quarta-feira, 13 de agosto de 2014

O HOMEM QUE DEVE MORRER - Capítulo 44


Novela de Janete Clair

Adaptação de Toni Figueira

CAPÍTULO 44

Participam deste capítulo

Cyro  -  Tarcísio Meira
Otto  -  Jardel Filho
Baby  -  Claudio Cavalcanti
Comendador Liberato -  Macedo Netto
Catarina  -  Lidia Mattos

 CENA 1  -  MANSÃO DE OTTO MULLER  -  ESCRITÓRIO DE OTTO  -  INTERIOR  -  DIA

FAZIA CALOR NA NOITE CATARINENSE.

CYRO ATENDERA AO CHAMADO DO DR. PAULUS E SE ENCONTRAVA NO GABINETE PARTICULAR DE OTTO. A MUITO CUSTO O ADVOGADO CONSEGUIRA CONVENCER O MILIONÁRIO DE AVISTAR-SE COM O MÉDICO ALI MESMO, EM SUA RESIDÊNCIA. CYRO FUMAVA TRANQUILAMENTE, QUANDO O ALEMÃO APARECEU, VESTINDO UM ROBE DE SEDA.

OTTO  -  Muito agradecido, doutor, por ter atendido ao meu chamado.

CYRO  -  Julguei que estivesse precisando dos meus serviços profissionais. Como está se sentindo?

OTTO  -  Otimamente. Nem parece que estive doente. É claro... fui seu paciente... (afirmou, com sinceridade) Grandes mãos, por si só, eram já uma garantia de vida.

CYRO  -  Obrigado. Mas não se deve iludir com a melhora aparente. É preciso continuar com os cuidados.

OTTO  -  Dr. Cyro... fui surpreendido com revelações estranhas acerca do seu procedimento.

CYRO  -  Como assim?

OTTO  -  Não acreditei que pudesse ser verdade. Acho o senhor um médico eminente, não teria motivo algum para interferir... como me disseram... em problemas que não lhe dizem respeito.

CYRO  -  Quais, por exemplo?

OTTO  -  Das minas de carvão. Da direção da Companhia.

CYRO  -  Não me consta que eu tenha abalado, com a minha interferência, os assuntos das minas...

OTTO  -  Então, teve mesmo interferência?

CYRO  -  Em corrigir algumas injustiças, tive!

OTTO  -  Orientando Baby a lutar contra mim?

CYRO  -  Não. Para lutar contra ninguém. Para reagir contra injustiças, maldades, leviandades e falta de senso humano.

OTTO  -  (sentiu o peito em chamas) Ora, Dr. Cyro! Isto me coloca numa situação bastante delicada. Eu respeito muito o senhor, hoje o tenho como um... um amigo... mas a todo o momento o encontro no meu caminho ao lado dos meus inimigos.

CYRO  -  Sr. Otto, é verdade que nada disso me diz respeito, mas não seria melhor para todos se não encarasse seu primo Baby como inimigo?

OTTO  -  São particularidades... de família... não vou aborrecê-lo contando a história da família Liberato. Não, em absoluto. Creio que lhe basta saber que meu tio Augusto Liberato tomou toda a parte da herança da minha pobre mãe. Isto lhe deu a maioria das ações...

CYRO  -  Não quero entrar no mérito da questão. Mesmo porque nada disso me atinge. Eu não pertenço à família Liberato.

OTTO  -  Estou lhe dizendo para que o senhor não pense que eu e mamãe somos dois carrascos e estamos almejando a presidência da Companhia gratuitamente. Não. Apenas pretendemos corrigir uma injustiça, uma lamentável injustiça.

CYRO  -  Aonde o senhor quer chegar com todas estas explicações?

OTTO  -  Sou obrigado a pedir-lhe para se afastar definitivamente do meu primo Baby, para não se envolver mais nos problemas da Companhia.

OTTO BAIXOU OS OLHOS AGUARDANDO A RESPOSTA DO HOMEM À SUA FRENTE. NÃO HOUVE QUALQUER REAÇÃO APARENTE NA FISIONOMIA DE CYRO VALDEZ.
  
CYRO  -  (respondeu, calmo) Sou obrigado também a lhe dizer que tomo as atitudes que acho que devo tomar, em qualquer caso. Seja da sua companhia ou não. E creio não estar me envolvendo em seus negócios, como o senhor afirma. Como homem, como criatura humana, devo portar-me como acho mais justo e conveniente diante de qualquer situação. (encarou Otto Muller com expressão severa) Era só isto que tinha a me dizer?

OTTO  -  Não, Dr. Cyro. Eu o aconselho ainda a se preocupar mais com a sua profissão de médico! E lhe digo mais: o senhor está proibido de pisar em Valongo, nas minas de carvão!

