quinta-feira, 7 de agosto de 2014

O HOMEM QUE DEVE MORRER - Capítulo 42


Novela de Janete Clair

Adaptação de Antonio Figueira

CAPÍTULO 42

Participam deste capítulo

Cyro  -  Tarcísio Meira
Ester  -  Gloria Menezes
Bárbara  -  Zilka Salaberry

 CENA 1  -  CASA DE ESTER  -  SALA  -  INTERIOR  -  DIA

ESTER AGUARDAVA O DR. CYRO NA VARANDA DA RESIDENCIA DE LUXO. DEIXARA A CASA DE OTTO DESDE O ACIDENTE, RECOLHENDO-SE À SUA MORADIA PARTICULAR, ACOLHEDORA, COM VISTA PANORÂMICA PARA O LITORAL CATARINENSE.

CYRO ENTROU, IMPACIENTE.

CYRO  -  Pensei que tivesse acontecido alguma coisa a você ou ao menino.

ESTER – (mostrou-lhe um papel, com letra feminina) Veja isto!

CYRO  -  (leu-o de um só fôlego) O que quer dizer?

ESTER  -  (à beira de uma crise de histeria) É a prova de que a atriz de circo foi testemunha ou cúmplice do crime de Otto. Se eu levar este bilhete à polícia, ela será obrigada a dizer a verdade.

CYRO ACENDEU UM CIGARRO E SENTOU-SE NA CADEIRA DE VIME.

ESTER  -  (continuou) Vanda Vidal. Ela nega ter conhecido Otto, mas este bilhete desmente tudo. Ela teve participação importante na morte de Carlos.

CYRO  -  Em resumo, a atriz pode esclarecer o crime.

ESTER  -  Exato. E eu posso arrasar de uma vez com Otto. Esta pista pode levá-lo à cadeia. Chamei você aqui para lhe dizer que vou levar o caso adiante.

CYRO  -  (em tom baixo e sombrio) E o que é que você pretende? Quer que ele morra? Não vê que levantando esse problema agora será o mesmo que matar o seu ex-marido?

ESTER  -  Por que, não?

CYRO  -  Seria o mesmo que lhe dar um tiro à queima-roupa. Você seria capaz?

ESTER  -  (explodiu, irritada) Eu não seria capaz de nada. Mas a verdade é que eu não tenho nenhum motivo para ter escrúpulos. Ou talvez você não saiba que esse homem levou meu pai ao suicídio... Certamente não sabe das torturas que ele me infligiu quando era sua mulher. Você dirá que eu devo esquecer e perdoar, mas com uma coisa há de concordar. No momento ele é o único obstáculo à nossa felicidade.

CYRO  -  Eu sei. Há outras maneiras de se resolver esse obstáculo. É claro que temos de dar tempo ao tempo...

ESTER  -  (enérgica) Não (movimentava-se por entre as cadeiras da varanda) Com Otto Muller não há mais maneira.

CYRO  -  (franziu a testa, apreensivo) Prefiro imaginar que você não sabe o que está dizendo.

ESTER  -  (encarou-o com olhar cruel) Sei, sim, e sei que no íntimo você também deseja que ele morra.

CYRO  -  (levantou-se como que impulsionado por uma mola) Não diga isto! Eu sou um médico! Minha obrigação é salvá-lo a qualquer preço!

ESTER  -  Enquanto esteve tratando dele, nunca lhe passou isto pela cabeça, Cyro? Que bastaria um simples descuido...

CYRO  -  (cortou, veemente) Não, não, não! Nunca me passou isto pela cabeça e nem vai passar! Minha missão é salvar vidas!

ESTER  -  (se alterou) Você tem tantos escrúpulos! Talvez não saiba que estava marcado para morrer! E se nada lhe aconteceu, foi apenas pela sua fama aqui... e no resto do mundo.

CYRO  -  Ainda não me convenci disso, Ester!

ESTER  -  Quer provas de que o homem que está cuidando é um assassino?

CYRO  -  (com firmeza) É problema dele! A mim, compete salvá-lo!

ESTER  -  E    o negro Gabriel? Por que foi morto? Só porque espionava Lia tomar banho de piscina... de maiô! E o meu filho? Ele quer afastá-lo de mim! Teve a coragem de me confessar na cama do hospital!

CYRO  -  Sei, sei de tudo isso!

