terça-feira, 5 de agosto de 2014

O HOMEM QUE DEVE MORRER - Capítulo 41



Novela de Janete Clair

Adaptação de Toni Figueira

CAPÍTULO 41

Participam deste capítulo

Baby  -  Claudio Cavalcanti
Comendador Liberato  -  Macedo Neto
Zoraida  -  Jurema Penna
Beth Santiago  -  Tania Scher
Paulus  -  Emiliano Queiroz
Ricardo  -  Edney Giovenazzi
Vanda  -  Dina Sfat
Otto  -  Jardel Filho
Von Muller  -  Jorge Cherques

  

CENA 1  -  PALACETE DO COMENDADOR LIBERATO  -  SALA  -  INTERIOR  -  NOITE

ERA MADRUGADA E O TELEFONE TOCAVA NO SALÃO VAZIO DO PALACETE LIBERATO. DEPOIS DE TOCAR POR LONGO TEMPO, ZORAIDA ATENDEU.

ZORAIDA  -  Sim... é da casa do Comendador Liberato. De onde? Do distrito? Quem? O delegado? Mas... o que aconteceu? Baby?!

COMENDADOR  -  (apareceu na sala) Baby? (tomou o telefone das mãos da governanta) Alô! Sim, delegado, pode falar! (uma pausa) Por que meu filho dormiu no xadrez? O que?! Quebra-quebra numa boate? Ele foi o responsável? Ah, sim... uma moça! Garanto que se chama Beth Santiago. Sei. Vou tomar as providências, delegado. E muito agradecido por me avisar!

DESLIGOU NERVOSAMENTE O APARELHO.

ZORAIDA  -  Ele cometeu algum crime?

O COMENDADOR NÃO PÔDE RESPONDER. CHORAVA.

CORTA PARA:

CENA 2  -  DELEGACIA  -  FRENTE  -  EXTERIOR  -  DIA

BABY IA DEIXANDO A DELEGACIA. O REPÓRTER FOTOGRÁFICO ESPOCOU UM FLASH NO SEU ROSTO. BABY PULOU, ZANGADO.

BABY  -  Pra lá com esse negócio. Que é que há? Me dá essa máquina aqui, seu... Me dá esse troço!

SAIU CORRENDO ATRÁS DO REPÓRTER QUE DESAPARECIA, RUMO AO CARRO DO JORNAL.

PARADOS À FRENTE DA DELEGACIA, PAULUS E BETH SANTIAGO, AINDA ENVERGANDO UM VESTIDO DE NOITE, ASSISTIAM À CENA.

BETH  -  (penalizada) Isto não estava no programa.

PAULUS  -  (cochichou-lhe ao ouvido) Você está trabalhando muito bem.

BETH  -  Pois é. Mas o preço pra trazer o rapaz pra cadeia tem que ser cobrado!

PAULUS  -  (sussurrou) Nós acertamos nossas contas depois.

CORTA PARA:

CENA  3  -  APARTAMENTO DE VANDA VIDAL  -  SALA  -  INTERIOR  -  NOITE

DESDE A FESTA NA CASA DE BABY, VÉSPERAS DE O COMENDADOR SER SUBMETIDO À OPERAÇÃO, DR. RICARDO VINHA PENSANDO SÈRIAMENTE EM FICAR DE VEZ COM VANDA. NÃO LHE SAÍA DO PENSAMENTO A FIGURA DA MULHER. EM TODOS OS INSTANTES DE SUA VIDA, A PRESENÇA DE VANDA ERA CONSTANTE. AGORA, PRATICAMENTE, VIVIAM COMO MARIDO E MULHER. RICARDO A VISITAVA TODOS OS DIAS EM SEU APARTAMENTO.

RICARDO  -  Agora, estou disposto a tudo, Vanda!

VANDA  -  Tenho medo. Antes, não tinha.

RICARDO  -  Por quê?

VANDA  -  Por quê? Ah, que pergunta mais ingênua!

RICARDO  -  Se estou lhe dizendo que deixei minha casa... tomei uma atitude, Vanda!

COM O COPO DE BEBIDA GIRANDO ENTRE OS DEDOS, O ENGENHEIRO PARECIA TRANSTORNADO.

VANDA  -  Essa atitude é que me apavora, Ricardo! Você não é um homem livre. Você está preso à regras, à convenções, à família. Tá certo. Acho muito legal tudo isso. Tem seu valor, como não? Quem é que não quer ter sua família organizadinha? Tudo bonitinho! Até eu! Mas, romper com tudo isso agora, de repente... é perigoso, tanto pra mim, quanto pra você, entende? Eu não quero ser responsável pelo desmoronamento do seu lar!

RICARDO  -  Vanda, escute...

VANDA  -  (cortou) Péra aí, ainda não terminei. Não tou querendo bancar a santinha, não. Mas o negócio é muito sério. Mais sério do que eu pensava, viu?

RICARDO  -  Eu só sei de uma coisa. Só sei que te amo. Não consigo pensar, não consigo ver. Só você tem sentido em minha vida.

A MOÇA SENTOU-SE NO CHÃO, À VONTADE, SOBRE AS PERNAS CRUZADAS. RECOSTOU A CABEÇA NAS PERNAS DO AMANTE.

VANDA  -  Quando me aproximei de você, as coisas eram diferentes.

