Novela de Janete Clair
Adaptação de Toni Figueira
CAPÍTULO 40
Participam deste
capítulo
Cyro - Tarcísio Meira
Inês -
Betty Faria
Baby -
Claudio Cavalcanti
Mestre Jonas -
Gilberto Martinho
Comendador
Liberato - Macedo Neto
Zoraida -
Jurema Penna
Otto -
Jardel Filho
Catarina -
Lidia Mattos
Lia -
Arlete Salles
CENA 1 - FLORIANÓPOLIS - CASA
DO DR. RICARDO - SALA - INTERIOR
- DIA
BABY TOCOU A CAMPAINHA DA CASA DO ENGENHEIRO. INÊS ABRIU A
PORTA E SENTIU O CHEIRO DESAGRADÁVEL DO ÁLCOOL. O RAPAZ EXALAVA O ODOR DO
UÍSQUE QUE VINHA TOMANDO DESDE A BRIGA COM O PAI, PELA MANHÃ.
BABY - (empurrou a porta e entrou) Oi, como é que
você vai?
INÊS - (procurou afastá-lo, com bons modos) Dona
Sônia não está em casa.
BABY - Não perguntei por Dona Sônia.
INÊS - Que é que você quer?
BABY - Vim te buscar pra gente dar uns bordejos por
aí.
INÊS - Bordejos?
BABY - Vamos fazer uma farra. Nós dois sozinhos.
(espetou um dedo no próprio peito) Eu (e outro no peito da jovem) ... e você!
Mais ninguém.
INÊS - (dando um passo para trás) Você tá bêbado!
BABY - E daí? Anda, vai trocar de roupa. Estou com
vontade de sair com você.
INÊS - Baby... você perdeu o juízo?
BABY - Ah, isto! Mando preparar o iate e... vamos
andar nele, pelo oceano. Água verde, espumante...
INÊS - Se você tivesse normal, eu te diria um
desaforo. Mas você tá bêbado e eu te convido a sair.
BABY CAMBALEAVA PELA SALA À PROCURA DO BAR.
BABY - Que onda é essa? Quer me enganar que você não
estava louquinha pra que eu voltasse a te procurar? Pois voltei. Pronto. Estou aqui e estou te pedindo pra gente sair juntos. Tem mulher assim, atrás de mim... e eu escolhi
você.
INÊS - Por que logo eu, Leandro?
BABY - Acho que é porque você... é a mais burrinha
delas todas. De vez em quando, uma vez na vida, todo homem deseja uma mulher
burrinha...
INÊS - Burrinha...
BABY - (segurou-lhe o rosto) E não usa pintura.
Detesto mulher de olho empetecado, cara lambuzada. É por isso que eu gosto de
beijar você.
TENTOU PUXÁ-LA PARA SI. COM UM MOVIMENTO ÁGIL INÊS
DESPRENDEU-SE E CORREU ATÉ A PORTA.
INÊS - (gritou, sufocada) Vai embora!
BABY - Vem, vem! Não tou querendo nada!! Não exijo
nada! (encaminhou-se para a jovem) Só quero me divertir um pouquinho...
A VOZ GROSSA E PAUSADA DE MESTRE JONAS ENCHEU A SALA DA
RESIDENCIA DO DR. RICARDO. IMPLACÁVEL.
MESTRE JONAS - Deixe ela! Deixe ela em paz... se o senhor
acha que tem o direito de vivê!
BABY - (sorriu com os olhos quase que totalmente
cerrados) Não quero fazer mal...
MESTRE JONAS - Não interessa. Vá embora, rapaz! Vá embora.
BABY DEIXOU A SALA TROPEÇANDO NA QUINA DA MESA. LOGO APÓS
ESTATELOU-SE NO BANCO TRASEIRO DO JAGUAR.
JONAS - (á filha) Sei de tudo que ele fez contigo.
Tua virgindade de moça... Tua inocência. Sei de tudo, agora. Doutô Cyro disse
que eu devia perdoá. Eu perdoei. Hoje tive prova de que você não tem culpa.
ABRAÇOU A FILHA, LEVANTANDO-LHE A CABEÇA.
CORTA PARA:
CENA 2 -
PALACETE DO COMENDADOR LIBERATO
- JARDIM - EXTERIOR - NOITE
O SAPATO DESCREVEU UM ARCO E CAIU NO LAGO. O OUTRO PARTIU A
VIDRAÇA DA MANSÃO E SE PERDEU NO INTERIOR DA CASA. BABY VINHA CHUTANDO TUDO O
QUE ENCONTRAVA À SUA FRENTE.
CORTA PARA:
CENA 3 -
PALACETE DO COMENDADOR LIBERATO
- SALA -
INTERIOR - NOITE.
BABY ENTROU NA SALA E PROCUROU O TELEFONE. DISCOU.