ESTER  -  E ainda assim ainda acha que ele... merece continuar vivendo?

CYRO  -  Não sou juiz, Ester. Não serei eu quem há de julgá-lo. Eu cumpro o meu dever, como médico. E como homem. E me recuso a continuar raciocinando nesta base.

ESTER  -  Quero saber somente uma coisa: se fosse essa a única maneira de conquistarmos tudo aquilo que desejamos?...

ELE PENSOU DEMORADAMENTE ANTES DE RESPONDER.

CYRO  -  (com decisão e tristeza na inflexão da voz) Eu preferia renunciar a tudo!

ESTER  -  (com a voz rouca, irreconhecível) Preferia renunciar... a mim?

CYRO  -  (repetiu, hesitante) Preferia.

ESTER  -  (deu-lhe as costas, fitando o mar) É o que eu queria saber. Agora tenho certeza: você não me ama. Adeus, Cyro. Saia desta casa... para sempre!

CYRO  -  Ester, você não está sendo racional...

ESTER  -  (explodiu de vez, enlouquecida) Saia desta casa, já disse! Não quero mais vê-lo, nunca mais! E saiba o que eu penso de você, agora: você é um covarde! Um covarde!

CYRO  -  (humilhou-se com o insulto) Covarde, porque não sou assassino? Porque respeito a vida humana? (levantou-se, vermelho de raiva) Adeus, Ester!

ESTER  -  Vou lhe provar que você seria a próxima vítima de Otto Muller! Vou lhe provar, Dr. Cyro!

CORTA PARA:
Cyro e D. Bárbara

CENA 2  -  HOSPITAL  -  CONSULTÓRIO DE CYRO  -  INTERIOR  -  DIA

FOI GRANDE A SURPRESA DO MÉDICO AO RETORNAR AO CONSULTÓRIO NAQUELA MANHÃ. DONA BÁRBARA, A AVÓ, ESPERAVA-O, TRANQUILAMENTE SENTADA DIANTE DE SUA MESA DE ATENDIMENTO.

CYRO  -  (parou ao ver a velha, risonha) Minha avó... que foi isso? Milagre?

ABRAÇOU-A E BEIJOU, CARINHOSAMENTE.

BÁRBARA  -  Precisava muito falar com você. E não podia ser lá em casa. Peguei o carro e me mandei pra Florianópolis. Fiz mal?

CYRO  -  Não... claro que não! Mas o que há?

PUXOU O BANQUINHO DE FERRO E SE SENTOU FRENTE A FRENTE COM A AVÓ.

BÁRBARA  -  Eu vou dizer, Cyro... mas venha cá (pegou carinhosamente no rosto do rapaz, afagando-o) Você sabe que sou uma velha turrona, não sabe?

CYRO  -  Sei e a adoro assim, como a senhora é.

BÁRBARA  -  Sabe também que eu já te quero muito bem, não sabe?

CYRO   -  (sorriu, fazendo que sim com a cabeça) Mas... a que vem essa declaração de amor fora de hora?

BÁRBARA  -  (baixou os olhos, meio acanhada) É que tenho algo muito sério a lhe dizer... e estou sem coragem.

CYRO  -  (prensou as mãos da avó entre as suas, olhando-a fundo) Fale, velhinha, e não se incomode com o resto!

BÁRBARA  -  Você entrou na minha vida... de um jeito que... agora parece que só vivo para pensar em você, nos seus problemas, na sua tranquilidade... na sua vida, enfim...

BÁRBARA ENXUGOU UMA LÁGRIMA INDISCRETA.

CYRO  -  (brincou) Mas é mesmo uma declaração de amor!

BÁRBARA  -  É sim, meu filho. É uma declaração de amor!

CYRO  -  Que esse amor não seja sofrimento para a senhora. Vamos lá, o que está lhe afligindo tanto?

BÁRBARA  -  É que você entrou aqui... agora mesmo... e eu já o conheço tão bem... senti que você veio com um problema.

CYRO  -  (foi sincero) É... estou com problemas.

BÁRBARA  -  E eu sei também que você poderia resolvê-los... se quisesse... porque tudo para você poderia ser facilitado.

CYRO  -  Quero resolver meus problemas como um homem comum. Quero acreditar que sou um homem como outro qualquer.

BÁRBARA  -  Você sabe que não é.

CYRO  -  Eu não sei de nada. Sei apenas que minha mente me leva mais além...

