Novela de Janete Clair
Adaptação de Toni Figueira
CAPÍTULO 41
Participam deste
capítulo
Baby -
Claudio Cavalcanti
Comendador
Liberato - Macedo Neto
Zoraida -
Jurema Penna
Beth Santiago -
Tania Scher
Paulus - Emiliano
Queiroz
Ricardo -
Edney Giovenazzi
Vanda - Dina
Sfat
Otto -
Jardel Filho
Von Muller -
Jorge Cherques
CENA 1 -
PALACETE DO COMENDADOR LIBERATO
- SALA -
INTERIOR - NOITE
ERA MADRUGADA E O TELEFONE TOCAVA NO SALÃO VAZIO DO PALACETE
LIBERATO. DEPOIS DE TOCAR POR LONGO TEMPO, ZORAIDA ATENDEU.
ZORAIDA - Sim... é da casa do Comendador Liberato. De
onde? Do distrito? Quem? O delegado? Mas... o que aconteceu? Baby?!
COMENDADOR - (apareceu na sala) Baby? (tomou o telefone
das mãos da governanta) Alô! Sim, delegado, pode falar! (uma pausa) Por que meu
filho dormiu no xadrez? O que?! Quebra-quebra numa boate? Ele foi o
responsável? Ah, sim... uma moça! Garanto que se chama Beth Santiago. Sei. Vou
tomar as providências, delegado. E muito agradecido por me avisar!
DESLIGOU NERVOSAMENTE O APARELHO.
ZORAIDA - Ele cometeu algum crime?
O COMENDADOR NÃO PÔDE RESPONDER. CHORAVA.
CORTA PARA:
CENA 2 - DELEGACIA -
FRENTE - EXTERIOR
- DIA
BABY IA DEIXANDO A DELEGACIA. O REPÓRTER FOTOGRÁFICO ESPOCOU
UM FLASH NO SEU ROSTO. BABY PULOU, ZANGADO.
BABY - Pra lá com esse negócio. Que é que há? Me dá
essa máquina aqui, seu... Me dá esse troço!
SAIU CORRENDO ATRÁS DO REPÓRTER QUE DESAPARECIA, RUMO AO
CARRO DO JORNAL.
PARADOS À FRENTE DA DELEGACIA, PAULUS E BETH SANTIAGO, AINDA
ENVERGANDO UM VESTIDO DE NOITE, ASSISTIAM À CENA.
BETH - (penalizada) Isto não estava no programa.
PAULUS - (cochichou-lhe ao ouvido) Você está
trabalhando muito bem.
BETH - Pois é. Mas o preço pra trazer o rapaz pra
cadeia tem que ser cobrado!
PAULUS - (sussurrou) Nós acertamos nossas contas
depois.
CORTA PARA:
CENA 3
- APARTAMENTO DE VANDA VIDAL -
SALA - INTERIOR
- NOITE
DESDE A FESTA NA CASA DE BABY, VÉSPERAS DE O COMENDADOR SER
SUBMETIDO À OPERAÇÃO, DR. RICARDO VINHA PENSANDO SÈRIAMENTE EM FICAR DE VEZ COM
VANDA. NÃO LHE SAÍA DO PENSAMENTO A FIGURA DA MULHER. EM TODOS OS INSTANTES DE
SUA VIDA, A PRESENÇA DE VANDA ERA CONSTANTE. AGORA, PRATICAMENTE, VIVIAM COMO
MARIDO E MULHER. RICARDO A VISITAVA TODOS OS DIAS EM SEU APARTAMENTO.
RICARDO - Agora, estou disposto a tudo, Vanda!
VANDA - Tenho medo. Antes, não tinha.
RICARDO - Por quê?
VANDA - Por quê? Ah, que pergunta mais ingênua!
RICARDO - Se estou lhe dizendo que deixei minha casa...
tomei uma atitude, Vanda!
COM O COPO DE BEBIDA GIRANDO ENTRE OS DEDOS, O ENGENHEIRO
PARECIA TRANSTORNADO.
VANDA - Essa atitude é que me apavora, Ricardo! Você
não é um homem livre. Você está preso à regras, à convenções, à família. Tá
certo. Acho muito legal tudo isso. Tem seu valor, como não? Quem é que não quer
ter sua família organizadinha? Tudo bonitinho! Até eu! Mas, romper com tudo
isso agora, de repente... é perigoso, tanto pra mim, quanto pra você, entende?
Eu não quero ser responsável pelo desmoronamento do seu lar!
RICARDO - Vanda, escute...
VANDA - (cortou) Péra aí, ainda não terminei. Não tou
querendo bancar a santinha, não. Mas o negócio é muito sério. Mais sério do que
eu pensava, viu?
RICARDO - Eu só sei de uma coisa. Só sei que te amo.
Não consigo pensar, não consigo ver. Só você tem sentido em minha vida.
A MOÇA SENTOU-SE NO CHÃO, À VONTADE, SOBRE AS PERNAS
CRUZADAS. RECOSTOU A CABEÇA NAS PERNAS DO AMANTE.
VANDA - Quando me aproximei de você, as coisas eram
diferentes.
RICARDO - (alisava-lhe os cabelos) Diferentes?
