quarta-feira, 27 de agosto de 2014

O HOMEM QUE DEVE MORRER - Capítulo 50



Novela de Janete Clair

Adaptação de Toni Figueira

CAPÍTULO 50

Participam deste capítulo

Cyro  -  Tarcísio Meira
Ester  -  Gloria Menezes
Baby  -  Claudio Cavalcanti
Ricardo  -  Edney Giovenazzi
Otto  -  Jardel Filho
Lia  -  Arlete Sales
Catarina  -  Lidia Mattos
Paulus  -  Emiliano Queiroz
Dr. Avelar  -  Álvaro Aguiar
Dr. Roberto  -  Paulo Cesar Pereio
  

CENA 1  -  PORTO AZUL  -  IGREJA  -  INTERIOR  -  DIA

INÊS APARECEU NA ENTRADA DA IGREJINHA CONDUZIDA PELO VELHO PESCADOR. O VESTIDO DE NOIVA, SIMPLES, MAS DE BOM GOSTO, REALÇAVA-LHE OS TRAÇOS BELOS, CONTRASTANDO COM A PELE QUEIMADA DE SOL. TODOS OS OLHOS SE VOLTARAM PARA O PAR. OS MINEIROS ENCHIAM O PEQUENO TEMPLO, AO LADO DO GRANDE NÚMERO DE PESCADORES DA REGIÃO, ONDE MESTRE JONAS ERA RESPEITADO E QUERIDO.

O PADRE RECEBEU-OS DIANTE DO ALTAR.

PADRE MIGUEL  -  Deus a abençoe, minha filha!

MESTRE JONAS  -  (intrigado, olhando os arredores) Cadê o noivo, padre?

PADRE MIGUEL  -  Ainda não veio, mas não deve demorar.

DANIEL  -  (se aproximou) Pai, ele vem. A gente chegamos lá e ele já tinha vindo pra cá.

INÊS  -  (não escondia o nervosismo) E se ele não aparece? Que é que eu faço da minha vida?

PADRE MIGUEL  -  O trânsito por essas estradas está péssimo. Hoje é domingo e todo mundo procura as praias mais distantes. Vamos aguardar um pouco. Vamos aguardar!

CORTA PARA:

CENA 2  -  PORTO AZUL  -  IGREJA  -  INTERIOR  -  DIA

OS RELÓGIOS MARCAVAM 4 HORAS. UM POUCO MAIS. E BABY LIBERATO NÃO APARECIA. HÁ DUAS HORAS TODA A IGREJA AGUARDAVA ANSIOSA A PRESENÇA DO PRESIDENTE DAS MINAS. QUERIA VER SUA UNIÃO COM A MOÇA SIMPLES E POBRE DAS PRAIAS. MAS AGORA A INQUIETAÇÃO ERA FLAGRANTE. ALGUMAS VELHAS COMEÇAVAM A COCHICHAR, ENQUANTO OS  CONVIDADOS  -  MUITOS DELES  - PRINCIPIAVAM  A  ABANDONAR  O INTERIOR E OUTROS SE POSTAVAM NAS ESCADARIAS, OLHOS NA ESTRADA, À ESPERA DO NOIVO.

INÊS CHORAVA, DISCRETAMENTE.

MESTRE JONAS  -  (desfigurado, dizia baixinho) Eu vou sair. Vou procurá esse miserável desse ricaço e trago ele, nem que seja amarrado!

INÊS  -  (explodiu num soluço alto e incontrolável) Gente... me leva daqui! Eu quero ir embora! Vou enfiá minha cara num buraco! (deitou a cabeça no ombro da mãe, em choro convulsivo) Nunca mais quero ver ninguém!

INESPERADAMENTE, A VOZ DE BABY LIBERATO OUVIU-SE CLARA EM MEIO AO REPENTINO SILENCIO, NO INTERIOR DO TEMPLO.

BABY  -  Desculpe, gente... o atraso!

TODOS OS OLHARES CONCENTRAVAM-SE NO RAPAZ, DESCABELADO, SUJO DE GRAXA, COM AS MÃOS NEGRAS, COMO SE HOUVESSE SOBREVIVIDO À EXPLOSÃO DE UM POÇO DE PETRÓLEO.

