domingo, 3 de agosto de 2014

O HOMEM QUE DEVE MORRER - Capítulo 40


Novela de Janete Clair

Adaptação de Toni Figueira

CAPÍTULO 40
Participam deste capítulo

Cyro  -  Tarcísio Meira
Inês  -  Betty Faria
Baby  -  Claudio Cavalcanti
Mestre Jonas  -  Gilberto Martinho
Comendador Liberato  -  Macedo Neto
Zoraida  -  Jurema Penna
Otto  -  Jardel Filho
Catarina  -  Lidia Mattos
Lia  -  Arlete Salles

CENA 1  -  FLORIANÓPOLIS  -  CASA DO DR. RICARDO  -  SALA  -  INTERIOR  -  DIA

BABY TOCOU A CAMPAINHA DA CASA DO ENGENHEIRO. INÊS ABRIU A PORTA E SENTIU O CHEIRO DESAGRADÁVEL DO ÁLCOOL. O RAPAZ EXALAVA O ODOR DO UÍSQUE QUE VINHA TOMANDO DESDE A BRIGA COM O PAI, PELA MANHÃ.

BABY  -  (empurrou a porta e entrou) Oi, como é que você vai?

INÊS  -  (procurou afastá-lo, com bons modos) Dona Sônia não está em casa.

BABY  -  Não perguntei por Dona Sônia.

INÊS  -  Que é que você quer?

BABY  -  Vim te buscar pra gente dar uns bordejos por aí.

INÊS  -  Bordejos?

BABY  -  Vamos fazer uma farra. Nós dois sozinhos. (espetou um dedo no próprio peito) Eu (e outro no peito da jovem) ... e você! Mais ninguém.

INÊS  -  (dando um passo para trás) Você tá bêbado!

BABY  -  E daí? Anda, vai trocar de roupa. Estou com vontade de sair com você.

INÊS  -  Baby... você perdeu o juízo?

BABY  -  Ah, isto! Mando preparar o iate e... vamos andar nele, pelo oceano. Água verde, espumante...

INÊS  -  Se você tivesse normal, eu te diria um desaforo. Mas você tá bêbado e eu te convido a sair.

BABY CAMBALEAVA PELA SALA À PROCURA DO BAR.

BABY  -  Que onda é essa? Quer me enganar que você não estava louquinha pra que eu voltasse a te procurar? Pois voltei. Pronto. Estou aqui e estou te pedindo pra gente sair juntos. Tem mulher assim, atrás de mim... e eu escolhi você.

INÊS  -  Por que logo eu, Leandro?

BABY  -  Acho que é porque você... é a mais burrinha delas todas. De vez em quando, uma vez na vida, todo homem deseja uma mulher burrinha...

INÊS  -  Burrinha...

BABY  -  (segurou-lhe o rosto) E não usa pintura. Detesto mulher de olho empetecado, cara lambuzada. É por isso que eu gosto de beijar você.

TENTOU PUXÁ-LA PARA SI. COM UM MOVIMENTO ÁGIL INÊS DESPRENDEU-SE E CORREU ATÉ A PORTA.

INÊS  -  (gritou, sufocada) Vai embora!

BABY  -  Vem, vem! Não tou querendo nada!! Não exijo nada! (encaminhou-se para a jovem) Só quero me divertir um pouquinho...

A VOZ GROSSA E PAUSADA DE MESTRE JONAS ENCHEU A SALA DA RESIDENCIA DO DR. RICARDO. IMPLACÁVEL.

MESTRE JONAS  -  Deixe ela! Deixe ela em paz... se o senhor acha que tem o direito de vivê!

BABY  -  (sorriu com os olhos quase que totalmente cerrados) Não quero fazer mal...

MESTRE JONAS  -  Não interessa. Vá embora, rapaz! Vá embora.

BABY DEIXOU A SALA TROPEÇANDO NA QUINA DA MESA. LOGO APÓS ESTATELOU-SE NO BANCO TRASEIRO DO JAGUAR.

JONAS  -  (á filha) Sei de tudo que ele fez contigo. Tua virgindade de moça... Tua inocência. Sei de tudo, agora. Doutô Cyro disse que eu devia perdoá. Eu perdoei. Hoje tive prova de que você não tem culpa.

ABRAÇOU A FILHA, LEVANTANDO-LHE A CABEÇA.

CORTA PARA:


CENA 2  -  PALACETE DO COMENDADOR LIBERATO  -  JARDIM  -  EXTERIOR  -  NOITE

O SAPATO DESCREVEU UM ARCO E CAIU NO LAGO. O OUTRO PARTIU A VIDRAÇA DA MANSÃO E SE PERDEU NO INTERIOR DA CASA. BABY VINHA CHUTANDO TUDO O QUE ENCONTRAVA À SUA FRENTE.

CORTA PARA:

CENA 3  -  PALACETE DO COMENDADOR LIBERATO  -  SALA  -  INTERIOR  -  NOITE.

