Novela de Janete Clair
Adaptação de Toni Figueira
CAPÍTULO 51
Participam deste
capítulo
Cyro -
Tarcísio Meira
Dr. Avelar
Dr. Roberto - Paulo Cesar Pereio
Comendador Liberato -
Macedo Neto
Inês -
Betty Faria
Zoraida - Jurema Penna
Vera - Louise Macedo
Orjana -
Neusa Amaral
CENA
1 - PORTO AZUL - CASA
DE BÁRBARA - SALA - INTERIOR
- NOITE
O TELEFONE SOOU E ORJANA LEVANTOU-SE PARA ATENDÊ-LO.
OLHOU O RELOGIO: DUAS E MEIA DA MADRUGADA. PERCEBEU QUE SE TRATAVA DE UMA
CHAMADA DE URGÊNCIA PARA O FILHO. E REALMENTE A INFORMAÇÃO ERA GRAVÍSSIMA. DOUTOR AVELAR
COMUNICAVA O AGRAVAMENTO DO ESTADO GERAL DE OTTO MULLER, MAS O QUE ERA MAIS
IMPORTANTE: A ENTRADA DE UM ACIDENTADO SEM CONDIÇÕES DE SOBREVIVENCIA, COM
PERMISSÃO DA FAMILIA PARA DOAÇÃO DO MÚSCULO CARDÍACO. AVELAR PEDIA O
COMPARECIMENTO DE CYRO COM A MÁXIMA BREVIDADE.
CORTA PARA:
CENA
2 -
FLORIANÓPOLIS - HOSPITAL
- SALA DOS MÉDICOS -
INTERIOR - NOITE
CYRO ACABARA DE DAR TODAS AS ORDENS E RECOMENDAÇÕES
NECESSÁRIAS. O ACIDENTADO ESTAVA SENDO ASSISTIDO PELO DR. ROBERTO, MAS NÃO
HAVIA NENHUMA POSSIBILIDADE DE RECUPERAÇÃO. FRATURA DA BASE DO CRÂNIO, COM
AFUNDAMENTO E DIVERSAS RUPTURAS INTERNAS. ATROPELADO POR UM ÔNIBUS INTERESTADUAL.
CYRO - E como está o boletim clínico do provável
doador?
DR. AVELAR
- Acabo de dar ordem ao
Departamento de Imunologia para nos darem um resultado urgente. Temos de saber
se o coração do doador é do tipo semelhante ao do paciente.
CYRO - A família não colocou obstáculos?
DR. AVELAR -
Não. Estão conformados. E isto eu considero a etapa mais difícil que
conseguimos transpor. Já esteve com Otto Muller?
CYRO - Vou vê-lo agora.
DR. AVELAR
- O coração dele está batendo
muito mal. Tem fibrilado sucessivamente e esta noite cheguei a pensar que fosse
o fim.
CORTA PARA:
CENA
3 -
HOSPITAL - QUARTO DE OTTO - INTERIOR
- DIA
ENQUANTO O CIRURGIÃO PREPARAVA SEUS APARELHOS E O
EQUIPAMENTO PESSOAL PARA O ATO CIRÚRGICO, O DOUTOR ROBERTO APARECEU NO QUARTO.
VINHA AGITADO.
CYRO - Tudo em ordem? Podemos pensar em termos de
operação?
O MÉDICO BAIXOU OS OLHOS. TINHA AS FEIÇÕES TRANCADAS.
DE QUEM SE ABORRECERA DEMASIADAMENTE.
DR. ROBERTO
- Tudo fracassou, Cyro!
CYRO - Como?
DR. ROBERTO
- O doador... acaba de falecer. O
coração parou. Fizemos tudo o que foi possível.
CYRO - Eu sei. Isto não é matemático. Deseja-se e
nem sempre consegue-se um coração em condições favoráveis para salvar uma vida.
Não! É muito difícil. Suspenda as providencias para a cirurgia até segunda
ordem.
CORTA PARA:
CENA
4 -
PALACETE DO COMENDADOR LIBERATO
- SALA -
INTERIOR - DIA
ERA MANHÃ QUANDO O COMENDADOR AUGUSTO LIBERATO,
SONOLENTO, COM FUNDAS OLHEIRAS ARROXEADAS, RETORNOU À MANSÃO.
VERA, A CRIADA, ATENDEU-O, JÁ QUE A GOVERNANTA AINDA
DORMIA.
COMENDADOR LIBERATO
- (jogando-se no sofá da sala)
Tudo bem por aqui?
VERA - (com incerteza) Mais ou menos, patrão.
COMENDADOR LIBERATO
- Meu filho... foi viajar?
VERA - Bem... não, senhor. Ele voltou ontem, mas não
veio dormir em casa.
COMENDADOR LIBERATO
- (descalçou as botas ali mesmo,
na sala, atirando-as sobre o tapete) Olha, estou pregado. Vou descansar e não
me chame para coisa
alguma, a não
ser que seja do
hospital, onde meu sobrinho está internado. Vou ficar no quarto dos
hóspedes, que é mais isolado.
A EMPREGADA LEMBROU-SE DA REFERENCIA. O QUARTO DE
HÓSPEDES. FÔRA LÁ QUE ZORAIDA ENFIARA A ESPOSA DE BABY. TREMEU ANTE A HIPÓTESE
DE O COMENDADOR DAR DE CARA COM A NORA A QUEM NEM CONHECIA.
VERA - (berrou, quase) Comendador! Naquele quarto,
não!
O VELHO LIBERATO NÃO LHE DEU A MENOR ATENÇÃO E SUBIU
AS ESCADAS, DESCALÇO, ARREGAÇANDO A CALÇA DE CASEMIRA ESTRANGEIRA.