BABY  -  (caminhou até o altar) Boa tarde... boa tarde para todos. Olha aí, padre, me perdoe. Foi um pneu bandido que me deixou na estrada (beliscou o queixo da noiva, paralisada) Oi, Inês! Oi, Dona Rosa! Olá, velho! (deu um tapa nas costas de Mestre Jonas, atônito. – Virou-se para os mineiros, felizes, sorridentes, confiantes) Daniel! Pé-na-Cova! Pedrão! Ei, rapaziada, tamos aí! (bateu palmas, saudado ruidosamente pelos mineiros da Companhia de Valongo) Alegria! Alegria!

PADRE MIGUEL  -  As alianças, meus filhos...

BABY  -  Hem?

INÊS  -  (cutucando o noivo) As alianças, Leandro!

BABY  -  (sem saída, procurou uma desculpa) Poxa! Me esqueci! (mentiu) Ficou lá em casa!

MESTRE JONAS ADIANTOU-SE E ENTREGOU DUAS ALIANÇAS AO VIGÁRIO DE PORTO AZUL.

MESTRE JONAS  -  Eu fiz uma vaquinha... e comprei.

O CASAMENTO TINHA SIDO UM SUCESSO. INFORMAL DIANTE DO JEITÃO-QUALQUER-MANEIRA DE BABY LIBERATO. BÁRBARA E O PROFESSOR VALDEZ, PADRINHOS DO NOIVO, VEZ POR OUTRA PUXAVAM-NO PARA A REALIDADE. ERA COMO SE O MILIONÁRIO ESTIVESSE A MIL QUILÔMETROS DALI.

PADRE MIGUEL CHEGAVA AO FIM DA CERIMÔNIA RELIGIOSA: BENZEU AS ALIANÇAS E ENTREGOU-AS AOS NUBENTES. INÊS SEGUROU AS MÃOS SUJAS DO RAPAZ E ENFIOU-LHE A JÓIA PELO ANULAR ESQUERDO. O SACERDOTE FEZ SINAL PARA QUE SE LEVANTASSEM.

PADRE MIGUEL  -  Estão casados, meus filhos! São marido e mulher!

BABY  -  (explodiu, muito à vontade) Já? Legal às pampas! E agora que é que a gente faz?

MESTRE JONAS  -  (alegre) Vamos pra minha casa. Comprei fiado um barril de chope. A gente vai dá uma festinha. Se o Seu Baby não repara...

BABY  -  Estamos aí! (fez um gesto largo com o braço) Vamos lá, minha gente! Vamos lá!

A CHUVA DE ARROZ COBRIU DE BRANCO O CASAL. PORTO AZUL VIBRAVA. CORRERIA DAS MOCINHAS DE VESTIDOS COLORIDOS, DE CHITA E SEDA ORDINÁRIA, QUERENDO VER O NOIVO. PADRE MIGUEL MANDOU O SACRISTÃO BADALAR O SINO. TUDO ERA FESTA NO VILAREJO.

E O MAIS IMPORTANTE: BABY RENOVAVA A CONFIANÇA PERANTE OS HOMENS SIMPLES DAS MINAS DE CARVÃO. AGORA, ERA UM DELES.

CORTA PARA:
Inês (Betty Faria)

CENA 3  -  FLORIANÓPOLIS  -  HOSPITAL  -  CONSULTÓRIO DE CYRO  -  INTERIOR  -  DIA

DOUTOR AVELAR ENTROU AGITADO NO CONSULTÓRIO DE CYRO. MAL FECHOU A PORTA.

DR. AVELAR  -  Vim avisá-lo: entrou há poucos minutos um acidentado. Caso perdido. Fratura de crânio, com perda de substância. Em coma. Avisei a família e mencionei a possibilidade de ser um possível doador.

CYRO  -  (ergue-se, abruptamente) E então?

DR. AVELAR  -  Houve uma reação negativa, a princípio. Ficaram chocados com a possibilidade de aproveitarmos o coração do rapaz.

CYRO  -  Então, nada feito?

DR. AVELAR  -  Uma irmã do acidentado fez ponderações, tentando convencer o pai. Dona Lia está lá, conversando com ele.

A PORTA SE ABRIU E A MULHER ENTROU, ESBAFORIDA.