BÁRBARA  -  Muito além...

CYRO  -  E isto não pode ser encarado como um fato sobrenatural.

BÁRBARA  -  (olhou-o, séria) Cyro, use agora o poder de sua mente... e tente ver o que está se passando neste momento, em sua casa!

CYRO  -  Não me peça isso, vovó. Acabei de lhe dizer que quero fugir a qualquer coisa nesse sentido.

BÁRBARA  -  (segurou a mão do neto com força) Vim avisá-lo, Cyro. Estou preocupada. Um casal tem feito perguntas a sua mãe. E ela fez a essas pessoas uma revelação espantosa, pela primeira vez em sua vida. Disse que existe uma marca daquela noite do espanto... 

CYRO  -  (com os olhos esbugalhados) Uma marca!

BÁRBARA  -  É. Uma marca no corpo de sua mãe. Não sei com que propósito esse casal está interessado nisso. Mas eu creio que não deve ser para boa coisa. Se existe realmente alguma prova, não deve ser vulgarizada assim.

CYRO  -  Naturalmente. Isso pode levar a interpretações maldosas.

FIM DO CAPÍTULO 42




terça-feira, 5 de agosto de 2014

O HOMEM QUE DEVE MORRER - Capítulo 41



Novela de Janete Clair

Adaptação de Toni Figueira

CAPÍTULO 41

Participam deste capítulo

Baby  -  Claudio Cavalcanti
Comendador Liberato  -  Macedo Neto
Zoraida  -  Jurema Penna
Beth Santiago  -  Tania Scher
Paulus  -  Emiliano Queiroz
Ricardo  -  Edney Giovenazzi
Vanda  -  Dina Sfat
Otto  -  Jardel Filho
Von Muller  -  Jorge Cherques

  

CENA 1  -  PALACETE DO COMENDADOR LIBERATO  -  SALA  -  INTERIOR  -  NOITE

ERA MADRUGADA E O TELEFONE TOCAVA NO SALÃO VAZIO DO PALACETE LIBERATO. DEPOIS DE TOCAR POR LONGO TEMPO, ZORAIDA ATENDEU.

ZORAIDA  -  Sim... é da casa do Comendador Liberato. De onde? Do distrito? Quem? O delegado? Mas... o que aconteceu? Baby?!

COMENDADOR  -  (apareceu na sala) Baby? (tomou o telefone das mãos da governanta) Alô! Sim, delegado, pode falar! (uma pausa) Por que meu filho dormiu no xadrez? O que?! Quebra-quebra numa boate? Ele foi o responsável? Ah, sim... uma moça! Garanto que se chama Beth Santiago. Sei. Vou tomar as providências, delegado. E muito agradecido por me avisar!

DESLIGOU NERVOSAMENTE O APARELHO.

ZORAIDA  -  Ele cometeu algum crime?

O COMENDADOR NÃO PÔDE RESPONDER. CHORAVA.

CORTA PARA:

CENA 2  -  DELEGACIA  -  FRENTE  -  EXTERIOR  -  DIA

BABY IA DEIXANDO A DELEGACIA. O REPÓRTER FOTOGRÁFICO ESPOCOU UM FLASH NO SEU ROSTO. BABY PULOU, ZANGADO.

BABY  -  Pra lá com esse negócio. Que é que há? Me dá essa máquina aqui, seu... Me dá esse troço!

SAIU CORRENDO ATRÁS DO REPÓRTER QUE DESAPARECIA, RUMO AO CARRO DO JORNAL.

PARADOS À FRENTE DA DELEGACIA, PAULUS E BETH SANTIAGO, AINDA ENVERGANDO UM VESTIDO DE NOITE, ASSISTIAM À CENA.

BETH  -  (penalizada) Isto não estava no programa.

PAULUS  -  (cochichou-lhe ao ouvido) Você está trabalhando muito bem.

BETH  -  Pois é. Mas o preço pra trazer o rapaz pra cadeia tem que ser cobrado!

PAULUS  -  (sussurrou) Nós acertamos nossas contas depois.