BABY - Meu anjo! Beth... sou eu, Baby! Vem cá! Vamos
sair hoje? Estou meio pra baixo, mas você sabe me aguentar. Estou precisando de
um ombro lindo como o teu pra chorar! (havia desespero na voz embargada) Dentro
de 15 minutos estou aí, tá?
BEBEU UM GOLE DUPLO DE UÍSQUE E SE PREPAROU PARA SAIR DE
NOVO. PROCUROU NO BOLSO A CHAVE DO CARRO.
COMENDADOR LIBERATO
- Filho!
BABY - (falou, ressentido) Oi, velho! Olha aí... não
admito... ouve bem... Não admito que se meta nos meus casos particulares. Agora
eu tenho um compromisso importantíssimo: sair da fossa!
LIBERATO NÃO PÔDE FALAR. ENTENDIA TUDO. SABIA A RAZÃO DA
AMARGURA DO FILHO. ELE MESMO ERA CULPADO. MAS AS CARTAS EM PODER DE CATARINA
ERAM MAIS FORTES DO QUE TODA A SUA RIQUEZA E SEU PRESTÍGIO PESSOAL. A VELHA
MISERÁVEL DISPUNHA DE UM TRUNFO IMBATÍVEL.
COMENDADOR LIBERATO
- (falou para Zoraida, que
assistia a tudo) Eu tenho toda a culpa.
BABY VOLTAVA AO CARRO. À VIDA OU À MORTE. INTEIRAMENTE TOMADO
PELA BEBEDEIRA.
CORTA PARA:
CENA 4 -
HOSPITAL - QUARTO DE OTTO MULLER -
INTERIOR - NOITE
CYRO AUSCULTAVA O PEITO ARFANTE DO PACIENTE, PERCEBENDO A
AGITAÇÃO QUE DOMINAVA OTTO MULLER. O ALEMÃO MAL PODIA FALAR, MAS PROVOCAVA O
MÉDICO.
OTTO - Para o senhor... seria bem melhor se eu
morresse, não?
CYRO - (sereno, com
voz firme, pausada) Esqueça o resto. Esqueça quem eu sou. Lembre-se que diante
do senhor está apenas o médico. E se quer mesmo viver, não alimente maus
pensamentos, emoções negativas. Mesmo porque elas são absurdas. Eu lhe peço
encarecidamente, tenha confiança em mim.
OTTO - (olhou-o desconfiado) Confiança... no senhor?
Justamente... no senhor?
CYRO - Sim, Sr. Otto. Se me ajudar... eu lhe
prometo... não o deixarei morrer.
LIA - Doutor Cyro... quanto tempo Otto deverá ainda
ficar preso ao leito deste hospital?
CYRO - Uns vinte e cinco dias, mais ou menos.
OTTO - (gemeu, impaciente) Quero ver amigos. Quero
ver minha mãe. O senhor não pode me escravizar a este leito, como um
condenado...
CYRO - (chamou a enfermeira) Dirce, continue com os
sedativos.
ENF. DIRCE - Pois não, doutor!
CYRO - (tornou a dirigir-se ao paciente) Volto mais
tarde e espero encontrá-lo mais calmo, Sr. Otto.
CORTA PARA:
CENA 5 -
HOSPITAL - QUARTO DE OTTO -
INTERIOR - DIA.
PARA OTTO MULLER TODO-PODEROSO-MANDÃO-DAS-MINAS, A VELHA
CATARINA ERA A MAMÃE DOLORES. E FOI COM ALEGRIA QUE A VIU ENTRAR QUARTO ADENTRO
COM UM BUQUÊ DE ROSAS.
OTTO - Mamãe!
CATARINA - (beijou-o com amor) Nada de emoções,
filhinho! Tenho ótimas notícias. Dr. Paulus vai substituí-lo na direção da
Companhia até você voltar. Meu irmão aceitou esta exigência!
OTTO - (radiante) Que bom! E Baby?
CATARINA - Ora, Baby! Baby! Logo, logo, ele desistirá de
ser o presidente da Companhia. É você quem irá para o cargo, meu amor.
OTTO - Bem feito! Tio Liberato vai sofrer na carne
tudo que me fez passar! (voltou-se para Lia) Chama Paulus. Já que ele está me
substituindo, quero que marque aqueles negros que tem raiva de mim. É preciso
não deixar a polícia esmorecer no caso de Pedrão.
LIA - (interveio, aflita) Otto, hoje é domingo,
deixa as providencias para amanhã. Você não deve se preocupar com os problemas
das minas, por enquanto.
OTTO - (sorrindo, apertou a mão de Lia) Com
certeza... eles pensaram que eu ia morrer, mas enganei todos eles. Enganei!
FIM DO CAPÍTULO 40
QUINTA-FEIRA, CAPÍTULO INÉDITO!
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