RICARDO  -  (alisava-lhe os cabelos) Diferentes?

VANDA  -  Foi de uma forma leviana. Eu não queria saber de nada. Olha, o negócio era na base de você me servir apenas de trampolim, pela sua posição social.

RICARDO  -  E agora?

VANDA  -  Tudo mudou.

RICARDO  -  (apaixonado) Você me quer?

VANDA  -  Eu sinto apoio, junto de você. Segurança. Sei lá, uma coisa esquisita pra burro. Não sei o que é isso. Só sei que junto de você eu não sinto que tou voando no espaço sozinha. Me parece que este quarto não é tão frio. Meu estômago não ronca, de vazio. (ergueu os olhos desejosos para o homem) Daqui a pouco vou te fazer uma declaração de amor! Daqui a pouco vou entregar os pontos e aí...

RICARDO  -  (segurou-a com firmeza, pelos braços) E daí, nada! Quero te dar meu nome! Você vai ser minha esposa e atriz. Seu nome vai brilhar em anúncios luminosos sobre o teatro que vou mandar construir para você. Vanda Lopes Vidal. Vanda Lopes Vidal.

PARECIA ENLOUQUECIDO, VIVENDO DENTRO DO SONHO.

A MULHER O OBSERVAVA NUM DESLUMBRAMENTO.

DEPOIS O SILENCIO CAIU SOBRE O PEQUENO QUARTO, QUEBRADO APENAS POR SUSSURROS E GEMIDOS DE PAIXÃO.

CORTA PARA:
Vanda Vidal (Dina Sfat)

CENA 4  -  HOSPITAL  -  QUARTO DE OTTO  -  INTERIOR  -  NOITE.

APÓS VERIFICAR O ESTADO GERAL DO PACIENTE – PRESSÃO, BATIMENTOS CARDÍACOS, COLORAÇÃO DAS MUCOSAS -  O DR. ROBERTO DEIXOU O QUARTO DE OTTO MULLER, AO MESMO TEMPO EM QUE A ENFERMEIRA VIERA RECOLHER O BOLETIM E MINISTRAR A MEDICAÇÃO.

O FOCO DE LUZ BATIA EM CHEIO SOBRE A REVISTA QUE O DOENTE LIA COM INTERESSE, CONTRA AS DETERMINAÇÕES DO CIRURGIÃO. O RELÓGIO MARCAVA 2,29 QUANDO AS PANCADAS FORTES RESSOARAM NO INTERIOR DO QUARTO. A ENFERMEIRA, QUE JÁ SE PREPARAVA PARA SAIR, FOI ATÉ A PORTA, DANDO DE CARA COM UM VELHO VERMELHO, OLHOS COLÉRICOS, DE UM AZUL VIVO. O HOMEM APARENTAVA UNS 70 ANOS. NAS FEIÇÕES UM TRAÇO MARCANTE DE CRUELDADE.

ENFERMEIRA  -  O que deseja?

ERA COMO SE ESTIVESSE FALANDO COM UMA PEDRA. O HOMEM APRUMOU-SE, ERGUENDO O PEITO, OS PÉS UNIDOS COMO UM SS. RESPONDEU EM ALEMÃO. APENAS UM NOME PÔDE SER PERCEBIDO PELA MULHER – OTTO MULLER.

ENFERMEIRA  -  Como disse?

MAIS UMA VEZ, O VELHO FALOU EM ALEMÃO.

OTTO  -  (deixou a revista cair sobre o colo, olhos na porta. Havia tensão em seus gestos) Deixe este homem entrar!

A ENFERMEIRA ASSUSTOU-SE COM A VOZ ALTERADA DO PACIENTE. AFASTOU-SE DA PORTA, PERMITINDO A ENTRADA DO VELHO, DE AR ARROGANTE.

OTTO  -  Saia! Quero ficar a sós com minha visita!

A ENFERMEIRA SAIU. O ESTRANHO SE APROXIMOU E OTTO SAUDOU-O, COM RESPEITO.

OTTO  -  Werner Von Muller Leoschen.

VON MULLER  -  (em alemão puro) Meu filho!

OTTO – (abraçou-o) Cuidado!

VON MULLER  -  Não há perigo. Estamos sós. Papai soube sua doença, mandei telefonar para sua casa e me disseram. Papai não esquece seu filho querido!

OS DOIS SE ABRAÇAM, MAIS UMA VEZ.

OTTO  -  Von Muller Leoschen... (murmurou, com admiração) Estou muito satisfeito por ter vindo, mas temo por sua segurança.

VON MULLER  -  (sentando-se à beira da cama) Tomei precauções. Ninguém saberá quem eu sou.

OTTO  -  Mas, papai... o senhor continua sendo procurado como criminoso de guerra. Ex-oficial SS. Isso é muito perigoso. Pode levá-lo de volta aos tribunais da Europa!

VON MULLER  -  Não... não há perigo imediato, filho. Aqui pela América do Sul... Paraguai, Argentina, Chile, vive muita gente da nossa raça, com as nossas ideias. Muita gente mais valiosa do que eu para essa sub-raça que está dominando o mundo de hoje.

OTTO AQUIETOU-SE. O VELHO VON MULLER PERMANECIA DE AÇO COMO NOS BONS TEMPOS DE ADOLF HITLER.


FIM DO CAPÍTULO 41


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