LIA  -  Dr. Cyro. Dr. Avelar. A família do rapaz está disposta a conversar com os senhores. Esperam na sala 215. Onde o moço está morrendo.

CYRO SAIU, PRESSUROSO, ACOMPANHADO PELO COLEGA.

CORTA PARA:

CENA 4  -  HOSPITAL  -  SALA 215  -  INTERIOR  -  DIA

UMA JOVEM ROBUSTA, DE PERNAS GROSSAS E FARTOS SEIOS, ATENDEU AOS MÉDICOS.

MULHER  -  Desculpem meu pai. Está fora de si.

CYRO  -  Perfeitamente compreensível. Nós entendemos o seu drama.

A UM CANTO, ATIRADO SOBRE UMA POLTRONA, O HOMEM, AINDA NOVO, BEIRANDO OS 50 ANOS, ERA A IMAGEM DA DESOLAÇÃO. OLHOS FITOS NO TETO. ALHEIO AO MUNDO. CYRO APROXIMOU-SE DELE E SENTOU-SE NA CADEIRA DE FERRO. TOCOU-LHE O BRAÇO, DE LEVE.

CYRO  -  É muito difícil para nós, médicos, fazermos um pedido destes. Me chamo Cyro Valdez, meu amigo. Cirurgião deste hospital. É mais do que difícil. É terrível. Eu me coloco no seu lugar e entendo perfeitamente a sua dor.

O HOMEM MOVEU A CABEÇA E FIXOU O MÉDICO. HAVIA DESESPÊRO EM SEUS OLHOS.

HOMEM  -  O senhor...  não vai me pedir permissão para que meu filho, que está morrendo... seja o doador de coração... para outro que também está morrendo?

CYRO  -  (confirmou) Eu vim lhe pedir. Já não tenho coragem. Ninguém pode fazer um pedido destes. Digo-lhe apenas que uma das duas vidas deve ser salva. Que mais posso lhe dizer? A de seu filho está perdida. Podemos salvar a outra. Seu filho pode salvá-la...

A JOVEM ROBUSTA ABRAÇOU O HOMEM.

MULHER  -  Pai, o coração de meu irmão vai ficar batendo no peito de outro homem! Pense nisso! A gente não vai perder de todo o nosso Dadinho!

HOMEM  -  (a voz sofrida, abafada) Eu não quero! Não posso aceitar isso! Compreendo o propósito de vocês, mas não aceito!

CYRO  -  (apertou com força a mão do homem) Nós compreendemos. Ninguém pode forçá-lo a aceitar. Por favor, esqueça o pedido que lhe fizemos.

QUALQUER COISA HAVIA TOCADO FUNDO O SENTIMENTO DO PAI DESESPERADO. OLHOU FUNDO NOS OLHOS DO CIRURGIÃO, APERTANDO A MÃO QUE COMPRIMIA A SUA.

HOMEM  -  Doutor... o que é que eu faço? O que é que eu faço?

O MÉDICO LEVOU-O PARA A JANELA QUE DESCORTINAVA UM PANORAMA BUCÓLICO. ÁRVORES FRONDOSAS, AGORA TOMADAS PELAS SOMBRAS DA NOITE QUE SE INSINUAVA.

CYRO  -  Só existe um remédio capaz de amenizar a sua dor. Procure encontrar sementes de qualquer planta, colhidas pela mão de alguém que nunca  passou  por  nenhuma  dor... por  alguém que tenha vivos todos os seus parentes. Quando encontrar... me traga aqui... e eu prometo preparar uma poção que há de curá-lo do seu sofrimento.

O HOMEM ENTENDEU. NADA MAIS HAVIA A FALAR. A DOR NÃO ATINGIA APENAS UMA PESSOA NO MUNDO. ERA DA HUMANIDADE. PODIA SER RICO, BRANCO OU NEGRO – A TODOS ELA ALCANÇA, EM QUALQUER ETAPA DA VIDA. CYRO DEIXOU O QUARTO, NO MOMENTO EM QUE O MÉDICO E OS ENFERMEIROS REMOVIAM O CORPO IMÓVEL DO JOVEM. A CABEÇA ESTAVA ENVOLVIDA EM GAZE E O ROSTO COMPLETAMENTE TOMADO PELOS TALHOS QUE SE CRUZAVAM DE LADO A LADO.

