sexta-feira, 29 de agosto de 2014

O HOMEM QUE DEVE MORRER - Capítulo 51


Novela de Janete Clair

Adaptação de Toni Figueira

CAPÍTULO 51

Participam deste capítulo

Cyro  -  Tarcísio Meira
Dr. Avelar  
Dr. Roberto  - Paulo Cesar Pereio
Comendador Liberato  -  Macedo Neto
Inês  -  Betty Faria
Zoraida  -  Jurema Penna
Vera  -  Louise Macedo
Orjana  -  Neusa Amaral


CENA 1  - PORTO AZUL  -  CASA DE BÁRBARA  -  SALA  -  INTERIOR  -  NOITE

O TELEFONE SOOU E ORJANA LEVANTOU-SE PARA ATENDÊ-LO. OLHOU O RELOGIO: DUAS E MEIA DA MADRUGADA. PERCEBEU QUE SE TRATAVA DE UMA CHAMADA DE URGÊNCIA PARA O FILHO. E REALMENTE A INFORMAÇÃO ERA GRAVÍSSIMA. DOUTOR AVELAR COMUNICAVA O AGRAVAMENTO DO ESTADO GERAL DE OTTO MULLER, MAS O QUE ERA MAIS IMPORTANTE: A ENTRADA DE UM ACIDENTADO SEM CONDIÇÕES DE SOBREVIVENCIA, COM PERMISSÃO DA FAMILIA PARA DOAÇÃO DO MÚSCULO CARDÍACO. AVELAR PEDIA O COMPARECIMENTO DE CYRO COM A MÁXIMA BREVIDADE.

CORTA PARA:

CENA 2  -  FLORIANÓPOLIS  -  HOSPITAL  -  SALA DOS MÉDICOS  -  INTERIOR  -  NOITE

CYRO ACABARA DE DAR TODAS AS ORDENS E RECOMENDAÇÕES NECESSÁRIAS. O ACIDENTADO ESTAVA SENDO ASSISTIDO PELO DR. ROBERTO, MAS NÃO HAVIA NENHUMA POSSIBILIDADE DE RECUPERAÇÃO. FRATURA DA BASE DO CRÂNIO, COM AFUNDAMENTO E DIVERSAS RUPTURAS INTERNAS. ATROPELADO POR UM ÔNIBUS INTERESTADUAL.

CYRO  -  E como está o boletim clínico do provável doador?

DR. AVELAR  -  Acabo de dar ordem ao Departamento de Imunologia para nos darem um resultado urgente. Temos de saber se o coração do doador é do tipo semelhante ao do paciente.

CYRO  -  A família não colocou obstáculos?

DR. AVELAR -  Não. Estão conformados. E isto eu considero a etapa mais difícil que conseguimos transpor. Já esteve com Otto Muller?

CYRO  -  Vou vê-lo agora.

DR. AVELAR  -  O coração dele está batendo muito mal. Tem fibrilado sucessivamente e esta noite cheguei a pensar que fosse o fim.

CORTA PARA:

CENA 3  -  HOSPITAL  -  QUARTO DE OTTO -  INTERIOR  -  DIA

ENQUANTO O CIRURGIÃO PREPARAVA SEUS APARELHOS E O EQUIPAMENTO PESSOAL PARA O ATO CIRÚRGICO, O DOUTOR ROBERTO APARECEU NO QUARTO. VINHA AGITADO.

CYRO  -  Tudo em ordem? Podemos pensar em termos de operação?

O MÉDICO BAIXOU OS OLHOS. TINHA AS FEIÇÕES TRANCADAS. DE QUEM SE ABORRECERA DEMASIADAMENTE.

DR. ROBERTO  -  Tudo fracassou, Cyro!

CYRO  -  Como?

DR. ROBERTO  -  O doador... acaba de falecer. O coração parou. Fizemos tudo o que foi possível.

CYRO  -  Eu sei. Isto não é matemático. Deseja-se e nem sempre consegue-se um coração em condições favoráveis para salvar uma vida. Não! É muito difícil. Suspenda as providencias para a cirurgia até segunda ordem.

CORTA PARA:

CENA 4  -  PALACETE DO COMENDADOR LIBERATO  -  SALA  -  INTERIOR  -  DIA

ERA MANHÃ QUANDO O COMENDADOR AUGUSTO LIBERATO, SONOLENTO, COM FUNDAS OLHEIRAS ARROXEADAS, RETORNOU À MANSÃO.

VERA, A CRIADA, ATENDEU-O, JÁ QUE A GOVERNANTA AINDA DORMIA.

COMENDADOR LIBERATO  -  (jogando-se no sofá da sala) Tudo bem por aqui?

VERA  -  (com incerteza) Mais ou menos, patrão.

COMENDADOR LIBERATO  -  Meu filho... foi viajar?

VERA  -  Bem... não, senhor. Ele voltou ontem, mas não veio dormir em casa.

COMENDADOR LIBERATO  -  (descalçou as botas ali mesmo, na sala, atirando-as sobre o tapete) Olha, estou pregado. Vou descansar e não me chame  para  coisa  alguma,  a  não  ser  que seja  do  hospital,  onde meu sobrinho está internado. Vou ficar no quarto dos hóspedes, que é mais isolado.

A EMPREGADA LEMBROU-SE DA REFERENCIA. O QUARTO DE HÓSPEDES. FÔRA LÁ QUE ZORAIDA ENFIARA A ESPOSA DE BABY. TREMEU ANTE A HIPÓTESE DE O COMENDADOR DAR DE CARA COM A NORA A QUEM NEM CONHECIA.

VERA  -  (berrou, quase) Comendador! Naquele quarto, não!