CYRO  -  Proibido? Por sua determinação? Recuso-me a acatar ordens suas, principalmente quando tenho permissão... pessoal do presidente da empresa.

OTTO  -  (tremeu de ódio) Será muito desagradável para nós ambos, doutor. Eu o considero muito para tê-lo como meu inimigo.

CORTA PARA:


CENA 2  -  MANSÃO DE OTTO MULLER  -  ESCRITÓRIO  -  INTERIOR  -  DIA

OTTO  -  (ironizou) É uma reunião de família?

O COMENDADOR NADA RESPONDEU. SABIA QUE O FUTURO SERIA DECIDIDO NA JOGADA QUE PROPORIA AGORA, AO SOBRINHO, DEPOIS DE MEDITAR DEMORADAMENTE POR VÁRIOS DIAS. E CERTO DE QUE AS RIVALIDADES E INTERESSES PODERIAM CHEGAR AO FIM, TINHA SUGERIDO O ENCONTRO DA FAMILIA NA PRÓPRIA RESIDENCIA DA IRMÃ, CATARINA.

COMENDADOR LIBERATO  -  Minha intenção é pacificar a Companhia para evitar choques como os que tem acontecido ultimamente e a divisão da administração pode colocar um ponto final neste problema.

OTTO  -  (olhou significativamente para a mãe) O senhor fala em divisão... mas como?!

COMENDADOR LIBERATO  -  Você sabe que nós estamos abrindo um novo poço para facilitar a exploração de outros veios de carvão-de-pedra. Otto ficará com essa parte. Dividimos, assim, a região, sobre a qual a Companhia tem a concessão da exploração, em duas partes autônomas... sob o ponto de vista administrativo.

A SOLUÇÃO APONTADA PELO MAIOR ACIONISTA DA COMPANHIA, ATÉ CERTO PONTO, ERA DIGNA DE ESTUDOS. E OTTO SENTIU ISSO.

OTTO  -  Mas ambas as partes continuarão pertencendo á Companhia de Mineração.

COMENDADOR LIBERATO  -  Exato. Apenas uma parte dos mineiros ficaria sob as ordens de Otto. Outra parte, a mais antiga, obedecerá as ordens de Baby.

OTTO  -   E as casas da Companhia?

COMENDADOR LIBERATO  -  Serão divididas: metade para cada administrador. Como todas as casas estão na mesma rua, cada lado será ocupado por empregados de vocês.

OTTO VOLVEU AS VISTAS PARA BABY, DE BRAÇOS CRUZADOS A UM CANTO DA SALA.

OTTO  -  O que meu primo acha?

BABY  -  (falou, rude) Acho que é ceder demais a quem não tem direito algum!

CATARINA  -  (irada) Talvez você não saiba que o direito seria todo nosso, se não tivéssemos sido enganados quando meu pai morreu.

BABY  -  (dirigiu-se ao pai) O que é que ela quis dizer?

COMENDADOR LIBERATO  -  (intranquilo) Nada! Nada que importe agora!

OTTO  -  Bem, a sugestão de tio Liberato é, de certa forma, uma saída, pelo menos, temporária para a crise que começa a refletir-se como um problema delicado para o sucesso comercial da firma. A  Companhia vem registrando sensível decréscimo de lucros nos negócios. Vários mercados foram perdidos para companhias concorrentes, desde que se iniciou essa crise administrativa. Os apontamentos indicam uma pré-falência, caso não sejam tomadas iniciativas urgentes para conciliar as partes. A proposta do tio Liberato é muito lógica, muito justa. Eu vou pensar bem nela. Meditar sobre as vantagens e desvantagens. Prometo que até amanhã darei uma resposta (dirigiu-se ao grupo, com gestos nervosos) Agora, saiam todos e me deixem descansar, por favor.

ENQUANTO A VELHA CATARINA AJUDAVA O FILHO A DEITAR-SE NO DIVÃ, O COMENDADOR DEIXAVA A SALA COM BABY, DE EXPRESSÃO CARRANCUDA.

BABY  -  Que história é essa que tia Catarina falou?

COMENDADOR LIBERATO  -  Não é nada que interesse a você!

BABY  -  Mas eu quero saber.

SEM SE LIBERTAR DA PREOCUPAÇÃO QUE AS PALAVRAS DA IRMÃ TINHAM LHE CAUSADO, O COMENDADOR PREFERIU ESQUECER A INSISTENCIA DO HERDEIRO. UM DIA, TALVEZ PUDESSE ESCLARECER-LHE TODA A VERDADE. UM DIA, TALVEZ.

FIM DO CAPÍTULO 44




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