VANDA - Foi de uma forma leviana. Eu não queria saber
de nada. Olha, o negócio era na base de você me servir apenas de trampolim,
pela sua posição social.
RICARDO - E agora?
VANDA - Tudo mudou.
RICARDO - (apaixonado) Você me quer?
VANDA - Eu sinto apoio, junto de você. Segurança. Sei
lá, uma coisa esquisita pra burro. Não sei o que é isso. Só sei que junto de
você eu não sinto que tou voando no espaço sozinha. Me parece que este quarto
não é tão frio. Meu estômago não ronca, de vazio. (ergueu os olhos desejosos
para o homem) Daqui a pouco vou te fazer uma declaração de amor! Daqui a pouco
vou entregar os pontos e aí...
RICARDO - (segurou-a com firmeza, pelos braços) E daí,
nada! Quero te dar meu nome! Você vai ser minha esposa e atriz. Seu nome vai
brilhar em anúncios luminosos sobre o teatro que vou mandar construir para
você. Vanda Lopes Vidal. Vanda Lopes Vidal.
PARECIA ENLOUQUECIDO, VIVENDO DENTRO DO SONHO.
A MULHER O OBSERVAVA NUM DESLUMBRAMENTO.
DEPOIS O SILENCIO CAIU SOBRE O PEQUENO QUARTO, QUEBRADO
APENAS POR SUSSURROS E GEMIDOS DE PAIXÃO.
CORTA PARA:
Vanda Vidal (Dina Sfat) |
CENA 4 - HOSPITAL -
QUARTO DE OTTO - INTERIOR
- NOITE.
APÓS VERIFICAR O ESTADO GERAL DO PACIENTE – PRESSÃO,
BATIMENTOS CARDÍACOS, COLORAÇÃO DAS MUCOSAS -
O DR. ROBERTO DEIXOU O QUARTO DE OTTO MULLER, AO MESMO TEMPO EM QUE A
ENFERMEIRA VIERA RECOLHER O BOLETIM E MINISTRAR A MEDICAÇÃO.
O FOCO DE LUZ BATIA EM CHEIO SOBRE A REVISTA QUE O DOENTE LIA
COM INTERESSE, CONTRA AS DETERMINAÇÕES DO CIRURGIÃO. O RELÓGIO MARCAVA 2,29
QUANDO AS PANCADAS FORTES RESSOARAM NO INTERIOR DO QUARTO. A ENFERMEIRA, QUE JÁ
SE PREPARAVA PARA SAIR, FOI ATÉ A PORTA, DANDO DE CARA COM UM VELHO VERMELHO,
OLHOS COLÉRICOS, DE UM AZUL VIVO. O HOMEM APARENTAVA UNS 70 ANOS. NAS FEIÇÕES
UM TRAÇO MARCANTE DE CRUELDADE.
ENFERMEIRA - O que deseja?
ERA COMO SE ESTIVESSE FALANDO COM UMA PEDRA. O HOMEM
APRUMOU-SE, ERGUENDO O PEITO, OS PÉS UNIDOS COMO UM SS. RESPONDEU EM ALEMÃO.
APENAS UM NOME PÔDE SER PERCEBIDO PELA MULHER – OTTO MULLER.
ENFERMEIRA - Como disse?
MAIS UMA VEZ, O VELHO FALOU EM ALEMÃO.
OTTO - (deixou a revista cair sobre o colo, olhos na
porta. Havia tensão em seus gestos) Deixe este homem entrar!
A ENFERMEIRA ASSUSTOU-SE COM A VOZ ALTERADA DO PACIENTE. AFASTOU-SE
DA PORTA, PERMITINDO A ENTRADA DO VELHO, DE AR ARROGANTE.
OTTO - Saia! Quero ficar a sós com minha visita!
A ENFERMEIRA SAIU. O ESTRANHO SE APROXIMOU E OTTO SAUDOU-O,
COM RESPEITO.
OTTO -
Werner Von Muller Leoschen.
VON MULLER - (em alemão puro) Meu filho!
OTTO – (abraçou-o) Cuidado!
VON MULLER - Não há perigo. Estamos sós. Papai soube sua
doença, mandei telefonar para sua casa e me disseram. Papai não esquece seu
filho querido!
OS DOIS SE ABRAÇAM, MAIS UMA VEZ.
OTTO - Von Muller Leoschen... (murmurou, com
admiração) Estou muito satisfeito por ter vindo, mas temo por sua segurança.
VON MULLER - (sentando-se à beira da cama) Tomei
precauções. Ninguém saberá quem eu sou.
OTTO - Mas, papai... o senhor continua sendo
procurado como criminoso de guerra. Ex-oficial SS. Isso é muito perigoso. Pode
levá-lo de volta aos tribunais da Europa!
VON MULLER - Não... não há perigo imediato, filho. Aqui
pela América do Sul... Paraguai, Argentina, Chile, vive muita gente da nossa
raça, com as nossas ideias. Muita gente mais valiosa do que eu para essa
sub-raça que está dominando o mundo de hoje.
OTTO AQUIETOU-SE. O VELHO VON MULLER PERMANECIA DE AÇO COMO
NOS BONS TEMPOS DE ADOLF HITLER.
FIM DO CAPÍTULO 41
Nenhum comentário:
Postar um comentário