VERA CORREU PARA O INTERIOR DA MANSÃO.
CORTA PARA:
CENA
5 -
PALACETE DO COMENDADOR LIBERATO
- QUARTO DE ZORAIDA -
INTERIOR - DIA
VERA ENTROU NO QUARTO DA GOVERNANTA, OFEGANTE, MAL
PODENDO RESPIRAR.
VERA - O comendador subiu e foi descansar... no
quarto de hóspedes!
A GOVERNANTA FEZ O SINAL DA CRUZ COM EXPRESSÃO DE
PAVOR E VESTIU APRESSADAMENTE A ROUPA. ANTES MESMO DE CALÇAR OS SAPATOS, JÁ A
VOZ DO PATRÃO ENCHIA A MANSÃO SILENCIOSA.
COMENDADOR LIBERATO
- (off) Zoraida! Zoraida! O que é
isso?
CORTA PARA:
Baby (Claudio Cavalcanti) |
CENA
6 -
PALACETE DO COMENDADOR LIBERATO
- QUARTO DE HÓSPEDES -
INTERIOR - DIA
A VELHA CHEGOU SEGUNDOS DEPOIS, COM OS CABELOS AINDA
DESGRENHADOS E OS OLHOS VERMELHOS E IRRITADOS.
ZORAIDA - Eu vim correndo lhe avisar!
COMENDADOR LIBERATO
- Quem é essa moça?
INÊS DORMIA PLÀCIDAMENTE, ESTICADA NA CAMA, DE
CALCINHA E SUTIÃ. O VELHO NÃO CABIA EM SI DE ESPANTO.
ZORAIDA - (cobrindo a jovem com o lençol) Não
reconhece?
COMENDADOR LIBERATO
- A filha do pescador?
ZORAIDA FECHOU A PORTA, GIRANDO A MAÇANETA E CONDUZIU
O SURPRESO COMENDADOR PARA O SEU QUARTO.
CORTA PARA:
CENA
7 -
PALACETE DO COMENDADOR LIBERATO
- QUARTO DO COMENDADOR -
INTERIOR - DIA
O VELHO INSISTIU NA PERGUNTA, SABENDO DE ANTEMÃO A
RESPOSTA. ZORAIDA NÃO PODIA MAIS ESCONDER A VERDADE.
COMENDADOR LIBERATO
- É ela... a filha do pescador?
ZORAIDA - Diga antes... sua nora. Agora... ela é a
esposa de Baby!
AUGUSTO LIBERATO SENTOU-SE NA BEIRA DA CAMA PARA
SUPORTAR A REVELAÇÃO.
COMENDADOR LIBERATO
- Você enlouqueceu?
ZORAIDA - Acho que quem enlouqueceu foi seu filho!
COMENDADOR LIBERATO
- Mas... como... como essa moça é
a esposa do Baby?
ZORAIDA - De papel passado e tudo. Baby se casou com
ela, patrão. No dia de ontem. Domingo.
COMENDADOR LIBERATO
- Isso é um disparate! Um
absurdo! Baby não pode abusar assim da minha tolerância! Ele casa, descasa,
traz qualquer uma para cá e nós temos que nos sujeitar?
DITO ISTO, O COMENDADOR CORREU PARA O QUARTO DA MOÇA.
CORTA PARA:
CENA
8 -
PALACETE DO COMENDADOR LIBERATO
- QUARTO DE HÓSPEDES -
INTERIOR - DIA
LIBERATO ACORDOU INÊS AOS TRANCOS. A JOVEM ABRIU OS
OLHOS, ADMIRADA. NÃO RECONHECERA
DE IMEDIATO A
CASA ONDE SE ENCONTRAVA. JULGAVA-SE AINDA, NA SONOLENCIA, EM SUA
CHOUPANA DE PORTO AZUL.
COMENDADOR LIBERATO
- Escute, moça! (disse, com
Zoraida a seu lado, contendo um sorriso indiscreto) Baby não pode ter se casado
consciente!
A SITUAÇÃO TENDIA PARA A COMICIDADE.
INÊS PERCEBEU O QUE SE PASSAVA. A CASA. A VELHA
GOVERNANTA. O COMENDADOR. SIM. ERA MULHER DE BABY, QUISESSEM OU NÃO.
INÊS - Ele se casou consciente.
COMENDADOR LIBERATO
- Mas como é possível, senhorita?
Não fui avisado, não me participaram nada! Chego em casa e encontro a senhorita
aqui e tenho um choque destes! E onde está seu marido, agora?
INÊS - (deu de ombros) Sei não senhor. Ele num
durmiu aqui...
COMENDADOR LIBERATO
- Pois fique sabendo que fez
muito mal em casar com ele!
INÊS - Tou sabendo agora, sim senhor! (cobriu-se
mais) Me desculpa... não fiz por mal, juro! Eu gosto dele pra burro, Seu
comendador. Pensei que tudo fosse mais fácil. Mas fica descansado. Eu pego
minha trouxa e vou pra casa de meu pai, de novo. Pode ficá certo!
COMENDADOR LIBERATO
- Agora não! Agora é mulher dele!
CORTA PARA:
CENA
9 -
PALACETE DO COMENDADOR LIBERATO
- SALA -
INTERIOR - DIA
COMENDADOR LIBERATO
- (desceu as escadas correndo e berrando
para a criadagem) Procurem Baby! Onde ele estiver! Achem aquele maluco! Achem
ele!
A MANSÃO SE TRANSFORMARA NUMA CASA DE LOUCOS.
FIM DO
CAPÍTULO 51
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