CORTA PARA:

CENA  3  -  APARTAMENTO DE VANDA VIDAL  -  SALA  -  INTERIOR  -  NOITE

DESDE A FESTA NA CASA DE BABY, VÉSPERAS DE O COMENDADOR SER SUBMETIDO À OPERAÇÃO, DR. RICARDO VINHA PENSANDO SÈRIAMENTE EM FICAR DE VEZ COM VANDA. NÃO LHE SAÍA DO PENSAMENTO A FIGURA DA MULHER. EM TODOS OS INSTANTES DE SUA VIDA, A PRESENÇA DE VANDA ERA CONSTANTE. AGORA, PRATICAMENTE, VIVIAM COMO MARIDO E MULHER. RICARDO A VISITAVA TODOS OS DIAS EM SEU APARTAMENTO.

RICARDO  -  Agora, estou disposto a tudo, Vanda!

VANDA  -  Tenho medo. Antes, não tinha.

RICARDO  -  Por quê?

VANDA  -  Por quê? Ah, que pergunta mais ingênua!

RICARDO  -  Se estou lhe dizendo que deixei minha casa... tomei uma atitude, Vanda!

COM O COPO DE BEBIDA GIRANDO ENTRE OS DEDOS, O ENGENHEIRO PARECIA TRANSTORNADO.

VANDA  -  Essa atitude é que me apavora, Ricardo! Você não é um homem livre. Você está preso à regras, à convenções, à família. Tá certo. Acho muito legal tudo isso. Tem seu valor, como não? Quem é que não quer ter sua família organizadinha? Tudo bonitinho! Até eu! Mas, romper com tudo isso agora, de repente... é perigoso, tanto pra mim, quanto pra você, entende? Eu não quero ser responsável pelo desmoronamento do seu lar!

RICARDO  -  Vanda, escute...

VANDA  -  (cortou) Péra aí, ainda não terminei. Não tou querendo bancar a santinha, não. Mas o negócio é muito sério. Mais sério do que eu pensava, viu?

RICARDO  -  Eu só sei de uma coisa. Só sei que te amo. Não consigo pensar, não consigo ver. Só você tem sentido em minha vida.

A MOÇA SENTOU-SE NO CHÃO, À VONTADE, SOBRE AS PERNAS CRUZADAS. RECOSTOU A CABEÇA NAS PERNAS DO AMANTE.

VANDA  -  Quando me aproximei de você, as coisas eram diferentes.

RICARDO  -  (alisava-lhe os cabelos) Diferentes?

VANDA  -  Foi de uma forma leviana. Eu não queria saber de nada. Olha, o negócio era na base de você me servir apenas de trampolim, pela sua posição social.

RICARDO  -  E agora?

VANDA  -  Tudo mudou.

RICARDO  -  (apaixonado) Você me quer?

VANDA  -  Eu sinto apoio, junto de você. Segurança. Sei lá, uma coisa esquisita pra burro. Não sei o que é isso. Só sei que junto de você eu não sinto que tou voando no espaço sozinha. Me parece que este quarto não é tão frio. Meu estômago não ronca, de vazio. (ergueu os olhos desejosos para o homem) Daqui a pouco vou te fazer uma declaração de amor! Daqui a pouco vou entregar os pontos e aí...

RICARDO  -  (segurou-a com firmeza, pelos braços) E daí, nada! Quero te dar meu nome! Você vai ser minha esposa e atriz. Seu nome vai brilhar em anúncios luminosos sobre o teatro que vou mandar construir para você. Vanda Lopes Vidal. Vanda Lopes Vidal.

PARECIA ENLOUQUECIDO, VIVENDO DENTRO DO SONHO.

A MULHER O OBSERVAVA NUM DESLUMBRAMENTO.

DEPOIS O SILENCIO CAIU SOBRE O PEQUENO QUARTO, QUEBRADO APENAS POR SUSSURROS E GEMIDOS DE PAIXÃO.

CORTA PARA:
Vanda Vidal (Dina Sfat)

CENA 4  -  HOSPITAL  -  QUARTO DE OTTO  -  INTERIOR  -  NOITE.

APÓS VERIFICAR O ESTADO GERAL DO PACIENTE – PRESSÃO, BATIMENTOS CARDÍACOS, COLORAÇÃO DAS MUCOSAS -  O DR. ROBERTO DEIXOU O QUARTO DE OTTO MULLER, AO MESMO TEMPO EM QUE A ENFERMEIRA VIERA RECOLHER O BOLETIM E MINISTRAR A MEDICAÇÃO.