CORTA PARA:

CENA 5  -  PORTO AZUL  -  CHOUPANA DE MESTRE JONAS  -  INTERIOR  -  NOITE

BABY LEVANTOU OS DOIS BRAÇOS E GRITOU, NO MEIO DA PEQUENA SALA, ENTUPIDA DE GENTE.

BABY  -  Bem... meus caros. Meus amigos. Eu e minha querida esposa vamos nos mandar. Temos que ir mais cedo porque ainda temos muita coisa a fazer (beijou-a na testa) Não é, Inês?

A MOÇA ENCOLHEU-SE, ENVERGONHADA. MESTRE JONAS SORRIU, MEIO EMBRIAGADO. ROSA CHORAVA DE SATISFAÇÃO.

PEDRÃO  -  (com malícia) É. Muita coisa mesmo! Danou-se!

BABY TORNOU A GRITAR, COM EXPRESSÃO DE ALEGRIA.

ERA O CENTRO DAS ATENÇÕES.

BABY  -  Quem quiser dançar com a noiva... pela última vez, que aproveite! Depois não dá mais!

CESÁRIO TIROU INÊS, ADIANTANDO-SE AOS DEMAIS. ERA O NOVO CAPATAZ DAS MINAS, ESCOLHIDO PELO PRESIDENTE, POR INDICAÇÃO DOS MINEIROS.

BABY  -  (ao chefe da bandinha) Música, maestro!

UMA MOÇA DESDENTADA, ESQUELÉTICA, PELE ACINZENTADA, ADIANTOU-SE.

MOÇA  -  (berrou, esperançosa) Joga o véu!

INÊS ATIROU VÉU E BUQUÊ PARA O GRUPO.

BABY PUXOU-A PELO BRAÇO.

BABY  -  Agora chega! A noiva vai embora com o noivo! Mas a festa continua! (virou-se para Mestre Jonas e Daniel) Taqui mais dinheiro! Manda buscar mais comida e bebida pra esta gente dançar a noite toda, sem fome! E sem sede!

DESAPARECERAM PORTA A FORA E POUCO DEPOIS O CARRO VERMELHO VOAVA PELA ESTRADA LITORÂNEA DE PORTO AZUL.

CORTA PARA:

CENA 6  -  FLORIANÓPOLIS  -  PALACETE DO COMENDADOR LIBERATO  -  PORTÃO -  EXTERIOR  -   NOITE.

MINUTOS APÓS, COM ESTARDALHAÇO, BABY FREOU O AUTOMÓVEL DIANTE DA PORTA DO PALACETE. SALTOU, ABRIU O PORTÃO DE ENTRADA DOS VEÍCULOS E EMBICOU NA DIREÇÃO DA MANSÃO.

CORTA PARA:

CENA 7  -  PALACETE DO COMENDADOR LIBERATO  -  SALA  -  INTERIOR  -  NOITE

POR UNS SEGUNDOS, ZORAIDA FIXOU A MOÇA. PROCURANDO RECONHECÊ-LA. POR FIM A GOVERNANTA CERTIFICOU-SE DE JAMAIS A TER VISTO NAQUELA CASA. NEM NAS FESTAS QUE BABY COSTUMAVA DAR NOS JARDINS DA RESIDENCIA LUXUOSA.

INÊS OLHAVA O AMBIENTE COMO NUM CONTO DE FADAS.

BABY  -  (cortou a estupefação das duas) Quero te apresentar Inês!

ZORAIDA ESTENDEU A MÃO PARA A JOVEM VESTIDA DE NOIVA.

BABY  -  Vai ficar morando aqui.

ZORAIDA  -  É que... não estamos precisando de criada, meu filho. O quadro está completo!

BABY  -  (amuado) Quem disse que vai ficar como criada?

ZORAIDA  -  Pensei...

BABY  -  (cortou) De pensar morreu um burro! Inês é minha mulher!

A GOVERNANTA SEGUROU-SE AO PORTAL PARA NÃO CAIR. A SURPRESA FÔRA DEMAIS.

ZORAIDA  -  Como?!

BABY  -  Mulher! Esposa! (completou, forçando entrada na residência) Será que estou falando grego? Veja o quarto dela. Ela precisa tomar banho, mudar esta roupa, para jantar comigo.

ZORAIDA  -  (sem acreditar) Baby, espera aí... brincadeira tem hora!