BABY ENTROU NA SALA E PROCUROU O TELEFONE. DISCOU.

BABY  -  Meu anjo! Beth... sou eu, Baby! Vem cá! Vamos sair hoje? Estou meio pra baixo, mas você sabe me aguentar. Estou precisando de um ombro lindo como o teu pra chorar! (havia desespero na voz embargada) Dentro de 15 minutos estou aí, tá?

BEBEU UM GOLE DUPLO DE UÍSQUE E SE PREPAROU PARA SAIR DE NOVO. PROCUROU NO BOLSO A CHAVE DO CARRO.

COMENDADOR LIBERATO   -  Filho!

BABY  -  (falou, ressentido) Oi, velho! Olha aí... não admito... ouve bem... Não admito que se meta nos meus casos particulares. Agora eu tenho um compromisso importantíssimo: sair da fossa!

LIBERATO NÃO PÔDE FALAR. ENTENDIA TUDO. SABIA A RAZÃO DA AMARGURA DO FILHO. ELE MESMO ERA CULPADO. MAS AS CARTAS EM PODER DE CATARINA ERAM MAIS FORTES DO QUE TODA A SUA RIQUEZA E SEU PRESTÍGIO PESSOAL. A VELHA MISERÁVEL DISPUNHA DE UM TRUNFO IMBATÍVEL.

COMENDADOR LIBERATO  -  (falou para Zoraida, que assistia a tudo) Eu tenho toda a culpa.

BABY VOLTAVA AO CARRO. À VIDA OU À MORTE. INTEIRAMENTE TOMADO PELA BEBEDEIRA.

CORTA PARA:

CENA 4  -  HOSPITAL  -  QUARTO DE OTTO MULLER  -  INTERIOR  -  NOITE

CYRO AUSCULTAVA O PEITO ARFANTE DO PACIENTE, PERCEBENDO A AGITAÇÃO QUE DOMINAVA OTTO MULLER. O ALEMÃO MAL PODIA FALAR, MAS PROVOCAVA O MÉDICO.

OTTO  -  Para o senhor... seria bem melhor se eu morresse, não?

CYRO -  (sereno, com voz firme, pausada) Esqueça o resto. Esqueça quem eu sou. Lembre-se que diante do senhor está apenas o médico. E se quer mesmo viver, não alimente maus pensamentos, emoções negativas. Mesmo porque elas são absurdas. Eu lhe peço encarecidamente, tenha confiança em mim.

OTTO  -  (olhou-o desconfiado) Confiança... no senhor? Justamente... no senhor?

CYRO  -  Sim, Sr. Otto. Se me ajudar... eu lhe prometo... não o deixarei morrer.

LIA  -  Doutor Cyro... quanto tempo Otto deverá ainda ficar preso ao leito deste hospital?

CYRO  -  Uns vinte e cinco dias, mais ou menos.

OTTO  -  (gemeu, impaciente) Quero ver amigos. Quero ver minha mãe. O senhor não pode me escravizar a este leito, como um condenado...

CYRO  -  (chamou a enfermeira) Dirce, continue com os sedativos.

ENF. DIRCE  -  Pois não, doutor!

CYRO  -  (tornou a dirigir-se ao paciente) Volto mais tarde e espero encontrá-lo mais calmo, Sr. Otto.

CORTA PARA:

CENA 5  -  HOSPITAL  -  QUARTO DE OTTO  -  INTERIOR  -  DIA.

PARA OTTO MULLER TODO-PODEROSO-MANDÃO-DAS-MINAS, A VELHA CATARINA ERA A MAMÃE DOLORES. E FOI COM ALEGRIA QUE A VIU ENTRAR QUARTO ADENTRO COM UM BUQUÊ DE ROSAS.

OTTO  -  Mamãe!

CATARINA  -  (beijou-o com amor) Nada de emoções, filhinho! Tenho ótimas notícias. Dr. Paulus vai substituí-lo na direção da Companhia até você voltar. Meu irmão aceitou esta exigência!

OTTO  -  (radiante) Que bom! E Baby?

CATARINA  -  Ora, Baby! Baby! Logo, logo, ele desistirá de ser o presidente da Companhia. É você quem irá para o cargo, meu amor.

OTTO  -  Bem feito! Tio Liberato vai sofrer na carne tudo que me fez passar! (voltou-se para Lia) Chama Paulus. Já que ele está me substituindo, quero que marque aqueles negros que tem raiva de mim. É preciso não deixar a polícia esmorecer no caso de Pedrão.

LIA  -  (interveio, aflita) Otto, hoje é domingo, deixa as providencias para amanhã. Você não deve se preocupar com os problemas das minas, por enquanto.

OTTO  -  (sorrindo, apertou a mão de Lia) Com certeza... eles pensaram que eu ia morrer, mas enganei todos eles. Enganei!


FIM DO CAPÍTULO 40



 QUINTA-FEIRA, CAPÍTULO INÉDITO!

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