O FOCO DE LUZ BATIA EM CHEIO SOBRE A REVISTA QUE O DOENTE LIA COM INTERESSE, CONTRA AS DETERMINAÇÕES DO CIRURGIÃO. O RELÓGIO MARCAVA 2,29 QUANDO AS PANCADAS FORTES RESSOARAM NO INTERIOR DO QUARTO. A ENFERMEIRA, QUE JÁ SE PREPARAVA PARA SAIR, FOI ATÉ A PORTA, DANDO DE CARA COM UM VELHO VERMELHO, OLHOS COLÉRICOS, DE UM AZUL VIVO. O HOMEM APARENTAVA UNS 70 ANOS. NAS FEIÇÕES UM TRAÇO MARCANTE DE CRUELDADE.

ENFERMEIRA  -  O que deseja?

ERA COMO SE ESTIVESSE FALANDO COM UMA PEDRA. O HOMEM APRUMOU-SE, ERGUENDO O PEITO, OS PÉS UNIDOS COMO UM SS. RESPONDEU EM ALEMÃO. APENAS UM NOME PÔDE SER PERCEBIDO PELA MULHER – OTTO MULLER.

ENFERMEIRA  -  Como disse?

MAIS UMA VEZ, O VELHO FALOU EM ALEMÃO.

OTTO  -  (deixou a revista cair sobre o colo, olhos na porta. Havia tensão em seus gestos) Deixe este homem entrar!

A ENFERMEIRA ASSUSTOU-SE COM A VOZ ALTERADA DO PACIENTE. AFASTOU-SE DA PORTA, PERMITINDO A ENTRADA DO VELHO, DE AR ARROGANTE.

OTTO  -  Saia! Quero ficar a sós com minha visita!

A ENFERMEIRA SAIU. O ESTRANHO SE APROXIMOU E OTTO SAUDOU-O, COM RESPEITO.

OTTO  -  Werner Von Muller Leoschen.

VON MULLER  -  (em alemão puro) Meu filho!

OTTO – (abraçou-o) Cuidado!

VON MULLER  -  Não há perigo. Estamos sós. Papai soube sua doença, mandei telefonar para sua casa e me disseram. Papai não esquece seu filho querido!

OS DOIS SE ABRAÇAM, MAIS UMA VEZ.

OTTO  -  Von Muller Leoschen... (murmurou, com admiração) Estou muito satisfeito por ter vindo, mas temo por sua segurança.

VON MULLER  -  (sentando-se à beira da cama) Tomei precauções. Ninguém saberá quem eu sou.

OTTO  -  Mas, papai... o senhor continua sendo procurado como criminoso de guerra. Ex-oficial SS. Isso é muito perigoso. Pode levá-lo de volta aos tribunais da Europa!

VON MULLER  -  Não... não há perigo imediato, filho. Aqui pela América do Sul... Paraguai, Argentina, Chile, vive muita gente da nossa raça, com as nossas ideias. Muita gente mais valiosa do que eu para essa sub-raça que está dominando o mundo de hoje.

OTTO AQUIETOU-SE. O VELHO VON MULLER PERMANECIA DE AÇO COMO NOS BONS TEMPOS DE ADOLF HITLER.


FIM DO CAPÍTULO 41


domingo, 3 de agosto de 2014

O HOMEM QUE DEVE MORRER - Capítulo 40


Novela de Janete Clair

Adaptação de Toni Figueira

CAPÍTULO 40
Participam deste capítulo

Cyro  -  Tarcísio Meira
Inês  -  Betty Faria
Baby  -  Claudio Cavalcanti
Mestre Jonas  -  Gilberto Martinho
Comendador Liberato  -  Macedo Neto
Zoraida  -  Jurema Penna
Otto  -  Jardel Filho
Catarina  -  Lidia Mattos
Lia  -  Arlete Salles

CENA 1  -  FLORIANÓPOLIS  -  CASA DO DR. RICARDO  -  SALA  -  INTERIOR  -  DIA

BABY TOCOU A CAMPAINHA DA CASA DO ENGENHEIRO. INÊS ABRIU A PORTA E SENTIU O CHEIRO DESAGRADÁVEL DO ÁLCOOL. O RAPAZ EXALAVA O ODOR DO UÍSQUE QUE VINHA TOMANDO DESDE A BRIGA COM O PAI, PELA MANHÃ.

BABY  -  (empurrou a porta e entrou) Oi, como é que você vai?

