  -  Como a senhora está vendo, voltamos a nos encontrar. E em situação bem pior, para a senhora.

HELÔ  -  Eu acho tudo isso uma palhaçada!

DELEGADO FONTOURA  -  (advertiu-a) Modere seu linguajar, Dona Heloísa. Estamos aqui para um depoimento, coisa séria!

HELÔ  -  Eu digo que isto é uma palhaçada porque o senhor está farto de saber que eu não tive nada a ver com esse crime. Tanto, que nem tomou meu depoimento da primeira vez. Mas agora, como deram a mancada de condenar Jurema e o processo acabou sendo anulado, querem  achar outro pato!

DELEGADO FONTOURA  -  (conteve-se a custo) Dona Heloísa, eu estou aqui cumprindo um dever. Por solicitação do Dr. Promotor Público, recebi do juiz a incumbência de ouvir determinadas pessoas. E é o que estou fazendo.

CORTA PARA:

CENA  9  -  APARTAMENTO DE DANUSA  -  SALA  -  INT.  -  DIA.  

RODOLFO AUGUSTO FOI AO APARTAMENTO DE DANUSA, QUE QUERIA VÊ-LO COM URGÊNCIA.

RODOLFO AUGUSTO  -  (entrou, esbaforido) Danusa, estava ocupadérrimo examinando uns croquis e tive de largar tudo pra atender o seu chamado!

DANUSA  -  Gugu, te chamei aqui porque sou sua amiga. Acabei de fazer uma plástica e não posso sair de casa, senão iria correndo te mostrar isso!

SENTADA A UMA POLTRONA, COM O ROSTO COBERTO POR UMA MÁSCARA AMARELA, DANUSA ATIROU-LHE UMA REVISTA.

RODOLFO AUGUSTO  -  (pegou a revista e olhou a capa, confuso) Mas... o que é isso...

DANUSA  -  Uma bomba! Olhe! Não reconhece?

RODOLFO AUGUSTO EMPALIDECEU. ABRIU A BOCA, SEM ACREDITAR NO QUE VIA. NA CAPA DA REVISTA MASCULINA, A FOTO DE MARIA REGINA NUA, EM POSE SENSUAL.

RODOLFO AUGUSTO  -  Mas... mas é Maria Regina! 

FIM DO CAPÍTULO 72


e no próximo capítulo...


*** Começa a festa de noivado de Oliveira Ramos, com muitas surpresas e revelações, e de onde nossos personagens , ao sair, não serão mais os mesmos!


EMOÇÕES FINAIS! ÚLTIMOS CAPÍTULOS!


NÃO PERCA O ANTEPENÚLTIMO CAPÍTULO DE

 

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