INÊS  -  (com voz macia, mostrando a certidão) A gente tá casado, mesmo. De papel e tudo. Padre Miguel juntou a gente. Agora, casamento no religioso tem validade pra tudo. Num precisa juiz. Leandro, diz a ela...

ZORAIDA  -  (colocou as mãos sobre a testa, os olhos esbugalhados) Que loucura foi essa, meu filho? Seu pai sabe disso?

BABY  -  Não, mas vai saber. Cadê ele?

ZORAIDA  -  O comendador foi para o hospital, a chamado da irmã. Dona Catarina pediu que ele fosse ao seu encontro. Trata-se da doença do Senhor Otto.

BABY  -  (virou-se para a esposa) Olha... você fica bonitinha aí, que eu vou dar um giro.

INÊS  -  Onde?

BABY  -  Vou por aí. Não durmo cedo. São só onze horas. Lá pelas duas eu estou em casa.

INÊS  -  Deixa eu ir com você. A gente agora é marido e mulher. Pai disse que mulher tem sempre que acompanhar o marido, em todo canto.

BABY FOI ATÉ O BAR E COMPLETOU UMA DOSE DE UÍSQUE.

BABY  -  Sabe o que é? O negócio é o seguinte. Eu vou ao clube... lá só tem barbado... a  gente  joga,  bebe,  fala  de  negócios...  sabe como  é? Não é ambiente pra você. Agora, quando eu for num lugar onde tenha senhoras, damas da alta... eu te levo. Aí você vai se esbaldar.

INÊS  -  E eu vou ter... de frequentar essa tal de alta?

BABY  -  É. Alta roda. Onde as mulheres se vestem bem, falam mal da vida alheia e fofocam, como qualquer mulher do povo.

INÊS  -  Hoje... nossa noite de núpcias... você não podia deixar de ir nesse clube? Hoje, a gente se casou, Leandro! (abraçou-o pelas costas, enquanto ele bebia um gole de uísque) Puxa vida, tou contente pra burro! E você?

BABY  -  (com clara ironia) Estou felicíssimo... por estar amarrado numa boboca como você.

INÊS O SOLTOU, MAGOADA.

BABY  -  (sorriu, pegando-lhe o queixo) E não é boboca? Chorona, manteiga derretida?

INÊS  -  Leandro... (olhou-o com um brilho estranho nos olhos) Você gosta de mim?

BABY  -  (rodopiou na sala, abrindo os braços, teatralmente) Caramba! Não gosto dela! Estou casado com ela e vem com essa novidade!

INÊS  -  Por que você se casou comigo?

BABY  -  Por que, por quê? Tudo tem de ter um porquê! Porque quis, ora! Se não quisesse, nem teu pai, nem teu irmão, iam me obrigar! Achei que ia ficar bem pra mim, diante dos meus empregados! Achei que ia agradá-los com esse gesto. É gente muito boa, que já brigou por minha causa. Não ia lhes dar uma decepção, fugindo ao compromisso.

INÊS  -  (chocada) Então... você casou... pra agradar seus empregados? Só por isso?

BABY  -  É uma justificativa justa, ou você não acha? Vou precisar deles, amanhã, depois, sei lá! Nunca se sabe o que vai acontecer. É gente honesta, leal. Eu tinha de ser também honesto, também leal.

INÊS  -  Por que precisa deles?

BABY  -  Porque gosto deles, pombas! O que que é isso? Um inquérito? (fez   um   gesto   teatral,  como  se  estivesse  declamando)  Vil  pecador! (ajoelhou-se) Por que se casou com esta mulher? Responda! Nem vem, Inês! Chega, tá? Olha, eu volto daqui a pouco. Tchau!

SAIU APRESSADO SEM TOMAR CONHECIMENTO DAS REAÇÕES DA MOÇA. INÊS OLHOU O CASARÃO VAZIO. OUVIU A VOZ DA GOVERNANTA QUE VOLTAVA À SALA.

ZORAIDA  -  A senhora quer fazer o favor? O seu quarto está pronto.

A GOVERNANTA SEGUROU A MALETA DA JOVEM E DIRIGIU-SE PARA A ESCADA. INÊS ACOMPANHOU-A.

FIM DO CAPÍTULO 50

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