INÊS  -  (procurou afastá-lo, com bons modos) Dona Sônia não está em casa.

BABY  -  Não perguntei por Dona Sônia.

INÊS  -  Que é que você quer?

BABY  -  Vim te buscar pra gente dar uns bordejos por aí.

INÊS  -  Bordejos?

BABY  -  Vamos fazer uma farra. Nós dois sozinhos. (espetou um dedo no próprio peito) Eu (e outro no peito da jovem) ... e você! Mais ninguém.

INÊS  -  (dando um passo para trás) Você tá bêbado!

BABY  -  E daí? Anda, vai trocar de roupa. Estou com vontade de sair com você.

INÊS  -  Baby... você perdeu o juízo?

BABY  -  Ah, isto! Mando preparar o iate e... vamos andar nele, pelo oceano. Água verde, espumante...

INÊS  -  Se você tivesse normal, eu te diria um desaforo. Mas você tá bêbado e eu te convido a sair.

BABY CAMBALEAVA PELA SALA À PROCURA DO BAR.

BABY  -  Que onda é essa? Quer me enganar que você não estava louquinha pra que eu voltasse a te procurar? Pois voltei. Pronto. Estou aqui e estou te pedindo pra gente sair juntos. Tem mulher assim, atrás de mim... e eu escolhi você.

INÊS  -  Por que logo eu, Leandro?

BABY  -  Acho que é porque você... é a mais burrinha delas todas. De vez em quando, uma vez na vida, todo homem deseja uma mulher burrinha...

INÊS  -  Burrinha...

BABY  -  (segurou-lhe o rosto) E não usa pintura. Detesto mulher de olho empetecado, cara lambuzada. É por isso que eu gosto de beijar você.

TENTOU PUXÁ-LA PARA SI. COM UM MOVIMENTO ÁGIL INÊS DESPRENDEU-SE E CORREU ATÉ A PORTA.

INÊS  -  (gritou, sufocada) Vai embora!

BABY  -  Vem, vem! Não tou querendo nada!! Não exijo nada! (encaminhou-se para a jovem) Só quero me divertir um pouquinho...

A VOZ GROSSA E PAUSADA DE MESTRE JONAS ENCHEU A SALA DA RESIDENCIA DO DR. RICARDO. IMPLACÁVEL.

MESTRE JONAS  -  Deixe ela! Deixe ela em paz... se o senhor acha que tem o direito de vivê!

BABY  -  (sorriu com os olhos quase que totalmente cerrados) Não quero fazer mal...

MESTRE JONAS  -  Não interessa. Vá embora, rapaz! Vá embora.

BABY DEIXOU A SALA TROPEÇANDO NA QUINA DA MESA. LOGO APÓS ESTATELOU-SE NO BANCO TRASEIRO DO JAGUAR.

JONAS  -  (á filha) Sei de tudo que ele fez contigo. Tua virgindade de moça... Tua inocência. Sei de tudo, agora. Doutô Cyro disse que eu devia perdoá. Eu perdoei. Hoje tive prova de que você não tem culpa.

ABRAÇOU A FILHA, LEVANTANDO-LHE A CABEÇA.

CORTA PARA:


CENA 2  -  PALACETE DO COMENDADOR LIBERATO  -  JARDIM  -  EXTERIOR  -  NOITE

O SAPATO DESCREVEU UM ARCO E CAIU NO LAGO. O OUTRO PARTIU A VIDRAÇA DA MANSÃO E SE PERDEU NO INTERIOR DA CASA. BABY VINHA CHUTANDO TUDO O QUE ENCONTRAVA À SUA FRENTE.

CORTA PARA:

CENA 3  -  PALACETE DO COMENDADOR LIBERATO  -  SALA  -  INTERIOR  -  NOITE.

BABY ENTROU NA SALA E PROCUROU O TELEFONE. DISCOU.

BABY  -  Meu anjo! Beth... sou eu, Baby! Vem cá! Vamos sair hoje? Estou meio pra baixo, mas você sabe me aguentar. Estou precisando de um ombro lindo como o teu pra chorar! (havia desespero na voz embargada) Dentro de 15 minutos estou aí, tá?

BEBEU UM GOLE DUPLO DE UÍSQUE E SE PREPAROU PARA SAIR DE NOVO. PROCUROU NO BOLSO A CHAVE DO CARRO.