O VELHO LIBERATO NÃO LHE DEU A MENOR ATENÇÃO E SUBIU AS ESCADAS, DESCALÇO, ARREGAÇANDO A CALÇA DE CASEMIRA ESTRANGEIRA.

VERA CORREU PARA O INTERIOR DA MANSÃO.

CORTA PARA:

CENA 5  -  PALACETE DO COMENDADOR LIBERATO  -  QUARTO DE ZORAIDA  -  INTERIOR  -  DIA

VERA ENTROU NO QUARTO DA GOVERNANTA, OFEGANTE, MAL PODENDO RESPIRAR.

VERA  -  O comendador subiu e foi descansar... no quarto de hóspedes!

A GOVERNANTA FEZ O SINAL DA CRUZ COM EXPRESSÃO DE PAVOR E VESTIU APRESSADAMENTE A ROUPA. ANTES MESMO DE CALÇAR OS SAPATOS, JÁ A VOZ DO PATRÃO ENCHIA A MANSÃO SILENCIOSA.

COMENDADOR LIBERATO  -  (off) Zoraida! Zoraida! O que é isso?

CORTA PARA:
Baby (Claudio Cavalcanti)

CENA 6  -  PALACETE DO COMENDADOR LIBERATO  -  QUARTO DE HÓSPEDES  -  INTERIOR  -  DIA

A VELHA CHEGOU SEGUNDOS DEPOIS, COM OS CABELOS AINDA DESGRENHADOS E OS OLHOS VERMELHOS E IRRITADOS.

ZORAIDA  -  Eu vim correndo lhe avisar!

COMENDADOR LIBERATO  -  Quem é essa moça?

INÊS DORMIA PLÀCIDAMENTE, ESTICADA NA CAMA, DE CALCINHA E SUTIÃ. O VELHO NÃO CABIA EM SI DE ESPANTO.

ZORAIDA  -  (cobrindo a jovem com o lençol) Não reconhece?

COMENDADOR LIBERATO  -  A filha do pescador?

ZORAIDA FECHOU A PORTA, GIRANDO A MAÇANETA E CONDUZIU O SURPRESO COMENDADOR PARA O SEU QUARTO.

CORTA PARA:

CENA 7  -  PALACETE DO COMENDADOR LIBERATO  -  QUARTO DO COMENDADOR  -  INTERIOR  -  DIA

O VELHO INSISTIU NA PERGUNTA, SABENDO DE ANTEMÃO A RESPOSTA. ZORAIDA NÃO PODIA MAIS ESCONDER A VERDADE.

COMENDADOR LIBERATO  -  É ela... a filha do pescador?

ZORAIDA  -  Diga antes... sua nora. Agora... ela é a esposa de Baby!

AUGUSTO LIBERATO SENTOU-SE NA BEIRA DA CAMA PARA SUPORTAR A REVELAÇÃO.

COMENDADOR LIBERATO  -  Você enlouqueceu?

ZORAIDA  -  Acho que quem enlouqueceu foi seu filho!

COMENDADOR LIBERATO  -  Mas... como... como essa moça é a esposa do Baby?

ZORAIDA  -  De papel passado e tudo. Baby se casou com ela, patrão. No dia de ontem. Domingo.

COMENDADOR LIBERATO  -  Isso é um disparate! Um absurdo! Baby não pode abusar assim da minha tolerância! Ele casa, descasa, traz qualquer uma para cá e nós temos que nos sujeitar?

DITO ISTO, O COMENDADOR CORREU PARA O QUARTO DA MOÇA.

CORTA PARA:

CENA 8  -  PALACETE DO COMENDADOR LIBERATO  -  QUARTO DE HÓSPEDES  -  INTERIOR  -  DIA

LIBERATO ACORDOU INÊS AOS TRANCOS. A JOVEM ABRIU OS OLHOS, ADMIRADA.   NÃO   RECONHECERA   DE   IMEDIATO   A   CASA   ONDE  SE ENCONTRAVA. JULGAVA-SE AINDA, NA SONOLENCIA, EM SUA CHOUPANA DE PORTO AZUL.

COMENDADOR LIBERATO  -  Escute, moça! (disse, com Zoraida a seu lado, contendo um sorriso indiscreto) Baby não pode ter se casado consciente!

A SITUAÇÃO TENDIA PARA A COMICIDADE.

INÊS PERCEBEU O QUE SE PASSAVA. A CASA. A VELHA GOVERNANTA. O COMENDADOR. SIM. ERA MULHER DE BABY, QUISESSEM OU NÃO.

INÊS  -  Ele se casou consciente.

COMENDADOR LIBERATO  -  Mas como é possível, senhorita? Não fui avisado, não me participaram nada! Chego em casa e encontro a senhorita aqui e tenho um choque destes! E onde está seu marido, agora?

INÊS  -  (deu de ombros) Sei não senhor. Ele num durmiu aqui...

COMENDADOR LIBERATO  -  Pois fique sabendo que fez muito mal em casar com ele!

INÊS  -  Tou sabendo agora, sim senhor! (cobriu-se mais) Me desculpa... não fiz por mal, juro! Eu gosto dele pra burro, Seu comendador. Pensei que tudo fosse mais fácil. Mas fica descansado. Eu pego minha trouxa e vou pra casa de meu pai, de novo. Pode ficá certo!

COMENDADOR LIBERATO  -  Agora não! Agora é mulher dele!

CORTA PARA:

CENA 9  -  PALACETE DO COMENDADOR LIBERATO  -  SALA  -  INTERIOR  -  DIA

COMENDADOR LIBERATO  -  (desceu as escadas correndo e berrando para a criadagem) Procurem Baby! Onde ele estiver! Achem aquele maluco! Achem ele!

A MANSÃO SE TRANSFORMARA NUMA CASA DE LOUCOS.

FIM DO CAPÍTULO 51

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