COMENDADOR LIBERATO   -  Filho!

BABY  -  (falou, ressentido) Oi, velho! Olha aí... não admito... ouve bem... Não admito que se meta nos meus casos particulares. Agora eu tenho um compromisso importantíssimo: sair da fossa!

LIBERATO NÃO PÔDE FALAR. ENTENDIA TUDO. SABIA A RAZÃO DA AMARGURA DO FILHO. ELE MESMO ERA CULPADO. MAS AS CARTAS EM PODER DE CATARINA ERAM MAIS FORTES DO QUE TODA A SUA RIQUEZA E SEU PRESTÍGIO PESSOAL. A VELHA MISERÁVEL DISPUNHA DE UM TRUNFO IMBATÍVEL.

COMENDADOR LIBERATO  -  (falou para Zoraida, que assistia a tudo) Eu tenho toda a culpa.

BABY VOLTAVA AO CARRO. À VIDA OU À MORTE. INTEIRAMENTE TOMADO PELA BEBEDEIRA.

CORTA PARA:

CENA 4  -  HOSPITAL  -  QUARTO DE OTTO MULLER  -  INTERIOR  -  NOITE

CYRO AUSCULTAVA O PEITO ARFANTE DO PACIENTE, PERCEBENDO A AGITAÇÃO QUE DOMINAVA OTTO MULLER. O ALEMÃO MAL PODIA FALAR, MAS PROVOCAVA O MÉDICO.

OTTO  -  Para o senhor... seria bem melhor se eu morresse, não?

CYRO -  (sereno, com voz firme, pausada) Esqueça o resto. Esqueça quem eu sou. Lembre-se que diante do senhor está apenas o médico. E se quer mesmo viver, não alimente maus pensamentos, emoções negativas. Mesmo porque elas são absurdas. Eu lhe peço encarecidamente, tenha confiança em mim.

OTTO  -  (olhou-o desconfiado) Confiança... no senhor? Justamente... no senhor?

CYRO  -  Sim, Sr. Otto. Se me ajudar... eu lhe prometo... não o deixarei morrer.

LIA  -  Doutor Cyro... quanto tempo Otto deverá ainda ficar preso ao leito deste hospital?

CYRO  -  Uns vinte e cinco dias, mais ou menos.

OTTO  -  (gemeu, impaciente) Quero ver amigos. Quero ver minha mãe. O senhor não pode me escravizar a este leito, como um condenado...

CYRO  -  (chamou a enfermeira) Dirce, continue com os sedativos.

ENF. DIRCE  -  Pois não, doutor!

CYRO  -  (tornou a dirigir-se ao paciente) Volto mais tarde e espero encontrá-lo mais calmo, Sr. Otto.

CORTA PARA:

CENA 5  -  HOSPITAL  -  QUARTO DE OTTO  -  INTERIOR  -  DIA.

PARA OTTO MULLER TODO-PODEROSO-MANDÃO-DAS-MINAS, A VELHA CATARINA ERA A MAMÃE DOLORES. E FOI COM ALEGRIA QUE A VIU ENTRAR QUARTO ADENTRO COM UM BUQUÊ DE ROSAS.

OTTO  -  Mamãe!

CATARINA  -  (beijou-o com amor) Nada de emoções, filhinho! Tenho ótimas notícias. Dr. Paulus vai substituí-lo na direção da Companhia até você voltar. Meu irmão aceitou esta exigência!

OTTO  -  (radiante) Que bom! E Baby?

CATARINA  -  Ora, Baby! Baby! Logo, logo, ele desistirá de ser o presidente da Companhia. É você quem irá para o cargo, meu amor.

OTTO  -  Bem feito! Tio Liberato vai sofrer na carne tudo que me fez passar! (voltou-se para Lia) Chama Paulus. Já que ele está me substituindo, quero que marque aqueles negros que tem raiva de mim. É preciso não deixar a polícia esmorecer no caso de Pedrão.

LIA  -  (interveio, aflita) Otto, hoje é domingo, deixa as providencias para amanhã. Você não deve se preocupar com os problemas das minas, por enquanto.

OTTO  -  (sorrindo, apertou a mão de Lia) Com certeza... eles pensaram que eu ia morrer, mas enganei todos eles. Enganei!


FIM DO CAPÍTULO 40



 QUINTA-FEIRA, CAPÍTULO INÉDITO!